Capítulo XXXIV










L E X I E





APRIL PODIA TER TRAZIDO MUITAS NOVIDADES para a vida do Hunter, mas a chatice definitivamente não era uma delas. Eu podia afirmar isso com certeza porque, depois de tantos anos de perturbação mútua, eu já estava bem familiarizada com cada faceta encantadora de sua personalidade.

Meu celular vibrou com mais uma notificação e eu o joguei dentro da bolsa.

Será que esse cara não cansa?

O que foi? Heather jogou seus cabelos sobre o ombro para me encarar.

Nós caminhávamos sobre o gramado de St. Clair agarradas aos nossos materiais de educação física. O primeiro sinal estava a minutos de tocar e uma multidão de alunos se afunilava para passar pelas portas do prédio principal.

— Hunter mandou mensagem de novo.

Minhas palavras a atingiram como um raio.

Heather olhou para mim como se eu tivesse confessado um assassinato. Ela morria de medo que eu sofresse uma recaída maluca e cedesse ao meu comportamento autodestrutivo favorito: transar com Hunter pelos cantos em troca de migalhas de atenção até que ele surte e acabe tudo com um término muito público e humilhante para ambas as partes.

Pois é.

Eu não podia culpá-la por pensar assim. Quem segurou a minha mão durante todos esses términos tenebrosos foi a Heather. Ela era o tipo de amiga que poderia te ajudar a ocultar um corpo. Não. Eu precisava ser justa com ela: mais importante do que ajudar a cometer crimes, Heather era o tipo de amiga que poderia te ajudar a não cometer crimes — quer dizer, se não fosse por Heather e sua habilidade extraordinária de me fazer ver a razão, eu provavelmente teria virado uma assassina em série há muito tempo.

Subindo o primeiro degrau da escadaria, eu lhe lancei um olhar e meus lábios se repuxaram em um sorrisinho impossível de evitar:

— Ele está cobrando que eu e Finch devolvamos o busto roubado, então, pode relaxar. Não é o caso de uma intervenção.

Quando alcançamos a porta, meu ombro foi de encontro ao de outra pessoa. Eu me virei pronta para pedir desculpas e encontrei Nikki Thibault me encarando com seus lábios torcidos em insatisfação.

— O que você está olhando? — eu disparei na lata.

Qualquer um que ouvisse meu tom de voz e me dissesse que eu não precisava ser tão rude definitivamente não conhecia aquela garota.

Nikki era um metro e sessenta de pura maldade. Cabelos curtos, olhos escuros e nariz pequeno. Feições delicadas como as de uma boneca. Em termos de personalidade, ela fazia Regina George parecer agradável. Quer dizer, Regina George pelo menos tinha algum carisma a seu favor, enquanto a Nikki era apenas mimada e barulhenta.

Felizmente, dissimulada do jeito que era, a garota virou o rosto sem dizer nada. Ela nunca atacava seus alvos de maneira direta. Talvez por conta de sua baixa estatura e constituição frágil, Nikki teve que aprender desde cedo a usar os outros para suas ofensivas: mandando, manipulando e difamando...

Deus sabe que eu acabaria com a raça dela se ela cometesse o erro de-

Chega. — Heather interrompeu meus pensamentos violentos, conduzindo-me pelo braço até as portas do pavilhão. — Nós estamos atrasadas.

Para o alívio da minha amiga, eu me permiti ser guiada porta a dentro. Por mais que eu adorasse a perspectiva de começar o dia com um acerto de contas, o maldito busto continuava no carro do Hunter. Se Nikki tivesse escutado essa parte da minha conversa com minha amiga, nós todos estaríamos correndo um sério risco de expulsão — bastava ela comunicar o paradeiro do busto roubado ao diretor que nossa próxima parada seria o olho da rua.

Eu podia estar furiosa com Hunter, mas eu não queria realmente destruir a vida dele.

Tudo bem. Ok. Eu admito.

Talvez "destruir a vida dele" tenha passado pela minha cabeça em algum momento, mas não daquele jeito.

Quando eu pensava em destruir Hunter, eu o imaginava cego pelo desespero, ligando para mim sem parar e implorando por desculpas de joelhos aos meus pés. Eu esperava abrir a caixa postal do meu celular e ouvir algo como: "Lexie, como eu pude ser tão estúpido? Como eu pude não ver o que estava bem na minha frente?".

Você sabe, só o básico.

Nós atravessamos mais uma porta e eu senti que Heather continuava nervosa ao meu lado. Considerando os cenários fictícios criados na minha cabeça, era uma coisa boa que minha amiga não soubesse ler mentes. Ela tinha seus olhos castanhos perdidos no corredor enquanto seus dedos se entrelaçavam sobre a bolsa de educação física que carregava contra o corpo como um travesseiro — todas as garotas em St. Clair tinham esse hábito: nós andávamos meio abraçadas aos nossos materiais de educação física, ignorando completamente a função da alça da bolsa.

Era um charminho bobo, assim como desprezar o uso de gravatas ou dobrar as mangas da camisa branca de botões do uniforme.

— Guarde um lugar para mim, ok? — Eu a empurrei de lado, sorrindo. — Vou ver o que ele quer agora.


