capítulo único: dança pra mim
Commuovere (italiano)
"Uma história comovente que te levou às lágrimas"
[...]
dedicado à E.C.
pela nossa história.
Se ele fosse uma cor, seria um tom pastel de azul. Tranquilo e suave, como as ondas pequenas do mar ao encostar na costa. Se ele fosse uma flor, seria uma tulipa delicada que dança suavemente com a brisa no meu jardim e alegra-me com suas cores vibrantes. Ele seria o deus mais belo do Olimpo, com os lábios finos com sabor de pecado, olhos afiados como uma faca, e o cabelo negro que escorre no rosto e brilha como se tivesse sido pincelado a oleo. A covinha suave na bochecha esquerda é o abismo profundo a qual me joguei desde a primeira vez que lhe vi, e mesmo que tenham tentado me jogar uma corda, persisto aqui no escuro.
Eu não me importaria em amá-lo nessa escuridão, tatear o nada em busca do seu rosto, beijar seus lábios sem ter certeza que estejam limpos, e sussurrar seu nome como um mantra de olhos fechados. Eu sou um louco, então não me importaria de me entregar de bandeja como se fosse um sacrifício, de dar minha alma em uma noite mesmo que ele fosse embora pela manhã. Não me importaria em servir de isca, refeição, ou ser a última opção.
Nunca tive uma auto estima muito elevada.
No entanto, Jay não foi embora na manhã seguinte que nos tornamos um só. Fez o café da manhã e ganhou meu coração com seu sorriso doce matinal. Ele cortou o véu do preconceito com a ponta dos seus olhos, e iluminou nosso romance escuro com seu riso contigo. Jay não se mostrou interessado em joguinhos de manipulação, tampouco espalhar por aí como eu sou entre quatro paredes. Ele me ensinou que não é pecado amar, mesmo que preguem isso diariamente, não há problema em escolher o amor. Me mostrou os cigarros em uma noite de crises, me pagou um vinho barato com um sabor agridoce, e por isso, escolhi amá-lo em meio a essa confusão juvenil que nos tornamos.
Entre encontros escondidos, pedrinhas na sua janela e noites intensas; nos tornamos a realização de qualquer jovem da nossa idade. Agindo feito loucos, como se o mundo fosse acabar amanhã, e gritando em pleno pulmões todas as cores que o mundo tenta esconder. Do roxo ao vermelho, fomos o arco íris completo entre sons abafados, música alta, e corpos suados. Me apaixonei pelo azul claro que seu olhar castanho pode conter em dias calmos, por mais estranho que pareça, é tranquilizante. Como se seu carinho se transformasse em uma cor, e jorrasse pelos seus olhos de forma metafórica.
Como agora, nesse momento que me fita com seus olhos pontiagudos, sinto minha alma ser fatiada em pedacinhos. Seu olhar transborda um afeto azul, sua camisa é tão branca quanto as nuvens lá fora e eu me sinto um pecador por querer manchá-la com minhas cores. Sua expressão é serena, como um anjo que veio à Terra para pregar a paz. Me olha por trás da franja negra com um sorriso nos lábios que sugere muitas coisas. Sua mão está próxima a minha, seus dedos esbarram nos meus em uma inocência palpável e fofa. Sei que ele quer me dizer os motivos que levaram ele faltar a aula hoje, e também deseja indagar o que me fez pular o muro da escola e a sua janela. Mas ele apenas continua me encarando com essa expressão doce e carinho nos olhos.
— Minha mãe tá em casa. — sua boca sussurra, e eu assinto.
— Eu sei, vim te sequestrar.
Jay abafa um risinho e ergue uma sobrancelha. Minha mão escorrega até a sua e seus dedos entrelaçam nos meus.
— E vai me levar pra onde?
— Eu aluguei um quarto naquele hotel... — ele ergue uma sobrancelha e percebo estar segurando um sorriso. — Não me olhe assim, não seria a primeira vez...
Ele ri baixinho, com medo de sua mãe nos ouvir e assente sorrindo largamente. Seus olhos são dois risquinhos e eu me sinto cada vez mais fatiado por eles, mesmo que essa sua expressão seja adorável.
— Eu sei...
