Capítulo 10 - Salada de vegetais com uvas-passas

Oi, gente linda!

Terça não teve capítulo porque eu passei o dia na estrada e cheguei exausta! Mas hoje o capítulo é enorme, e espero que compense!

Aos leitores que já me acompanham de outros carnavais, meu obrigada pela companhia! Aos que estão chegando pra tribo, sejam muito bem vindos!! Se curtirem, deixa estrelinha e comentário pra mim, tá? Posso demorar a responder, mas leio tudinho!! =D

Tem livro meu de promoção da Amazon, quem estiver gostando desse, aproveita! Beijos de luz da tia Diras!

******

Ingredientes

2 cenouras médias raladas grossas

1 abobrinha média ralada grossa

1 maçã verde cortada em cubos pequenos

100 g de uvas-passas escuras sem sementes

1 xícara (chá) de maionese HELLMANN'S sabor peito de perú

Para decorar:

6 folhas de alface

1 xícara (chá) de folhas de agrião

Modo de preparo:

Em uma tigela grande misture as cenouras, a abobrinha, a maçã e as passas

Acrescente a maionese HELLMANN'S sabor peito de perú e misture até que fique homogêneo. Reserve

Forre uma saladeira ou parato grande com as folhas de alface e de agrião e cubra com a mistura reservada. Sirva em seguida.

~

           

O médico fez alguns testes clínicos, como ausculta e avaliação da pressão, mas não achou nada significativo. Fez mais algumas perguntas, inclusive quis saber se havia a possibilidade de uma gravidez.

– Não. – respondi segura –Tomo a pílula religiosamente. E menstruei esse mês.

– Vamos fazer o seguinte, – ele começou – vou pedir alguns exames, incluindo o teste de gravidez, pra verificarmos todas as possibilidades. Tente fazê-los ainda hoje e traga o resultado amanhã, pode ser?

– Tudo bem. – aceitei.

Fiz os exames e voltei pra casa. No dia seguinte saí apressada do Centro Gastronômico e mal deu tempo de receber o exame, tive que sair correndo pro consultório do médico, senão perderia a consulta, já que já era fim de tarde. Entreguei o envelope com os resultados.

– Você não viu os exames ainda? – indagou surpreso.

– Não deu tempo. – Expliquei.

Ele abriu e sorriu ao ler a primeira folha. Depois olhou as outras e só então pôs tudo em cima de sua mesa, cruzando as mãos e olhando para mim.

– Creio que já descobrimos o que está te deixando assim. – Anunciou, a demora me deixando tensa. Continuei em silêncio, esperando o diagnóstico – Os exames apontaram uma altíssima taxa de Beta HCG.

Fiquei confusa. Meu cérebro rapidamente entendeu o que aquilo significava, mas era impossível, não era?

– Isso quer dizer que... – não consegui finalizar a frase.

– Isso quer dizer que você está grávida. – Concluiu.

Fiquei boquiaberta. Como assim, grávida? Nós tomávamos todos os cuidados necessários. Eu e o Léo havíamos decidido esperar voltar ao Brasil pra pensar em filhos.

– Apesar da grande eficácia dos contraceptivos orais, ainda há uma minúscula chance de concepção. – O médico começou a explicar, talvez devido a minha reação incrédula – Você tem certeza que não esqueceu de tomar alguma dia?

– Absoluta. – Respondi segura.

– Antes desse mal estar, você esteve doente? – perguntou.

– Há cerca de um mês e meio – comecei – tive uma laringite muito forte.

Ele acenou a cabeça como se tivesse achado uma explicação.

– Alguns antibióticos interferem nos efeitos dos contraceptivos. Para termos certeza você deve fazer uma ultrassonografia, assim, saberemos o tempo aproximado de gestação e a data provável da concepção. Se essa última tiver ocorrido após uma ou duas semanas do uso do antibiótico, pode apostar que foi esse o seu caso. Vou te indicar dois ou três obstetras muito bons, da minha inteira confiança. Você repassa esses resultados e mais a ultrassom para o especialista. – recomendou – E por enquanto, muito descanso. Daqui a pouco esse mal estar vai passar. Mais alguma dúvida?

– O exame não pode ter sido trocado? Porque eu menstruei normalmente.

– Provavelmente foi um sangramento de escape, ou até ameaça de aborto. Por isso é importante que você faça o exame de imagem e consulte o especialista.