● ● ●


Encontrei Hunter e Seth discutindo perto dos armários. Finch estava lá também, ele só não parecia estar interessado em participar da conversa.

Quando me aproximei, entendi o porquê.

— Talvez um meteoro tenha destruído aquele casarão no meio do nada e toda vida que existe dentro do raio de um quilômetro. — Seth dizia para ele — Já parou para pensar nisso?

Hunter estava de costas para mim, o que significava que eu tinha uma visão privilegiada de seu blusão puído: mangas arregaçadas até os cotovelos e antebraços fortes de fora. Ele puxou o cadeado frouxo para baixo e abriu a porta do armário de qualquer jeito, procurando algo enterrado sob a pilha de livros.

— Tudo bem, isso é pouco provável — Seth continuou após a falta de resposta, ponderando suas opções. — Talvez ela tenha odiado conhecer a sua família. Eu não queria te preocupar, mas isso pode acontecer, ao contrário de quedas de meteoros.

É claro que eles estavam falando sobre a April.

Meu Deus.

Eles sempre estavam falando sobre a April.

Eu não conseguia entender a obsessão que todos tinham por aquela garota.

Por algum motivo, ela não tinha aparecido na escola ontem e nem no dia anterior. Típico. Depois de tanta insistência para ser incluída no treino, a garota simplesmente faltou sem enviar justificativas no grupo.

— Ouvi dizer que oito em cada dez relacionamentos não sobrevivem à fase de apresentar a família.

— Você acabou de inventar isso — Finch murmurou entediado, apoiando o ombro contra a parede, olhos no celular.

A expressão de Seth se desmanchou em um sorriso, cabelos vermelhos despenteados de um jeito selvagem:

— Sim, eu acabei de inventar. Mas isso não quer dizer que não tem uma parte de verdade no que eu disse.

— Tudo bem. — Hunter retirou a cabeça do armário, pousando seus olhos frios como geleiras em mim por um momento. — Todos estão aqui. Então, posso começar.

Os meninos finalmente reconheceram minha presença atrás deles. Todos pareciam um pouco admirados em me encontrar, exceto por Hunter, que continuou a tagarelar sobre o patrono roubado.

Sim, nós já entendemos! Você não gosta de rodar pela cidade com um busto de mármore no seu banco de trás.

Ultimamente, Hunter só sabia reclamar perto de mim.

Ele nunca fora muito atencioso comigo, mas pelo menos no passado havia algum benefício em andar ao seu lado: eu tinha seus sorrisos lascivos, seus toques secretos e tudo mais que eu desejasse — se tudo que eu desejasse fosse seus dentes no meu pescoço e seu corpo afundado no meu, claro.

Por muito tempo, admito, isso foi tudo que eu quis de Hunter: o mais carnal e sujo sexo.

Eu acreditei que o tinha por inteiro, cada uma de suas partes quebradas — tudo que ele tinha a oferecer —, até ele ser roubado de mim.

Agora Hunter parecia uma pessoa completamente diferente: ele rastejava aos pés de outra, cedia a cada um de seus caprichos e fazia coisas ridículas como apresentá-la à sua família.

Ele parecia ter sido envenenado por April. Não, pior do que veneno. Hunter se deixou apaixonar por April. Ele estava completamente consumido por seu amor por ela.

Maldito sentimento.

Amor.

Até a palavra mexia comigo.

Me dava vontade de vomitar.

— O que você está pedindo é impossível. — Finch tinha os braços cruzados e carregava uma expressão de derrota em seu rosto. — Eles têm nos vigiado de perto desde que a semana começou, Campbell. Não temos como devolver.

Merda.

A conversa dos garotos continuava ao meu redor.

Eu observei Finch erguer o queixo para indicar uma pequena multidão que havia se formado do outro lado do corredor. Nikki e sua corja. Eles realmente não tinham mais o que fazer. Assim que a notícia do busto roubado se espalhou, nós nos tornamos os principais suspeitos — eles temiam uma represália desde o início do ano letivo, quando roubaram nossa bandeira, por isso, o nosso pequeno ato de vandalismo não passou despercebido.

O brilho ameaçador em seus olhares podia até ser real, mas eu não me assustava com caras feias e, acima de tudo, sabia que eles não tinham provas para nos acusar.

De verdade, eu não aguentava mais esse drama.

Por que as pessoas não trocavam de assunto?

No momento, eu tinha outras coisas para ocupar minha cabeça, como, por exemplo... Por que eu não escolhi Finch?

Ele era tão mais confiável.

— Por que você não se livra do velho Teobaldo de qualquer jeito? — Seth disse mais baixo e seus olhos claros se iluminaram com a perspectiva de um plano. — Entregue em um lixão. Quebre em partes e venda no E-bay. Melhor ainda! Jogue naquele parque perto da estrada. Eventualmente alguém encontra aquele pedaço de mármore e ninguém leva a culpa.

— Eu tentei. — As sugestões pareceram deixar Campbell ainda mais irritado. — Eu dirigi até lá, mas um guarda me seguiu e me perguntou o que diabos eu estava fazendo.

Um dos rapazes bufou e o outro murmurou em resposta:

— Isso é muito azar.

