Capítulo XV




NOS ÚLTIMOS QUINZE MINUTOS, Arthur Wright desfizera o nó da gravata mais vezes do que poderia contar, dobrando e ajustando a tira de tecido em volta de seu pescoço, às cegas, sem nunca estar satisfeito. Aquela peça vestia como a maldita corda de uma forca.

Ele afrouxou o aperto em torno da garganta e se postou de frente às janelas do quarto. Não era uma vista espetacular: no raio de oitocentos metros não havia nada a não ser grama, árvores e a solitária via pavimentada que ligava a mansão ao resto do condomínio. Quando o sol se punha, os arredores eram engolidos pela escuridão e as janelas se transformavam em grandes espelhos negros, refletindo o interior da casa. Arthur não pensou duas vezes antes de fechar as cortinas e servir uma dose de uísque para si.

Dias antes um envelope selado chegara a seu escritório, destacando-se entre a papelada burocrática espalhada em cima da mesa — era um convite para a festa anual da firma endereçado a ele e sua família. Sua resposta inicial seria um grande e gordo não, mas Paige, sua esposa, o fez repensar. Inspirada por forças maquiavélicas, a mulher viu naquela noite uma oportunidade estratégica para se manter a par dos acontecimentos dentro da empresa.

"As pessoas falam, Arthur" ela murmurou em mais de uma ocasião, empunhando sua tradicional taça de vinho pós-ceia, como sempre tentando a todo custo fazer a mente do marido. A verdade era que a empresa velejava por águas incertas desde Junho, quando surgiram boatos sobre a nova presidência. Meses depois, um ultimato dos contadores escapou da sala de conferências e os sussurros nos corredores da firma ganharam força — simples assim, semanas de trabalho foram por água abaixo. Quem diria que uma fofoca de escritório era suficiente para mudar o rumo de negociações com parceiros comerciais.

Esses não foram incidentes isolados, ele tinha certeza. Alguém tinha que estar tomando benefícios da situação. Foi daí que nasceu o plano — se é que poderia ser chamado de plano. Naquela noite, enquanto ele se infiltrava entre os colegas, Paige se aventuraria na multidão, longe dos olhos dos advogados da empresa. Haveria pontas soltas espalhadas por todo salão e ela tinha a intenção de atacar cada uma delas. A mulher era astuta como o próprio diabo e Arthur a amava por isso.

— Preparado para essa noite? — a esposa dele murmurou, se aproximando.

Ela envolveu o pescoço do homem em um abraço, embrenhando seus dedos no cabelo curto da nuca dele numa tentativa silenciosa de relaxá-lo. Aos poucos o semblante tenso de Arthur cedeu para dar lugar a um repuxar de lábios tranquilo.

— Apenas enfrentando alguns problemas técnicos.

Paige se permitiu admirar o marido por alguns segundos. Queixo forte e quadrado, cabelos cor de areia com princípio acinzentado e o mesmo sorriso torto de sempre destacado por algumas linhas de expressão. Era exatamente o homem com quem ela subira ao altar anos atrás.

— Eu adoraria te ajudar com isso — a mulher por fim quebrou o silêncio, indicando a gravata do marido — Mas você sabe que eu sou melhor em desfazê-las.

Ele riu fraco. Aquela maldita tira de tecido.

– O que eu faria sem você, Paige?




A P R I L

Duas batidas firmes atravessaram a porta do meu quarto. Eu depositei o batom sobre o tampo da penteadeira antiquada, satisfeita com o resultado e anunciei:

— Está aberta.

Precisei de menos que um segundo para reconhecê-la. Era minha mãe. Me empertiguei sobre o banquinho, adiantando qualquer comentário sobre minha postura. A mulher, que agora era apenas uma cabeça flutuante enfiada pelo vão, tinha os cabelos avermelhados presos em um penteado elegante. A maquiagem, quase imperceptível, realçava os traços delicados de seu rosto e contrastava com um batom vinho. Um clássico.

— Nós saímos em quinze minutos. Você está pronta?

— Estou, sim — disse, me voltando para a penteadeira atrás de mim. Pesquei um colar prateado dentro do porta-jóias e estendi a ela. — Pode me ajudar com isso?

Alguns minutos atrás eu tinha travado uma verdadeira batalha contra aquele fecho.

Mamãe sorriu antes de entrar no quarto. Ela sempre ficava radiante na véspera de eventos, mas hoje algo não parecia certo. Toda vez que Paige pensava que eu não estava olhando, uma pequena ruga surgia em sua testa. Não perguntei o que a aborrecia porque não queria ouvir mentiras — era mais fácil ser atingida por um raio do que arrancar alguma verdade de minha mãe.