Ele levantou-se e estendeu a mão pra mim, parabenizando-me. Agradeci sem saber direito o motivo dos parabéns, e saí do consultório. Procurei um lugar tranquilo nos arredores do hospital e encontrei uma lanchonete arrumadinha. Sentei e pedi uma água, e em seguida tirei o celular da bolsa, discando pra única pessoa que poderia me dizer o que fazer.

– Amor, tô um pouquinho ocupado agora, posso te ligar daqui a pouco? – a voz do Léo soou antes que eu dissesse qualquer coisa.

– Tô grávida. – Anunciei sem sequer ter idéia do que ele havia dito.

Alguns segundos se passaram em silêncio, até que ele conseguiu pronunciar novamente:

– Onde...Você... Er...

Entendi a pergunta, mesmo com a dificuldade dele em se expressar. Passei a localização da lanchonete e desliguei sem esperar uma despedida. Cerca de meia hora se passou, quando o Léo praticamente caiu na cadeira ao meu lado. Ele me abraçou forte e toda a emoção embotada desde o recebimento da notícia aflorou de uma vez só, me fazendo chorar até soluçar nos ombros dele.

Foram alguns minutos tentando me tranquilizar antes que eu conseguisse falar. Ele olhava do meu rosto para o meu ventre, como se de uma hora para outra eu fosse inchar.

– Nós vamos ter um filho? – ele indagou quando a crise de choro passou. Balancei a cabeça afirmando.

– Você tem certeza? – indagou novamente. Abri a bolsa e tirei o envelope com os exames. Procurei o Beta e o entreguei.

– Mas eu vejo você tomando a pílula! – ele também parecia incrédulo.

– Foi culpa do antibiótico. – resumi – Parece que corta o efeito. O médico disse algo assim. – expliquei e novas lágrimas brotaram dos meus olhos. Olhei novamente pro meu marido, ele parecia confuso.

– Você está triste? – o Léo me perguntou. Respondi a verdade.

- Eu... Eu não sei. Eu não faço a menor ideia do que estou sentindo. – confessei, enquanto na minha cabeça, aquela frase tinha continuidade: "Só tenho a certeza de que não estou feliz".

O Léo fez mais algumas perguntas e quando soube da requisição da ultrassom me convenceu a fazer o exame imediatamente. Voltamos pra clínica, e não demorou muito pra sermos chamados. Entramos juntos e ele esperou na sala do exame enquanto eu era preparada num pequeno espaço contíguo. Fui levada até a maca por uma auxiliar que me colocou na posição correta e logo em seguida uma médica entrou na sala, nos cumprimentando educadamente e querendo saber o motivo pelo qual me foi requisitado o exame.

– Gravidez. – foi a única palavra que disse, mas estava tão confusa que falei em português.

Ela sorriu e o Léo falou com a médica em espanhol, que foi bastante simpática, indagando de onde éramos e o que fazíamos na Espanha, enquanto preparava o exame. Logo em seguida ela avisou que ia começar, e menos de um minuto depois ela apontou a tela a nossa frente, dizendo que ali estava o nosso niño ou niña.

Eu olhei para o Léo, e fiquei mais tranquila com o sorriso que ele tinha no rosto, enquanto sua mão apertava a minha. Pela primeira vez, depois de ter recebido aquela notícia, me sentia aliviada. Se estava tudo bem pro Léo, então, tudo ficaria bem comigo.

A médica começou a falar sobre as medidas do feto, como ela dizia, e datas prováveis da concepção e tempo de gestação. E fora exatamente no final de semana da nossa viagem, logo depois da minha laringite. A hipótese do primeiro médico foi acertada.

Decidimos jantar pela rua e só depois irmos para casa, até porque eu praticamente obriguei que o Léo largasse os estudos por aquela noite e ficasse deitado comigo, uma vez que não queria de forma alguma ficar sozinha, quando tudo que conseguia pensar era que uma bomba tinha sido jogada no meu colo.

Ele queria telefonar imediatamente pros nossos pais, além de mandar mensagem pros irmãos dele, mas insisti que ele esperasse pelo menos que chegássemos em casa. Se outras pessoas soubessem da notícia, é óbvio que iriam querer falar comigo, no entanto, não me sentia nem um pouco preparada para agradecer felicitações e responder milhares de detalhes que tenho certeza de que, pelo menos a minha mãe e a dele, gostariam de saber.