Naquele instante, um rosto do outro lado do corredor chamou a minha atenção. Era Josh Halden. Loiro, cabelos rebeldes domados em um penteado estúpido e olhos verdes como o oceano, tão claros que queimavam na pele. Até mesmo ao andar pelos corredores sem graça de uma escola no coração da Inglaterra, ele parecia dourado como um raio de sol. Eu tinha certeza de que se eu afundasse o nariz em seu pescoço eu sentiria o cheiro de suor misturado a protetor solar impregnado em sua pele.

Era perturbador.

E nojento.

De qualquer forma, no momento, ele parecia especialmente burro. Sobrancelhas franzidas, ombros tensos e dedos fechados sobre a alça da bolsa que carregava a tiracolo — sempre carregando aquela pontada de ceticismo no olhar ao se dirigir a mim.

Maldição.

Outro homem apaixonado por April.

Era uma epidemia.

Todos eles, homens lindos que me odiavam.

Quer dizer, Hunter podia gritar, mas no fundo ele era só palavras. Josh Halden era outra história. Para começar, Josh só havia tomado conhecimento da minha existência porque queria encontrar um jeito de me chantagear e me usar em seu plano. E ele conseguiu. Eu me tornei sua cúmplice. Nossa aliança tinha um objetivo simples: evitar um desastre — que outro nome poderíamos dar ao relacionamento de April e Hunter, afinal? Eles eram errados um para o outro. Hunter era impulsivo, um chamado para a autodestruição e April... Ela era tão perfeita, não era?

April merecia alguém como Josh.

Alguém rico, bonito e esperto.

Alguém que vivia em uma mansão, completamente sozinho, irritantemente regrado e cheio de escrúpulos.

Alguém que perdia o controle com um beijo.

Por Deus.

Eu ainda conseguia sentir o gosto daqueles lábios na minha boca.

Por que ele tinha me beijado? Por que misturar as coisas?

Maldito. Maldito riquinho aproveitador.

Eu devo ter mostrado os dentes em sua direção.

O que você quer, Josh?

Ele ergueu uma das sobrancelhas como se me devolvesse a pergunta: o que você quer?

Josh provavelmente me acusaria de ser óbvia demais na minha abordagem. Muito óbvia e desesperada. Bom, para ele era fácil falar, não era? Josh queria April, mas era nobre demais para tentar separá-los — por isso, o trabalho sujo sobrava todo para mim.

Eu devia me aproveitar da situação para mostrá-lo de uma vez o que era desespero.

Beijar Hunter e foder a porra toda.

É isso que você quer, Josh? Você quer April para você?

Eu posso tornar isso realidade em cinco minutos.

Não. Merda.

Por mais que eu quisesse que ele enfiasse April goela abaixo, eu não podia me deixar ser humilhada por Hunter de novo. Josh não teria a satisfação de me ver daquele jeito outra vez. Eu não aguentava mais ser uma peça em seu joguinho.

Na minha frente, Hunter seguia explicando por que era de suma importância que nós devolvêssemos o busto para a escola.

Eu estava começando a sentir dor de cabeça quando April Wright e seu irmão cruzaram as portas do pavilhão. Eles não podiam ter feito isso de maneira menos dramática, parecia a cena dos Cullens entrando no refeitório em Crepúsculo. Os óculos escuros em contraste com o rosto pálido de Cole e seus cabelos descoloridos não ajudavam a diminuir sua aparência fantasmagórica sob as luzes fluorescentes. Eu podia não ter um tostão no bolso, mas sabia reconhecer roupas bem costuradas quando as via. Ambos pareciam ter saído de um ensaio fotográfico, combinando os casacos pretos e sapatos caros.

Finalmente, a garota pareceu se cansar dos olhares. Ela se separou do irmão sem dizer nada e foi em direção aos armários.

Mesmo de costas, Hunter pareceu sentir que ela se aproximava. Ele olhou para April e se engasgou no meio da frase — em seus olhos, muito azuis, eu vi seu coração: mal batia em seu peito, parado como se esperasse um comando.

Quase ri com o gosto ruim que invadiu a minha boca.

Malditos. Todos eles.


● ● ●


H U N T E R


Eu não via April desde antes de ontem na minha casa. Nem ela, nem seu irmão apareceram em St. Clair no dia seguinte. Ambos sumiram sem dar notícias e permaneceram completamente incomunicáveis para o mundo até a noite, quando Cole fez uma aparição aleatória no grupo da fraternidade: ele avisou que não participaria do treino porque estava tão doente que sequer aguentava levantar da cama. Quando as pessoas começaram a questioná-lo sobre seu retorno, Cole não respondeu — todas as mensagens de texto foram ignoradas e as ligações, direto para a caixa postal.

Na manhã seguinte, eu estava começando a aceitar que a história dos dias anteriores se repetiria quando April apareceu ao meu lado: ela abriu o cadeado cor de rosa de seu armário e retirou alguns livros do espaço apertado. Eu estava tão surpreso que perdi vários segundos observando seu rosto, esperando encontrar uma reação semelhante à minha — nós tínhamos muito a conversar e, se eu a conhecia bem, a garota deveria estar tão ansiosa quanto eu.

Sem qualquer aviso, ela ergueu seus olhos castanhos cheios de luz para mim e um sorriso bonito deslizou por seus lábios. Meu coração estava batendo como louco. Eu tinha muito a dizer, mas todas as palavras desapareceram da minha boca assim que April pousou os olhos em mim.