Para ser justa, a sensação de que havia algo acontecendo na casa começou hoje mais cedo, assim que Cole tentou sair de fininho. Palavra-chave: tentou. Ele sempre escapava dessas baboseiras de alta sociedade, mas hoje, diferente das outras vezes, nosso pai não permitiu a ausência do garoto. Isso surpreendeu tanto a mim quanto ao meu irmão. Não me entenda mal — depois de algumas discussões horrendas entre os dois, eu achei que esse negócio de família Wright sempre unida tinha ficado para trás. Foram muitas discussões mesmo. Quer dizer, os cabelos platinados do garoto já constavam no topo da lista de desaprovações do mais velho, imagine o resto.

Sem perceber meus questionamentos silenciosos, Paige tomou o colar da minha mão e o ajustou ao meu pescoço com facilidade.

— E voilá — ela gesticulou para o meu colo como se estivesse exibindo a jóia. Era a mais discreta que eu achei no porta-jóias, com um pequeno pingente de ouro branco na altura da minha clavícula.

— Obrigada.

— Não há de que — pela primeira vez um sorriso genuíno adornou os lábios da minha mãe.

Por um momento, eu pensei que ela estava usando algum truque materno para ler minha mente.

Merda. Não era necessário truque algum para perceber que havia algo diferente em mim. Eu li em algum lugar que sexo faz bem para pele. Deveria estar literalmente escrito na minha cara que eu transei com Hunter. April Wright, dona de uma impressionante coleção de brincos sem par, finalmente conseguiu o que queria.

— Por que não usou seu vestido pêssego hoje, filha? Ficaria perfeito.

Soltei o ar, quase desmontando de alívio. A intuição dela falhou. Dessa vez, para o bem.

— Talvez em outra ocasião.

Eu ajeitei o vestido escolhido para a festa, procurando alguma falha na imagem refletida pelo espelho da penteadeira. A seda azul clara cobria a minha pele como líquido, com uma fenda na altura do joelho — elegante como a noite pedia.

— Sei — ela murmurou, estreitando os olhos, provavelmente desconfiada de que eu não gostasse do tal vestido pêssego, mas logo sorriu. — Bem, não se esqueça de brilhar hoje.

Aquele lembrete arrancou uma risada dos meus lábios. Ela parecia mais com ela mesma quando jogava piadinhas.

Nós só conversamos novamente quando chegamos ao tal evento importantíssimo. Papai foi o primeiro a sair do automóvel, não dando a chance para nenhum manobrista abrir a porta para ele. Eu desci do carro logo atrás do meu irmão, aterrissando meus saltos na calçada de mosaicos com cuidado, rezando para não cair.

A construção à minha frente era grande o suficiente para se passar por um museu. Enormes colunas de granito e bronze sustentavam o entablamento e uma escadaria ampla separava a fachada da avenida: tudo feito sob medida para impressionar.

— April? — ouvi minha mãe chamar — Você está linda, querida — eu imitei seu sorriso, porém, antes que eu pudesse seguir em frente, ela tocou meu rosto suavemente e completou: — Agora sorria como se tivesse a intenção.



Apenas alguns metros acima da minha cabeça arcos de pedra se apoiavam uns contra os outros, sustentando o teto do salão. A abóbada de arquitetura octogonal era banhada de luz por lustres de bronze que pendiam do topo da estrutura — milhares e milhares de pedacinhos de cristal pareciam cair sobre o salão como chuva. Era lindo, mas, no fundo, essas festas de empresa eram sempre iguais: elitizadas, monótonas e levemente embaçadas. No caso, embaçadas porque as bebidas eram de graça.

Eu devolvi minha taça a uma bandeja, ignorando o olhar de censura do garçom, e suspirei.

Na primeira hora eu cumprimentei conhecidos e fui apresentada a rostos facilmente esquecíveis. Sobrevivi à segunda hora com a ajuda de uma ou duas taças de espumante, tomando cuidado para não ser apanhada pela minha mãe — ela confiava em mim, claro, mas isso não significava um passe livre para o alcoolismo.

Meu pai não estava em lugar algum. Pelo que eu sabia, os cavalheiros mais notáveis eram convidados para um ambiente reservado onde o dono da empresa, um escocês à beira da morte, os aguardava. Reunidos em algum gabinete antiquado, repleto de livros que ninguém nunca leria, eles discutiriam assuntos de extrema importância, fumando charutos importados enquanto uma nuvem de fumaça se dissolvia no ar.

