Capítulo XXI
A P R I L
MINUTOS SE PASSARAM ATÉ que nós conseguíssemos respirar direito. Eu peguei meu sutiã do chão e subi as alças pelos braços sem tirar os olhos da porta. Nenhum funcionário aparecera para checar a origem do barulho e isso definitivamente contava como um bom sinal. Talvez ninguém em St. Clair tivesse escutado a mesa quebrar. Estava tarde, todos já deveriam ter ido embora há um tempo. Ao que tudo indicava, nós tínhamos acabado de nos livrar de uma expulsão ou qualquer outra consequência catastrófica.
Enquanto eu vibrava em otimismo, Hunter parecia não acreditar na própria sorte. Ele precisou de um tempo para começar a se mover. A julgar pela expressão em seu rosto, alguém poderia derrubar a porta a machadadas a qualquer momento.
Quando finalmente despertou do transe, Campbell se agachou para examinar o estrago feito na mesa. Dentre os quatro apoios, apenas um havia quebrado. A estaca curta de madeira envergava contra o piso em um ângulo esquisito, ameaçando estourar em lascas e derrubar o móvel.
Isso poderia configurar depredação de propriedade privada?
Eu terminei de vestir meu sutiã sem dizer uma palavra. Seja pelo futebol ou pelo sexo, minhas pernas estavam moles embaixo de mim. Cada um dos meus músculos doía de um jeito diferente, mas eu me sentia bem.
Hunter se pôs de pé.
— Não podemos deixar isso assim — ele quebrou o silêncio, passando uma mão por seus cabelos escuros. Parecia procurar uma maneira de consertar a mesa, mas, a não ser que o baixista estivesse mantendo em segredo seu talento para a marcenaria, não havia muito que pudesse ser feito. Quando eu estava prestes a me afastar, ele me lançou um olhar hesitante: — Espere. Quero tentar uma coisa.
Campbell se posicionou próximo a beirada do móvel, uma mão de cada lado. Seus olhos azuis e penetrantes permaneciam colados em mim a todo momento.
— Eu levanto a mesa e você coloca a perna de volta no lugar.
— Está quebrada, Hunter — cruzei os braços, sem me mover — Não vai se encaixar.
Ele sorriu de má vontade:
— Não custa nada tentar.
Tive que segurar minha língua para não rebater.
Teimoso.
Hunter se preparou para erguer o móvel e eu me ajoelhei contra o chão para observar a parte quebrada. Os pequenos cortes se esticaram sobre minha pele e eu resmunguei baixinho. Merda.
— Vou contar até três e você desentorta a perna quebrada — sua voz era rouca — Não deve ser difícil.
Eu o encarei. Em pé a centímetros do meu rosto, Hunter certamente era uma visão e tanto: sem camisa, braços flexionados e rosto concentrado. Quis lambê-lo. De novo.
Como se escutasse meus pensamentos sujos, o baixista olhou para baixo. Nossos olhos se encontraram por uma fração de segundo longa demais e minhas bochechas esquentaram, assim como o resto do meu corpo.
Ah, sim. Hunter esperava que eu o respondesse.
— Já fez isso antes, Campbell? — ironizei, pronta para morrer se ele me perguntasse por que eu estava corando.
Hunter me ignorou. Contou até três e suspendeu a mesa apenas o suficiente para que eu pudesse empurrar a perna quebrada de volta ao lugar. A peça de madeira rangeu contra a minha mão, mas se encaixou ao móvel sem dificuldades.
Estava feito.
Eu me pus de pé e observei nosso trabalho concluído. Havia lascas espalhadas pelo chão que denunciavam nossa pequena aventura. A mesa provavelmente cederia a qualquer empurrão, mas nós disfarçamos bem.
Hunter fitava o nada, absorto em pensamentos.
— Caralho.
Meus ombros ficaram rígidos, em alerta, e meu coração disparou.
— O que foi?
Se alguém descobrisse que nós estivemos aqui, eu estaria perdida. Era da sala do diretor para a rua e eu poderia dizer adeus à carta de admissão em Oxford.
Quando finalmente percebeu minha apreensão, Campbell explicou:
— Deixei todas as minhas coisas no vestiário.
Uma risada sonora escapou por meus lábios. Os vestiários já deveriam estar fechados a pelo menos uma hora. Ele teria que procurar o zelador ou ir a administração do colégio.
Eu dei as costas e recolhi minha camisa, que jazia abandonada no canto da sala. Hunter não aguentou nem um minuto inteiro em silêncio. Seus passos me rondavam em uma paciência predatória, preparados para o ataque.
— Você é religiosa ou algo assim?
Franzi o cenho, ajeitando a gola sobre meu pescoço. Aquela era uma pergunta no mínimo esquisita para se fazer naquele momento.
Hunter assentiu satisfeito e, como se esperasse por minha falta de reação, completou:
— Porque, eu juro, até minutos atrás eu nunca havia escutado uma mulher gritar o nome do criador com tamanha devoção — suas sobrancelhas se arquearam em exagero: — Nem mesmo em domingos. Ou em igrejas.
Eu desisti de abotoar o uniforme.
— Sim, Campbell — sorri sarcástica — Seu pau mágico me converteu.
Ele pegou a camisa do chão com um sorriso enorme estampado no rosto. A peça subiu por seus braços e o tecido cobriu seu abdômen delineado por músculos. Inferno de homem.
Não me dei por satisfeita:
— O céu se abriu, os anjos desceram. Eu encontrei a salvação e aceitei a Cristo Jesus.
