treze
Tirei duas latas de cerveja do meu freezer e ofereci uma para Pedro. O relógio de ponteiro pendurado em cima da geladeira marcava mais de meia-noite. Eu estava exausto pelo trabalho no bar, mas satisfeito pelo modo como minhas mesas vermelhas e amarelas tinham ocupado boa parte da praça e um pedaço da calçada. Precisei ligar para o Pedro lá pelas tantas para ajudar Bianca com os pedidos. Ele apareceu menos de meia hora depois.
- Eu teria enlouquecido se você não fosse você, cara - falei, me jogando no sofá da sala enquanto Pedro se esparramava na poltrona, abrindo a lata de cerveja. - Valeu demais.
- Era o mínimo que eu podia fazer depois de tanta bebida de graça e as noites que você me acolheu quando a Ju me botou pra fora - ele disse satisfeito. - Mas, só para você saber, a Bianca parecia estar dando conta. Ela é ótima com os clientes e muito rápida.
Sorri por sobre minha cerveja.
- Ela fica mais eficiente quando o trabalho acumula. Quando o movimento tá fraco é que eu custo a aguentar a falação dela.
Pedro ergueu as sobrancelhas para mim.
- Não parece que ela é um peso para você.
- Ela é, sim.
- Para de ser do contra, Samuel. Vocês se implicam como se se conhecessem a vida toda.
- E isso é bom?
- Não? Talvez? - Ele deu de ombros. - Ela é uma garota legal. Eu gosto dela.
Não comentei nada. O único som era aquele que vinha dos ponteiros do relógio.
Pedro tamborilou os dedos no braço da poltrona até, finalmente, falar o que parecia estar segurando desde que tinha começado aquela conversa:
- E ela é linda também.
Engasguei com a cerveja.
Tossi tanto que me curvei pra frente, buscando por ar.
- Opa, tudo bem aí?
Me recuperei e encarei Pedro por um longo momento até dizer:
- Você estava reparando nela? - perguntei.
- O quê? Não! Não desse jeito, pelo menos. Eu sou fiel a minha mulher.
Continuei olhando para ele.
- Dá para parar de me encarar como se fosse me jogar pela janela?
Bebi minha cerveja, ainda em silêncio.
- O que eu quero dizer - Pedro continuou, bem devagar dessa vez - é que ela é uma garota legal, bonita e livre.
- Eu sei para onde você tá indo. Acho melhor calar a boca.
- Se continuar desse jeito, vai virar um solteirão, como a minha avó diz.
Fiz uma careta.
- Sério, cara? Desde quando você banca o casamenteiro?
- Bom, a Juliana pode ter dito algumas coisas...
- Você e a sua namorada me fariam um enorme favor se parecessem de fofocar sobre mim - comentei, pegando o controle remoto e ligando a TV. - Eu tô muito bem, obrigado.
- Então você e a Bianca...
- Não existe Bianca e eu - falei, para deixar as coisas bem claras. Já não bastava os meus próprios pensamentos confusos naquela manhã quando a ensinei andar de bicicleta. Não precisava do Pedro colocando minhocas na minha cabeça também. - Ela é minha funcionária. Ponto final.
- Não é o que eu ouvi por aí na rua.
Larguei o controle na mesma hora e olhei para ele.
Aquela frase nunca era um bom sinal. Não em uma cidade do tamanho de Santa Cruz com fofocas que corriam tão rápido quanto o vento.
- O que você ouviu na rua?
Pedro não hesitou.
- Que você tá dormindo com ela.
Se eu estivesse bebendo a cerveja, teria me engasgado de novo. Deixei a lata de lado e estreitei os olhos, minha respiração pesada.
- Quem foi o filho da puta que espalhou isso?
- Quem você acha? - Pedro balançou a cabeça para si mesmo. - O Henrique não gostou nada do jeito como você expulsou ele do bar no outro dia. Se eu tivesse que apostar, seria nele.
Me levantei do sofá de uma vez.
Pensei em pegar as chaves do carro sobre a mesa, mas Pedro pareceu ler meus pensamentos e as tirou do meu alcance.
- Ei, pode ficar quietinho aí!
- Aquele desgraçado... - murmurei. - Ele nunca aceita sair por baixo. Filho da puta. Se eu...
- Você não vai fazer nada - Pedro advertiu. - Eu sei que é tentador socar aquela cara convencida dele, mas a família do Henrique praticamente controla essa cidade. É melhor ficar longe de problemas.
