você é exagerado
Eu não gosto de lugares muito finos. Não tenho dinheiro, não tenho etiqueta, não tenho orgulho de mim. Sinto-me um invasor, uma criatura, um inseto. Então digo que não, não quero entrar num dos seus restaurantes favoritos e sinto muito por isso. Por sorte, sua balançada da cabeça em aquiescência diz tudo e vamos caminhando pelas ruas. Capturo sua mão, enlaço à minha bem forte, sem me importar com o que vão pensar. Quero voltar a como estávamos nos últimos dias em Paris. Quero isso para nós.
Algo está deixando ele desconfortável. Não sei se estou percebendo isso pelo silêncio que paira e rodopia, suas sobrancelhas preocupadas ou o olhar um pouco distante. Entramos num restaurante menos fino que o de outrora, o que me reconforta. Sentamos em silêncio, pois não sei o que falar. Ele tem muito para falar, eu sei. Eu sei que está inquieto, porque não para de girar os anéis. Mas ao invés de falar, estamos olhando o menu.
— Já decidiu? — finalmente abre a boca.
— Eu vou querer doce — fecho o menu. — Então só vou ficar com a sobremesa.
— Ficou doido? Não posso deixar você só comer doce, Taeyong.
— Pode e vai.
— Não — e então passa a dar uma olhada para ver que é que vou gostar.
Ele diz: não, não vou pedir isso porque você é fresco com tal e tal ingrediente... não vou pedir aquilo, já que não gosta... nem disso também, porque é muito pesado e sei que você vai chegar em casa e cair na cama... E então eu sorrio, admirando quão bem ele me conhece. De relance vejo uma floricultura parcialmente aberta, do outro lado da rua. Se eu andar pela diagonal e implorar um pouco, talvez eu tenha sorte em voltar com uma flor ao meu rapaz.
— Ten, vou ali e volto — levanto-me do nada. Ele fica sem entender exatamente nada, mas também não me impede.
O céu está bastante escuro hoje. As estrelas estão demasiadamente brilhantes hoje. A lua prateada está imensamente cheia hoje. Eu estou estupidamente apaixonado hoje. E, apaixonado, tropeço em meu próprio coração ao atravessar a rua. Com um sorriso sem jeito e um ar de simpático, pergunto se há tulipas por aqui. O dono diz que está fechado há horas, mas teve de voltar para pegar algo mega importante.
— Pois se estás aqui, poderia ver-me um buquê de tulipas? — peço com cuidado, uma vez que meu sentido social diz que ele parece ser difícil de convencer.
Digo que preciso rápido, agora. Sacudo as cédulas no ar, vejo seu olhar crescer. De repente, ele me aparece com um buquê sortido de tulipas. Há brancas, vermelhas, amarelas... Qualquer cor, estou satisfeito. Caminho apresado de volta ao restaurante, onde encontro Ten com um olhar de tédio e celular em mãos. Escondo o buquê atrás do meu corpo, caminho devagar até nossa mesa e sorrio.
— Adivinha...? — falo com entusiasmo.
— Você comprou flores de uma floricultura que estava prestes a fechar? — e o que ele me fala simplesmente me deixa de queixo caído. Como ele soube? É algum tipo de gênio? Sabe, eu sempre soube...
— Droga, Ten — armo um beicinho e tiro as tulipas detrás do meu corpo. Entrego o buquê e Ten faz um gesto para que eu sente.
— O vidro é transparente e dava pra ver as pétalas atrás de você. E, antes que fale algo, você realmente não precisava ter feito isso.
— Mas eu quis.
— É, eu percebi — ele finalmente olha para o buquê. — Obrigado, mesmo assim. É gentil da sua parte.
— Você merece muito mais — inclino levemente minha cabeça.
— Você é exagerado — e então toca delicadamente as pétalas, com as pontas dos dedos deslizando com doçura e suavidade.
Mas pelo seu olhar encantado, sei que está bobinho com isso. Sei que gostou demais. E eu gosto de ter feito algo que ele goste. Sabe, eu só quero conquistá-lo. Mas chegamos tão longe... Deveria acontecer algo. Já passou da hora. Precisamos disso.
— Não sou nada — sorrio.
