Capítulo 07 - Creme de Bis
Ingredientes:
1/2 lata de leite condensado
2 latas de creme de leite
1/2 caixa de chocolate Bis
Gelatina incolor sem sabor
Modo de fazer:
Prepare a gelatina conforme a embalagem
Bata com os outros ingredientes no liquidificador
Coloque em tigelas e leve para gelar por 3 horas
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Eu e o Léo avisamos do noivado aos nossos pais por telefone, e foi difícil convencê-los de que não casaríamos na igreja e nem faríamos festa. Casamento com cerimônia e festa requeriam muitos gastos, coisas que nós não estávamos dispostos a ter. Havíamos concordado em casar em Teresina, minha cidade natal, num cartório. Coisa rápida e simples.
Mas a minha mãe fez um escarcéu, me ligava trezentas vezes por dia, insistindo em dar uma festa, que arcaria com todos os gastos, e que fazia questão. Já estava perdendo a paciência, e o Léo percebeu.
– Meu amor, tua mãe já não disse que paga tudo? Então vamos satisfazer a vontade dela.
– Mas, Léo, é desnecessário!
– Mas é importante pra tua mãe, Mari.
– Aí é que está. Tem que ser importante pra nós dois, e não pra mãe.
– Meu amor, olha o lado dela. Você está há anos fora de casa, morando com a sua tia, que por ironia do destino é uma irmã que ela detesta. Vocês se vêem raríssimas vezes, porque ela nunca vem aqui e você não tem ido lá por causa das encomendas. Tu é filha única, saiu muito cedo de casa, e agora vai casar e mudar de país! Ela quer que isso seja público, que seja familiar. Além disso, meus pais também gostariam de participar desse momento. Se você mudar de ideia, tenho certeza de que pode ser um momento importante, pra nós e pra eles.
– Pra você é importante, não é, amor? – percebi que ele não estava fazendo aquilo só pela minha mãe. E nem pela dele.
– Um pouquinho. – Confessou e me deixou pensativa – Olha só, tenho uma proposta. – Recomeçou.
– Diz.
– A gente casa aqui, no cartório, só nós, o juiz e as testemunhas, como você queria, e deixa a sua mãe fazer a cerimônia depois, o que você acha?
– Tenho medo da mãe transformar nosso casamento em um acontecimento. – Confessei. – A "La William e Kate", "Charles e Lady Di".
– Entendi, Mariana. – Riu do meu drama – Então estabeleça regras. Aceite, mas deixe os limites claros.
– Tá. Vou pensar.
Assim fiz, e acabei vendo que a ideia do Léo tinha sentido. Minha mãe ficou eufórica, e os pais do Léo fizeram questão de dividir as despesas do casamento com eles. Exigi que fosse uma cerimônia simples e familiar, e que tudo teria que passar pela minha aprovação. Só, que com essa decisão, tudo ficou mais corrido, porque teríamos que ir a Teresina ainda mais cedo, para os preparativos da cerimônia que seria no final de julho, dali a praticamente dois meses.
De posse das nossas decisões, era a hora de tomar atitudes. Pra ser bem sincera, inicialmente, a nossa maior preocupação era a viagem, por isso a prioridade foi: passagens, passaportes, vistos e achar um lugar adequado pra ficar na Espanha, mesmo que fosse temporariamente. Como tinha uma amiga do tempo da escola que morava lá, não foi tão difícil assim resolver esse último, que era justamente o que mais nos dava dor de cabeça. Entrei em contato com essa amiga pelo facebook, e ela se prontificou rapidamente a encontrar um lugar legal nos arredores da universidade.
Em menos de duas semanas, ela, muito fofa, enviou algumas opções de apartamento, incluindo fotos, uma pequena descrição dos bairros, a distância para universidade, valores, e principais linhas de metrô e ônibus, o que facilitou demais a nossa vida.