Se a coordenadora de St. Clair pudesse me ouvir naquele momento, ela teria um ataque. A mulher era uma católica fervorosa, muito apegada a suas crenças. Qualquer parte da nossa conversa soaria igualmente chocante e profana para suas orelhinhas vermelhas. Para ela, eu poderia ser atingida por um raio agora e provavelmente mereceria.
Hunter se aproximou devagar, estreitando os olhos.
— Sabe, agora que você falou... — suas mãos deslizaram pela minha cintura nua — Acho que eu posso ter ouvido o canto dos anjos.
— E as harpas? — sussurrei — Você as ouviu também?
Um sorriso que beirava a indecência tomou seus lábios e ele inclinou seu corpo para mim:
— Definitivamente.
No último segundo, não permiti que nossas bocas se encontrassem.
Pousei meu indicador sobre seu queixo e o afastei com um empurrão gentil, mantendo uma distância segura entre nós. Atrás do meu dedo, sua expressão mudou. Suas sobrancelhas se encresparam e seus olhos azuis se preencheram com confusão.
Nós ainda tínhamos um assunto pendente a resolver. Se eu fosse honesta comigo mesma, não podia fingir que a discussão de mais cedo não me incomodou. Uma pequena parte de mim continuava agarrada às suas palavras sobre o futebol e minha autoestima. Me machucava como uma farpa. Talvez ele estivesse certo e eu fosse insegura. Eu queria provar que era capaz.
Só então eu me dei conta de que me importava profundamente com o que Hunter pensava a meu respeito.
Não recebi esse pensamento com surpresa. Ele me conhecia de maneiras que eu não conseguia entender e isso sempre havia me incomodado.
— Você ainda vai se intrometer entre eu e Lexie?
Hunter hesitou. Seu rosto se tornou sério e pesaroso. Naquele momento eu vi que ele não havia se afastado de suas convicções nem por um segundo, nem mesmo quando eu mostrei o quanto aquilo me desagradava. Por fim, assentiu.
— Foi o que eu pensei — suspirei em resignação, me soltando de seu abraço — Não temos mais nada para conversar.
Eu não fiz tudo aquilo, no campo, por nada. Hunter não podia simplesmente chegar e jogar meu esforço no lixo porque achava que sabia lidar com meus problemas melhor do que eu — isso sem falar que a situação poderia piorar ainda mais se ele se colocasse entre eu e Lexie.
Seu maxilar se moveu sob a pele e ele me encarou, olhos frios carregados de ceticismo.
— Vai fingir que não acabou de transar comigo em cima daquela mesa?
— Você mesmo disse que foi um erro — sorri sem vontade. Eu deveria estar sentindo uma satisfação triunfal agora. Aquela frase havia me incomodado como o inferno. Usá-la contra ele deveria ser bom, mas eu estava cansada.
Hunter riu curto e irônico. Já vestido, me deu as costas e foi até a porta. Eu nem havia percebido que, na falta de uma tranca, ele posicionara uma cadeira contra a maçaneta — provavelmente para que ninguém nos interrompesse.
Voltei meu corpo para a mesa, preocupada em deixar menos evidente a bagunça que fizemos. Catei os pacotes de preservativos espalhados sobre o piso e os coloquei dentro da tigela. Quando posicionei o recipiente cheio sobre o tampo de madeira, dei falta de uma coisa. Não estava no chão e nem sobre a cadeira.
— Procurando por isso? — sua voz vinha de algum lugar atrás de mim.
Eu deveria saber que ele não desistiria tão cedo. Pelo menos não sem me importunar o máximo possível antes.
Hunter sorria canalha, feliz em ter a atenção de volta a si. Minha calcinha estava içada em seu dedo indicador, pendurada por uma de suas laterais.
Eu tentei tomar o tecido rendado de sua mão, mas Campbell apenas esticou o braço para fora do meu alcance.
— Qual a sua tara? — tive o cuidado de repreendê-lo bem baixo — Vai usá-la para se masturbar depois?
Hunter não se deixou abalar pela minha postura desafiante. Pelo contrário, parecia se divertir com minha fúria. Seus olhos azuis se estreitaram cheios de maldade enquanto da sua boca escorria sarcasmo. Encaradas de perto, as íris azuis lembravam duas geleiras: frias e cheias de fissuras escuras.
— Essa é uma teoria interessante.
Avancei mais uma vez e ele se esquivou com maestria.
— Vai daí para pior, Hunter — minhas palavras soavam como um aviso.
Campbell assentiu para mim. Sua boca escondia a sombra de um sorriso.
— Eu adoraria ouvir o que você pensa sobre mim, princesa, mas nós não temos tempo para isso.
— Nisso concordamos.
Por fim, Hunter me estendeu a peça. Eu agarrei a calcinha com determinação, mas ele não cedeu. Seus olhos se cravaram sobre mim, examinando meu rosto com uma satisfação predatória.
— Não é sobre a roupa, April — um sorriso obsceno crescia em seus lábios — É sobre você. Andando por aí, molhada entre as coxas. Pensando nas minhas mãos debaixo da sua saia e se encolhendo a cada vento que sopra mais forte.
Meu rosto se aqueceu. Sua voz macia reverberou no meu interior e deslizou sobre minha pele como seda. Malícia crepitava em seus olhos, me chamando para perto, mas eu já o conhecia bem o suficiente para interpretar cada uma de suas cartadas.
Você não vai se esconder de mim, amor.
— É sobre controle — concluí.