Por que ela não estava nervosa também?

Eu perdi horas me preocupando com seu sumiço, tentando entender o que havia acontecido. Esse era o combinado, não era? Conversar. Responder uma mensagem de texto era o mínimo.

April sustentou meu olhar por quase um minuto inteiro antes do sinal tocar. Em silêncio, ela nos dirigiu um aceno elegante e seguiu para a sala de aula, dando as costas para nós — uma partida tão repentina quanto sua chegada.

— Você está babando, Hunter.

Eu não tinha tempo a perder.

Retirei a chave do carro do bolso e a arremessei para Seth.

— Eu não quero nem saber como vocês vão fazer isso — disse aos três, pronto para dar as costas. — Matem aula se for necessário. Só tirem aquilo do meu carro.


● ● ●


Dentro da sala, os poucos alunos presentes estavam envolvidos em uma conversa monótona, tão baixa que mal superava o barulho dos corredores. Eu me dirigi às últimas cadeiras com passadas largas e me sentei no meu lugar usual próximo a janela.

April, certinha do jeito que era, pairava sobre a mesa do professor. Ela ignorava meus olhares, pronta para receber sua prova corrigida — ao que parecia, a professora de química havia faltado e enviado um cara meio jovem para substituir as aulas do dia.

— Wright — o homem repetiu para si enquanto folheava o leque de provas, dividindo a atenção entre ler cabeçalhos e encarar o rosto da menina. — April Wright. Aqui está.

Bastou uma olhada para eu decidir que não gostava do cara.

Ele parecia um daqueles fracassados que davam em cima de alunas e, infelizmente, eu não costumava errar sobre esse tipo de coisa. Quando April estendeu a mão para pegar a prova, o professor tomou a folha de volta para si:

— Abril é o mais cruel dos meses — ele disse, fechando os olhos e franzindo a testa. — Germina lilases da terra morta. Mistura memória e desejo... Aviva raízes com a chuva da primavera.

Terra Desolada — April interrompeu o homem antes que ele pudesse continuar, puxando a folha da mesa. — Impressionante.

Embora forçasse um sorriso, algo na voz dela me dizia que ela achava a declamação de poesia o oposto de impressionante.

— Quem escolheu o seu nome? — ele se debruçou sobre a mesa. — Pai ou mãe?

Ela fez uma pausa, ainda de pé, segurando a prova.

Todos da sala haviam parado de conversar para assistir a pequena interação.

— Pai.

— Um fã de T. S. Eliot. — O professor inclinou o queixo em aprovação, aparentemente muito satisfeito consigo mesmo por ter encontrado um assunto em comum com a garota. — É um belo nome.

Tudo bem.

Se ele continuasse com de papinho para cima da April, aquela seria a primeira e última aula que ele daria em St. Clair.

Por sorte, um dos alunos sentados na primeira fileira levou a mão ao coração e se intrometeu na conversa:

— Eu adoro essa cantora! Ela é incrível.

— Boa tentativa, amigo — O professor deitou as costas contra a cadeira. — Terra Desolada é um poema e T. S. Eliot é um cara.

Uma das amigas desse menino ergueu o rosto para fitar April, sobrancelhas franzidas em desconfiança:

— O que significa?

April estava de costas para mim. Ela tinha a cabeça baixa e parecia analisar o gabarito da prova enquanto os outros aguardavam por uma resposta.

Quando ficou claro que não conseguiria revisar em paz, April liberou um suspiro:

— É um poema escrito no entre guerras. — Deu de ombros. — É muito longo e cheio de notas de rodapé.

— E o que mais? — O homem inquiriu abrindo um sorriso. — Eu sou apenas um professor substituto. Minhas instruções foram: distribua as provas e mantenha eles controlados. Se fosse uma pergunta envolvendo equilíbrio químico eu até poderia responder, mas literatura... Anda logo. — Ele depositou um tapinha sobre o tampo da mesa. — Não decepcione a turma.

Eu não podia ver o rosto de April, mas havia uma tensão nada amigável sobre seus ombros. Se eu conseguia enxergar sua irritação, era porque conhecia seus métodos. No momento, porém, a minha pequena vantagem não significava muita coisa: desde o café da manhã na minha casa, algo havia mudado entre nós — ela tinha levantado muros para se proteger de novo e eu estava trancado do lado de fora como mais um daqueles babacas.

Eu só queria entender o porquê.

— Abril é o mês da primavera — ela explicou. — É doloroso para aqueles que acabaram de enfrentar um inverno rigoroso. É a desilusão do mundo pós-guerra. Por isso, o mais cruel dos meses.

Por vários segundos, ninguém disse nada.

Todos os olhos da sala estavam voltados para April. Desde seu queixo erguido a seus cabelos lustrosos e sua postura perfeita.

Eu mesmo não conseguia esconder minha surpresa.

— Legal. — O garoto de antes quebrou o silêncio, sua voz soava distante aos meus ouvidos. — Meu nome é Harold, por causa do meu avô.

Algumas pessoas riram, mas eu não estava prestando atenção.

Abril é o mais cruel dos meses.

Eu não podia me imaginar olhando para um bebê e escolhendo um nome como uma maldição.

