Capítulo II

Katie acordou assustada assim que percebeu que estava em seu quarto e deitada na cama, pois não lembrava o que havia acontecido na noite anterior. Colocou a mão na cabeça, após sentir umas pontadas, portanto, encostou em uma cicatriz na testa. Além disso, um cheiro emanava no ar, o que a fez lembrar do acidente que aconteceu ontem. Então, quando franziu o nariz, percebeu que não havia tomado banho.

Olhando o despertador na cabeceira, viu que já eram onze horas da manhã e, depois de tomar um leve choque de realidade, apressou-se para se arrumar.

Chegou ao banheiro, levando suas roupas, e tirou as que usava desde ontem. Após, entrou no boxe e abriu o chuveiro na água morna. Então, ensaboou seu cabelo para tentar tirar o máximo do cheiro que havia restado. Depois de ter saído e se enxugado na toalha, colocou a roupa e correu para o seu quarto descalça.

No cômodo, pôs a meia e o tênis e escovou seu cabelo. Em seguida, desceu as escadas correndo, o que fez barulho, assim acordando seu pai que estava dormindo no sofá, após chegar tarde de uma de suas caçadas.

—  Oi, pai. Desculpa por ter te acordado, pode voltar a dormir.

— Tudo bem, eu já estava prestes a acordar mesmo. Você está atrasada, não era para você estar indo para a escola? — Disse seu pai, confuso, após Katie pegar uma maçã que estava na cesta de frutas.

— Estou indo agora. — Deu um beijo na bochecha dele. — Tchau. — Falou, enquanto ia para o estacionamento sem sequer ouvir sua resposta.

Quando chegou ao destino, viu que a parte lateral de seu carro estava amassada e arranhada. Andando depressa para conferir o que havia acontecido, aproximou-se da porta do motorista e viu que ela estava um pouco forçada, além de que a chave estava na ignição sem estar ligada.

— Como que eu vou entrar? — Pensou. Por instinto, abriu a porta e ela não estava trancada. Então, entrou e colocou o cinto. Assim que ligou a chave, começou a dirigir para a escola.


Katie parou o carro na entrada da instituição. Olhou as horas no celular e percebeu que havia chegado em tempo, então correu logo para a arena onde começaria o primeiro período do dia.

Quando abriu a porta, enquanto estava esbaforida, o sinal havia soado na hora, ao mesmo tempo que entrava e ia para o seu assento, ao lado de Claire, onde ela já estava lá.

— Por que você chegou agora? — Perguntou curiosa, após Katie se sentar.

— Silêncio! — Gritou a professora.

— No intervalo, eu te conto. — Disse em um sussurro para não levar bronca.

— Como eu havia dito na aula anterior, hoje, receberemos o novo aluno. Então, levantem-se, vamos saudá-lo. — Depois de todo mundo se levantar, ela continuou. — Entre, seja bem-vindo. — Disse, colocando os braços estendidos em direção a porta para anunciar a chegada do aluno.

Ele abriu a porta e entrou. Era um menino alto, magro, cor da pele de um branco parecido com a neve, cabelo de topete castanho avermelhado e com olhos castanhos mais para o amarelo. Katie o avistou, parecendo já tê-lo visto em algum lugar que não lembrava. Assim que o observava, ele olhava parecendo encontrar alguém, sendo Katie, pois, ao olhá-la, sorriu e mostrou os seus dentes brancos que pareciam brilhar. Claire, quando viu, deu uma cotovelada no braço dela.

— Agora que vocês já o conhecem, vamos fazer a nossa recepção de boas vindas. — Em seguida, todos colocaram a mão no peito e começaram a cantarolar uma canção típica da escola de boas-vindas. Katie achava aquilo ridículo, mas mesmo assim fazia, pois prestava com respeito a instituição.

— Sentem-se. — Falou a professora, ao mesmo tempo que abanava suas mãos e mostrava o que era para fazer. — Venha cá, novo aluno. — Disse, após todo mundo se sentar, e o chamou, conduzindo-lhe até o meio da arena. — Apresente-se. — Sentou-se em seu lugar.

— Meu nome é Edson, tenho 17 anos e moro em uma cidade perto da escola, então sempre virei para cá a pé. — Disse, parecendo demonstrar nenhum sinal de vergonha ou preocupação em falar com o público, como se ele já fizesse isso o tempo todo.