Estou prestes a abrir a boca para dizer alguma coisa muito brega, mas a voz da sua mãe no corredor chamando por ele me refreia. Jay arregala os olhos em puro pavor, e me empurra para debaixo da cama rapidamente. A porta está trancada, então a senhora Park bate algumas vezes chamando pelo filho. Tampo a boca para evitar que uma risada escape e permaneço escutando os sons do quarto. A mãe dele pergunta algumas coisas sobre itens perdidos, e logo depois sai a procura deles. Rimos juntos quando a porta se fecha e eu saio do esconderijo improvisado.
— Me espere na esquina. — ele diz quando estou prestes a pular da sua janela. Seus dedos agarram minha camisa e seus lábios encontram os meus em um carinho terno e delicado. Um sorriso enfeita nossos lábios quando nos afastamos e sinto meu rosto queimar pela adrenalina de fazer isso estando pendurado na sua janela.
Eu surrupiei uma carteira de cigarros das coisas da minha mãe e um vinho barato da coleção do meu pai, tudo porque a aura ilegal que Jay Park emana me faz querer cometer ator profanos. Andar pela sua calçada enquanto o espero é como aguardar a chegada de uma celebridade. Há borboletas do estômago, um friozinho na barriga e mãos inquietas no desejo de tocá-lo. E essa ânsia em tê-lo em mim só aumenta quando vejo ele caminhar na minha direção com as mãos dentro do bolso do moletom cinza e o cabelo sendo agitado pelo vento calmo.
Ele tem a cabeça baixa, fitando os próprios allstars surrados como se fossem mais interessantes. Sei que há uma verdade por trás das suas olheiras e ausência na escola, sei que existe algo que está deixando de me contar, mas ele sorri quando para na minha frente e acena para que continuemos a andar. Sigo seu teatro, finjo que não sei que ele esconde algo e rio de todas as suas piadas sem graça no caminho até o hotel.
E ao chegar no local, quando a porta se fecha atrás de mim, Jay parece se desfazer de sua armadura. Ele se despe de cada roupa e deixa suas amarras espalhadas pelo quarto junto delas. Os suspiros são quase doloridos, como se estivesse se desfazendo do peso do mundo de suas costas. Ele caminha até o banheiro e eu não sei bem se devo consolá-lo ou pedir abrigo. A vida não simplifica as coisas para nós, o amor é ainda mais complicado para dois garotos apaixonados que ainda estão terminando o último ano do ensino médio. As pessoas tentam nos afastar, e a maioria prega cartazes da rua sobre como o que fazemos, o amor que transbordamos entre quatro paredes, é algo sujo e pecaminoso.
Então, eu imagino qual seja o motivo da sua melancolia, o mesmo que me faz chorar escondido às vezes. Frases de amigos queridos ou até mesmo da minha família dizendo o quanto ser gay é horrendo. Certa vez, ouvi um amigo do meu pai dizendo como isso é uma desonra para família e quis ir correndo chorar no colo de Jay como um bêbe.
Caminho até ele a passos suaves, com medo da gravidade me puxar mais para baixo conforme meus passos soam pelo assoalho. Ele não disse nenhuma palavra desde que tranquei a porta, não ousou sequer olhar para mim enquanto despia de cada roupa com pesar. Jay está nu, deitado na banheira rasa e com a cabeça escorada na borda. Os olhos estão fechados e a boca entreaberta, tenho medo de me mover e retirá-lo desse momento de paz e tranquilidade, por isso apenas observo.
No entanto, ele abre os olhos afiados na minha direção, cortando cada traço da minha pele com as pontas e abre os braços em uma expressão solene.
— Vem — ele diz e eu me transformo em geleia.
Me desfaço das minhas roupas, das minhas inseguranças e do meu anseio em fugir. Fico despido em seus braços, me encolho em seu colo e busco por acalento ao mesmo tempo que desejo passar segurança a ele. Ele me pinta com seu azul claro, e eu me transformo em uma tela à sua disposição. Mapeia cada curva minha com maestria, desbrava universos e me faz ir a lugares extraordinários pelos seus dígitos. Jay funde cada átomo seu com os meus, mescla nossas peles em uma mistura deleitosa e se afunda em mim como se estivesse descobrindo um universo novo. Ele é delicado, me toca com suavidade e me faz sentir único. Me embriaga com seus beijos, me guia com suas mãos, e me mostra o caminho de casa.
Jay abre os olhos em meio a névoa do banheiro, sinto a água tocar minha virilha, e ele se aproxima do meu ouvido para sussurrar:
— Dança pra mim.