Hunter gostava de dominar. Ter poder sobre mim o excitava e tornava as coisas interessantes. Quando estávamos sozinhos, meu corpo era dele e meus pensamentos também. Mas, quando nos separávamos, eu estava livre para escapar de seu encantamento. Se essa gracinha era sua tentativa de continuar na minha cabeça, eu não me importava. Eu não odiava a ideia de me entregar a ele. Sexo com Hunter era bom. Eu confiava nele o suficiente para relaxar em seus braços e deixar suas mãos percorrerem minha pele em busca de prazer. O próximo passo era confiar nele fora da cama, mas eu não estava pronta para isso.
Ele deu de ombros, fugindo do meu olhar admirado:
— Pode ser sobre o que você quiser — seus dedos quentes abandonaram a renda branca e eu a envolvi, hesitante.
Rapidamente subi a peça íntima por meus tornozelos. Eu me sentia tentada em aceitar sua proposta indecente, mas há menos de um mês ele havia roubado uma de minhas calcinhas e a volta para casa nua debaixo da saia fora emocionante, por falta de palavra melhor. Não podia deixar que aquilo se tornasse um hábito.
— E quanto à aposta? — limpei a garganta, chamando sua atenção. Eu havia rejeitado seu beijo, mas ainda não estava pronta para deixá-lo ir.
Desde que recebi seu bilhete naquela manhã, a curiosidade sobre a aposta voltara a crescer dentro de mim. Na noite em que acertamos os termos, eu perguntei o que ele ganharia com tudo aquilo, mas Hunter se esquivara do assunto com facilidade.
— Você venceu, eu já disse — respondeu desinteressado, me dando as costas.
Ele conseguiu alcançar a porta e fechar a mão ao redor da maçaneta mais rápido do que eu pudesse articular a próxima frase.
— Mas você nunca disse o que estava em jogo — me apressei — Se eu perdesse, qual seria seu prêmio?
Por um momento, a sala ficou tão silenciosa que eu pude ouvir minha própria respiração. Cheguei a acreditar que Campbell não tivesse escutado a pergunta. Quando eu estava cogitando repetir o que havia dito, seus ombros largos enrijeceram debaixo da camisa, assim como o resto de seu corpo. Eu me aproximei com cuidado, ansiosa para encará-lo de perto. Hunter carregava uma expressão ilegível em seu rosto, maxilar tenso e olhos distantes. Parecia ponderar se valia a pena dividir a verdade comigo ou não. Ele engoliu em seco e, depois do que pareceu uma eternidade, respondeu:
— Um encontro.
No próximo segundo, eu estava sozinha.
Hunter Campbell ainda seria a causa da minha morte. Eu juro por Deus. Ele não podia sair por aí dizendo esse tipo de coisa. Não importava se para ele flertar fosse como respirar ou se esse fosse seu passatempo favorito, frases como aquela poderiam trazer estragos sérios a sanidade de uma garota. Eu deveria proibi-lo de dizer aquele tipo de coisa. Estava decidido: falaria com ele assim que me recuperasse.
Céus. Um encontro. Algo na voz dele fazia crescer um friozinho no meu estômago toda vez que eu lembrava. Deveria fazer parte de algum tipo de quadro alérgico muito raro, os sintomas também incluíam pulsação acelerada e suor nas mãos.
Puta merda. Não, mil vezes não. Aquilo não podia estar acontecendo comigo. Eu não deveria querer encontros e nem ficar desorientada a cada cantada oportuna que o Campbell fizesse. Qual seria o ponto do acordo entre nós se eu caísse por ele do mesmo jeito, como uma perfeita idiota?
Tudo bem. Eu só estava confusa, sobrecarregada com toda a informação que havia absorvido na última hora. Era cedo demais para me apavorar. Decidi fazer o que eu fazia de melhor: dissecar minhas emoções com um bisturi bem afiado e colocá-las à luz da razão. Esmiuçá-las em partes bem pequenas até que coubessem em frascos de vidros etiquetados, frios e esterelizados. É como eu sempre digo, não existe maneira melhor para lidar com sentimentos do que os reprimindo e compartimentalizando. Isso depois de uma boa dose de uísque, claro. Papai havia me ensinado bem.
Depois que Hunter deixou a sala, eu me apressei para sair dali o mais rápido possível. Atravessei o corredor vazio como um raio enquanto o som dos meus passos ecoava entre as paredes centenárias de St. Clair. Quando a porta do prédio bateu atrás de mim, eu já estava longe, misturada aos carros que restavam no estacionamento.
As chaves do carro do meu irmão continuavam comigo, enroscadas nos meus dedos. Eu não fazia ideia de como Cole havia ido embora de St. Clair sem elas. Ele deveria ter pego uma carona para casa, claro, mas isso ainda não explicava a total falta de interesse no paradeiro de seu Ford novinho. Meu irmão sabia como ser possessivo com aquela máquina de quatro rodas quando queria. Ele infartaria se soubesse que eu havia causado seu primeiro acidente de trânsito naquela manhã.
Ok.
Talvez fosse melhor se Cole não descobrisse sobre isso.
Olhei para a placa amassada. O carro prateado estaria em perfeito estado se não fosse por aquele pedaço de metal torto pendendo no parachoque. Meus dedos se fecharam ao redor da a alça da bolsa de educação física e apertaram a tira de tecido com força.
Não vai dar pra esconder isso, April.
Cole ficaria bravo quando eu contasse sobre o amassado. Brigaria comigo por dirigir sem habilitação e depois ficaria irritado consigo por ter me emprestado as chaves. Ele me perdoaria, claro, mas ficaria decepcionado consigo mesmo.
Inferno. Minha consciência iria pesar toda vez que eu olhasse para aquele carro.
Tudo bem, um problema por vez.