Era uma imagem mental um pouco sufocante.

— Cole — ao ouvir o próprio nome o loiro virou na minha direção surpreso, interrompendo a conversa com os novos amigos aristocratas para me dar atenção. Eu, uma frequentadora exímia desses eventos, não teria me misturado com mais facilidade que meu irmão. Ele era mesmo um político. — Precisamos conversar.

— É pra já — ele me ofereceu o braço em um convite e, então, sorriu. Aquele repuxar de lábios não passava nem perto de seu sorriso característico, cheio de confiança e tranquilidade.

O loiro parecia estar com a cabeça cheia desde hoje cedo.

— Acho que já deu pra mim — murmurei, enganchando meu braço no dele, pescando por alguma reação — Que tal se nós deixássemos um aviso para mamãe de que passamos mal de tanto comer canapés e fôssemos embora? Posso conseguir um motorista pra gente — eu era a rainha das saídas à francesa.

Minha proposta foi recebida com uma careta.

— Terei que passar essa, April. A festa ainda nem começou.

Tive que reprisar mentalmente a fala dele duas vezes para ter certeza de que ele não estava sendo sarcástico.

— Não sabia que você gostava dessas festas.

— E não gosto — ele retrucou, dessa vez sério, e houve uma pequena pausa enquanto ele procurava as próximas palavras — Mas você sabe o que dizem... Quando em Roma, faça como os romanos. Agora venha.

Cole me guiou até uma porta monumental que separava o salão da noite. A passagem permanecia aberta propositalmente, exibindo um jardim iluminado por pequenos holofotes. Nós nos posicionamos próximos à porta, de onde poderíamos ter uma boa visão da festa e conversar em paz.

De um bolso no interior do paletó, meu irmão retirou dois cigarros. Um ele prendeu entre os lábios e o outro estendeu para mim.

— Ainda bem que você apareceu. Eu estava precisando mesmo de uma pausa.

— Estou bem, obrigada.

Cole deu de ombros em resposta, como quem diz "você é que sabe", e buscou o bolso para devolver o cigarro rejeitado. Foi aí que eu vi, entre a fenda do tecido e o maço — eu reconhecia aquele saquinho e sabia bem seu conteúdo. Não pensei duas vezes antes de tentar puxá-lo bruscamente, mas, antes que eu concluísse o movimento, a mão dele envolveu a minha.

— O que é isso?

— Apenas solte, April.

A voz dele era gentil, mas ainda era um aviso.

Deus. Nós não tínhamos mais cinco anos.

Eu soltei, incapaz de adivinhar se havia mais do que algumas gramas ali, e Cole libertou minha mão. Felizmente, ninguém percebeu nosso momento — todos estavam presos em suas próprias bolhas de champagne, entretidos com a festa.

— Então, você quer ser como os romanos?

Ele suspirou e seus olhos vagavam perdidos pelo salão, nunca encontrando os meus.

— Não é meu. Aquele babaca que conversava comigo agora pouco... Ele acha que estamos em Scarface ou qualquer coisa. Olha...

— Você está aqui porque papai pediu e a primeira coisa que você faz é planejar como vai ficar louco?

Durante uma fração de segundo foi como se tivesse dado um tapa em seu rosto — os olhos castanhos permaneceram estáticos, fixos em mim. Por sorte, meu irmão sempre teve um controle sobre as emoções infinitamente melhor que o meu.

— Isso está começando a parecer um interrogatório — ele sorria novamente, brincando com o cigarro entre os dedos. — Não era você quem estava entornando taças e taças de champagne agora pouco?

— Isso é diferente — minha risada escapou em um respirar nervoso — E era espumante, não champagne.

Ele riu. Um som curto, sem humor algum.

Nós dois sabíamos que eu estava sendo hipócrita, mas eu não desisti do meu argumento. Cole nunca me deixaria pressionar o botão de auto-destruição daquele jeito. Eu odiava que ele se sentisse tão insultado quando eu tentava retribuir o favor.

— Por acaso isso tem alguma coisa a ver com o papai?

— April. Você e eu sabemos que eu poderia ter um comportamento exemplar essa noite e não faria a menor diferença para ele — eu tentei interrompê-lo para remediar a situação, mas Cole não permitiu — Eu disse que viria, então estou aqui... Mas o que eu faço com a minha noite é problema meu.

Eu assenti.

— Desculpe. Isso não vale à pena — meu irmão suspirou, correndo os dedos pelos cabelos loiros, bagunçando o penteado que ele jurou odiar.