Depois do jantar, do qual eu não lembro sequer o gosto, fomos pra casa, onde ele tirou o celular do bolso assim que fechamos a porta.

– Será que não dá pra esperar eu me acostumar com a ideia de que tem algo crescendo dentro do meu corpo, Leonardo? – indaguei rude demais, surpreendendo-o.

– É impressão minha ou você não está nada satisfeita com isso? – ele parecia me acusar.

Respirei fundo. Tentei ficar calada, não queria começar uma discussão, mas ele continuou.

– Achei você meio estranha quando te encontrei na lanchonete. Fomos fazer o exame, depois comemos, e nada mudou. Estava pensando que você estava meio em choque, surpresa com a notícia. Ou, sei lá, era efeito dos hormônios, mas agora, agora está cada vez mais claro que você não gostou, você não parece nem um pouco feliz porque vamos ter um filho.

– E você está certo! – explodi – Não é impressão sua! Não estou nada satisfeita com isso! Não gostei de não ter o domínio sobre o meu corpo! Não gostei de não ter tido o direito de decidir se quero ter um filho agora, se estou preparada pra ter um filho agora! – gritava a plenos pulmões, finalmente podendo desabafar – Aliás, tenho certeza de que não estou preparada! Principalmente num país estranho, longe da minha família, num apartamento minúsculo que nem meu é!

– Mariana! – ele parecia chocado com a minha reação – Você está ouvindo o que está falando?

– Perfeitamente. E você? Ouviu o que eu falei?

– Ouvi. Ouvi e quero pensar que isso é realmente consequência dos hormônios.

– Para o inferno com os hormônios! – gritei novamente – E nem adianta me olhar com essa cara! Você ficou tão assustado quanto eu quando soube... – Ainda tinha dificuldades até para falar o nome – ...Disso. – Completei, sabendo que ele entenderia.

– Isso, – ele apontou pra minha barriga – é o nosso filho! E ele é a única pessoa que não tem culpa de nada do que está acontecendo.

– Ah, e quem tem culpa? Eu, por acaso? Tenho culpa porque adoeci e tive que tomar a porcaria de um antibiótico e que cortou o efeito da merda de um anticoncepcional? A culpa é minha? É isso que você está dizendo? Porque até onde sei, mesmo com tudo isso, foi preciso de um espermatozóide de um homem pra fecundar o meu óvulo azarado, e esse homem, por acaso, é você! – cuspi.

– Ninguém tem culpa! – ele parecia exasperado e arrependido de ter iniciado uma briga – Ninguém tem culpa, Mariana! Nem sei porque estamos falando sobre isso! Nada de errado aconteceu pra estarmos procurando culpados! – Léo sentou no sofá e pôs as mãos na cabeça, tentando se acalmar – Nós somos casados, vivemos bem não sei qual é o problema essa gravidez ter acontecido um pouco antes do previsto.

O Leonardo tentava ser racional, mas eu, sei lá porque, queria brigar.

– Ah, não sabe? Eu te explico! Primeiro, olha pra onde a gente mora! Num país que não é o nosso, num lugar que não é a nossa casa.

– Isso é temporário, Mariana. Em um ano ou dois termino o doutorado. Se eu correr termino consigo terminar em um.

– Ah, tá, e vamos atravessar o oceano com um bebê de semanas, ou talvez poucos meses, dentro de um avião? Sem contar que corre o risco do seu filho nascer durante a defesa da sua tese! Olha que lindo! Eu, sozinha, parindo num país estranho!

– Você não acha que já está pensando longe demais? – ele tentou me puxar mais pra realidade. Mas estava muito alterada pra concordar com qualquer pessoa do universo.

– Alguém tem que pensar nessa casa. – Disparei, ferindo-o mais do que eu gostaria. Ele virou as costas e entrou no quarto sem olhar para trás, batendo a porta em seguida.

Encostei-me no assento do sofá e, abraçando as pernas, disparei num pranto convulsivo. Com raiva de mim por ter magoado o Léo, com raiva dele por não conseguir me entender, e com raiva por me sentir daquela forma quando, na verdade, deveria dar pulos de alegria.

Naquela noite, lamentei mais uma vez o tamanho do apartamento, porque tudo o que não queria, era ver a cara do meu marido. Liguei a televisão para abafar o barulho do meu choro, e devido ao cansaço, acredito, acabei dormindo.