Eu e Léo olhamos detalhadamente tudo que ela mandou, aprofundamos as informações com algumas pesquisas na internet e também por telefone, com o professor que seria o orientador do Léo. Decidimos então, os dois apartamentos que mais gostamos, e pedimos que ela nos passasse o contato do proprietário. Quando minha amiga retornou o e-mail, ela já passava o contrato para que nós analisássemos, e disse que conseguiu negociar com um dos proprietários uma experiência. Assim, após nos mudarmos, passaríamos dois meses no imóvel, e se gostássemos, negociaríamos a prorrogação do contrato. Caso não nos agradasse, teríamos tempo suficiente pra procurar outro.
Achamos isso fantástico, e decidimos ficar com esse apartamento. Menos uma burocracia pra resolver.
Marcamos a data do casamento civil e da cerimônia, o segundo seria na casa dos meus pais, pouco antes da viagem. Depois fui resolver questões práticas do fechamento da empresa, com meu contador.
Ao mesmo tempo em que resolvíamos isso, pensava no que usar nos casamentos, já que seriam dois eventos diferentes. Não me casaria na Igreja, mas não deixava de ser uma noiva, logo, queria estar vestida a altura. Depois de percorrer incontáveis lojas e não achar nada de acordo com o que imaginava, resolvi esboçar a minha ideia, e ir em busca de alguém que pudesse executá-la. Lembrei da designer de moda que fez o meu vestido de formatura, que ficou impecável, e me mandei pra Teresina resolver isso, e mais outras trezentas coisas que a minha mãe me cobrava todos os dias.
Finalmente entendi o que o Léo falava sobre realizar a vontade dos nossos pais, quando vi o brilho nos olhos da mãe, quando ela falava nos detalhes da comemoração do casamento. Pra ela, realmente era um acontecimento extremamente importante, e vi o quanto estava feliz em organizar aquilo, então, acabei sem coragem pra cortar muitas das suas ideias.
Assim, começamos a escolher o cardápio do jantar, os doces, o bolo (essa parte eu adorava, já que entendia bastante), e ao mesmo tempo achava estranho, porque não seria eu a fazer o jantar, os doces e o bolo do meu próprio casamento. E até pensei em cometer esse desatino, mas depois vi que não tinha lógica. Se passasse o dia na cozinha, cuidando disso, o noivo ia acabar abandonado e a noiva exausta, dormindo no primeiro lugar confortável que encontrasse. O jeito foi sair pela cidade nos melhores bufês, provando de tudo, e claro, exigente como eu era, conhecendo a cozinha e vendo os ingredientes usados.
Foi bem difícil escolher, e acabamos optando por um bufê que, além de fornecer pratos saborosos, se mostrou mais flexível às minhas exigências, e olhe que fui bastante exigente!
Antes de fecharmos com o bufê, precisávamos da quantidade de pessoas. Eu havia feito uma lista com o Léo, dos nossos amigos de Fortaleza e dos meus de Teresina, e havia dito para a mãe listar os familiares mais próximos. Só que a lista da minha mãe ficou beeeem maior do que eu imaginava, e como eram os nossos pais que estavam dando a festa, e eles queriam convidar também os amigos deles, então ficou algo bem mais grandioso. E olhe que ainda faltavam os familiares do Léo, que viriam de Sobral, cidade dele.
Quando vi a quantidade de gente na lista, ainda tentei cancelar tudo, mas a mãe ligou pra mãe do Leo (desde a notícia do casamento elas viraram melhores amigas, sem nunca terem se visto, e se falavam quase diariamente planejando essa festa). Minha sogra, por sua vez, ligou pro filho, que me telefonou na mesma hora me convencendo a aceitar as novas proporções.
Ok, acatei mais uma vez, mas não sem antes cortar parentes chatos e amigos dos meus pais que sequer conhecia. Já que ia ser pra mais gente, que pelo menos fosse uma festa pras pessoas que gosto, e que sabia que torceriam por mim.