— Tudo bem.

Nós ficamos em silêncio durante alguns segundos, esperando algo acontecer, mas o clima de camaradagem entre irmãos parecia ter evaporado. Cole fez uma última tentativa de sorrir:

— Você estava certa sobre os canapés, April — ele suspirou. — Eles estão uma merda.



Depois que Cole foi embora, decidi não ficar parada lá como uma tola. Meus pés me levaram até a varanda do salão — um lugar calmo, que os outros convidados evitavam devido ao frio. Alguns minutos respirando o ar da noite me fariam bem.

Eu estava meio certa. A sacada se mostrou um lugar perfeito para apoiar meus cotovelos e eu não podia reclamar da paisagem. Era um cenário digno de cinema: nem mesmo as estrelas ousavam brilhar mais que aquele jardim. Canteiros de flores exuberantes e arbustos bem aparados, fontes iluminadas por cores diferentes.

Pesquei meu celular dentro da bolsa de mão e, no momento em que a tela acendeu, uma notificação de nova mensagem pipocou no visor.

Era do Hunter.

Simples e direto.

Eu precisava dar ao Campbell algum crédito — o cara sabia como deixar uma garota desesperada. Eu estava tão severamente afetada pelo vício em sexo que minha mente começou a imaginar substitutos para a palavra "ver".

Meus olhos voaram pelo visor, procurando o horário de recebimento. Uma hora atrás. Maldita mania de desligar o celular.

Resmungos à parte, poderia ter se passado o tempo que fosse, ainda restava uma escolha: responder ou ignorar. Responder era um investimento de alto risco, sem garantias de respostas. Por outro lado, se eu não enviasse uma mensagem o respondendo, jamais saberia o que poderia ter acontecido.

Merda.

Eu escrevi tão rápido que o celular demorou a responder meus comandos. Assim que o balãozinho ficou verde eu senti minhas expectativas perigosamente altas – eu deveria ter pensado um pouco mais antes de escrever. Hunter já deveria ter achado algo melhor para fazer. Ele poderia estar se divertindo nesse exato momento e eu aqui.

Bem, eu fiz as regras por uma razão. Hunter poderia usá-las como quisesse.

Eu estava prestes a voltar para festa quando meu celular vibrou novamente. A noite não estava perdida, afinal.



Duas quadras. Aquela foi a distância que April percorreu para chegar ao local marcado. Após de uma enigmática troca de mensagens, ela deixou o edifício para trás e foi recebida pelo ar gelado de meados de setembro.

Debaixo da iluminação amarelada da avenida, o próprio asfalto parecia ter caído no sono, acalentado pela monotonia do início da madrugada. Ver toda aquela calmaria em um lugar ao qual ela não pertencia pareceu errado, mesmo para alguém tão acostumado a aceitar de bom grado os presentes da vida. April hesitou em deixar que aquela paz invadisse seu coração.

Poucos passos depois, o piche remendado debaixo de seus saltos deu lugar a uma rua de paralelepípedos, indicando que estava perto do local onde encontraria Hunter. A menina se obrigou a voltar para a calçada, não confiando em seus pés equilibrados em saltos, mas seus olhos captaram algo que a fez parar.

O primeiro sinal que ela teve de Campbell não foi a jaqueta de couro ou os cabelos escuros desgrenhados. Alinhada ao meio fio, estava estacionada a Harley Davidson que ela tivera poucas chances de admirar, reluzindo sob a iluminação do poste.

April não resistiu ao impulso de tocar a motocicleta. Ela esticou os dedos, presa em um transe. Estava quase sentindo o metal gelado quando um barulho agudo a fez pular para longe da máquina. Segundos depois um gato vira-lata passou correndo próximo aos seus pés, só para desaparecer debaixo de um carro.

Cristo, bichano — ela levou uma mão ao peito, recuperando-se do susto.

April se preparou para se afastar da moto com alguns passos hesitantes, mas no próximo segundo suas costas bateram contra algo sólido. Algo sólido e quente, que a envolveu com as duas mãos. Estava pronta para gritar quando foi atingida pelo cheiro dele. A risada, o toque, o calor. Ele pressionou o nariz no cabelo castanho, colando os lábios ao ouvido da menina.

– Eu demorei muito? – a voz baixa fazia cócegas em sua pele.

— Não — April ainda soava trêmula quando respondeu, apoiando seu corpo inteiramente no dele. Depois de se recuperar do susto, foi uma questão de segundos até que ela caísse em si, afastando-o com um safanão — Você ficou louco, por acaso? Por que me assustou desse jeito?

