"Halloween Baby"

Parte 2

— Alguma ideia do que devemos fazer? — estávamos sentados na mesa tinha alguns minutinhos quando Connor decidiu que era sua vez de perguntar o que raios íamos fazer e se voltar pra me encarar. Não que eu fosse uma grande conhecedora de jogos, filmes ou livros de terror, mas tinha mais conhecimento que eles.

— Certo, segundo a minha experiência, vinda de assistir vídeos de gameplay do Zangado, vamos revirar as gavetas e outras coisas assim atrás de papéis como esse que possam nos dar pistas. — eu me levantei, entregando o papel pro Shay, ele era o único com bolsos. — As coisas estão calmas demais pra ser um Outlast da vida. Já teríamos dado de cara com uns psicopatas naquele pomar sinistro.

Os meninos deram ombros e seguimos pra sala da casa. Nada além de fotos que eu revirei de cima a baixo atrás de pistas. Olhamos a cozinha mais uma vez antes subirmos pros quartos.

— Pistas! Finalmente! — Shay surgiu com um caderninho infantil para a minha felicidade.

— Não acho que sejam pistas. São desenhos de uma criança e-... — ele continuou a folhear e eu praguejei baixinho. — Pensando bem, deixa pra lá.

Ele me entregou o caderno e nossa, eu nunca quis tanto realmente ser uma bruxinha.

— Que isso? Uma mistura de Slenderman com Espantalho do pomar maldito de Sobrenatural? — eu folheei o caderno mais duas vezes tentando achar alguma outra pista além do enorme desenho da coisa feia na última página. — Certo, precisamos de mais pistas. Deve ter algum contra ritual em algum lugar da casa.

Terminamos de revirar o quarto da filha caçula e que decidiu que era uma boa ideia brincar com o Capiroto, onde estavam os pais dessa criança pra não verem isso?, antes de irmos olhar o quarto do casal. Vazio, nada além de anotações de trabalho e fotos ao estilo família de comercial de margarina.

— Talvez no quarto dos irmãos. — Connor apontou para único quarto com visão para a floresta atrás da casa. Ai que merda.

— Tá bem. Fiquem no modo pernas pra quê te quero. — os meninos concordaram e eu agradeci que eles tivessem escolhido as armas de verdade para serem parte da fantasia.

Reviramos o quarto dos irmãos mais velhos e eu estava quase desistindo quando abri o armário. Um camundongo passou correndo, me fazendo dar um pulinho antes que eu voltasse meus olhos para o interior. Papéis e mais papéis recheados de anotações que em um jogo eu pararia para ler por uns dez minutos.

Mas é claro que ali, no meio do rolê, o Satanás não ia esperar sentadinho que eu terminasse de ler as anotações do possível ritual né. Então não deu outra, ouvimos de novo o maldito rosnar/grito/gemido.

— Okay, bora que quem gosta do Capeta é quem assiste Lúcifer. — eu juntei as folhinhas, entreguei pro Shay e saímos corridos pela janela em direção à floresta. — Certo, procurem por uma clareira redondinha, zero árvore, zero matinho, só o chão mesmo.

— Certo. — cara, essas sandálias não foram feitas para correr. Eu estava mais tropeçando que correndo quando o Connor decidiu que era uma boa ideia me jogar como um saquinho de batatas sobre o ombro dele e sair me carregando pela floresta adentro.

— Ali. — Shay apontou para algum local a nossa frente, que eu não podia ver porque a minha bunda tava virada pra esse lado. Infelizmente, eu tinha uma visão privilegiada do Sete Pele correndo na nossa direção. Literalmente a visão do inferno.

Connor me colocou no chão e no mesmo instante eu desviei deles pra ver se via o Satanás.

— O que é esse círculo mágico? — os meninos olharam ao redor e Shay me devolveu os papéis.

— Caralho, fala sério! É onde o ritual foi feito. — Eu me abaixei de cocorinhas no chão, espalhando os papéis e os meninos se sentaram, sem se preocupar com à terra ou com a sujeira. — Certo... — Shay espalhou um pouquinho mais seu casacão, dando assim um lugar onde eu podia sentar e eu me espatifei. — Temos um tempinho pelo que isso diz.