Acordei horas depois, percebi, quando olhei ao redor e a sala estava as escuras. A TV certamente tinha sido desligada pelo Léo, assim como também era obra dele eu estar sob um cobertor.

Quis levantar pra ir ao banheiro, mas mudei de ideia e fingi dormir quando ouvi barulho da fechadura.

Escutei os passos do Léo atravessarem a sala, assim como o barulho de algo sendo colocado em cima da mesa, pra em seguida ouvir a voz dele:

– Mari. – Havia insegurança naquele tom – Mari. – a voz estava mais perto. Me mantive quieta – Mariana, acorda, trouxe comida para você. – Meu estômago pareceu tremer diante dessa afirmação – Mari.

– Hum. – Decidi responder. Ele não ia sossegar enquanto eu não levantasse.

– Acorda, vem comer.

– Hum hum. – resmunguei. Estava faminta novamente, mas não queria encará-lo.

Ele encostou a testa nas minhas costas e passou levemente o nariz em mim, sentindo o meu cheiro. Aquela atitude foi me desarmando. Senti meu braço ser acariciado de leve pelos dedos dele, fazendo os meus pelos se eriçarem.

De repente ele se afastou, quebrando o contato e me deixando carente da sua presença. Decidi ser menos cabeça dura e levantei do sofá, rumando direto pro banheiro, sem olhá-lo.

Passamos alguns dias estremecidos e mal nos falando. Percebi que o Léo se forçava a passar ainda mais tempo na universidade pra não ter que me encarar, e aquilo ia me machucando muito. Isso me fez refletir. Eu amava aquele homem. Amava viver ao lado dele. Por que estava me incomodando tanto com o fato de ter um filho? Um fruto do nosso amor? Não havia realmente motivos racionais pra isso. O apartamento era pequeno? Sim, mas podíamos conseguir um maior, ou viver naquele mesmo com o bebê, até a defesa do doutorado do Léo. Ter um filho num país diferente também não era o fim do mundo, podíamos muito bem lidar com isso. Provavelmente nossos familiares mais próximos se esforçariam pra estar conosco nesse momento. Então percebi que deveria colocar a nossa felicidade como casal, e agora, como família, em primeiro lugar. Não importava o que eu sentia. Devia ser medo. Só isso. Um filho muda tudo. Mas tinha esperança que esse medo ia passar.

Munida dessa nova certeza, preparei um jantar de reconciliação pro Léo. Fiz uma paella de frutos do mar com bastante camarão, como ele gosta, e separei o vinho predileto dele, e suco de uva pra mim. Depois de tudo pronto, coloquei uma música e acendi as velas, pra esperá-lo chegar.

Mas dormi esperando, e quando acordei, ele me observava dormir.

– Chegou faz tempo? – indaguei levantando-me devagar do sofá. Estava virando rotina dormir ali sem querer.

– Uns quinze minutos. – ele respondeu.

– Por que não me acordou?

– Você parecia estar num sono bem pesado. Fiquei com dó.

– Devia ter me acordado. – reclamei – Preparei um jantar pra gente, vou esquentar.

– Não precisa, a gente come assim mesmo.

– De jeito nenhum! – levantei do sofá e ele fez o mesmo, segurando o meu braço.

– Desculpa pela hora. Não imaginei que você fosse fazer algo.

– Eu que peço desculpas. – fui sincera – Pelo estresse desses dias. Quero que fique tudo bem com a gente. – encarei-o – Com nós três.

A menção ao nosso bebê o surpreendeu.

– Sério?

– Sério.

– Você está realmente bem com isso?

– Estou tentando ficar. Mas a gente pode conversar sobre durante o jantar? Estou realmente faminta.

– Tudo bem. Quer ajuda? – ele ofereceu, e logo estávamos agindo normalmente como sempre, e nos fazendo felizes.

Se o Léo já era focado no doutorado antes, depois da notícia da gravidez esse foco triplicou. Ele estava se esforçando muito pra terminar antes do previsto, pra que o nosso bebê pudesse nascer no Brasil, mas estava sendo muito pesado, então mudei de ideia e avisei que queria que o bebê nascesse na Espanha, afinal ele foi concebido lá. Ele estranhou um pouco a minha mudança, mas logo se acostumou.