- Que se foda a família dele! - gritei, o ódio queimando dentro de mim. Henrique estava acostumado a ter tudo, desde sempre. Muitas das terras ao redor de Santa Cruz eram da sua família, e seu irmão estava no início do segundo mandato como prefeito. Ele nunca suportou ser contrariado, desde a época da escola. Ele tinha o que quisesse, quando quisesse. E mulheres geralmente não escapavam dessa alçada.
- Ele tá interessado na Bia - Pedro continuou. - Todo mundo sabe o que aconteceu aquele dia no bar e algumas pessoas viram ele dar em cima dela. Acha que o Henrique gosta que o povo fale que foi rejeitado? E que você, dentre todas as pessoas, o expulsou de algum lugar?
Não. Com certeza, não.
Nada era tão frágil quanto o orgulho de Henrique, e ele não gostava de perder. Ou de não ser notado.
Talvez fosse por isso que ele me perseguiu em primeiro lugar. Aquele garoto tímido e grande demais nos fundos da sala, o ignorando, só desejando passar despercebido.
Mas ele me viu. Henrique e seu bando de amigos me atormentaram até eu parar de ser trouxa e usar o meu tamanho para amedrontá-los. E quando fiz isso, quando pela primeira vez não aceitei os apelidos nem as surras que me davam depois da escola e todos voltaram para casa com hematomas, a mãe de Henrique, uma mulher sempre de batom vermelho e salto alto, apareceu na escola no dia seguinte.
Bruto e criminoso foram só algumas das coisas que ela gritou sobre mim na diretoria. Ela disse que eu era um monstro, que o fato de não ter pais que me criaram não era justificativa para agir como um moleque de rua.
Quase fui expulso na época. Se a minha avó, o professor Carlos e alguns alunos que viram tudo não tivessem ficado ao meu lado, eu não faço ideia do que teria acontecido.
- É melhor deixar isso quieto - Pedro continuou, me tirando dos pensamentos. - Deixa o povo falar. Eu aposto que Bianca nem vai ouvir sobre isso.
- Não importa - disse com minhas mãos cerradas em punhos. - Ela não devia ser arrastada para essa história.
- O Henrique é um babaca. Babacas acabam tendo o que merecem.
Soltei uma risada de escárnio.
- Não nesse mundo.
Meu amigo suspirou e se jogou de volta na poltrona, como se o maior perigo já tivesse passado.
- Hoje, olhando para trás, eu vejo como foi barra pra você. Na escola. - Pedro me analisou. - Eu espero que você nunca tenha acreditado nas coisas que aquele cara já falou para você.
- O que exatamente? - disse sem humor. - Sobre eu ser um órfão? Sobre minha falta de jeito? A porra da minha aparência? - Revirei os olhos. - Ele era só um adolescente idiota. E se tornou um adulto idiota.
- Palavras têm poder, Samuel. E eu posso não ser o cara mais estudado do mundo, mas sei que o que acontece com a gente, principalmente durante a fase da escola, pode acabar determinando muita coisa. Inclusive o jeito como a gente se vê.
Voltei à minha cerveja, desejando que meus pensamentos clareassem, a raiva aos poucos esvaísse e eu conseguisse ver outra coisa que não minhas mãos em volta do pescoço do Henrique sempre que fechava os olhos.
- Eu só quero ficar em paz. E quero que Bianca fique em paz também. Eu... - suspirei e encarei o teto, a cabeça apoiada no encosto do sofá. - Eu me importo com ela. Não do jeito que você tá pensando. Mas me importo com ela.
- Eu sei.
E quando Pedro foi para a própria casa onde Juliana o esperava, eu fiquei sozinho e andei pelo corredor, apagando as luzes dos cômodos uma a uma.
Às vezes, tudo que eu queria era que alguém esperasse por mim também.
- Na minha vida toda, eu nunca me enfiei num lugar com tanta poeira - Bianca disse na manhã seguinte, esfregando o nariz vermelho. - Samuel, eu proponho uma vaquinha para contratarmos alguém para limpar esse lugar.
- E se esse alguém tiver mais sorte que nós e acabar encontrando alguma coisa?
- Nós não seríamos tão azarados assim.
- Você tá subestimando o quanto a vida pode humilhar alguém. Especialmente a gente.
Bianca deslizou lentamente até o chão de um dos quartos de hóspedes da casa do meu avô. Era aquele do primeiro andar, com um guarda-roupa que ia do chão ao teto e uma cama de dossel no centro.
- Sabe, a mobília inteira dessa casa deve ter saído de moda há uns cinquenta anos - ela comentou enquanto eu revirava as gavetas do armário.