Eu comecei a ler e examinar os papéis e sorri aliviada.

— Está sorrindo, qual a boa notícia? — Connor espiou meu rosto, se abaixando um pouquinho para me olhar antes que eu arrumasse minha postura.

— Basicamente é um jogo point-and-click. Temos que achar objetos e resolver enigmas, a diferença é que temos um tempo pra isso. — eu virei os papéis e os organizei novamente, exibindo um quase mapa que tinha ali. — É como se fosse uma planta baixa da casa. — eu apontei para um dos cômodos e para a marca que tinha ali. — Quarto do casal, temos que encontrar um relógio do pai em prata santificada. Para cada comodo um quebra-cabeça que leva ao objeto.

— E quanto tempo temos para isso? — Shay me encarou e eles fizeram aquela carinha de preocupados quando eu esfreguei minha nuca.

— Uma hora. — eu respirei fundo, juntando toda a coragem que eu tinha.

— E depois desse tempo? — Connor girou a tomahawk que tinha trago consigo.

— O Sete Pele ali vai correr atrás da gente. — eu apontei com um aceno para a coisa que estava rodeando a floresta tinha uns dez minutos. — Ele vai tentar nos atrapalhar com visões, então cuidado! Ah, e temos que voltar aqui antes dessa uma hora também e enterrar as coisas no centro. Onde é o centro disso?

— Hmm... — Shay se levantou olhando ao redor e parecendo calcular as coisas antes de parar num lugar e esfregar os pés, fazendo uma marquinha no chão antes de olhar para Connor. — Aqui?

Ele concordou com um aceno e fez um buraquinho com os pés.

— Tem uma profundidade ou qualquer buraco serve? — Shay me olhou e voltei meus olhos para as anotações.

— Hm, acho melhor uma coisinha um pouco maior. — os dois se entreolharam e o Connor se levantou, pegando sua machadinha e fazendo um buraco um pouco mais largo e profundo. — Ótimo. Bem, essa é a nossa listinha de busca e temos que sair exatamente uma hora antes do pôr do sol.

Eu mostrei a anotação que havia feito no cantinho de uma das folhas. Seria uma coisinha para cada um. Não devia ser tão difícil né?

Shay estava vigiando o sol enquanto Connor e eu trabalhávamos em uma tentativa de estratégia. Mesmo com as informações que tínhamos, as coisas podiam dar bem errado, os quebra-cabeças podiam ser difíceis ou qualquer coisa assim.

— Está na hora. — Shay arrumou seu casaco e nós nos aproximamos da borda da clareira. Um instante depois e a coisa desapareceu e nós corremos de volta para a casa.

— Dividir e conquistar. — eu subi as escadas para o quarto dos meninos enquanto Shay ficava no andar de baixo na sala e Connor ia para o quarto dos pais.

Um detalhe que talvez eu tenha esquecido de contar: a casa não tava bagunçada quando entramos ou saímos. Mas agora, parecia que um furacão tinha passado nela e ainda precisávamos encontrar os quebra-cabeças.

Abençoadas sejam os gêmeos dessa família. Com o tempo extra que tivemos na clareira eu pude descobrir onde os enigmas estavam, o que já era meio caminho andado.

Connor devia procurar por uma caixa e então procurar pela chave que abriria essa caixa, que poderia ser qualquer coisa, desde um medalhão, um pingente ou realmente uma chave. Shay ficou com um cofre, por que todos sabemos que eu não me dou bem com números e porque ele sabe arrombar (olha a maldade, suas mentes poluídas) fechaduras melhor que o Connor. E eu fiquei com o que deveria ser o enigma mais difícil.

Quando eu arranquei os papéis da parede do armário eu vi um cofre. Ai você me pergunta 'Lady, porque não deixar esse cofre pro Connor?', simples: a desgrama da senha do cofre tá numa caixa com um quebra-cabeça difícil pra porra que eu particularmente odeio, mas sei resolver rápido se me concentrar.