Quando a menina se voltou para Campbell, ele ainda estava rindo. Aos poucos a risada do baixista se reduziu a um cínico repuxar de lábios.

— Você teria me ouvido se estivesse mais atenta. Eu não sou exatamente silencioso como o ceifador.

— Com certeza não é.

– Desculpe. O que foi isso? – o baixista se aproximou, sério, fingindo tentar escutar melhor – Por acaso a dama está admitindo que estava distraída?

Um sorriso provocante brotou nos lábios de April. Ela ajeitou as alças finas do vestido em seus ombros e encurtou a distância entre eles, sendo acompanhada pelo olhar atento de Hunter.

— De jeito nenhum.

Por um segundo eles apenas se encararam.

Havia um brilho naqueles orbes que April não via há muito tempo. As íris queimavam em azul, completamente selvagens. Ele parecia sóbrio, mas nada naquele estranho transmitia paz. Quanto mais Campbell se aproximava, mais um cheiro se sobressaía por baixo de sua essência natural. Ele colou o corpo ao dela e April inspirou. Fumaça. De uma fogueira de verdade. Era muito sutil, mas ela conseguia perceber. Talvez isso tivesse algo a ver com algum lugar em que ele estivera anteriormente. April quase perguntou, mas não achou as palavras — parecia que os dois precisavam de distrações para a noite.

— Achei que você não viesse mais — o baixista murmurou, massageando a cintura dela com delicadeza. Se aquela boca continuasse tão perto, iria tomá-la.

Sem conseguir esperar, April o agarrou pela gola da jaqueta, trazendo-o para si. Seus lábios se chocaram contra os dele em um beijo impaciente, de respirações aceleradas e mãos desesperadas por mais contato.

— Venha — April sussurrou, puxando-o pela jaqueta, só parando quando estava completamente apoiada contra a moto.

Hunter não conteve um sorriso diabólico. Seus olhos desceram pelo corpo dela, devorando cada pedaço de pele exposto. Deliciosa era uma palavra para descrevê-la. Ele não conseguia tirar os olhos daquele pescoço. Pensando nisso, o baixista aproximou o nariz da pele delicada e plantou um beijo ali.

– Você molhada em cima da minha garupa? Não seria a primeira vez – unhas longas se cravaram na nuca dele em resposta. Aquele era apenas um sinal de que April não estava contente. Outro beijo e a respiração dela mudou. Cristo. Precisava parar se não quisesse perder o controle – April... – a voz dele soava abafada – Eu ficaria mais do que feliz em satisfazer as suas fantasias envolvendo a minha moto...-

— Cala boca — ela resmungou, provavelmente adivinhando o que estava por vir.

— ...Infelizmente, eu tenho um lugar para te mostrar hoje.

Ele a soltou tão de repente que April teve que se equilibrar novamente em cima dos saltos.

Campbell avançou alguns passos pela rua, torcendo para não ser atingido por um salto e, quando julgou estar em uma distância razoável, fitou a menina novamente. Hunter estava certo em ficar com medo. As maçãs do rosto dela estavam enrubescidas de tanta raiva.

— Você não vem, amor?

— Campbell, é melhor que isso valha a pena.

Hunter posicionou uma mão na base da coluna dela, guiando-a noite adentro. Ele não conseguia esconder a satisfação, uma atitude que a menina achou digna de um beliscão.

— E quando foi que eu já te deixei na mão?

— Eu posso pensar em algumas vezes — ela sorriu de mal grado, desconcertada com a quantidade de quases que eles colecionavam.

Hunter não conseguiu segurar uma gargalhada.

– Você entendeu o que eu quis dizer, Hunter! Já fomos interrompidos o suficiente para uma vida.

– Engraçado você falar isso agora. Preciso te lembrar que foi você que propôs o sexo no meio da rua, para que quem quer que esteja passando ver? Não sei não, princesa. Acho que isso quebra pelo menos duas das suas regras.

Isso a fez travar os pés.

— Não use minhas regras contra mim.

— Eu não ousaria — ele continuou andando, virando para trás apenas para exibir seu sorriso assinatura. Como um sorriso daqueles ainda existia se seu dono era tão famoso por colecionar murros?

April xingou baixinho, abraçando o próprio corpo para se proteger contra o frio. Ao redor dela, o comércio já havia fechado as portas há horas, perpetuando um silêncio sepulcral nas ruas do centro — ela não iria querer perder de vista o contorno do corpo do baixista sob a iluminação fraca dos postes. A próxima alma viva deveria estar há quadras de distância, nas proximidades de algum barzinho mal frequentado.