- Cinquenta? Eu chutaria uns cem. Talvez eu aceite a sua sugestão e transforme esse lugar num museu.
- Ou em um set de filme de terror.
Ela estava ali jogada num canto, aparentemente já cansada pelas buscas do dia. Eu me virei para ela e cruzei os braços.
- Vai ficar me olhando trabalhar?
- Não é uma visão tão ruim assim.
Agradeci pela escuridão do quarto ocultar o vermelho nas minhas bochechas. Aqueles seus flertes falsos sempre me deixavam desconcertado.
- Engraçadinha - disse. - Anda, pode levantar.
- Minhas pernas estão doendo por ter pedalado até aqui. Você não tem compaixão?
- Meu Deus, você é muito mole...
Estendi a mão para ajudá-la a se levantar. Quando ela aceitou, a icei para cima com um pouco de força demais, o que a trouxe para mais perto de mim.
Bianca piscou e soltou minha mão, embora levasse um segundo a mais para se afastar.
- Voltar ao trabalho, certo?
O observei ir para o outro lado do quarto, onde uma penteadeira antiga ficava contra a parede. Bianca não parecia mais tão receosa de ficar a sós comigo, mas às vezes, por frações de segundos, eu via algo no olhar dela. Uma sombra. Alguma coisa que eu não conseguia decifrar. Então ela se afastava, longe o suficiente para que eu não pudesse tocar nela, e se escondia.
Eu me perguntava se estava vendo coisas. E, se não, se o problema era comigo.
Fui checar a mesinha de cabeceira ao lado da cama, tentando ocupar minhas mãos e assim quem sabe ignorar meus pensamentos. Sobre mim, sobre aquela casa, sobre ela. Me perguntava se os rumores sobre nós dois tinham chegado aos seus ouvidos, mas, se sim, Bianca sabia fingir muito bem que aquilo não a atingia. Eu, por outro lado, passei a noite inteira ruminando aquilo, além de elaborar diversas maneiras pelas quais podia acabar com a raça do Henrique.
Revirei o conteúdo das gavetas em busca de algo útil, mas só encontrei recibos de contas de anos atrás, botões velhos, pregos e mais um monte de quinquilharias. Tentei abrir a última gaveta sem esperar muito, mas ela emperrou.
Franzi as sobrancelhas e puxei mais uma vez. Ela não parecia trancada, só emperrada. Apliquei um pouco mais de força e...
A gaveta produziu um estrondo quando a arranquei sem querer da mesa de cabeceira.
- Samuel, você quebrou outra coisa? - ouvi a voz de Bianca atrás de mim.
- Eu não quebrei nada - resmunguei, tentando esconder a bagunça. - Já estava quebrado.
Não havia nada de útil na gaveta além de traças. Estava prestes a tentar colocá-la de volta no móvel quando notei algo no vão onde ela devia estar.
Franzi as sobrancelhas e me abaixei, esticando o braço para tocar o retângulo branco jogado no chão. Estava pegajoso de poeira e amarelado nas pontas, mas havia uma inscrição, quase apagada na lateral esquerda.
Cachoeira Branca, abril de 2005.
Virei a fotografia e encarei a imagem do outro lado.
- Bianca? Acho que encontrei alguma coisa.
Ela estava ao meu lado um segundo depois, quase quebrando o pescoço na pressa com que desceu da cama de dossel onde estava fazendo sabe-se-lá-Deus-o-quê.
- O que é isso?
- Estava no vão entre o chão e a gaveta que eu arranquei sem querer. Alguém deve ter colocado em uma das gavetas de cima, mas acabou caindo por trás.
Bianca tirou a fotografia das minhas mãos e semicerrou os olhos para ela.
- Mas essa... Essa é a minha avó.
Olhei para a mulher de cabelos escuros no retrato, sorrindo tranquila. Havia um homem e uma mulher também mais velhos ao seu lado, e na outra ponta...
- E esse é meu avô.
Vi quando os olhos de Bianca se fixaram no senhor de cabelos brancos e postura ereta, os olhos verdes eram penetrantes mesmo na fotografia antiga e de baixa qualidade. As quatro pessoas estavam reunidas em frente a uma velha casa de fazenda, com os montes e colinas verdes os cercando no horizonte.
- Onde é isso? - ela perguntou.
- Cachoeira Branca. Uma das fazendas que o meu avô possuía e que agora...
Ela ergueu os olhos para mim.
- É sua?
Assenti.
