você costuma ter sonhos eróticos?
Esses últimos dias estão sendo corridos para mim. Eu tive que comprar algumas roupas novas, não quero aparecer na França com meus trapos de cento e um anos atrás. Seria um completo vexame, então o mínimo que posso fazer é me vestir bem. Comprei algumas peças diversificadas e inclusive algumas chiques, uma vez que irei ao evento e não quero parecer um morador de rua — sem ofensa, óbvio. Seria constrangedor aparecer de calça jeans (detalhe: joelho direito erroneamente rasgado por conta de uma queda do mês retrasado), camisa algodão e um blazer apertado vindo do fundo do baú.
O bom de ter Doyoung como banco é que ele não é esses amigos egoístas ou cobradores. Ele não se importa em me ajudar em nada, quando preciso. Ele pergunta de quanto preciso e, quando vou checar minha conta bancária mais vazia que meu estômago (metáfora da semana), recebo a surpresinha de que ele transferiu mais do que o necessário. Sabe por quê? Porque Doyoung é o tipo de pessoa que tem dinheiro, tem vida boa e tem uma ideologia fundamentada em "dinheiro é para gastar, não importa com quem seja". Eu amo Doyoung.
Após ter me liberado dinheiro para comprar roupas, adquirir alguns euros para me bancar por lá, meu caro amigo Dong fez o favor de me emprestar sua câmera fotográfica caríssima e seu querido iPad para que eu possa sobreviver. Honestamente, eu simplesmente amo Doyoung por não se apegar a coisas materiais, como esses loucos por aí. Digo que vai ser só dessa vez, garanto. Eu poderia até enchê-lo de beijos no rosto, mas tenho muito medo da Min Young, namorada dele.
Me despeço de todos e até ouso dar uma ligada lá pra casa e informar aos meus pais que irei viajar internacionalmente por uma semana. Eles estão felizes por mim, porém não tanto quanto ficariam caso fosse a minha irmã no meu lugar. Eu já não me importo mais, mesmo assim fumo duas vezes horas antes do check-in.
Ten sente meu cheiro forte de cigarro, ainda que eu tenha bebido três xícaras concentradas de café para encobrir o cheiro. Não adianta, porém nem me importo com isso. Não me importo com nada, principalmente com os seus julgamentos. Mas nem consigo ficar bravo com ele. Talvez seja porque ele sempre me olha e em todas essas vezes eu sinto meu coração balançar como gelatina.
— Você está estressado? — é o que ele pergunta ao arrastar suas malas pacientemente.
— Um pouco — digo eu. — Mas está tudo bem.
Ele inclina a cabeça para frente e deixa o assunto de lado. Nosso voo é chamado, minhas mãos suam e eu encaro minhas veias como se até elas estivessem tremendo de nervosismo e timidez. Eu nem sei muito bem para onde ir, estou seguindo Ten e fazendo o que ele está fazendo.
Uma série de coisas apenas para entrarmos e sentarmos em nossas cadeiras confortáveis. Chittaphon tinha me dito que a ida seria no econômico e a volta seria na primeira classe. Eu nem havia objetado, nem ouso. Se ele quer, que assim seja.
— Você deveria dormir um pouquinho — me aconselha com cuidado, pondo a almofada de pescoço e bebendo um pouco de água com gás. Ele faz uma expressão de repulsa e então me empurra o líquido. — Isso é uma droga, você gosta?
— Não — pego a garrafa e penso seriamente em beber somente porque ele pôs a boca ali. Prazer, me chamo Lee Otaeryong. — Fala sério, quem inventou uma merda dessa?
— Né! Exatamente isso! Uma bela porcaria. Qual o sentido disso? Água mineral é cem vezes mais gostosa — agora ele está revirando os olhos e reclamando. — Nem sei por que me forço a beber isso.
Eu decido beber e fico quieto a partir daqui. Checo o iTunes de Doyoung, mas todas as minhas expectativas vão ao lixo quando percebo que 90% das suas músicas são românticas e fofas. Deus me livre, quanta música melosa e cheia de nhem-nhem-nhem! Será possível que ele não tem um único trap pesado nessa droga? Ou um indie gostosinho, talvez um pop meio sexy ou um rap de denúncia social? Em que mundo essa criatura vive? Ah, francamente... Não tem uma música gay aqui. Perdi a paciência. Bem, aparentemente vou passar o caminho todo escutando Bruno Mars, Adele e Ed Sheeran.
Já é a terceira vez que estou escutando No Make Up de Zion.T quando me pego vislumbrando a beleza de Ten Chittaphon. Gastei tanto tempo procurando uma música inédita nesse iPad que nem percebi que o docinho ao lado já tinha caído no sono. Sua cabeça está jogada para o lado, mesmo com a almofada. Suas pálpebras estão grudadinhas, o sobrolho relaxado e a respiração leve. Parece uma criança desse jeito. E é tão legal da sua parte está me proporcionando tudo isso...
Espera, acabo de pensar numa coisa: e se Ten realmente querer algo em troca? Talvez ele queira ser minha espécie de sugar daddy, ficar me bancando, me mimando, e depois vai querer algo em troca e já sei bem o que é.
Isso me assusta, de verdade. Vai que ele me agarra naquele quarto, tranca a porta e me amarra à cama? E se de repente ele me bater por eu não chamá-lo de daddy de uma maneira manhosa? E se ele começar a tocar em mim, me prensar contra uma parede, me beijar em cada canto do meu corpo? E se de repente eu gostar desse tipo de coisa?