— Não faz sentido. — A garota que fez a pergunta continuava a encará-la com a mesma indiferença de antes.

— É um dos poemas mais analisados da civilização ocidental. — April deu de ombros. — Pode ter várias interpretações.

O professor substituto riu para April, cheio de flerte. Eu sabia o que ele estava fazendo: o desgraçado queria colocá-la um degrau acima dos estudantes como se compartilhassem um conhecimento que mais ninguém da sala tinha — assim que surgisse a oportunidade ele lançaria o "muito madura para sua idade" ou qualquer outra babaquice que um sujeito desses podia inventar.

Eu definitivamente não podia pegar minha prova.

Se eu desse um passo em direção aquela mesa, certamente faria o infeliz engolir tubos de ensaio e o estrangularia com uma tabela periódica.

Eu comecei a contar até dez mentalmente.

Vinte.

Trinta.

Antes que eu conseguisse alcançar o número quinhentos, Seth e os outros atravessaram a porta, preenchendo a sala com barulho. Entre o burburinho de conversas e o arrastar de cadeiras contra o chão, a voz do meu amigo conseguiu se sobressair sobre as outras, muito mais alta e acelerada. Merda. Uma coisa era certa: eu podia sempre contar com meu melhor amigo para piorar a situação toda — ele parecia ter desenvolvido um sexto sentido para isso, não era nem proposital.

Dito e feito.

Assim que Seth terminou de folhear o bolo de provas, os olhos dele encontraram os de April e ele liberou uma risada:

— Olha essa, Hunter! — Ergueu uma das folhas da pilha. — Você e a April acertaram meia meia de cem. Isso é coisa de alma gêmea.

Puta que pariu.

Uma nota como aquela podia ser até boa de acordo com os meus parâmetros, mas os meus parâmetros eram completamente diferentes dos parâmetros de April. Enquanto para mim e para Seth acertar mais que a metade da prova de química era motivo de festa, ela devia morrer internamente toda vez que errava mais de duas questões.

Eu me encolhi, esperando por uma repreensão furiosa.

Para minha surpresa, no entanto, quando April me encarou por cima do ombro, seus olhos castanhos estavam completamente vazios de emoções.

De certa forma, aquilo foi pior do que um olhar fulminante.

— Você ainda pode aumentar as suas notas com as listas — o professor substituto comentou de sua mesa, ignorando uma aluna que tentava tirar uma dúvida com ele.

April concordou e o homem continuou a falar, interpretando o sorriso educado como um encorajamento.

Tudo bem.

Ela provavelmente estava odiando aquilo tanto quanto eu.

Jogando minha mochila sobre o ombro, eu me levantei e segui em direção a April. O sinal estava a vinte minutos de tocar. Nós tínhamos desperdiçado uma boa parte da aula, entre a vista de prova e a conversinha do professor substituto.

Assim que cheguei na frente da sala, eu abaixei meu rosto para alcançar seus olhos castanhos:

— Vem comigo — disse baixo, apenas para seus ouvidos.

— Hunter, não é? — O professor nos interrompeu. — Eu vou ter que te pedir para voltar ao seu lugar.

Quando ela começou a guardar suas coisas dentro da mochila, eu suspirei aliviado.

Talvez as coisas não estivessem tão ruins entre nós.

— Campbell? — Ele continuou a me chamar e eu me dirigi à porta. — April, por favor, continue em seu lugar. April? — O som de cadeiras rangendo contra o chão se espalhou pela sala. — Qual é pessoal? O sinal ainda não tocou.

Olhei para trás uma última vez a tempo de ver as pernas bem torneadas de April abrindo caminho na minha direção.

HUNTER CAMPBELL — o professor gritou do interior da sala. — Eu peguei seu nome, ouviu?

A ameaça ecoou pelo corredor vazio e arrancou uma risada April, junto com seu primeiro sorriso verdadeiro do dia.

Vamos. — Eu tomei sua mão, guiando-a para fora do edifício. — Temos que sair daqui.


● ● ●


Depois de uma curta caminhada sem rumo, nós conseguimos encontrar um lugar tranquilo para matar aula. O pequeno jardim atrás da biblioteca estava completamente vazio nesse horário. Além das aulas, nós tínhamos o frio desgraçado ao nosso favor, diminuindo as chances de possíveis flagrantes — o outono estava apenas começando e a maioria das pessoas já preferiria passar o intervalo perambulando dentro dos prédios e não fora, onde o clima era congelante.

— Nós precisamos conversar — eu murmurei, envolvendo April pela cintura e a puxando para perto.

Merda.

April não perdia tempo mesmo. Ela aproveitou a deixa para se inclinar sobre mim com um sorriso safado, empurrando-me para trás até minhas pernas irem de encontro a mesa de pedra do jardim. Um par de lábios macios cobriram os meus enquanto unhas desciam pelo meu abdômen sob a camisa, acompanhando a frente da minha calça.

Puta que pariu.

Ela estava tentando abrir meu zíper. Mais arrepios se espalharam pelo meu corpo e uma risada escapou do fundo da minha garganta. Eu tive que segurar a garota pelos pulsos para não correr o risco de perder a moral de vez.

— O que é isso, April?

A menina ergueu seus olhos escuros para mim.

Céus.