– Cortou o Danilo da lista, filha? – a mãe indagou quando viu a caneta vermelha por cima do nome dele.
– Não precisa convite pro Danilo, mãe. Os pais dele vão ser convidados, o convite se estende a ele, não?
– Não, Mariana! – revirou os olhos impaciente – Os convites devem ser enviados para a casa do convidado, como o Danilo vai se sentir convidado se ele não mora com os pais?
– Então o convite da vó se estende a ele. Não é lá que ele mora? – me defendi.
– O Danilo não mora mais com a mãinha. – Corrigiu – Tu não sabia?
– Não. – Confessei.
– Tua querida tia não te contou? – ironizou – Porque ela deve saber, não?
– Provavelmente. Mas nunca tocou no assunto. – Ignorei a provocação.
– Mas é recente, deve ter pouco mais de um mês.
– Hum. – Não sabia o que dizer – Ando muito ocupada com os detalhes da mudança e do casamento esses dias, a gente tem se visto pouco, e além do mais não temos o costume de falar sobre o Danilo. – Achei que era a explicação mais razoável.
– Olha, sei que deve te incomodar ver o Danilo no seu casamento, mas antes dele ser seu ex-alguma coisa, ele já era seu primo, e deve ser convidado. Se não por ele, pelo menos em respeito aos teus tios, que te acolheram na casa deles.
– Eu sei, mãe. – Respondi. E sabia mesmo. Entendia as razões, mas de verdade? Não queria o Danilo ali, não mesmo.
– Que foi que ficou assim pensativa? – minha mãe notou a minha mudança – Não vai dizer que ficou mexida com isso?
– Não. É que é estranho.
– Não é, não! – revidou – Estranho seria se tivesse organizando o seu casamento com ele, coisa que jamais iria aceitar de bom grado. – Confessou – Nunca achei certo essa história de namorar com primo, graças a Deus que esse relacionamento absurdo de vocês acabou enquanto foi tempo. Eu vivia apavorada com medo de aparecer um bebê nessa história e ficar tudo irremediável!
– Credo, mãe, que drama! Chega desse assunto, recoloca o nome do Danilo na lista e vamos continuar. – Tentei cortar o assunto desagradável, mas aquilo ainda martelou na minha cabeça, porque lembrei, que se tudo tivesse sido como eu desejava alguns anos atrás, era meu casamento com o Danilo que ela estaria organizando a contra gosto, e o pior, com a irmã com quem ela tinha mais conflitos, e que menos gostava. E pensar que isso tudo não acontecera porque o Danilo não quis, porque ele escolheu aquela chata, ao invés de mim.
Mas não era mais hora de pensar naquilo, terminamos a lista e fomos enviar um e-mail para um irmão do Léo, que tinha uma gráfica na cidade dele, e nos ofereceu o convite como presente de casamento. Em outro caso, ficaria receosa, mas como ele também fez o convite do casamento da Cláudia, e ficou lindo, estava mais tranquila. E, além disso, ele garantiu que mandaria a arte por email, antes da impressão, para que eu e o Léo sugeríssemos mudanças e aprovássemos a versão final.
Decididos esses detalhes, deu-se início mais uma quizila: meu pai, espírita, pediu pra conduzir uma pequena celebração, onde ele teria uma simples fala, nos abençoando. Achei fofo, e claro, aceitei prontamente. Mas a mãe, católica, disse que se fosse assim queria que o padre da paróquia dela também nos abençoasse.
– Você sabe muito bem que esses padres de hoje não dão esse tipo de benção, Gilda! – meu pai disse já se alterando.
– Eu tenho certeza de que o padre Pedro faria isso por mim! – a mãe revidou.
– Pois eu duvido, padre só celebra casamento em igreja, assim eles lucram com o aluguel!
– Gente! – tive que me intrometer antes que meu casamento provocasse o divórcio dos meus pais – Deixa a mãe tentar, pai. – Sugeri, já com a certeza de que o padre não aceitaria – Não tem sentido vocês discutirem por isso antes de termos uma resposta do padre.