Eu me sentei sobre o banco do motorista e fechei a porta atrás de mim. Dessa vez, dirigia com a mente livre de distrações para evitar acidentes. Fiz o caminho para casa com o dobro de cuidado, olhos na pista o tempo inteiro. Seria o pior dia da minha vida se um policial me parasse e pedisse minha identidade.
Quando as ruas agitadas do centro deram lugar a uma paisagem verde tracejada com casas ocasionais, eu me permiti relaxar. Os acontecimentos do dia se enumeraram na minha mente, um por um: a batida, o colar, a lama e, por fim, Hunter.
Puta merda.
Eu acabei de transar com Hunter Campbell. Nós transamos como animais em uma salinha qualquer e ele me disse que queria um encontro. Aquilo não parecia real. Eu me sentia estranha, um pouco agitada, conduzindo como um fio desencapado. Foram emoções demais para um dia só. Minha revisão para química teria que esperar até a noite, quando eu me sentisse revigorada depois de um chá e uma soneca revitalizante.
Isso foderia meu plano de estudos.
Finalmente minha casa surgiu no fim da rua, aumentando conforme a distância diminuía. Eu não estranhei as marcas de pneus sobre o canteiro de flores de mamãe e nem o furgão pintado de preto estacionado na entrada de carros. Aquela lata velha coberta de adesivos era o veículo oficial da The F Word. Quando a banda precisava fazer apresentações em lugares distantes, os meninos transportavam os equipamentos dos shows ali. Era uma alternativa melhor em comparação aos carros do Hunter e do meu irmão, que se tornaram pequenos para abrigar a comitiva da banda. O furgão pertencia a Seth, pelo que fiquei sabendo — ele não fazia parte da banda, mas ajudava como podia, praticamente um agente.
Embiquei no jardim e manobrei o Ford, a fim de encaixá-lo entre o furgão da banda e o carro do meu pai. Pelo visto, teríamos casa cheia naquela noite: meus pais e os amigos do meu irmão, todos reunidos. Eu me perguntei se veria Hunter mais uma vez e parte de mim torceu para que não — era cedo demais para vê-lo novamente e meu autocontrole nunca esteve tão frágil.
Depois de trancar o Ford, eu disparei em direção a varanda da frente. O chão acidentado da entrada de carros acumulava poças de uma chuva recém caída e lama se misturava ao caminho de pedras de cascalho até a porta. Gotículas de água gelada respingaram sobre as minhas pernas e eu tremi. Fazia um frio do diabo ali fora e sem dúvidas eu começaria a espirrar em breve se não me aquecesse.
Dentro da casa, pendurei meu casaco pesado sobre o cabideiro do hall. O barulho de vozes exaltadas e risadas alteradas chegava a atravessar o corredor, afugentando o silêncio que espreitava os arredores. Não demorei para descobrir que a agitação vinha do escritório do meu pai. A porta de mogno estava entreaberta e, pela fresta, consegui ver Zack, meu melhor amigo, de pé contra uma parede, ainda de uniforme. Ele percebeu que eu o observava e seus lábios se moldaram em um sorriso fraco. Zoe estava aconchegada em seu peito em um meio abraço. Ela seguiu o olhar de seu namorado e abriu um sorriso animado para mim, se desprendendo de Zack e quebrando a distância para me cumprimentar.
Eu não pretendia entrar, mas Zoe me puxou para o interior do cômodo, onde todos se reuniam. Fui recepcionada por olhares demorados e feições curiosas. Ninguém havia esquecido do papelão que eu passei no campo poucas horas atrás.
— Onde você estava? — ela me puxou para um abraço e o cheiro de shampoo de morango invadiu minhas narinas — Nós te procuramos por toda parte.
Meu rosto esquentou enquanto eu pensava em uma boa desculpa para o meu sumiço. De preferência, uma história não envolvesse sexo sujo e mesas quebradas.
— Longa história — nós nos separamos e entortei meu nariz em uma caretinha, cruzando os braços sobre o peito — Caramba. Que frio.
Enquanto eu me sentia gelar até os ossos, Zoe estava realmente quentinha em seu blusão de lã creme. Ela deveria tê-lo vestido depois do treino, assim como suas roupas novas: uma calça jeans de lavagem clara e um par de Nikes brancos retrô — estava pronta para sair.
— Você estava lá fora até agora? Deve estar congelando — Zoe continuou a falar, mas sua voz começou a soar cada vez mais distante para mim.
Um pensamento inoportuno atravessou minha mente. E se eu encontrasse Lexie aqui? Pelo que eu sabia, ela era tão amiga dos meninos quanto eu.
Meus olhos correram pelos rostos no escritório, um por um, fazendo um reconhecimento rápido. Seth Montgomery tinha seu corpo afundado em uma poltrona de couro antiga e um cigarro aceso pendia de seus lábios. Ele não escondia seu interesse por mim, descendo os olhos pelas minhas pernas. Repulsivo. Já Finch, relaxava sobre um divã pouco confortável e usava um de seus braços como travesseiro — ele até levantou a mão livre para fazer um joinha para mim. Zack estava de pé ao lado de Zoe, ambos próximos à janela, acompanhando a conversa com desinteresse. Por fim, meu irmão havia escolhido se sentar na cadeira de nosso pai, encarando o resto de nós de trás da mesa como algum tipo de Don Corleone.
Nada de Lexie por aqui.
— Isso só pode ser obra dos caras da Rosseau — Seth ralhou, retomando o assunto como se eu nunca tivesse entrado no escritório — Eles ainda estão putos porque nós invadimos a casa do Halden e decidiram mexer com a gente de novo, como eu avisei que fariam. Nós precisamos revidar, dessa vez pra valer.