- É. Essas pessoas devem ser os arrendatários. Desde que o meu avô morreu, eu recebo mensalmente o valor dos aluguéis dos pastos e da casa. Mas eu não sei se esses dois da foto são as mesmas pessoas que ainda vivem lá. Já se passaram muitos anos e eu nunca fui até a fazenda.
Bianca começou a andar de um lado para o outro no quarto.
- Mas o que eles foram fazer lá? Faz sentido seu avô visitar arrendatários, mas o que a minha avó tem a ver com isso? Ela era só a empregada doméstica.
- Eu não sei. - Me aproximei de Bianca. O ar ao redor dela parecia crepitar de tensão. - Mas nós podemos descobrir. Se formos até lá.
Ela ergueu os olhos para mim.
- Você me levaria até a fazenda?
- Estamos nessa juntos, esqueceu? E é uma pista promissora. A única que temos até agora, pelo menos. - Quis tocar o ombro dela para acalmá-la, mas me contive. - Isso pode não ajudar a encontrar as joias, mas talvez forneça algumas respostas.
Bianca assentiu, mas ainda parecia perturbada, segurando a fotografia perto do peito.
- Bia, tá tudo bem. É uma coisa boa - disse baixinho.
- Eu sei. Só não entendo. - Ela balançou a cabeça para si mesma. - É loucura, mas sinto como se a minha avó tivesse escondido mais do que um monte de joias da minha família.
- Todos têm segredos - falei com um dar de ombros. - Alguns são arrastados com a gente até o túmulo.
Ela ficou em um silêncio contemplativo. Suspirei e passei por ela.
- Ei, que tal a gente sair desse quarto empoeirado e ir lá para fora? Tem um abacateiro enorme nos jardins atrás da casa e a gente pode sentar na sombra e beber algo gelado. Eu fiz umas compras ontem e trouxe tudo para cá. Já que vamos passar muitas horas nessa casa, a gente tem direito a umas pausas para o lanche.
Bianca assentiu e dobrou a foto com cuidado, a colocando no bolso da frente da sua calça jeans.
Eu a guiei até a cozinha, onde fiz limonada e estendi um copo para ela. A levei até o espaço enorme atrás da casa, com jardins que um dia tinham sido muito mais bem cuidados pelo meu pai, quando a gente ainda morava ali.
As roseiras que pareciam se recusar a morrer nos canteiros perto da casa evocavam uma memória tão forte dele que era como se eu pudesse ver seu fantasma trabalhando delicada e cuidadosamente com as flores, as podando e aguando, se esforçando para que crescessem cada dia mais bonitas.
"Sua mãe gosta de rosas", ele costumava dizer quando eu me oferecia para ajudar com a jardinagem. "Ela me disse que era a flor preferida dela no dia que a gente se conheceu. Então eu plantei muitas. De todas as cores. Seu avô ficou irritado porque não gostava delas, mas era só ver a felicidade da Helena para deixar o assunto de lado."
Era estranho como enquanto eu mal conseguia me lembrar dos rostos deles de vez em quando, certas frases como aquela ficaram gravadas pra sempre na minha memória.
Ao olhar para as rosas, eu via meu pai e eu, um garoto já bem grande para a idade, ajudando com uma pazinha de brinquedo a cuidar das flores. Minha mãe vinha olhar o que a gente estava fazendo de tempos em tempos, sorrindo feliz, mas mantendo distância de toda aquela sujeira.
Quando eu cansava de brincar na terra, ela me levava para a banheira enorme no andar de cima e a enchia só o suficiente para que eu pudesse bater as mãos na água e fingir que estava nadando. Mas eu não sabia nadar. Nunca aprendi. E talvez por nunca ter me afogado, nem por um momento como crianças fazem sem querer ao seu empolgar demais em uma piscina rasa ou banheira, também não tinha medo da água.
As coisas teriam sido muito diferentes se eu tivesse.
"Onde está o Samuel? Leonardo, onde ele está? Samuel? Samuel!"
Foi a última coisa que ouvi antes de submergir. Antes da água me puxar pra baixo, para a escuridão, tão rápido e tão forte que não suguei ar nenhum.
Medo e desespero tomaram conta de mim. E a vontade incontrolável de sentir o chão de novo, o sol, o ar.
Afundei por um segundo e para sempre.
- Samuel? Samuel!
Virei a cabeça para Bianca e respirei pesadamente, meu coração batendo acelerado até eu perceber que eu estava sim em terra firme, e não cercado por águas profundas. Eu nunca tinha chegado nem perto delas de novo. Não desde aquele dia.