— Podem parar. — A professora obrigou, depois de todos começarem a bater palmas, exceto Katie. — Tudo bem, Edson. Pode se sentar. — Então, ele se encaminhou para que pudesse se sentar em um lugar isolado, o qual era um pouco longe da turma.

— Bem, alunos. Hoje, ensinarei a como caçar vampiros, pulando os obstáculos e, portanto, sendo mais rápidos que eles. — Disse em um tom alto e claro para que todos pudessem ouvir.

— Você... isso? ... legal! Katie... — Claire falava, tentando chamar sua atenção, porém Katie estava absorta em seus pensamentos, enquanto olhava para Edson, que retribuía. Ela ainda permanecia com dúvida se já tinha o visto ou se era só ilusão de sua cabeça. — KATIE, VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO? — Disse em um tom bem mais alto, o que a fez despertar de seus devaneios.

— Desculpa, eu não te ouvi. O que você dizia? — Katie falou envergonhada, preparada para suas intenções amorosas.

— Você não estava me ouvindo ou estava prestando atenção em outras coisas? — Perguntou Claire, olhando para o Edson, sem vê-la revirar os olhos.

Ao soar do final da aula, levantaram-se e seguiram para o refeitório.

— Quando vocês voltarem, farão um outro teste para aplicar os conhecimentos que foram ensinados hoje. — Katie ouvia a voz da professora baixinho, pois já havia saído da arena.


—  Estou com medo desse teste, só fiquei prestando atenção em algumas coisas que ela falava. — Disse Claire, após pegarem os seus lanches e se sentarem no lugar de sempre.

— Não fique... — Katie disse, não prestando muita atenção na conversa delas, pois ainda olhava para o Edson, que estava sentado sozinho em um dos cantos isolados. — Você não acha ele estranho? — Apontou de forma disfarçada para ele para que Claire pudesse ver de quem estava falando. — Olha, veja bem, ele fica isolado, é muito branco, não pegou nada para comer, os olhos dele parecem ser amarelos.

— Hum... você está insinuando que ele seja um vampiro? — Dirigiu-se à Katie com cara de "você está falando sério?" — Logo você que sempre quando falo, desvia do assunto. E ele pode ser só tímido ou não gosta de ter contato com as pessoas, pode ser albino, pode não estar com fome e ele pode usar lentes. — Claire falou, após dar uma mordida descontraída em seu bolo.

— Você tem razão. Desculpa, talvez seja só paranoia de minha cabeça. — Disse, tentando disfarçar e, quando Katie olhou para ele, viu que Edson parecia estar prestando atenção na conversa delas, porém, quando a olhou, tentou disfarçar. Então, levantou-se, parecendo prever que o sinal iria tocar, que tocou realmente.

Katie e Claire se levantaram, ao mesmo tempo que pegaram suas bandejas. Jogou sua pizza não tocável fora e Claire apenas deixou sua bandeja em cima do balcão para que pudesse ser recolhida.


Chegaram a arena suadas, pois correram para que não pudessem chegar atrasadas de novo, e foram para os seus assentos para poderem ouvir as explicações da professora.

— Bem, já que hoje vamos fazer um teste dinâmico, a gente irá para uma nova arena e vocês poderão fazer o teste em dupla. — Disse, enquanto os conduzia para o outro local.

Quando chegaram, notaram que havia uma parede de escalada, um prédio de ferro pequeno, um rapel e uma bandeira. Após, pararam no centro para que pudessem ouvir como seria o circuito.

— Os seus objetivos é subir a parede de escalada, andar no alto daquele prédio, descer de rapel e pegar a bandeira, assim anunciando que vocês acabaram o circuito. Quem fizer em menor tempo, ganhará a maior pontuação e os outros em ordem decrescente. Formem suas duplas e começarei a chamar um por um. — Após a professora pronunciar, sentou-se em uma cadeira improvisada. — Edson e Tommy, primeira dupla, podem ir.

Na vez deles, Katie observou que Edson o ajudava, porém ia rápido demais, apesar de sempre acompanhar o ritmo dele. Ele subiu a parede como se fizesse isso há muito tempo e deixou que Tommy pegasse a bandeira, o que anunciou um minuto de circuito.

— Katie e Claire, a última dupla a se apresentar.

Katie foi na frente e subiu a parede com dificuldade, enquanto Claire era ágil, portanto, após fazer o mesmo, esperava por ela no topo da escalada. Em cima do prédio, Katie teve uma tontura, pois tinha medo de altura. Entretanto, foi com receio, enquanto tentava se equilibrar. Quando estava prestes a terminar, deu um tropeço e pensou que era seu fim. Porém, quase tocando o chão, ela sentiu braços a envolvendo e, quando abriu os olhos, ele estava lá, Edson. Naquela hora, Katie se lembrou de onde já o havia visto e ele percebendo, deixou a arena tão rápido quanto chegou para ajudá-la.