E assim foi feito. O padre Pedro realmente se negou a fazer a benção, como a minha mãe pediu, porque pra igreja casamento é sacramento, e deve ser visto e realizado como tal. Mas a minha mãe não teve tempo de ficar triste, porque ele foi logo dizendo que iria, mas pra celebrar um casamento, como deve ser feito, se ela assim desejasse.
É claro que ela ficou eufórica, e meu tiro saiu pela culatra. Ainda tentei escapar, dizendo que ia ver se o Léo aceitava, mas o traidor adorou a ideia, acho eu, que já influenciado pela mãe dele, que apesar de estar a quilômetros de distância acompanhava tudo quase a tempo real.
Naquela noite, depois de um dia extremamente cansativo, liguei para o Léo para desejar boa noite.
– Oi, amor! – ele atendeu animado – Deu pra resolver tudo que faltava?
– Mal comecei, Léo! E eu que achava que três dias seriam suficientes... Acho que vou acabar passando uma semana aqui. – reclamei.
– Já tô com saudade.
– Também, amor. Mas a culpa disso é sua, que aceita tudo que as malucas das nossas mães inventam! Tem certeza que a gente não pode casar escondido no cartório e fugir para Espanha? Sem toda essa trabalheira de cerimonia religiosa e festa?
– Já conversamos sobre isso, Mari. Não custa nada dar essa alegria pros nossos pais.
– Tu diz isso porque não é você que está aqui, aguentando as ideias megalomaníacas da minha mãe! – Ele achou graça e me acusou de exagerada – Você não tem noção! Uma simples comemoração virou uma cerimônia, um jantar virou uma festa, um vestido simples virou um longo cheio de detalhes! Eu ainda...
– Vou amar te ver assim... – Ele interrompeu, me desmontando.
– Jura, amor? – indaguei melosa.
– Vai ser inesquecível! Sabia que isso ia acontecer com a gente desde que te vi no casamento da Cláudia!
– Mentira!
– Juro!
– E como tu nunca me disse isso?
– Porque não queria te assustar. Mas sabia, desde que te vi naquela cozinha, quando fui levar o cheque, sabia que você ia ser minha. E quando a gente ficou junto, depois do casamento, tive a certeza que ainda te veria de noiva, a minha noiva.
– Ai, amor, que lindo! – meus olhos marejaram – Queria tu aqui sabia? Se já estava com saudade, ficou tudo muito pior agora... – Reclamei.
– Quer mesmo? – provocou.
– Muito. – Confirmei.
– Pois resolve logo tudo aí e volta para mim!
– Own... E eu achando que tu ia me dizer que vinha para cá... – Lamentei.
– Tenho trabalho, amor. Preciso apressar pra encerrar as disciplinas antes da nossa viagem. – Lembrou – Mas se no fim da semana você ainda não tiver terminado de resolver, posso tentar ir na sexta, depois do trabalho, e passo o final de semana com você.
– Oba! – comemorei.
– Vou tentar, Mari, tentar. – Ele minimizou minha empolgação.
– Tá, tá. Entendi. Agora diz que me ama, vou dormir, tô exausta!
– Te amo, minha noiva. Satisfeita?
– Tô, seu lindo! Te amo também, meu noivo! – brinquei – Beijo.
– Beijo, sonha comigo! – disse antes de desligar.
Tentei, mas estava tão exausta que dormi feito uma pedra.
Como havia previsto, a sexta chegou e nem tudo estava resolvido. Consegui escolher o modelo dos vestidos e os tecidos, mas faltavam os acessórios. Precisava também fechar a banda e o DJ, que na verdade foram escolhidos pelos meus primos. Acostumados a baladas, eles sabiam do que eu gostava e do que estava fazendo sucesso na cidade, e como já estava aperreada demais, acabei confiando.