- Desculpa, eu estava pensando em outra coisa - disse pra ela, tentando soar casual.
- Você parecia estar em outro mundo, isso sim.
- Ando com a cabeça cheia ultimamente.
Ela torceu os lábios em um sorriso.
- Pensei que a sua cabeça fosse tão vazia que dava eco.
- Se falar mais uma palavra, nunca mais faço limonada pra você.
Ela fez uma careta e colocou o copo bem perto do peito.
O abacateiro enorme perto do muro da mansão deixava uma grande parte do terreno na sombra, e foi entre as raízes dele que Bianca e eu nos sentamos.
- Qual é a chance de um abacate cair na minha cabeça? - ela perguntou, olhando para a copa da árvore carregada de frutas.
- Com a sua sorte, chances consideráveis. - Tomei um gole da limonada. - Mas não se preocupa, acho que nem a gente é tão azarado assim.
- Eu não teria tanta certeza.
Bianca girou o próprio copo da mão, os olhos perdidos em algum ponto.
- Cachoeira Branca é muito longe daqui? - ela perguntou.
- Uns quinze quilômetros. Mas parece mais por causa da estrada de terra. Ela é horrível, toda esburacada.
- Não vai atrapalhar o bar se formos até lá?
- A gente vai de manhãzinha no sábado. Vou pedir o Pedro para tomar conta do Lambari enquanto eu não chego.
- Tudo bem.
Eu abri um meio sorriso.
- Você já foi a uma fazenda antes?
Bianca se endireitou contra o tronco da árvore.
- É claro que sim. Em uma excursão da escola.
Eu ri e olhei para o céu.
- Ah, isso vai ser divertido...
- O que foi? Você acha que eu sou uma menina fresca da cidade grande? - Ela empurrou meu ombro. - Eu não tenho medo de barro, sabia?
- E de bostas de vaca?
Bianca torceu o nariz.
- Vou calçar minhas botas.
- Não se esquece do chapéu. E do cinto de fivela.
- Você poderia calar a boca?
Mas ela estava rindo e uma parte de mim sabia que eu já tinha ganhado o dia só por causa daquela risada.
- Eu espero que a gente não chegue a nenhum beco sem saída - Bianca confessou, e vi a apreensão nos seus olhos. - Além das joias, eu queria entender mais sobre ela, sabe? Quem ela foi, qual o significado disso tudo...
- Nós vamos - falei, tocando o pé dela com o meu na grama. - Eu prometo para você.
Bianca me olhou com um sorriso triste.
- Você não devia prometer o que não sabe se pode cumprir, Samu.
- Mas eu posso cumprir - falei, evocando uma confiança que eu não tinha, mas que talvez pudesse construir por ela.
Bianca sorriu, agradecida, e em um gesto calmo e despreocupado, pousou a cabeça no meu braço.
Minha respiração ficou presa na garganta, mas ao mesmo tempo uma calma absoluta se espalhou pelo meu corpo.
Tentando me distrair, eu disse:
- Samu?
Eu não precisava olhar para ela para saber que estava sorrindo.
- Você me chamou de Bia. Pensei que já tinha o direito de usar o apelido.
- Vou pensar no seu caso.
- Quem disse que eu preciso da sua permissão?
Sorri de lado. Mulher difícil.
Eu nunca tinha conhecido outra igual a ela.
Fechei os olhos e descansei contra o tronco da árvore.
Eu não fazia ideia do que sábado poderia trazer - respostas, ou mais perguntas - mas, pelo menos por enquanto, naquele momento silencioso e tranquilo com uma garota de cabelo rosa descansando perto de mim, tudo estava bem.
______________________❤️__________________
Oii, gente!!! Como estão as coisas aí do outro lado da tela?
Escrevendo essa nota em cima da hora de postar o capítulo e pensando aqui comigo o quanto eu gosto de interagir com vocês aqui no wattpad! Vocês são os melhores leitores que eu poderia desejar e são quem me motivam a nunca parar de escrever <3
Bom, eu espero que vocês tenham gostado do capítulo de hoje! Achamos uma pista promissora a respeito das joias e o capítulo seguinte vai trazer uma mudança de cenário conforme nossos personagens vão para os arredores de Santa Cruz. Também tivemos alguns vislumbres do passado do Samuel hoje, e me pergunto se vocês já montaram algumas peças do quebra-cabeça da vida dele... Me contem tudo que acharam!
Vejo vocês em breve,
Ceci.
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