O som dos saltos batendo contra o chão fez Hunter virar para trás.

— Eu posso ver através de você, Campbell — April cravou seus olhos castanhos no rosto dele assim que o alcançou. — Você não vai me fazer mudar de ideia. Isso não é um jogo.

– Como eu disse antes, eu não ousaria. Eu só acho que teremos que inventar alguma punição caso você queira infringir alguma regra de novo – ele sorriu do mesmo jeito que sorria quando estava entre as pernas dela. Completamente obsceno – Dá pra ver que não está funcionando desse jeito... Eu posso ser bem criativo.

– Você acabou de presumir que eu vou quebrar as regras? As regras que eu fiz?

– Eu tenho certeza que vai. Quer apostar?

April deixou uma risada escapar junto a respiração. Com certeza ele estava planejando alguma coisa. Os olhos dele brilhavam como os de uma serpente prestes a dar o bote.

— Vamos lá, princesa — insistiu — Acha que não vai conseguir resistir?

— Você é muito presunçoso — ela concluiu, fitando o rosto dele sem acreditar — Quando você perder, eu vou pilotar a sua moto.

— Feito.

O jeito que ele nem sequer pensou antes de aceitar as condições a deixou indignada. Aquela moto era a menina dos olhos dele. Campbell não concordaria em colocar a Harley em perigo se não tivesse cem por cento de certeza de que iria vencer a aposta.

— Você não vai nem me dizer o que ganha com isso?

— Achei que você tivesse dito que isso não tinha chance de acontecer — as duas íris azuis pousaram sobre a menina e por um momento eles apenas se encararam — Logo você vai descobrir. Chegamos.

April olhou para o grande portão de ferro escuro que o baixista indicava. Grades se estendiam por todo quarteirão, guardando um terreno praticamente irreconhecível a noite. Era o parque. O mesmo parque em que eles mataram aula uma vez. Estava escuro em grande parte, mas o caminho de tijolos vermelhos que cortava o gramado era ladeado por duas fileiras de postes de luz.

— É todo nosso.

A voz dele era macia. O rosto muito próximo. Pela segunda vez da noite, a serpente a oferecia uma maçã.

— Você está brincando.

— Assista-me — ele se aproximou do portão da praça e um de seus braços desapareceu atrás da grade. Sua mão reapareceu logo em seguida, envolvendo uma barra de metal. Era a mesma barra que segurava o portão fechado. Depois de longo barulho enferrujado havia vão grande o suficiente para que os dois passassem — Depois de você.

Com alguns passos hesitantes ela se postou na frente do baixista. Estava bastante escuro lá dentro.

— Tem certeza de que não seremos pegos?

Hunter sorriu. Ele segurou o queixo da menina entre os dedos, puxando-o gentilmente para que pudesse olhá-la nos olhos.

— Não. Assim é mais divertido. Não está curiosa?

Um pouco.

— A curiosidade matou o gato.

– E a satisfação o trouxe de volta – o baixista colocou uma mexa atrás da orelha dela, fazendo-a rir – Vai me dizer que você não conhecia essa?

Antes que April pudesse responder, os orbes azuis do baixista se fixaram em algum ponto do outro lado da rua. Qualquer sinal de brincadeira no rosto de Hunter havia sumido. A menina procurou o que fez o sorriso dele morrer e o que achou foi um senhor de roupão passeando com o cachorro minúsculo. O homem de pijamas bordado os olhava sem sequer disfarçar.

— Parece que temos uma platéia.

Hunter levantou uma mão como quem cumprimenta alguém, mas seu gesto se transformou em algo obsceno no meio do caminho. Não deu outra: ao avistar seu dedo médio em riste, o sujeito se pôs a andar para longe dos dois, fugindo apavorado com seu pug a tiracolo.

— Hunter! — ela puxou o braço do garoto para baixo, não contendo uma gargalhada — Ele pode chamar a polícia.

O sorriso no rosto do baixista estava recheado de más intenções quando ele a puxou para o interior dos portões.

— Então, é melhor corrermos. Ou você prefere ser carregada? — a simples menção a fez pular para longe do alcance dele.

— Nem pense — April gritou, livrando-se dos sapatos para carregá-los com a mão.

"Deus" ela pensou, ouvindo-o se aproximar "Eu não estou bêbada o suficiente para isso".