Ele falava do dinheiro que sumiu. Eu deveria imaginar que eventualmente algum deles arranjaria uma forma de culpar a fraternidade rival pelo roubo.
— Pau no cu desses filhos da puta. — Finch rugiu em concordância, de olhos fechados e testa franzida, como se preparasse para tirar uma soneca. No próximo segundo, ele pareceu lembrar que Zoe estava no cômodo e completou: — Menos você, Zoe.
Ainda esparramado no divã, o guitarrista ergueu o tronco para conferir a reação da minha amiga. Zoe era uma Rosseau, mas não deixava de ser uma de nós. Ela deu de ombros, constrangida debaixo do abraço protetor do namorado.
— O dinheiro ficava trancado no escritório do nosso grêmio — Zack agia como a voz da razão, tentando apaziguar os ânimos — Como eles entraram lá sem ninguém ver?
— Arrombando fechaduras? Subornando faxineiros? — Finch resmungava sem esconder a sonolência, recostando sua cabeça em uma almofada — É o que eu faria.
Eu ri baixo, sem saber se ele falava a verdade ou não, e meu amigo continuou:
— Não querendo cortar o barato de vocês nem nada, mas alguém sabe quando o Hunter vai chegar? Se não ensaiarmos logo, eu vou embora.
Os olhos de Seth caíram sobre mim e um sorriso cínico cresceu em seus lábios:
— Ele vai aparecer.
Não consegui ignorá-lo. Observei a fumaça deixar sua boca em uma coluna espessa e se dissipar no ar em seu caminho até o teto. Havia algo em sua postura despreocupada que me fazia acreditar que aquele demônio ruivo sabia de todos os meus segredos. Droga. Quando Seth não estava causando confusão e soltando risadas escandalosas, ele sabia como agir como um bastardo sorrateiro.
Ainda me encarando, ele se arrastou até a beirada do assento e repousou os cotovelos sobre os joelhos. Sorria ansioso, pronto para fazer uma confissão:
— Sabe... — disse baixo — Foi difícil te reconhecer sem toda aquela lama sobre seu rosto, lindinha.
Ouvi Zoe bufar de desgosto do outro lado do escritório.
— Pelo menos, eu joguei — rebati entredentes, fuzilando-o com os olhos. Pelo que eu sabia, Seth havia inventado alguma desculpa fajuta para fugir do basquete e passado o treino inteiro conversando na arquibancada, rodeado por um bando de calouros que o veneravam como um tipo de deus.
Seth ergueu uma sobrancelha, me oferecendo um olhar pouco impressionado.
— Se você chama aquilo de jogar — depois do que pareceram segundos, ele franziu seu cenho sardento para mim: — Ei. Tendinite é um problema sério.
Segurou o braço próximo ao peito, como se meu comentário tivesse ofendido a honra de seu pulso machucado.
— A única tendinite que você tem é a de tanto bater punheta — Finch interviu.
— Já falei que não preciso bater punheta quando tenho sua mãe — Seth recebeu um dedo médio em riste em resposta e, então, se voltou para mim: — Onde estávamos, lindinha?
— Seth — meu irmão o advertiu, sem se mover.
Algo em sua voz me dizia que constantemente algum deles precisava intervir em situações para evitar que Seth arrumasse problemas.
— Tudo bem — ele colocou as mãos para cima em rendição, voltando a se apoiar na poltrona — Irmão superprotetor na área, já entendi.
Mordi o interior da boca para segurar minhas próximas palavras. Nunca gostei que falassem por mim — essa gentileza dava brechas para pessoas como Seth zombarem de mim e eu, como uma idiota beligerante, sempre caía nessas provocações.
Porém, naquele dia, eu decidi ignorar Seth.
Talvez o pau do Hunter realmente operasse milagres.
— Vocês acham que vão conseguir recuperar o dinheiro? — limpei a garganta, me sentando aos pés de Finch.
Um silêncio tenso se instalou na sala e todos os rostos se viraram para meu irmão em buscas de respostas. Atrás da mesa, Cole sequer piscou ao se tornar o alvo da atenção repentina do grupo. Seus cotovelos estavam relaxados sobre os braços da cadeira e seu corpo se reclinava confortavelmente sobre o encosto de couro. Ele tinha os cabelos platinados penteados para trás e seu maxilar formava uma linha reta sob a pele. Talvez a raiz escura que começava a aparecer entre os fios brancos fosse o único sinal de indisciplina em sua postura.
— Nossa maior prioridade agora é arrecadar dinheiro para pagar a gráfica — sua voz soava definitiva, exatamente como um anúncio oficial deveria soar — Cada centavo.
Em outras palavras, seja lá quem estivesse com o dinheiro roubado, não iria devolver de tão cedo. Como presidente da fraternidade, Cole não tinha tempo para perder: os jogos estavam chegando e nós precisávamos pagar o material da torcida. No momento, isso era mais importante do que organizar uma cruzada em busca do responsável pelo furto.
Os meninos trocaram um olhar em silêncio. Provavelmente se tratava de uma grande quantia, se não, não estariam tão apreensivos.
— Bom, você poderiam fazer um show para levantar fundos para a Thomas — joguei no ar — Acho que vocês estão prontos para isso.
Eles se entreolharam novamente, dessa vez um brilho de esperança faiscava em suas expressões.
— Nós nunca cobramos para nos apresentar antes — Zack quebrou o silêncio. Havia uma adorável ruguinha se formando em suas sobrancelhas enquanto ele pensava.