O plano é basicamente esse: os meninos adiantam o lado deles e tentam me proteger até eu abrir o cofre e depois, com tudo em mãos, o Connor corre floresta à dentro de volta pro círculo e enterra as coisas enquanto eu e o Shay brincamos de esconde-esconde com o Satanás.

— Finalmente te achei sua porcariazinha. — eu nem acredito que fiquei dez minutos revirando um quarto e enfrentei uma caranguejeira pra achar uma caixa. Eu me sentei no chão, cruzando as pernas em lótus e coloquei a caixa no meu colo, encarando o probleminha.

Eu tinha que 'levar' uma peça vermelha de um lado da caixa através das outras peças brancas até a abertura no extremo oposto. Eu respirei fundo e comecei a mover as peças, tentando levar a bendita da peça vermelha pra fechadura. Eu estava quase descobrindo como fazer isso quando comecei a ouvir uma risadinha. Uma risadinha maligna de criança.

— Caralho! — a voz do Shay acompanhada de algo caindo no chão me dizia que a sessão de visões tinha oficialmente começado.

— Que Hecate me ajude e Nix me proteja, vamos lá... — eu voltei a me concentrar nas peças e obrigado deuses por me darem um foco tão fodido pras certas coisas que eu não percebo, não vejo, nem escuto nada ao meu redor. — Consegui! Eu sou foda.

— Agora abre o cofre pra gente ir embora. — o Connor estava puto da vida e suando frio e o Shay tava mais branco que eu depois de um ano sem praia.

Enquanto eu abria o cofre começamos a ouvir um arranhar, como de uma lâmina sendo passada na parede e aquele barulho sinistro novamente.

— Corre que o Satanás tá puto! — eu peguei rapidinho o amuleto do cofre, indo para a janela.

O Connor já estava lá em baixo, então eu simplesmente joguei as coisas para ele antes de descer e acenar para que ele fosse enterrar tudo. A criatura apareceu na porta, soltando um grito enquanto o Shay corria pra janela e saltava pro chão antes de me ajudar a descer.

E não é que a coisa tava mesmo puta coma gente? Ele teve a audácia de quebrar a janela e pular na nossa frente.

— Volta pra casa! — a porta tava escancarada mesmo. Nós corremos e a porta se fechou logo atrás da gente. Então eu descobri porque os meninos estavam com aquelas carinhas.

Uma assombração queimada, uma assombração quebrada com direito a membros tortos, tipo a cabeça virada para trás, e ossos aparecendo e uma assombração que tinha arranhas andando em cima dela.

— Credo que gastura. — Shay deixou uma risadinha escapar pela minha cara de nojo antes de me puxar para perto quando ouvimos um baque alto vindo do andar acima.

Estávamos encurralados, há um passinho de uma morte em um universo alternativo. Então a casa tremeu, a criatura gritou e os fantasmas tomaram formas menos medonhas. A coisa virou terra e os fantasmas sumiram em forma de uma luzinha pacifica.

— Hm, não foi tão difícil. — eu ajeitei meu cabelo quando Shay me soltou e me encarou com uma cara de 'oi?'. — Quê? Tem jogos piores sabia?

— Vou acreditar em você. Agora vamos procurar o Connor. — nós saímos da casa e seguimos por entre as árvores até achar o meu pãozinho de canela sentado em uma árvore.

— A casa envelheceu depois que vocês saíram, é como se ela fosse muito mais velha. — ele apontou na direção de onde tínhamos vindo antes de descer e nos encarar. — E agora?

— Não sei. Vamos voltar pro círculo, talvez tenha algo lá ou coisa assim. — os meninos concordaram com um aceno enquanto o Connor se abaixava e me pegava, me carregando nas costas. — Ah, que lindo, uma porta no meio do nada.

Connor me colocou no chão antes de rodear a porta, em pé, no meio do círculo. Eu suspirei e dei um passo a frente antes do Shay colocar o enorme bracinho na minha frente, me parando antes que o Connor abrisse a porta e espiasse por ela. E lá fomos nós em filinha por um corredor estreito, gelado e escuro.

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