O Léo disse que não dava pra passar o final de semana comigo, o que me deixou um pouco triste, mas não tive tempo de ficar assim, minhas antigas colegas de faculdade me levaram pra sair a noite, numa despedida de solteira antecipada, já que mais perto do casamento seria inviável.
Acabou que foi muito divertido, principalmente porque muitas delas eu não via há tempos. Antes de abrir a empresa em Fortaleza, passava vários fins de semana em Teresina, sempre vinha nos aniversários e casamentos delas, mas depois que comecei a trabalhar com festas, isso ficou raro, porque geralmente os finais de semana eram os dias em que havia mais trabalho. Dessa forma, havia muito assunto acumulado, e acabei chegando na casa de mãe perto de duas da manhã.
Graças a Deus, não saí no carro do pai, porque com a quantidade de álcool que tinha no sangue, não chegaria em casa. Abrir a porta foi algo extremamente complexo. Tirei os sapatos na entrada, pra não acordar ninguém com o barulho dos saltos, mas os desgraçados caíram da minha mão e parecia que uma bateria estava tocando.
Tentei apanhá-los, mas o mundo girou muito rápido e desisti, indo direto pro meu antigo quarto, me apoiando pelas paredes. Acendi a luz e fechei a porta com mais força do que pretendia, fazendo um pouquinho de barulho.
– Parece que alguém tá de pilequinho... – Uma voz masculina que eu amava soou dentro do quarto, me fazendo gelar. Virei na direção que veio a voz e encontrei o Léo, com cara de sono.
– Amoooor! – falei mais alto do que pretendia, enquanto me jogava nos braços dele.
– Se ninguém além de mim acordou com o barulho da porta, com esse grito aposto que a casa toda despertou.
– Shhhiiii! – brinquei com o dedo indicador na frente da boca achando graça – É você mesmo ou estou tendo uma alucinação alcoólica? – indaguei cochichando.
– Sou eu, amor, de carne, gostosura e saudade!
– Não fala assim... – Disse tentando tirar a camiseta dele – Tu sabe que quando eu bebo fico mais tarada!
– Que tal um banho e um café primeiro? – sugeriu.
– Só se for com você. – Provoquei.
– Então deita aqui. – me guiou para cama – Vou tirar sua roupa.
– Adoro! – falei enquanto ele tirava a minha blusa – Tô tão feliz, amor!
– Posso saber porque? – perguntou, dessa vez lutando com o zíper do vestido.
– Porque te amo. Porque você é lindo, gostoso e maravilhoso! Porque nós vamos nos casar. Porque nós vamos morar na Espanha. Porque...
Depois disso, não sei mais o que falei. Só lembro de ter acordado no dia seguinte sozinha na cama, e se não tivesse visto a mochila do Léo no meu quarto, ia sinceramente acreditar que tive uma reação muito louca devido ao excesso de álcool.
Olhei pro criado mudo e vi um copo de leite com chocolate, costume do meu pai desde que eu era criança. Me assustei com a possibilidade do meu pai ter entrado no quarto e ter me visto em trajes mínimos na cama com o Léo, mas percebi que estava totalmente coberta pelo lençol. Sentei pra tomar o leite, e vi que ao lado do copo havia um comprimido e um bilhete.
"Bom dia, princesa!
Seu pai pediu pra te entregar esse copo de leite, e aproveitei pra colocar esse comprimido. Espero que amenize a dor de cabeça e a ressaca.
Te espero lá fora.
Beijo,
Seu noivo lindo, gostoso e cheio de vontade."
Lindo, fofo, perfeito! Sorri pensando no meu namorado, agora noivo e futuro marido. Tomei o leite e o remédio e fui tomar um banho. Escovei bem os dentes pra tirar o gosto de ressaca, e aproveitei pra lavar meus cabelos. Conseguia ouvir as músicas que tocavam na sala, e que mudavam com uma rapidez curiosa. Um breve silêncio se fez e logo a música recomeçou.