— Seria por uma boa causa — dei de ombros — E vocês são ótimos, todo mundo vai querer ajudar.
Aos poucos, os meninos se animaram com a ideia. Não demorou muito para que uma voz se sobrepusesse à outra e uma conversa agitada acerca dos detalhes da futura apresentação tomasse o escritório. Aproveitei o momento de distração para me aproximar do meu irmão. Mal havia chegado perto da mesa quando sua voz cortante me surpreendeu:
— Fala logo.
Eu pisquei.
— O quê?
— Fale o que você veio me dizer — ele cruzou as pernas, apoiando o calcanhar em cima do joelho e se afundando um pouco mais sobre a cadeira de couro.
Eu não sabia como começar a me desculpar sobre o carro. Geralmente, ele era o irmão errado da situação e eu tinha o direito de agir da maneira que quisesse para puni-lo. Certa vez decidi ignorá-lo por um mês e só parei porque Cole começou a chorar — ele tinha dez anos e eu quase oito.
— Podemos falar lá fora? — um sorriso hesitante se formou nos meus lábios.
— Não, April — ele murmurou impaciente — Fala logo.
Se Cole queria que eu fosse direto ao assunto, então não me restava outra opção senão me admitir de uma vez. Depositei as chaves do carro sobre a mesa e ele ergueu suas sobrancelhas escuras, levantando os olhos do chaveiro para mim.
— Eu bati seu carro — falei de uma vez só — Foi um acidente, mas não chegou a arranhar a pintura. Eu juro.
— Você não tem habilitação, April — disparou, ajeitando a postura sobre a cadeira — O que aconteceu?
— Foi antes da aula, o carro da frente parou e eu não vi — encolhi meus ombros sob seu olhar inquisidor — Pisei no freio o mais rápido possível para evitar o acidente. Está tudo bem.
Meu irmão piscou. Pela primeira vez no dia, ele parecia apreensivo.
— Você me diz que bateu meu carro, mas "está tudo bem"? — sua voz se elevou em uma oitava e nossos amigos pararam de falar, surpresos. Cole não deve ter gostado da atenção porque completou mais baixo: — E o outro motorista?
Cruzei os braços, me aproximando da mesa até meus joelhos encontrarem a estrutura de madeira. Atrás de mim, Finch perguntou a Zack a respeito dos equipamentos de som e rapidamente os meninos engataram uma conversa técnica, nos dando alguma privacidade.
— Foi só um amassado na placa — expliquei — Josh disse que não tem problema...
Ele fez um sinal com a mão para que eu parasse de falar.
— Josh? — seus olhos castanhos se cravaram sobre mim — Josh Halden?
— Sim.
Cole recostou seu corpo sobre a cadeira sem dizer uma palavra. Ele me encarava fixamente, maquinando em silêncio enquanto eu me remoía em culpa. Meu irmão não estava bravo comigo, por incrível que pareça — talvez um pouco exasperado por causa do acidente, mas nada que atingisse níveis preocupantes.
— Então eu vou falar com ele — suspirou em tom definitivo — Preciso pagar pelo conserto.
Inacreditável.
— Não. Eu bati o carro, eu pago — fui firme, como deveria ter sido desde o início. Não iria permitir que ele assumisse as consequências do meu erro.
Cole descartou minha ideia com um movimento negativo de queixo.
— É meu carro, eu te dei as chaves — murmurou. — Você mal tem idade para dirigir, April. E se tivesse acontecido algo pior?
Claro. Deveriam contratá-lo para fazer um folheto listando os incontáveis perigos de dirigir a menos de vinte por hora no estacionamento de uma escola.
— Para de falar besteira — revirei os olhos, me afastando da mesa — Você já tem problemas o suficiente, deixa isso comigo.
Dei as costas para Cole, encerrando a conversa antes que ele tivesse a chance de ficar com a palavra final. Preferiria engolir lama de novo a ter meu irmão falando com Josh Halden em meu nome. Não bastava arranhar o Range Rover novinho do garoto, eu ainda precisava arrastá-lo para intrigas familiares? Coitado.
Saí do escritório com a cabeça a mil, sem acreditar na quantidade de problemas que havia arranjado em menos de vinte e quatro horas. Quando achei que o dia não poderia piorar, avistei minha mãe cruzando o corredor em minha direção. Seus saltos batiam contra o piso em passadas largas e elegantes e sua saia longa, aberta na altura do joelho, esvoaçava aos seus pés. Ela sequer fazia esforço para parecer fabulosa.
— April! Querida — Paige sorriu, estendendo seus braços para mim graciosamente — Você pode dizer ao seu pai o que os Collins disseram? Sobre meu vestido? Todos estavam aqui para vê-lo, menos ele.
— Eu não estou aqui — cantarolei, avançando para as escadas e agarrando o corrimão frio.
A última coisa que eu precisava era que mamãe me envolvesse em seus problemas conjugais. Quando papai estava em casa, eles passavam oitenta por cento do tempo trocando farpas, envolvidos em discussões que só faziam sentido para eles. Quanto aos outros vinte por cento, eu preferia não saber — desde que eles mantivessem tudo atrás de portas fechadas, eu não me importava.
Eca.
— Paige — ouvi meu pai chamá-la, sua voz era um som abafado que provinha do interior da casa. Seu rosto surgiu na porta da cozinha e logo ele caminhava até nós, quebrando a distância com uma expressão tempestuosa crescendo atrás de seus óculos de armação dourada. Desconfiei que o homem tentava fazer uma boquinha no momento em que fora atormentado por minha mãe — ele ficava especialmente aborrecido quando interrompiam seu lanche, o que só tornava a ideia de importuná-lo ainda mais atraente para mamãe.
