Princesa Hase: A lenda da cinderela japonesa part 02

O Imperador desfrutando da temporada no local ordenou que Hase tocasse para ele e sua comitiva, e que Terute, sua madrasta, a acompanhasse na flauta.

Hase-Hime tinha impressionante talento com a música e, embora tão jovem, muitas vezes surpreendia seus mestres. Nessa ocasião solene não foi diferente, ela tocou perfeitamente a harpa japonesa. Porém, Terute, uma mulher preguiçosa e vaidosa, que nunca se dava ao trabalho de praticar qualquer arte, falhou em seu acompanhamento e teve que solicitar a uma das damas que tomasse seu lugar.

Esta foi uma grande humilhação para a megera, a madrasta furiosa, sentiu inveja ao pensar que tinha falhado onde sua enteada havia sido bem sucedida. Para piorar a situação, o Imperador passou a enviar belos presentes para a jovem Hime, em recompensa a seu talento e a bela apresentação executada no Palácio.

Havia também outra razão pela qual Terute odiava cada vez mais a filha do Príncipe Toyonari, nas profundezas de seu coração não parava de dizer:

"Se Hase-Hime não estivesse aqui, meu filho teria todo o amor e atenção de seu padrasto."

Sem conseguir se controlar, permitiu que este pensamento ímpio continuasse a crescer e transformar-se em um terrível desejo de tirar a vida de sua enteada.

Então, um dia, secretamente ordenou a um de seus criados, misturar veneno em um pouco de suco doce. O licor envenenado, Terute colocou dentro de uma garrafa e, em outra garrafa semelhante, derramou um pouco do liquido bom. Então, pacientemente esperou uma oportunidade para executar seu plano maléfico.

Esta não demorou a apresentar-se, foi durante o Festival dos meninos no quinto dia de maio. Nesse dia, Hase-Hime brincava com seu irmão mais novo. Todos os seus brinquedos de guerreiros e heróis, como o boneco de Kintaro "O menino de ouro", estavam espalhados pelo chão, e ela contava-lhe histórias maravilhosas sobre cada um deles. Ambos estavam se divertindo e rindo alegremente com seus camareiros, quando sua madrasta entrou com uma bandeja contendo duas garrafas de suco de uva acompanhadas de deliciosas iguarias.

"Vocês dois parecem felizes! Disse a Princesa Terute com um sorriso irônico. Para comemorar, eu trouxe um pouco de suco doce e alguns bolos deliciosos de arroz para os meus bons filhos".

E ela encheu dois copos de diferentes garrafas...

Terute havia marcado cuidadosamente a garrafa envenenada, mas estava nervosa ao entrar no quarto, deixando derramar o líquido e, inconscientemente, entregou o cálice envenenado para o seu próprio filho.

Sem perceber a troca, esperou observando ansiosamente a pequena princesa, mas para sua surpresa o rosto da jovem não mudava de expressão. De repente, o menino começou a gritar e jogou-se no chão, dobrando-se de dor. Sua mãe desesperada correu a socorrer, tomando a precaução de entornar os dois pequenos frascos de suco que ela havia trazido para a sala. Os criados correram a levar o menino até o médico, mas nada poderia salvá-lo, a criança morreu dentro de uma hora nos braços de sua mãe.

Assim, na tentativa de acabar com a vida de sua enteada, a mãe foi punida com a perda de seu próprio filho. Mas, em vez de culpar a si mesma, começou a odiar Hase-Hime mais do que nunca. Na amargura e miséria de seu próprio coração, esperava ansiosamente por uma nova oportunidade para concluir sua maldade.

Quando Hase-Hime completou treze anos, já era mencionada como uma poetisa de grande mérito. Esta era uma realização muito cultivada na época, e tida em alta estima pelas mulheres do Japão antigo.

Por esse tempo, era período das chuvas em Nara, e os estragos das inundações eram relatados todos os dias. O rio Tatsuta, que corria pelos jardins do Palácio Imperial, transbordou além de suas margens, e o rugido das correntes de água correndo ao longo de um estreito leito, perturbava dia e noite o Imperador. O resultado foi um distúrbio nervoso grave. Um edital foi enviado para todos os templos budistas ordenando aos sacerdotes que oferecessem orações contínuas ao céu para cessar o barulhento dilúvio. Mas isso de nada adiantou.

No reino, corria a fama de Hase nos círculos sociais da corte e não demorou que comparassem seu talento a lendária Ono-no-Komachi. Diziam que há muito tempo, a talentosa donzela-poetisa, havia movido o céu rezando em verso, fazendo cair chuva sobre a terra sofrida com a seca e fome.

Os ministros do Imperador começaram a cogitar sobre o feito, e na possibilidade da talentosa Hase também escrever um poema ofertando-o aos céus, e quem sabe, cessar o barulho da tormentosa enchente, acalmando a causa da doença. O que o Tribunal especulou, finalmente chegou aos ouvidos do próprio Imperador, que enviou uma ordem convocando o ministro Príncipe Toyonari para o rito.

Grande, em verdade foi o medo e espanto de Hase-Hime, quando seu pai disse-lhe o que era exigido dela. Pesado, na verdade, era o dever que foi colocado sobre seus jovens ombros, o de salvar a vida do Imperador pelo mérito de seus versos.

Finalmente, passado um tempo, chegou o dia, seu poema fora concluído. Ele foi escrito em um folheto de papel fortemente salpicado de ouro em pó. Então, junto a seu pai, atendentes e alguns dos funcionários do Tribunal do Império, Hime rumou até a torrente que ruge. Diante da furiosa corrente, elevou o seu coração ao céu, leu o poema que havia composto em voz alta, levantando-o para as alturas em suas mãos esperançosas.