– Acho que posso conviver com essa imagem todos os dias da minha vida depois que a gente casar. – A voz do Léo na porta do banheiro me fez sorrir.
– Pode é? – provoquei, virando apenas o rosto para vê-lo, lindo, numa bermuda jeans e uma camiseta de malha branca, rente ao corpo, mas sem ser justa demais, deixando transparecer o corpo bem feito dele. Os pés descalços davam um ar de moleque, e o sorriso safado me amolecia as pernas.
– Ô! – ele respondeu, as mãos espalmadas no vão da porta e os olhos percorrendo o meu corpo nu debaixo do chuveiro, da minha nuca até os meus pés – Quer ajuda para ensaboar as costas? – se ofereceu.
– A porta do quarto está trancada? – indaguei, receosa de sermos pegos pelos meus pais.
– Trancadíssima. E teus pais foram ao supermercado. Lá fora só teus primos escolhendo a trilha sonora do casamento e a moça da cozinha. – Falava enquanto tirava peça por peça da roupa.
Meus olhos percorreram o corpo dele de cima a baixo, e de baixo a cima. Ele era tão lindo e tão desejável que tinha a impressão que jamais ia me cansar de admirá-lo. Os músculos definidos e o peito livre de pelos fazia as minhas mãos formigarem para tocar cada centímetro daquela pele.
– Então aceito ajuda. Até onde lembro, você ficou me devendo um banho ontem. Acho que eles não vão se importar de esperar mais um pouco, não é? – perguntei, abrindo o box pra ele entrar, ansiosa com aquela presença ainda mais perto de mim.
– De jeito algum, vieram preparados para ouvir umas quinhentas músicas, e minha sogra já disse que quer todos almoçando aqui, então a gente tem mais que uns minutos. – Falou antes de abrir o zíper da bermuda bem devagar, me torturando de desejo.
Soltei um gemido de prazer, inconsciente dos efeitos que tinha sobre ele, e me assustei rapidamente, quando ele grudou os nossos corpos e invadiu a minha boca com fome, sem sequer se importar se estava entrando no box de cueca.
Apertei-o com todo o meu corpo, querendo fundir-nos em um só, enquanto nossas bocas trocavam beijos profundos e intensos. Nossas mãos exploravam o corpo um do outro, se detendo em alguns locais por algum tempo, sentindo e propiciando ainda mais prazer.
– Deliciosa. – Ele disse mais recomposto, ao terminarmos, depois de um ou dois minutos respirando fundo. Terminei meu banho e fui pro o quarto, deixando-o no chuveiro. Eu estava nua, esperando-o, displicentemente enxugando meus cabelos.
O Léo me abraçou, beijando-me de forma calma, me empurrando devagarzinho até alcançarmos a cama. Deitamos juntos e ficamos alguns minutos trocando carinhos, num gesto tão simples, e ao mesmo tempo tão intenso, que me emocionava.
Fomos alvo de piada por parte dos meus primos, por causa da demora e dos cabelos molhados. E em clima de brincadeira, ajudamos a escolher a trilha sonora do casamento. Logo meus pais chegaram e, enquanto os homens pegavam as sacolas de compras no carro, a mãe sentou-se com a gente e começou a dar pitaco nas músicas escolhidas, quis ouvir cada uma, na ordem de entrada, até que soltou:
– E a música da entrada dos padrinhos?
Cri. Cri. Cri.
Eu era a única noiva no mundo que não lembrava que precisava de padrinhos? Pelo visto não, já que nem as minhas primas, nem o Léo lembraram desse pequeno detalhe também.
– Não vai me dizer que não pensou nisso ainda, Mariana? – quando a mãe falava assim parecia que eu voltava a ser uma menininha de seis anos.
– Vou lhe dizer sim, mãe! – respondi sorrindo – Foi exatamente isso que aconteceu! E você também esqueceu! – provoquei – se não já teria dito algo antes.