E eu danço para ele, com seus braços ao redor da minha cintura e seus olhos cravados nos meus. Movimento-me sobre seu corpo enquanto ele move os lábios para sussurrar frases desconexas e carinhosas. Nos tornamos um só novamente, entre segredos e confissões ocultas nos olhos; me torno dele e ele se mostra meu. A banheira está transbordando, assim como meu peito que cada vez se enche mais desse amor. Me pergunto qual santo poderia ditar que isso é pecado, quando me sinto no paraíso em seus braços. Se Deus mandou seu próprio filho à Terra como uma personificação do amor para nos ensinar o que é esse sentimento maravilhoso, por que diria que não devo amar Jay? Me recuso a pensar assim, a acreditar em todas as regras divinas que pregam nos templos.
Me recuso a deixar de dançar assim para ele.
🌈
Jay bafora uma lufada de fumaça enquanto desliza pelo quarto ostentando seu talento nato. Ele é um dançarino expert, e eu me sinto fascinado por cada movimento seu. O cabelo úmido que lhe escorre nos olhos, o corpo nu e ainda meio molhado, a boca rosada, os dedos longos com o cigarro entre eles. Ele fica tão bonito dançando.
O vinho desce queimando, mas meu interior já ferve pela antecipação de tê-lo em mim novamente. Bowie ressoa pelo cômodo em um efeito calmante, mas minhas mãos estão inquietas ao assisti-lo se mover tão graciosamente. Aguardo o momento em que ele se cansará de me agraciar com seu show particular, e me convide para uma dança privada. Espero o momento que a bebida acabe, e eu seja o responsável por lhe dar água na boca. Espero que o cigarro apague logo para que eu possa acender a chama do seu corpo.
Ainda há muito o que conversar, pingos nos is para colocar, mas por enquanto, quero apenas aproveitar sua companhia prazerosa. Desejo resolver nossos problemas, mas por enquanto, espero que eles se resolvam sozinhos enquanto eu o assisto se mover pelo quarto como se aqui fosse sua casa. Jay finalmente interrompe sua dança, leva o cigarro nos lábios e me olha de canto enquanto solta a fumaça suavemente. Seus olhos afiados inspecionam meu corpo como um predador, o canto da sua boca entorta em um sorriso de lado e ele afasta os fios do rosto com um manear de cabeça sem tirar os olhos de mim.
— O que tá fazendo com essa jaqueta? — questiona com a voz meio rouca. Apenas dou de ombros, não sei bem porque vesti a peça, sendo a única do meu corpo. Frio com certeza não é, meu corpo queima por ele. — Prefiro você sem nada te cobrindo.
— Então vem tirar.
E eu nem preciso pedir duas vezes. Pois ele o faz, me incendeia novamente e me leva ao paraíso sem sair do colchão. Ele me toca como se fosse a primeira e última vez, se deleita de cada reação, suspira a cada flexionar, me encanta com cada olhar. Queria ter o poder de parar o tempo, pausar a vida no exato momento em que seu corpo se desmancha sob o meu, seus olhos se reviram e sua boca sussurra palavras sujas. O cabelo grudado na testa, o suor refletindo sua melanina tão bonita, os dedos entrelaçados nos meus; tudo em Jay é extraordinário.
Sua mão se desprende da minha e se encaixa no meu rosto, seu olhar é expressivo, carregado de milhões de estrelas. Seus lábios se movem, mas ele parece incerto no que dizer, por isso apenas fica abrindo e fechando algumas vezes. Até que as estrelas presentes nos seus olhos despencam em duas linhas finas, transformando meu peito em cinzas.
— Eu te amo, Jungwon. — ele exclama com dor, carinho, medo, e alívio. Tento dizer alguma coisa, gritar que também o amo com todas as minhas forças, mas isso parece insuficiente perto da imensidão de sentimentos que ele colocou nessas três palavras.
Então eu o beijo, fervorosa e dolorosamente. Como se pudesse expressar todas as flores que guardo no peito em seu nome com isso, como se pudesse curar cada ferida com um toque. Dizem que um beijo vale mais que mil palavras, então, espero que ele entenda que eu faria loucuras em seu nome, fugiria do país, desistiria de tudo, apenas para ficar ao seu lado. Espero que Jay entenda que eu quero que ele continue sendo meu mesmo depois da escola, da faculdade, do fim do mundo. Realmente anseio que ele compreenda meus sentimentos e os acolha, assim como fiz com os seus. E não desista de nós
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