Estranho, de fato, pareceu a todos aqueles que assistiam em pé. As águas subitamente cessaram o seu rugido e, em resposta direta a sua fervorosa oração, o tormentoso rio aquietou-se. Depois disso, o Imperador logo recuperou sua saúde.

Sua Majestade ficou muito feliz e, grato, mandou que a trouxessem para o Palácio a recompensando com o posto de Chinjo-o. A partir daquele momento, a jovem foi chamada Chinjo-hime, ou, a princesa tenente-general, respeitada e amada por todos.

Havia apenas uma pessoa no reino que não estava satisfeita com o sucesso de Hase, sua madrasta. Sempre pensando sobre a morte de seu filho, a quem ela própria havia matado ao tentar envenenar a princesa. Terute sentiu a mortificação assistindo sua ascensão ao poder e honra marcados por um favor imperial e a admiração de todo o tribunal do reino. Sua inveja e ciúmes queimavam em seu coração como fogo.

Por fim, a madrasta aproveitando a oportunidade e ausência de seu marido, ordenou a um dos antigos servos da casa que levasse a menina para as montanhas de Hibari, a parte mais selvagem do reino, e a matasse.

Katoda, seu vassalo, foi obrigado a obedecer. De qualquer forma, temendo pela vida de Hase, entendeu que seria o plano mais sábio, fingir obediência na ausência do pai da menina. Então, numa madrugada fria, sabendo que ela era inocente, colocou Hase-Hime num palanquim e acompanhou-a para o lugar mais solitário que se poderia encontrar no distrito selvagem, determinado a salvar sua vida. Com a ajuda de alguns camponeses, logo ele construiu uma pequena cabana afastada, e dois bons idosos se prontificaram a fazer de tudo para ajudar proteger a princesa. Hase, informada sobre a perversa intenção de sua madrasta, acreditava que seu pai sairia em sua busca, assim que voltasse para casa e a encontrasse ausente.

Príncipe Toyonari, depois de algumas semanas, finalmente voltou para casa, e logo foi recebido por uma esposa aflita informando que sua filha tinha feito algo horrível e fugido por medo de ser punida. Nenhum dos empregados sabia o porquê e nem para onde Hase havia ido. Toyonari, por medo de um escândalo maior, manteve o assunto em segredo, e procurou pela princesa por todo o reino e em todos os lugares que poderia imaginar.

Tempos depois, tentando clarear sua grande preocupação, chamou todos os seus homens e disse-lhes para se prepararem para uma caçada nas remotas montanhas de Hibari. A comitiva seguiu para as montanhas com o príncipe à frente os liderando e, finalmente, encontraram-se em um pitoresco e estreito vale.

Olhando em volta a admirar a paisagem, Toyonari notou uma pequena e bem cuidada cabana que se destacava em uma das colinas. De suas janelas entreabertas, podia ouvir claramente o som de uma leitura em alta e bela voz. Apreendido, e com curiosidade a respeito de quem poderia estar estudando tão diligentemente em um lugar tão distante e solitário, desmontou seu cavalo caminhando até a encosta. Acercando a casa de campo, enquanto se aproximava, sua surpresa aumentou. Percebeu que o dedicado leitor era uma jovem menina e sua voz, estranhamente, lhe soava familiar. Ele ouviu a leitura das escrituras budistas com grande devoção. Atraído pelo som melodioso da oração, atravessou o pequeno portão, adentrando um exuberante jardim. Mas, ao levantar o olhar para cima do balcão da janela, pode ver extasiado, ninguém menos que sua amada filha desaparecida, a bela Hase.

"Hase!!!", ele gritou: "É você, minha pequena Hase?"

Surpreendida, ela mal podia acreditar que era o seu próprio e saudoso pai que a chamava, e por um momento, mal pode falar ou se mover.

Princesa Hase: A lenda da Cinderela japonesa

Correndo para seus braços, Hime se agarrou a sua espessa manga, e escondendo o rosto, explodiu em lágrimas. Seu pai acariciou seus longos cabelos negros, perguntando se não estava realmente a sonhar.

Nesse momento, o velho e fiel servo Katoda saiu da velha cabana e, curvando-se ao chão, derramou toda a verdade sobre o ocorrido, dizendo-lhe tudo em detalhes.

O espanto e indignação do príncipe não conheciam limites. Toyonari correu de volta para casa com a filha nos braços. Uma das empresas galopou à frente com a feliz notícia. A madrasta, com medo por sua maldade ter sido descoberta, fugiu do palácio. Retornou em desgraça a casa de seu pai, e nada mais se ouviu falar dela.

O velho servo Katoda foi recompensado com promoção pelo seu mestre, ao serviço dedicado à princesinha, que nunca esqueceu que devia sua vida a este retentor fiel.

Hime já não mais estava preocupada com sua madrasta cruel, e os seus dias passaram-se tranquilamente na companhia de seu pai.

Como Príncipe Toyonari não tinha filho escolheu um jovem nobre da corte para se casar com Hase, tornando-o seu herdeiro. Em poucos anos, o casamento ocorreu. Hase-Hime viveu até uma idade avançada, e todos disseram que era a mais bela e sábia que já havia reinado na antiga casa do príncipe Toyonari. A virtuosa princesa teve a alegria de apresentar a seu pai, seu filho, o futuro senhor do Clã Fujiwara.

Este dia feliz foi retratado, um pedaço da obra tecida a agulhas é preservado em um dos templos budistas de Kyoto. Uma bela e rica peça de tapeçaria, com a figura de Buda bordado nos fios sedosos extraídos do caule de lótus. A preciosa obra é dito ter sido confeccionada pelas próprias mãos da encantadora Princesa Hase.

Fim.

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