Eu não quero ser bancado por daddy algum, obrigado. Porém o medo me resume nesse momento. Só em pensar nessas mãozinhas espalmadas na minha coxa, essa boquinha roçando no meu pescoço e sua voz num tom sexy dizendo "rebola para o daddy"... Chega a ser excitante, devo admitir, ainda que eu pagaria pra vê-lo fazer o mesmo.
Ah, qual é! Eu admito que ele é sexy, sim. Não dá pra negar. Ele é tão bonito que me dá uma vontade de falar "me come", logo quando vejo. Ah, Deus, será que foi essa água gaseificada que me fez pensar nessas coisas? Sua voz chamando a si mesmo de daddy e beijando meu corpo não sai da minha cabeça. Se isso for verdade, acho que não seria assim tão ruim...
— Taeyong! Taeyong! — sinto uma mão me cutucar pelo braço e abro os olhos assustado. Ótimo, foi um sonho. Maldita água. — Acorda logo, daqui a pouco vamos pousar.
Eu engulo em seco. Estou com calor, sei lá, meio afobado e agoniado. Me abano algumas vezes, tentando ao máximo esquecer esse sonho maldito e sem noção. Até parece que eu iria acreditar nessa parada esquisita de sugar daddy. Se bem que eu ando tão pobre que o jeito é arranjar um mesmo...
— Sonho intenso? — indaga Ten. Que vergonha ele me ver nesse estado.
— Hã... É, sim — concordo com a cabeça. É uma pena estarmos indo pousar e eu não puder usar o banheiro. Talvez eu pudesse me trancafiar lá até esse sentimento vazar do meu corpo. Espero que ele não perceba que há algo de errado comigo.
— Tipo... muito intenso? — o que ele quer dizer com isso? O desgraçado é telepata também? — É que você acordou meio eufórico.
Meu filho, meu corpo que acordou eufórico e nem te conto o motivo. Estou tão em êxtase que me atrapalho até com as palavras. Como pude ter esse tipo de sono justamente com alguém que está bem ao lado? Meu cérebro enlouqueceu, é isso?
— Sério? — finjo desconhecimento. Vou fazer a egípcia plena, sempre.
— Sim. Por que não bebe um pouco de água?
Eu concordo com isso. Ele pede uma água com gás para mim, deve ser porque quer me provocar ou me encher o saco — ou talvez o burro aqui bebeu da outra vez tão rapidamente que deu a impressão que era a melhor coisa do mundo. Horas atrás reclamamos sobre o motivo da existência dessa porcaria e, de repente, ele me aparece com uma garrafa cheia dessa água da morte para eu beber. Eu só não enforco ele porque vou perder meu emprego e, francamente, voltar para a estatística é a última coisa que quero no momento.
Estou tão acostumado com água normal que no primeiro gole me assusto com o gás e acabo cuspindo na minha coxa sem querer. É como se você fosse comer um doce e ele está com um gosto salgado. Que frustrante.
— Ai, droga... — Ten resmunga ao me ver cuspir. Engulo o restinho que sobrou e tampo a garrafa com a cara fechada. A culpa é dele, ora bolas!
Ele consegue um pano para eu me secar e logo ao olhar para a região onde foi molhada, percebo seu rosto ruborizar-se levemente e um risinho estranho ser solto. É claro que sei por que é que ele está assim, não preciso nem descrever. Ele até vira o rosto e finge que não viu, embora não adiante muito.
— Eita, calor... Hehe... — eu tiro minha jaqueta com mil e um esforços por conta do cinto e faço um bolo dela, deixando-a no meu colo. Finjo que não aconteceu nada.
— Bem intenso... — ele diz, claramente ainda se referindo ao sonho. É melhor eu voltar a beber minha água calmamente, sem me assustar com o gás ou afins. Eu estou tão envergonhado, espero que ele não comente nada. Mas por que será que ele está se aproximando para sussurrar-me algo? — Desculpa se soar impróprio... mas você costuma ter sonhos eróticos?
A aeromoça praticamente corre até mim graças a minha santa ignorância em chamar uma tremenda atenção com minhas intensas tosses após me engasgar, não uma, mas duas vezes. E essa água é uma porcaria, está ferrando todo o meu estômago. Ai, Jesus... volta logo, eu não aguento mais sofrer.
— Estou bem, estou bem — repito inúmeras vezes, fazendo menção para que não se preocupasse comigo. Me recomponho após muito tempo de luta e finalmente me viro para encarar Ten. — Você endoidou?
— Desculpa, mas vamos dormir no mesmo quarto e isso é estranho de se acontecer. — ele explica, com as mãos erguidas como rendição. Pior que ele tem razão. Seria estranho acordar excitado no meio da noite com Ten ao meu lado. Principalmente se for o Ten dos meus sonhos que tiver feito isso comigo.
— Isso é muito pessoal. É grosseiro perguntar isso, Ten — demonstro raiva somente para encobrir a minha vergonha. — E, pra você saber, a resposta é não.
Ele solta uma lufada nasal e repuxa os cantos dos lábios num pequeno sorriso, divertindo-se com minha reação impulsiva. Não fala nada, felizmente, apenas põe os fones no ouvido e vira-se para a janelinha. Eu decido escutar música também, então pego o iPad de Doyoung e rezo para que tenha música gospel nesta coisa.
Só uma água benta para limpar as impurezas do meu subconsciente.
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