No sexto mês de gestação finalizei os meus cursos, e passei a cuidar do enxoval do bebê, que a essa altura já sabíamos se tratar de uma menina. Só comprei o básico do básico, já que, pelas nossas contas, logo estaríamos no Brasil, e lá sim, na nossa casa, montaríamos o quarto da nossa filha do jeito que realmente deveria ser.

Minha mãe, minha cunhada e minha sogra vieram pra Espanha quando a data provável do parto se aproximou, e se hospedaram num hotel próximo ao apartamento, embora passassem o dia comigo.

Tive um parto tranquilo, numa casa de parto, e a Nina nasceu forte e saudável. A Cláudia e a minha mãe voltaram pro Brasil cerca de duas semanas depois do nascimento da Nina, mas  minha sogra decidiu ficar até o nosso retorno, pra acompanhar a defesa do doutorado do Léo e nos ajudar com a bebê na viagem de volta.

Quando a nossa filha estava com quase três meses, o Léo finalizou o doutorado, com as mulheres da vida dele assistindo a sua defesa. Comemoramos na casa do orientador, com um jantar pra amigos da faculdade. A partir daí, fomos apenas organizando nossas coisas pra embarcarmos pro Brasil, decidindo sobre o que iríamos levar e o que íamos nos desfazer.

Minha sogra queria que passássemos um tempo na casa dela, e eu, apesar de estar louca pra voltar pra minha casa, na verdade o apartamento antigo do Léo, deixei a decisão nas mãos do marido, afinal, nunca visitamos os pais dele desde que nos conhecemos, e olhe que isso já fazia perto de seis anos.

O Léo disse a ela que não era um bom momento, que precisávamos organizar a nossa vida no Brasil o mais rápido possível, e que ele precisava voltar à Universidade, mas prometeu que visitá-la seria a primeira viagem de férias que faríamos com a Nina.

E assim voltamos pro Brasil. Nos hospedamos temporariamente na casa dos meus pais, e assim que nos reacostumamos com o fuso horário, o Léo decidiu ir a Fortaleza, abrir o nosso apartamento e deixá-lo habitável. A Cláudia se ofereceu pra isso, mas ele precisava também resolver pendências na faculdade, além de fazer as nossas compras e abastecer nossa cozinha.

Antes disso, minha avó, que manteve o costume dos almoços de domingo, decidiu chamar toda a família, pra comemorar o nosso retorno ao Brasil e o nascimento da Nina, e quando eu falo toda a família é toda a família mesmo, incluindo o Danilo.

Devo confessar que antes de vê-lo, mal lembrava que o Danilo existia. Nossos últimos encontros foram tão difíceis, ficamos tão magoados, que devo ter bloqueado de alguma forma as memórias. Quando a vó falou do almoço, não pensei no meu primo, então confesso que foi uma surpresa vê-lo na casa da vó Zildinha, principalmente por causa do jeito que ele nos tratou. O Danilo me cumprimentou de forma carinhosa e respeitosa, como se fôssemos apenas primos, e nunca tivesse existido qualquer outra relação ou sentimento entre nós. Ele também cumprimentou o Léo de forma muito natural, e fez inclusive gracinha pra Nina, que estava nos braços da minha mãe, ganhando um sorriso dela. Até a mãe, que sempre olhou torto pro Danilo, depositou um beijo no seu rosto e conversou amenidades, coisa que nunca tinha visto. Ele aparentava estar muito confortável, e nem parecia a mesma pessoa que poucos anos antes me pediu pra desistir do casamento. Me senti feliz por encontrá-lo daquela forma, por finalmente podermos conviver em família, de forma confortável e simples.

O almoço foi maravilhoso, e, de certa forma, fomos o centro das atenções, principalmente a Nina e o Léo, que apesar de ter convivido pouco com a minha família, era muito extrovertido e querido por todos. Numa das conversas, ele comentou que iria à Fortaleza, organizar nosso apartamento, e Danilo disse que estava indo de carro pra casa dos pais no dia seguinte, passar uma semana de folga, e que nós poderíamos ir junto.

Antes que eu dissesse qualquer coisa o Léo aceitou a carona, mas explicando que eu e a Nina ficaríamos mais uns dias na casa da mãe.