Eu senti falta daquele fogo.

O que é isso? — Ela repetiu desentendida, desvencilhando-se do meu toque. — Você me trouxe para cá. — Depois de uma pausa, a voz dela se tornou macia: — Eu quero você. Eu quero você agora.

Um sorriso deslizou por meus lábios e eu resisti à vontade de fechar os olhos ao som daquelas palavras.

A desgraçada sabia o que estava fazendo.

Uma de suas coxas roçou contra a minha virilha quando ela se acomodou sobre a minha perna. Ela se sentou sobre mim, devagar e nada inocente. Precisei segurá-la antes que a situação evoluísse para algo mais.

— Eu te disse que queria conversar, April. — Afastei sua coxa da minha virilha com delicadeza, colocando alguma distância entre nossos corpos.

Por mais que eu tenha sentido a sua falta, não podia deixar a loucura dos últimos dias passar em branco. April havia sumido sem dar notícias e, quando voltou, não queria me permitir respirar por tempo o suficiente para pronunciar uma simples pergunta — ela estava pronta para me distrair com sexo e, porra, eu cederia a cada um de seus avanços se não fosse pela artificialidade estranha de seus sorrisos.

Era bizarro.

O corpo dela podia estar colado ao meu, mas eu ainda conseguia sentir um muro nos separando. April queria me manipular e fingir que estava bem. A garota passaria por cima dos próprios sentimentos — seja lá quais fossem — e usaria meu desejo contra mim se eu permitisse.

Se April pensava que nós poderíamos regredir à estaca zero, ela estava prestes a ter uma pequena surpresa. Nós não podíamos voltar a trepar como se fôssemos desconhecidos depois de tudo que passamos juntos.

Aos poucos o brilho malicioso em seus olhos se apagou e deu lugar a compreensão. Ela finalmente entendeu que caiu na minha armadilha — o jardim era o local favorito dos casais para trocar amassos pelo mesmo motivo que era perfeitamente adequado para receber uma conversa privada: quieto e isolado, sem ninguém para nos interromper.

April não podia escapar.

Não aqui.

Não de mim.

— Você não pode fingir que está tudo normal. — Eu a segurei pelos braços mais uma vez. — Por que você sumiu?

Ela abaixou os olhos para o chão, seus lábios brancos, drenados de cor. April parecia estar prestes a vomitar. Por um momento, suas mãos agarravam meu moletom e eu tive medo que ela insistisse em tentar me beijar de novo, mas a garota mudou de ideia no último segundo:

— Eu fiquei doente, Hunter — admitiu. — Eu tive que faltar.

A risada de Seth ecoou na minha cabeça.

Será que foi uma ideia ruim apresentá-la a minha família?

Talvez ele estivesse certo. Talvez a intimidade envolvida em dividir uma mesa de café da manhã com a minha mãe e a minha avó fosse demais para a garota. Ela se assustava fácil, não é? Eu sabia disso, sempre soube. Levando em consideração o histórico da April, eu não deveria me surpreender se esse fosse o caso.

O problema era que eu não queria acreditar que a minha família a assustava tanto assim.

Ela parecia feliz ao brincar com Julie.

— April — chamei de novo e minhas mãos encontraram a mesa de pedra atrás de mim, ardendo para tocar seu rosto. — Não é só isso e você sabe.


● ● ●


A P R I L


Eu tentei aprender a andar de bicicleta uma vez. Nós fizemos isso depois da aula, eu e a Indy: ela pedalou até o parque mais próximo e me prometeu que até o fim do dia eu guiaria a bicicleta com a mesma destreza de um maratonista. As nossas tentativas foram ridículas, para dizer o mínimo, mas o que realmente ficou marcado na minha memória foi a risada de um senhor de chapéu que se aproximou com um guarda-chuva. Ele disse que cair de bicicleta jamais seria um risco pra mim: eu tinha um caso crônico de pé no chão e nunca conheceria a dor de ralar o joelho.

Isso aconteceu há muito tempo, bem antes de eu conhecer Hunter.

Por mais estranho que fosse, volta e meia eu me lembrava daquilo: o medo de cair, o medo de confiar.

Finalmente, o tilintar do sinal que anunciava o fim da aula atravessou o estacionamento e chegou aos nossos ouvidos no pequeno pátio atrás da biblioteca. Hunter sequer piscou. Ele continuava a me encarar com uma firmeza desconcertante, esperando pela minha resposta.

Merda.

Eu não conseguia olhar para seu rosto sem sentir as lágrimas se acumularem nos cantos dos meus olhos. Meu corpo todo parecia estar reagindo à mentira que contei a Hunter, esperando o momento certo para me trair.

A verdade era que a minha família precisava de mim. Eu não podia esperar que Hunter entendesse isso. Ele tinha deixado bem claro na outra noite como se sentia em relação aos meus pais — eu não teria forças para brigar por causa do meu irmão também.

Quando ficou claro que eu não conseguiria responder, Hunter continuou:

— Nós tínhamos feito um trato, April. — As suas mãos estavam agarradas à mesa e os nós de seus dedos esbranquiçados por causa do esforço. — Conversar. Você sabe, como as pessoas normais fazem.

Deus.