– Eu? – ela se fez de ofendida, mas na brincadeira – Não, senhorita, não disse nada pra você não vir me acusar de estar me metendo em tudo.
– Mas você está se metendo em tudo, mãe! – brinquei e ela fez bico.
– Deixa de coisa, Mari, e pensa logo num casal de padrinhos.
– Ouvi falar em padrinhos? – nesse momento o Léo voltou e apoiou os braços na minha cadeira.
– Ouviu, amor. - respondi.
– A amalucada da sua noiva esqueceu esse detalhe. – Júlia, uma das minhas primas que estava lá provocou.
– Tá vendo, Léo, o jeito que ela fala comigo? – fiz manha – Faz alguma coisa.
– Olha só, você acabou de perder a oportunidade de pegar o buquê. – Brincou e a Jú fez careta – Da próxima vez, vê se lembra de não ofender a noiva! – ele finalizou antes de beijar o meu pescoço de leve enquanto eu mostrava a língua pra ela.
– Chega de brincadeira, Mariana, – a mãe entrou na conversa de novo – já passou da hora de escolher um casal de padrinhos, é bom resolver isso.
– Tá. – assenti – Quem quer ser madrinha e padrinho? – indaguei aos meus primos e a mãe arregalou os olhos – Quem quiser levanta a mão! – sorri quando todos levantaram o braço ao mesmo tempo – Ops, muita concorrência! Vamos precisar de um processo seletivo. Seguinte, cada um me diz o que vai me dar de presente de casamento, ganha o dono do presente que mais me agradar!
– Mariana, não estou ouvindo isso! – dona Gilda ralhou.
– É brincadeira, mãe! – confessei – Vai pedir pra servirem o almoço porque nós estamos morrendo de fome.
Ela saiu meio incrédula, sem saber se eu estava realmente brincando ou não. O Léo sentou onde ela estava e recomecei.
– Seguinte, galera, vou escrever o nome de vocês nesse papel, e vou tirar o nome de uma mulher e um homem. Quem sair vai ganhar a brilhante oportunidade de ficar aparecendo no altar do meu casamento.
Eles acharam graça e concordaram.
– Todos os primos entram no sorteio, Mari? – A Virna perguntou.
– Não, só vocês, não são vocês que estão me ajudando? É injusto colocar todo mundo.
– E também, já pensou se o Danilo é sorteado? – Maurício tentou brincar mas eu e todas as minhas primas olhamos pra ele com um misto de choque e acusação.
Meu cérebro começou a fervilhar, pensando na desculpa que eu daria pro Léo, mas ele fingiu não ter percebido a gafe do Maurício e não comentou nada. Fiquei mais tranquila, embora minhas mãos tremessem enquanto escrevia o nome dos primos num papel.
Fiz duas listas, uma com o nome das mulheres e uma com o dos homens.
O Léo me ajudou a recortar e enrolar os papeizinhos, e de olhos fechados, escolhi um de cada sexo. Abri o primeiro, ainda sem olhar e fiz suspense:
– Thanrã! – enrolei.
– Fala logo! Vai, Mari! – minhas primas pediam em uníssono.
– E a felizarda é... – finalmente li o papel – Júlia!
Houve palmas e gritarias e gargalhei com a animação delas.
– E agora o felizardo... – Fiz o mesmo suspense e depois revelei o nome do Alfredo Júnior.
A mãe veio nos expulsar da mesa, porque o almoço ia ser servido, e contei a novidade dos padrinhos, sem explicar, é claro, o método utilizado na escolha.
Logo almoçamos e o Léo foi com os garotos fechar o contrato com a banda e o DJ, enquanto fui ao atelier fazer a prova do vestido do casamento civil, que já levaria comigo quando voltasse pra casa.
**
Capítulo leve, porque o próximo trará fortes emoções!! =D
Quem gostou, já sabe!
Até terça!
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