— Katie, você está bem?! — Disse Claire, preocupada e amedrontada, após ter terminado o circuito sem ela.

— Estou, obrigada. — Katie disse meio atordoada, enquanto tentava se desprender da multidão que a cercava, com exceção da Mary, que ficaria feliz se tivesse caído no chão. Assim que conseguiu, saiu da arena e correu atrás do Edson.

— Edson, espere. — Disse, ao mesmo tempo que corria atrás dele. Ele a ouviu e ia diminuindo a velocidade dos passos à medida que o alcançava. — Eu sei quem e o que você é. — Quando falou, ele não a olhou surpreso ou espantado, como achou que fizesse, porém a colocou contra a parede com o braço estendido ao seu lado.

— Diga. — Ordenou com seus olhos amarelos se tornando vermelhos.

— Um vampiro, que me salvou do possível acidente de carro ontem. — Katie falou confiante, demonstrando que não tinha medo dele.

— É por isso que você me acha estranho? — Disse com um sorriso brincalhão na face. — Ao contrário, você deveria ter medo de mim.

— Mas eu não tenho.

— Estou vendo. — Edson disse, enquanto via o colar dela balançando no pescoço e percebia que dentro dele havia verbena. Ele fitou os olhos dela e disfarçou a outra mão, após perceber que Katie havia visto o seu anel no dedo anelar.

— Eu deveria te denunciar...

— É assim que você me agradece por ter salvado sua vida duas vezes? — Disse, antes que ela pudesse completar a frase.

— .... mas eu não vou. E, obrigada.

— Bom mesmo e, a propósito, de nada. — Edson disse, enquanto mostrava um sorriso debochado. Após a conversa deles, ele saiu andando e Katie ficou parada, com raiva pelo o que ocorreu.

— Katie, você está aí. — Disse Claire, após sair da arena. Ela correu um pouco até alcançá-la.

— Oi. — Katie falou com um tom desanimado.

— O que houve? — Perguntou, curiosa.

— Nada não. — Tentou falar com um tom um pouco mais animado. — A professora constou nota no teste? — Disse em uma tentativa de desviar do assunto.

— Não, por causa do seu acidente. — Claire falou, enquanto andavam, com um sorriso estampado, parecendo a elogiar por tê-la tirado de uma possível nota desastrosa no teste. — Ela fará outro teste para substituir esse.

Ao longo do trajeto, Katie não havia falado mais nada, pois pensava na quase conversa que teve com Edson.

— Tchau. — Disse Claire, enquanto entrava no ônibus. Assim que ouviu, Katie apenas acenou, logo após entrou em seu carro.


Quando chegou em casa, subiu para o seu quarto, pronta para ler um livro que havia ganhado de aniversário no ano passado: Drácula, de Bram Stoker. Enquanto lia uma das páginas que havia parado, achou que era ilusão de sua cabeça, pois tinha ouvido alguém gritar seu nome. Após algum tempo, a voz ainda continuava. Então, Katie procurou por ela e percebeu que vinha da janela.

— Katie. — Falou Edson, após aparecer na janela. — Abre a janela, por favor. — Confusa, abriu e, aos poucos, afastou-se. — Oi. — Disse ele, ao mesmo tempo que dava um sorriso, depois de ter entrado no quarto dela através do pulo que havia dado.

— Oi, o que você está fazendo aqui? — Falou ainda confusa, à medida que fechava o livro sem antes marcar a página que estava lendo.

— Queria lhe pedir desculpas pelo jeito que eu te tratei mais cedo e... — Hesitou, enquanto passava a mão no livro, depois de perceber que ele estava ali. — Queria poder recomeçar. — Deu um leve suspiro.

— Tudo bem. — Katie arqueou a sobrancelha. — Mas você não deveria estar aqui. Há caçadores na rua a essa hora.

— Eu sei, mas precisava vir. Amanhã, virei aqui de novo e poderemos conversar melhor. — Assim que abriu a boca para poder falar algo, ele havia saído tão rápido que não deu tempo.

— Estarei esperando. — Disse em um sussurro, enquanto sorria para si e fechava a janela, onde entrava um vento frio que vinha do Norte.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top