Sequer estava bêbada. Se estivesse bêbada, andar descalça seria bem menos incômodo. Aquele chão era terrível. Pensando nisso, a menina começou a correr na grama, sentindo com o contato gelado dos seus pés contra a terra. O que April não pensou foi que, distanciando-se do caminho de tijolos, também estava se distanciando de qualquer iluminação.

— O que você está fazendo? — ela o ouviu gritar — Eu não posso te ver, April!

— Essa é a ideia, Campbell! Nós estamos fugindo.

A menina pensou ter ouvido um xingamento, o que a fez gargalhar mais. Geralmente ela era a estressada. Quando estava prestes a chegar ao lago o baixista tomou velocidade e a envolveu pela cintura, impedindo-a de cometer alguma loucura.

— Uma pausa para respirar? Você gostaria disso?

April riu, não conseguindo tirar os olhos da boca dele. O gosto do último beijo ainda estava fresco em sua memória e a adrenalina corria quente por suas veias, deixando-a um pouco zonza. Eles eram dois corações errantes, arfando por ar, irradiando calor. Atados um ao outro. Tudo que a menina conseguia ouvir eram as respirações alteradas e o martelar em seu peito.

No próximo segundo os lábios dele estavam sobre os seus, devorando-a, exigindo tudo que ela tinha. Os dedos do baixista se agarraram as madeixas castanhas, arrancando um gemido da boca dela. Estava prestes a deitar-se no chão quando um instinto a fez parar:

— Na grama?

– Francamente, princesa – ele ofegou, sem conseguir se afastar – Você já foi menos exigente.

Em um movimento brusco Hunter tentou se livrar da jaqueta — sem sucesso —, e logo os dois pares de mãos trabalhavam contra a peça, que foi estendida sobre o chão. Nenhum dos dois conseguiu quebrar o beijo faminto, nem mesmo quando ele se inclinou sobre ela, levantando o vestido por suas pernas.

— Melhor? — o baixista sussurrou, beijando o ombro dela.

A jaqueta tinha que servir. O interior macio ainda estava aquecido pelo corpo dele, protegendo-a do gramado. Outro beijo, dessa vez subindo por seu pescoço, e April apertou o corpo firme entre as coxas.

— É um começo.

A risada rouca do baixista a fez estremecer.

— Você não trocaria isso por nada.

– E você, Campbell – a menina embrenhou os dedos entre os cabelos escuros, puxando-o para perto – Fala muito.

— Eu deveria ocupar minha boca com outra coisa, então.

Eles se encararam por alguns segundos, até que Hunter se inclinou na direção dela. Estava tão próximo que a menina fechou os olhos, mas os lábios dele nunca chegaram a tocar os de April. Ao invés disso eles desceram. A menina arfou ao sentir duas mãos masculinas agarrarem suas coxas, trazendo-a para perto. Joelhos afastados, vestido arregaçado e peito subindo e descendo — ela estava aberta para ele, contorcendo-se sob seu toque.

Em silêncio, seus dedos fizeram o caminho pelo abdômen da menina até a renda branca, acariciando onde estava mais quente — completamente molhado. A respiração dela mudou e foi como música para seus ouvidos. Por um instante Hunter cogitou afastar a calcinha dela para o lado e comê-la assim mesmo.

– Eu quero ouvir você gemendo meu nome para todo quarteirão.

Ela apoiou o próprio o peso nos cotovelos, se controlando para não gemer sob o toque que circulava os lugares certos. Suas pálpebras pesaram até que conseguisse vê-lo apenas por olhos entreabertos.

– Faça por merecer.

A risada masculina saiu baixa, misturada com a respiração. Ele arrastou a calcinha para o lado apenas para provocá-la, sentindo-a se desfazer em líquido ao redor de seu dedo. Hunter abaixou o tecido rendado pelas pernas da menina, acariciando a pele arrepiada em toda sua extensão. Era mais lento do que o momento pedia. April iria enlouquecer se ele continuasse a seguir por esse caminho.

Ainda de olhos fechados, ela ouviu o barulho do zíper e sorriu. O som da embalagem do preservativo veio logo depois, instigando-a espiar o estado dele. Ereto, pulsante e delicioso.

– Vê alguma coisa que gosta? – ele sussurrou, retribuindo o sorriso sujo.

April não o respondeu com palavras. Ela o agarrou pela blusa branca, capturando os lábios dele assim que estiveram sob alcance — aquilo era mais do que o suficiente.