Mamãe subiu os degraus atrás de mim, me alcançando com facilidade. Encarava meu rosto com olhos enormes, como se me visse pela primeira vez.
— Por Deus — exclamou mortificada — Quando seu irmão me avisou que você estava mal, eu não imaginei que estivesse assim. Minha pobre filha!
Parei no meio da escada, deixando seus braços me envolverem. Eu já estava cansada de explicar o que havia acontecido, mas não podia ignorar minha própria mãe.
— É besteira, eu estou bem.
Seus dedos capturaram meu queixo e me puxaram para perto. Fiquei quieta, esperando o momento em que ela comentaria sobre o sangue seco que manchava meus lábios. No silêncio das escadas, imaginei que Paige estivesse decepcionada comigo. Ela sempre esperou de mim uma postura completamente diferente, talvez parecida com a dela mesma na minha idade. Com certeza, Paige Wright não ia para casa com uma expressão derrotada e marcada por bolas de futebol.
— Te acertaram nos olhos também? — ela inclinou meu rosto para o lado, avaliando cada poro com uma preocupação ensaiada — Céus, como estão fundos.
De uma hora para outra, eu havia me transformado em um objeto esquecido no fundo de um armário, acumulando a poeira de décadas e coberto por arranhões. Se havia alguém que podia fazer alguém se sentir assim, essa pessoa era minha mãe. Isso era basicamente o que ela fazia para viver: quando não estava em casa cuidando de nós, Paige Wright se distraía administrando um pequeno antiquário no centro, comprando peças gastas e restaurando-as ao sua glória original. Nesse momento, eu deveria ter tanto valor quanto os móveis velhos e quebrados que chegavam em sua loja. Uma pechincha.
— São olheiras, mãe — com um franzir de sobrancelhas, afastei suas mãos de mim — Culpe a genética.
Lancei um olhar significativo para ela, que pressionou seus lábios cobertos de batom em uma linha fina. Segurava uma risada, engasgada em admiração. Quase pude ouvir sua voz me parabenizar: "Bravo!".
Tudo bem, eu peguei pesado.
— Me desculpe, mãe — suspirei — Não é uma boa hora. Você é a mulher mais linda que já pisou na face da terra, eu prometo.
Se eu era vaidosa, era porque tinha de onde puxar.
— Tudo bem, querida — respondeu amável — Se precisar de mim, estarei marcando uma hora com o esteticista.
Grunhi.
Paige subiu as escadas rindo, adivinhando que eu rastejaria atrás dela por perdão. Mal havia alcançado o topo da escada quando a voz de meu pai estourou no hall:
— O que vocês estão fazendo no meu escritório?
Oh, não.
Eu voltei alguns passos, me apoiando no corrimão para espionar o térreo. Pela fresta, meus amigos estavam espalhados sobre o tapete, rodeados por copos vazios e cinzas de cigarro.
Isso seria ruim.
— Cavalheiros, mocinha — ouvi papai cumprimentá-los dentro do cômodo, seu corpo metade para fora enquanto segurava a porta aberta — Eu preciso usar meu escritório. Fora, todos vocês.
Zack foi o primeiro a se levantar. Ele trocou um breve aperto de mão com meu pai e meu coração se afundou um pouquinho no peito com a cena. Zack sempre fora o mais responsável entre os meninos. Papai admirava isso e costumava tratá-lo como um filho, mas tudo mudou depois que ele e meu irmão repetiram o último ano — para meu pai, os meninos puxavam Cole para baixo e o impediam de crescer.
A frieza no olhar que Arthur Wright dirigiu ao meu amigo me fez encolher. Desejei que Zack jamais soubesse o quanto papai o desprezava.
— Não está preocupado com ela? — ainda escondida nas escadas, pude ouvir Zack sussurrar.
Tudo bem, eu estava oficialmente bisbilhotando.
Zack e meu irmão cochichavam alguma coisa baixinho enquanto aguardavam o resto do grupo sair do escritório.
— Não — Cole respondeu, franzindo o cenho em descrença — E você também não deveria estar. Já olhou para o rosto da April? Ela vai matar alguém.
Foi quase impossível segurar minha indignação. Quis revelar meu esconderijo e socar o braço do meu irmão por isso.
— Tem razão — meu amigo retrucou, quase aliviado.
E, assim, a lista de pessoas que eu precisava socar acabou de ganhar mais um nome.
Pelo tom conspiratório, eles falavam a respeito do incidente no campo de futebol. Antes que eu pudesse interrompê-los para ter certeza, ouvi um som que me fez arrepiar até o último fio de cabelo:
— Cole — a voz furiosa de papai ecoou pelo corredor — Qual dos seus amigos passou por cima do canteiro de rosas da sua mãe?
A vista das janelas do escritório era o jardim arruinado por marcas de pneus do furgão. Chovia forte lá fora e, a essa altura, a lama já deveria ter tomado tudo. Daria um trabalhão consertar as mudas e, até as flores voltarem a nascer em seus devidos lugares, mamãe já teria perdido sua inscrição no concurso de jardinagem.
Zoe olhou para Zack, que respondeu sua pergunta silenciosa com uma expressão de puro pavor. Os dois correram em direção ao interior da casa, como crianças levadas fugindo do castigo. Cole estava prestes a fazer o mesmo, mas teve que voltar para arrastar Seth consigo.
— Esse seria eu, senhor Wright! — Seth gritou de volta, erguendo um braço como se estivesse na escola.