Os dias que passei em casa foram emocionalmente drenantes. Enquanto meu pai e meu irmão quase matavam um ao outro, eu e minha mãe fazíamos o possível para apartar brigas. Na primeira noite, todos nós perdemos o sono tentando segurar Cole em seu quarto — ele foi pego tentando escapar no meio da madrugada e o flagrante marcou o início de mais um pesadelo.

Eu não era forte o suficiente para enfrentar aquele turbilhão de emoções. Os últimos dias foram uma provação para mim. Eu queria conseguir esconder o quanto aquilo me afetava, mas Hunter parecia enxergar a verdade por trás de cada um dos meus atos.

Eu o amava, afinal.

Tê-lo na minha frente apenas confirmava isso dentro de mim.

E eu não queria brigar agora.

— Eu pensei que nós estivéssemos na mesma página, mas hoje de manhã... — Hunter procurou pelos meus olhos e a primeira lágrima correu pela minha bochecha. — Eu sinto que não consigo mais alcançar você, April. Você entende isso?

Uma mentira me faria ganhar tempo.

Pelo menos até as coisas se acalmarem na minha casa.

— Você está certo — respondi de uma vez. — Eu me assustei.

Os olhos de Hunter, sempre tão expressivos, cravaram em mim como adagas. Eu assisti seu corpo todo enrijecer ao som das minhas palavras. Merda. Desejei poder retirar o que disse, mas era tarde demais.

Então, é isso? Nós precisamos ir devagar?

A verdadeira pergunta estava escrita por todo seu rosto: "Nós precisamos ir mais devagar?".

— Escuta, Hunter — disparei, ansiosa para reverter a situação. — Você não fez nada de errado. Eu só não estava acostumada a me sentir daquele jeito.

— Você não estava pronta.

— Não — admiti, brincando com as golas de sua camisa. — Mas tudo isso me fez perceber que eu gosto de você. E eu tenho muito medo de perder isso.

De certa forma, era verdade.

No mesmo dia em que acordei na cama dele, eu me dei conta de que o amava. Eu tinha me assustado, claro, só que de um jeito completamente novo e bom. A manhã que passamos em sua casa foi como um verdadeiro presente para mim: as risadas na cozinha, o calor entre as paredes e os beijos que trocamos em seu quintal — eu não queria dar um passo para trás no nosso relacionamento, nem me encolher de medo, mas o estrago já estava feito.

Que alívio — ele se permitiu debochar de mim, relaxando os ombros. — Eu ficaria preocupado se você me dissesse que tem dúvidas a essa altura do campeonato.

Eu estava entre o riso e o choro.

Felizmente, Hunter não tinha me mandado para puta que pariu.

— Da próxima vez, não tente me afastar, está bem?

— Está bem.

— E por que você está chorando agora? — Ele se desesperou por um momento, segurando meu rosto entre as mãos e capturando minhas lágrimas com os polegares. Eu liberei outra risada, apoiando meu corpo contra o dele. — Não faz mais isso, April.

April? — A provocação escapou da minha boca antes que eu tivesse tempo de pensar melhor. — Você nunca mais me chamou de amor.

Hunter congelou ao ouvir a palavra.

Parabéns, April!

Desse jeito, você vai confundi-lo de vez.

— Por ora, é melhor não. — Um sorriso preguiçoso não tardou a deslizar por seus lábios e suas mãos rapidamente desceram para minha cintura. — Você está ficando muito convencida.

Aproveitei a oportunidade para lhe roubar um beijo.

Nossas bocas se uniram em uma carícia lenta e eu me inclinei para frente, encurtando a distância que separava nossos corpos. Hunter apoiava seu peso contra a mesa de pedra enquanto eu me aconchegava entre suas pernas sem vergonha nenhuma.

Se Campbell me queria antes, ele não teria problemas em me aceitar agora, certo?

— Nós precisamos voltar — Hunter murmurou contra meus lábios, tomando espaço para respirar. — Devem estar procurando por nós.

Eu gemi em resposta.

O clima estava morto a ponto dele preferir assistir a aula?

Quer dizer, sim, a minha vida estava uma merda e, sim, a ideia de amar perdidamente o homem a quem eu estava agarrada no momento me apavorava mais do que a morte, mas eu também precisava transar.

— Vamos.

Ele jogou as alças da minha mochila sobre seus ombros largos e me tomou pela mão, arrastando-me junto a si por alguns metros enquanto eu fazia corpo mole.

Céus.

Eu jamais me acostumaria com isso.

Hunter era meu.

— Ei — chamei baixo, procurando por seu rosto. Quando seus olhos claros encontraram os meus, eu me permiti sorrir: — Obrigada.

— Boa tentativa, April — ele suspirou, aproximando seus lábios do meu rosto. — Você ainda vai voltar para aula.


● ● ●


L E X I E


Anda, porra — Finch ralhou baixo. — Nesse ritmo nós nunca vamos chegar lá.

Ele segurava uma das extremidades do busto de mármore enquanto Seth segurava a outra, andando de costas pelos corredores vazios.

— Eu já disse que tenho tendinite — o outro menino reclamou, afastando seus cabelos ruivos da testa com um movimento de pescoço.

Depois de muita discussão, decidimos seguir a brilhante sugestão do Campbell e matar aula para devolver o patrono roubado.