De repente, a banda do restaurante começa a tocar. Eu não percebi que havia música ao vivo aqui, mas agora que estamos escutando, percebo que a atmosfera fica extremamente aconchegante. Aconchegante a nível "Bye baby" do Chen e 10cm, porque é isso que estão cantando agora. E então meus olhos pousam na figura à minha frente. Tão majestoso, belo, único.
— Ten — chamo. — Eu meio que tenho algo a te falar.
— Ah, então... Eu também — ele coça a nuca, parece meio nervoso. Põe o buquê no colo e percebo que está batendo os pés no chão, parecendo um pouco agoniado.
— Ah, fale primeiro... — limpo a garganta com um gole d'água que eu nem sabia que estava na mesa.
— Não, fale você.
— Diz primeiro, vai...
Ten respira fundo.
— É que eu tô realmente tentando dizer a você que... — ele faz uma pausa e eu até diria que é dramática, se eu não conhecesse Ten quando ele está desconfortável com uma situação. — Bem... Eu acho que nunca precisei deixar isso claro para alguém, mas... Taeyong, sendo sincero com você...
— Sim? — engulo em seco. Talvez eu devesse ter falado primeiro? Talvez. Um imenso e enorme talvez. Vai que ele aceitava de uma vez por todas meu pedido de namoro?
— É que... Bem, eu só queria dizer que sinto muito. Eu pensei no que você falou, sobre a questão do namoro e coisas mais...
A enrolação dele está me dando nos nervos. E nem acredito que estávamos querendo falar sobre a mesma coisa. Nem acredito. Mas não dá pra ficar feliz com isso quando se há um "sinto muito" no meio da frase. Quando se há um garçom trazendo tudo que Ten pediu antes de eu comprar as tulipas. Quando se há bastante comida para comermos e esquecermos do que vamos falar. Porque sei que vamos esquecer do que vamos falar.
— Eu não posso aceitar seu pedido de namoro agora. Eu absolutamente não estou preparado nem habilitado para isso — finalmente diz, assim que o garçom sai. Como não digo exatamente nada, decide continuar: — Eu não quero que dependa de mim emocionante, também não quero depender de você. Sabe, eu preciso cuidar de mim agora. Eu estou bastante ocupado...
Ele para de falar, tua voz decaindo aos poucos. Abaixa a cabeça, olha para o buquê, depois olha para mim. Eu estou com fome. Eu não quero comer. Eu só vim pela sua presença. Mas ela está ausente em mim. Sinto que tudo está ficando escuro. E o cantor não para com o "bye bye bye baby" e essa letra desgraçada. Será que Ten está tentando me dizer "bye bye bye baby"?
— Claro que seria mais confortável se você dissesse algo... — ele fala baixinho. Escuto depois da última nota da canção, quando o silêncio aparece.
— Ah, eu acho que...
— Com licença... Me perdoe o desatenção, mas infelizmente o refrigerante que o senhor pediu acabou — o garçom surge, me atrapalhando. — Mas temos Coca-Cola. O senhor ainda irá querer?
— Coca-Cola? Ah, tudo bem — Ten sorri, mas só quer ser simpático. O moço já estava com uma latinha de Coca-Cola na bandeja, então abre e serve o moreno à minha frente. Pede desculpas mais uma vez e sai após se curvar.
— Você odeia Coca-Cola — comento, pegando a latinha e puxando para o meu lado.
— Vou arrotar até amanhã — ele bebe um gole e faz uma careta. — Isso é uma bomba. Prefiro Pepsi.
— Pepsi é sem gosto.
— Sem gosto? Endoidou, Taeyong?
— Aposto que eles pegam Coca-Cola, tiram metade do gás e acrescentam mil litros de água — exponho minha ideia da receita e Ten ri.
Até que nossas risadas caiam, ficamos em silêncio.
— Mas, Taeyong... Vamos continuar sendo os mesmos. Eu ainda gosto de você — diz, do nada.
Nossa capacidade de mudar de assunto nunca me surpreende. Então apenas balanço a cabeça e enfio um pedaço de frango na boca antes que eu fale algo que venha me arrepender. Tudo bem que levei um fora, isso acontece sempre, né? Mas foi até bonito. Não doeu tanto quanto pensei. Na verdade, acho que é só questão de tempo até Ten se acostumar com a ideia e aceitar.
Sabe, mais tarde irei rezar vinte pai-nossos.
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