Não tive tempo de sequer tentar impedir aquilo. Apesar do almoço estar sendo tranquilo e da atitude do Danilo me surpreender, me soava estranho os dois grandes amores da minha vida assim tão próximos, principalmente porque o Léo não sabia do meu relacionamento com o Danilo, e eu decidi que era algo que precisava esclarecer antes dessa viagem, porque não queria correr o risco do meu marido ficar sabendo pelo Danilo, isso se o Léo ainda quisesse viajar com meu primo depois de saber que ele tinha sido meu primeiro amor.

Tive essa conversa com o Léo ainda na noite do domingo, assim que a Nina dormiu. Ele estava fazendo a mala pra viajar cedo, quando o abracei por trás e pedi que ele parasse pra conversarmos um pouco.

– O que foi, amor? Você está com cara de preocupada.

– Preciso te contar uma coisa, sobre meu passado. – Fui direta.

– Sobre seu passado?? – ele estranhou, afinal não era um assunto comum entre a gente – Preciso mesmo saber? – indagou buscando as minhas mãos – Todo mundo tem um passado, Mariana, e se é passado, não tem que ser remexido.

– Não é uma questão de remexer. É que é um passado que de certa forma está presente, então acho necessário que você saiba por mim.

Ele respirou fundo, assumindo uma postura mais atenta.

– Então vou te pedir para ser rápida e direta, porque já estou ficando preocupado.

– Não é preciso se preocupar. – tentei tranquilizá-lo – Não é nada demais. É sobre eu e o Danilo.

– O que tem o seu primo? Vocês foram namoradinhos de infância? É isso? – ele indagou sorrindo.

– Não, amor. Foi mais que um namoro de infância. Eu e o Danilo namoramos da adolescência até o fim da faculdade. Foi a primeira pessoa que me apaixonei, e o meu único namorado sério antes de você.

Ele apertou os lábios e estreitou os olhos.

– E posso saber o motivo dessa revelação agora? Eu devo ficar preocupado?

– Claro que não, Léo. Não contei antes porque não vi necessidade. O Danilo não convivia com a gente, então não tinha importância nenhuma. Mas agora, pelo visto, ele está mais próximo da família, e nós dois voltando pra perto deles, e com essa viagem aí de vocês, fiquei com medo que ele comentasse algo e você fosse pego desprevenido. Não queria que você soubesse por outras pessoas, principalmente por ele.

– É só isso mesmo? – ele insistiu.

– Claro, porque mais seria? – confirmei, ele me abraçou, me deu um beijo rápido e foi retomar a arrumação da mala.

– Você ainda vai viajar?

– Por que não? – o Léo indagou levantando a sobrancelha – Não acho que o fato de você e o seu primo terem namorado anos atrás seja um problema, e nos impeça de conviver com ele.

– Problema não é... Só não sei se é confortável.

– Dá minha parte tá tudo tranquilo, Mariana. O seu primo nunca foi uma ameaça pra mim nem quando a gente namorava e eu percebia que ele não se esforçava muito pra ser simpático comigo, imagine agora, que nós estamos casados e com uma filha. Esse Danilo pode ter sido seu primeiro amor, mas eu sou o último, é isso que importa.

Não sabia o que dizer. Não podia pedir pro Léo não ir nessa viagem, nem queria confessar que estava desconfortável. Talvez fosse um problema meu, e não do Léo ou do Danilo. Decidi então tentar agir de forma natural, fazendo um esforço pra enxergar o Danilo apenas como meu primo, e não ex-namorado.

Dessa forma, meu marido e meu primo viajaram juntos no dia seguinte. Eu torcia para que eles fizessem uma boa viagem, e esperava que os anos que tivessem tornado o Danilo uma pessoa melhor, e acima de tudo, me tirado da cabeça dele.

Para minha tranquilidade, quando o Léo chegou em Fortaleza e ligou pra avisar, contou que a viagem foi ótima e que havia conversado bastante com o Danilo, e que meu primo era muito "gente boa". Ouvir isso me surpreendeu bastante, e respirei aliviada. Assim, durante a semana curti meus pais e minha vó Zildinha, junto da minha filha, enquanto o Léo organizava nossa casa e preparava o nosso retorno.

****

Não tenho o hábito de colocar imagens dos personagens, (avatar que chama, né?) então, queria saber de vocês, como imaginam a Mariana, o Léo e o Danilo? Ah, e não esquece da estrelinha!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top