Hunter alinhou seu corpo ao dela, puxando-a para perto por uma das coxas. Cada centímetro quente e desejoso de April estremeceu debaixo dele. Ele se encaixou na entrada úmida, provocando-a com delicadeza. April arfou em meio ao beijo, agarrada aos seus ombros firmes. Suas bocas se separaram em um gemido unisolo enquanto ambos lutavam por ar. Os olhos dela refletiam a pouca luz, presos nos dele. Hunter grunhiu, intoxicado pelo cheiro delicioso impregnado na pele salgada de April. Seu membro pulsava rígido e doloroso, deslizando aos poucos para dentro dela. Simplesmente não conseguiria aguentar nem mais um segundo daquela tortura, por mais prazerosa que fosse. Investiu seu quadril para frente de uma vez só.

— Porra... — murmurou, respirando pesadamente contra o pescoço dela.

Aquilo era bom para caralho. Hunter arrastou os lábios pela pele macia com luxúria, provando-a com fome. Era desejo puro e lascivo que corria em suas veias. Na próxima investida as unhas de April desceram pelas costas dele.

A mente dela girava, nublada pelo prazer. Só conseguia se concentrar na sua carne, que se fundia a de Hunter. Quando o dedo dele estimulou seu clitóris, April pensou que poderia morrer.

— Meu nome nos seus lábios... — ele arfava.

April não podia estar gemendo o nome dele, disso tinha certeza. Ela não tinha certeza o próprio nome naquele momento.

Hunter estocou mais forte, sentindo o corpo feminino derreter ao redor dele em cada movimento. Só por isso brincou um pouco mais com o clitóris dela, provocando-a junto com o vai e vem de quadris. A essa altura os dois ofegavam livremente. Ela só soube que estava chegando ao ápice quando ondas de calor atravessaram seu corpo, formando um nó em seu ventre. De repente, Hunter estava em todo lugar. Estava entre suas coxas, beijando seu pescoço, sussurrando em seu ouvido. Inebriada. Intoxicada. Desfazendo-se em prazer.

O baixista estocou mais algumas vezes antes de gozar, apoiando a testa na dela. Ele a segurou pelas madeixas castanhas, mirando aquela boca carnuda e vermelha, e a tomou em um beijo. April o correspondeu sentindo o tempo desacelerar, movendo seus lábios contra o dele com cuidado, ainda curtindo o efeito do orgasmo. Aquilo podia ser viciante. Ela não conseguia se livrar da sensação de ter fechado um negócio de sucesso quando conseguiu estabelecer o bom e velho sexo sem compromisso entre os dois.

Hunter se afastou dela para se livrar da camisinha usada e, no próximo, segundo o corpo de April retesou embaixo do seu. Ele olhou para a mesma direção e entendeu o porquê. Merda. Aquilo era uma lanterna brilhando no escuro?

— Parece que você conseguiu o que queria, Campbell.

A menina ajustou o vestido de volta ao lugar, sentindo o corpo se aquecer de raiva. Que maneira maravilhosa de fechar a noite. Seu coração havia arranjado apenas mais um motivo para bater disparado em seu peito.

Talvez, se nós ficarmos muito quietos... — Hunter arriscou sussurrar.

Mais passos se aproximavam e o familiar barulho estático de walkie-talkie soava cada vez mais alto. Eles trocaram um olhar na semi escuridão.

– Acho que é tarde demais para isso – ela limpou a grama que havia grudado em suas mãos –  Preparado para correr?





N/A: SAUDAÇÕES COMUNIDADE ZAPPING ZONICA!!! Não sei o que vocês estavam esperando desse capítulo, mas essa acima foi a famosa "cena do matinho" UHAUAHUAH

As veteranas já devem saber o que nos aguarda pela frente. Altas emoções *pisca*

Duas coisas que queria ter feito: escolhido as figurinhas do capítulo e escrito uma N/A maior. Mas eu estou muito ferrada na faculdade e não consigo falar direito agora. Quem me acompanha no twitter sabe os sufocos que esse mês de novembro me reservou.

Depois eu volto e falo com meus xodós (vocês) + edito as figurinhas.

Aliás! Não se assustem, mas vou repostar o capítulo "nota inicial" e o de aesthetics dos personagens, etc. Desculpem o transtorno.

Saudades.

Curiosidades

01. A história se situa mais ou menos em 2012 ou 13 (por certos motivos). Eu troquei o iOS do "iphone da April" porque os antigos balõezinhos de mensagem não ficariam tão legais no antigo modelo.

02. Essa primeira cena foi um extra. Provavelmente, retiraria ela se fosse "publicar mesmo" o livro.

Beijinhos,

Babi.

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