O plano consistia em quatro etapas muito simples: correr até o carro, pegar o busto, abandoná-lo na sala de música e fugir do local sem chamar atenção. A sala de música era um local de fácil acesso, um território neutro, livre do olhar de curiosos, então, a restituição do patrono deveria ser tão fácil quanto roubar doce de criança.

Por isso, assim que o último aluno entrou em sala, nós demos início ao plano. Saímos dos nossos esconderijos e partimos para o estacionamento em busca do patrono roubado. O trajeto de volta não foi fácil, claro, mas, por sorte, os meninos tinham a mim para orientá-los no caminho.

Tendinite — Finch repetiu com dificuldade, trocando as mãos sob o busto de mármore. — O que você tem é outra coisa.

— Faz o seguinte: vai tomar no cu.

— Vai você. Frango.

Infelizmente, eles estavam de mau humor hoje.

Não que Seth e Finch fossem mais fáceis de lidar qualquer outro dia.

— O que foi isso?

Merda.

O ruído de uma porta se abrindo havia atravessado o corredor. Eu não sabia dizer se alguém se aproximava de nós ou se o barulho vinha de dentro de uma das salas — sem o burburinho de conversas para preencher o vazio, as vozes dos professores eram como ecos fantasmagóricos nos perseguindo edifício a dentro e pregando peças na nossa audição.

Calem a boca — avisei em um sussurro. — E parem com isso.

Embora carregassem uma pedra de mármore pesada, Seth e Finch não perdiam a oportunidade de brigar como duas crianças: eles trocavam chutes de canela às cegas e ameaçavam derrubar um ao outro no chão.

Merda.

De novo, o mesmo barulho de passos.

Eu tomei a frente e fui em direção a origem do som para checar.

Era Nikki Thibault. É claro que, com a minha sorte, só podia ser aquela vaca incestuosa. Ela tinha nos visto e andava na nossa direção tão irritada quanto eu.

Quando tudo isso acabasse, eu teria uma conversinha com Josh sobre a prima dele.

— Ela está vindo para cá — avisei, correndo até os meninos. Eles perceberam o perigo e começaram a andar em marcha ré com a mesma coordenação motora de filhotes cachorros brincando de cabo de guerra.

Todas as salas do corredor estavam ocupadas no momento, cada uma delas lotada de alunos bisbilhoteiros e professores que adorariam nos denunciar para a direção.

Nós estávamos sem saída.

Merda. Merda. Merda.

Pela quantidade de palavrões que escutei, os meninos estavam a dois segundos de largar o busto e sair correndo.

Eu estava perto de concordar com eles quando o estúpido cadeado rosa de April chamou a minha atenção.

Os armários.

Aquilo era perfeito.

Anda — eu os chamei, virando em outro corredor. — Por aqui.

Eu abri o cadeado sem dificuldades. O primeiro a se aproximar foi Finch, que não pareceu reconhecer o escaninho de aço — ele estava tão cagado de medo que só queria se livrar da prova do crime.

— Tem certeza? — Seth perguntou arfante, carregando o busto sozinho enquanto o amigo dava um jeito de abrir espaço no armário.

Se eu não o conhecesse, diria que ele estava com medo.

O sinal vai tocar — eu os repreendi, quase a ponto de gritar. — Tomem uma decisão agora.

A primeira porta do corredor se abriu e os meninos agiram rápido. Em questão de segundos, o patrono roubado desapareceu dentro do armário e eu bati a porta, fechando-a de uma vez.

Nikki apareceu no início do corredor acompanhada de outros dois amigos bem a tempo de me ver trancando o cadeado. Os primeiros alunos começaram a sair das salas e eu a perdi de vista assim que o corredor foi inundado de rostos entediados.

— Primeiro problema resolvido — Seth me parabenizou, sorrindo e afastando cabelos ruivos suados de sua testa. — Graças a sua esperteza, nós criamos um muito pior e muito maior.

Nós? — eu perguntei rindo, pronta para dar as costas.

Ele pareceu ficar sem palavras por um momento.

— Lexie...

O corredor estava tão cheio que Seth quase perdeu o equilíbrio quando alguém esbarrou em seu ombro.

Merda. Eu odiava quando as pessoas tentavam dar uma de moralistas para cima de mim. Nós nos conhecíamos há tanto tempo que era difícil acreditar que logo ele tinha adquirido uma consciência de repente.

— Eu não sei do que você está falando. — Forcei um sorriso. — Quando Nikki voltar com o diretor em uma coleira, eu estarei bem longe daqui. Sugiro que você faça o mesmo.








N/A (15.05.2024): Boa tarde, vidinhas!

Eu aposto que vocês não estavam esperando um POV da lexie kkkkkkkk Ela eh mto encapetada, coitada. Uma pequena observação: no capitulo 2 ou 3 eu citei que o nome da amiga dela era heather e agora eu preciso usar esse nome de novo (emoji de choro) acho que eu nao percebi a aliteração em heather e hunter (a.k.a. as pessoas que a lexie mais interage) e isso me perturba demais, um dia eu edito e troco o nome dela.

Enfim, espero que vcs tenham gostado e agradeço a todos que interagem e deixam estrelinhas vcs são top.

Qualquer erro pfv me avisem.

Um bjo e cheiro,

B.

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