Meu irmão o xingou alto e o empurrou para o fim do corredor, onde ficava o porão. Talvez lá os meninos estivessem seguros. Aquele cômodo era o único lugar da casa minimamente isolado e espaçoso o suficiente para receber os instrumentos da banda e papai odiava o cheiro de suor e cigarro impregnado no carpete a ponto de nunca descer as escadas.
Não fiquei parada ali para descobrir o que aconteceria. Subi para o quarto, onde me preparei para estudar até o jantar. Naquele momento, eu precisava me sentir no controle e organizar meu caderno parecia um ótimo passo na direção certa.
Meu ímpeto para ocupar minha cabeça nada tinha a ver com o carro que surgira no fim da rua. Não me deixei abalar quando escutei a campainha e nem mesmo ao ouvir o som de passos no térreo. Tentei bloquear a enxurrada de lembranças que surgiram na minha mente, mas foi impossível não imaginar o contorno de seus ombros se movendo debaixo da jaqueta e o início seu cabelo escuro raspando em seu pescoço enquanto ele avançava no interior da casa, preenchendo os corredores com sua presença.
O colar que Hunter me havia me devolvido naquela manhã parecia esquentar sobre a minha pele. Era um calor familiar, como um roçar de dedos. Eu acompanhei a curva do meu pescoço com o polegar, observando meu rosto refletido no espelho se colorir em vermelho. Hunter me dera muito sobre o que pensar. Mesmo agora, quando estávamos separados, sua voz era como veludo em meus ouvidos, sussurrando coisas que eu nunca me permiti imaginar. Deitei sobre a cama, sentindo algo frio em meu estômago — uma sensação tão perigosa quanto a de ficar de pé na beira de um abismo. Sem pensar, eu puxei um travesseiro para o rosto e liberei um grito.
Que merda eu tinha na cabeça?
N/A: E ESTAMOS DE VOLTA COM MAIS UM CAPÍTULO DE BULLSHIT, UMA HISTÓRIA ORIGINAL DO WATTPAD!!!!! COMO VOCÊS ESTÃO, DELÍCIAS???
Estava muito ansiosa pra liberar essas conversas Wribell kkkkkk Rendeu algumas risadas. O que vocês acham que eles vão aprontar nos próximos capítulos.
Ah, obrigada pela paciência ♡ O carinho de vocês faz toda diferença, sou muito sortuda por ter encontrado vocês. Espero que estejam todos bem nesse momento! Lavem bem as mãos e bebam suco de laranja.
Vou falar umas coisinhas aqui...
Hora do fato curioso sobre o capítulo. A primeira cena hot que escrevi na vida foi a "cena do banheiro" kkkkk Acho que foi em 2016 se não me engano (só abrir o capítulo XI pt. 2 e ir descendo para ver os comentários antigos), e... fiquei vermelha e chocada com algumas teorias. Nunca tinha parado pra pensar nas possíveis interpretações que o destino que a calcinha da April receberia — pra mim, Hunter havia feito aquilo porque queria ser babaca e também pelo motivo citado no capítulo de hoje: ele fica excitado quando April o ~obedece. Enfim, Hunter e April conversaram sobre essa lembrança porque 1) ficou bom, 2) eu precisava esclarecer kkkkkkkkk Qualquer outro propósito por trás desse "roubo" seria meio creepy.
Antes dos agradecimentos... Eu recebi uma mensagem que me fez pensar. Sempre falei aqui como fico ansiosa escrevendo e planejando os capítulos; esse livro tem vários personagens, eu penso em cada um deles com carinho, mas uma coisa que eu percebo é que toda vez que sai do eixo April-Hunter os comentários e votos caem (é só olhar os capítulos antes do XX). Isso não é um pedido desesperado por votos, mas sim uma confissão sobre algo que me deixa meio ansiosa. Eu queria escrever mais sobre os outros personagens, mas toda vez que tento sair um pouco do romance dos principais, eu me sinto tentando me conectar a uma plateia inexpressiva. Eles gostaram? Eles odiaram? Eles acharam mal escrito, chato? Sei lá, essa falta de resposta me deixa apreensiva e o silêncio é um prato cheio pras minhas paranóias kkkkkk Pra mim, foi bom receber comentários de leitoras que sentem falta da turminha da April. Se é muito espaçado o desenvolvimento deles, é porque eu sou meio insegura, saio cortando coisas. Vou rever algumas coisas, me esforçar (sei que devo escrever pra mim, mas eu sou assim insegurah).
Vou agradecer a algumas pessoas em especial porque recebi mensagens muito lindinhas nesse tempo que estive afastada. Expliquei no instagram que passei por um bloqueio (e mais algumas coisas) e vocês me receberam muito bem *inserir aquele emoji dos olhinhos brilhando* Isadora Crude foi uma delas kkkk Obrigada, viu? Também preciso agradecer a Bianca e a Nataly do twitter, que me ajudaram escolher o vídeo/edit que eu postaria no Instagram. Reith nem preciso falar nada porque fico amolando ela pra me ajudar toda santa hora. Quanto Andy Rios... confiaria minha vida a essa mulher (confiram Bad Karma, meu povo) sou muito emocionada mesmo. Jaline Natália me mandou as mensagens mais maravilhosas, dediquei esse capitulo a ela <3 Também tem as meninas que me aturam todos os dias no twitter kk Desculpa, gente, eu vou tentar deixar de ser tão doida.
Se vc leu até aqui, obrigada! Depois vai lá no instagram conferir os videos/edits que eu fiz pra história.
Bjos e tamo junto,
Babi
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top