Capítulo XIII [PARTE UM]




A P R I L


ESTAVA ESCURO LÁ FORA quando eu liguei a televisão da sala. Clarões repetitivos iluminaram as paredes e preencheram o cômodo de cores. As conversas animadas afugentaram o silêncio e, de repente, eu já não me sentia mais tão sozinha em casa.

Naquela noite, eu havia conseguido me arrumar para a festa de Finch em tempo recorde. Isso impressionou Cole, que me daria uma carona, mas não a ponto de fazê-lo andar mais rápido. Nada no mundo era capaz de tirar meu irmão de seus eixos. Cole fazia tudo quando queria, da maneira que desejava, sem grandes motivações além de sua simples vontade — e que o mundo se adequasse às suas regras.

Enquanto esperava por meu irmão, capturei meu olhar distraído no espelho acima do aparador. Me aproximei da superfície, encarando meu reflexo. Não de um jeito narcisista, claro; estava apenas conferindo: um par de olhos castanhos, cílios espessos e lábios carnudos pintados de vinho. Tudo continuava igual, assim como da última vez que chequei, mas eu me sentia diferente.

Eu estava preenchida por uma sensação desconhecida. Começava no meu estômago frio e se espalhava por meu corpo aquecido, cheio de expectativa. Era como se eu estivesse nua, despida de todas as minhas mentiras. Nem minha melhor cara de blefe poderia esconder minha excitação.

Um sorriso escorregou pelos meus lábios. Sozinha na sala de estar, procurando no espelho algo invisível escondido entre minhas feições.

Onde eu estava com a cabeça?

Era fácil responder aquela pergunta.

Nas próximas horas, eu seria apenas uma refém das minhas expectativas. Ansiosa por seus toques e por seus beijos. Com fome de seu gosto e calor. Eu havia passado tanto tempo presa naquele jogo de gato e rato com Campbell que não conseguia acreditar que aquela noite era real.

Finalmente eu teria o que tanto desejava.

Só havia um empecilho. Uma pequena pedra no meu sapato que me impedia de relaxar. Era uma voz teimosa que crescia dentro de mim e insistia em me afundar cada vez mais em seus questionamentos.

Por que Hunter me fez esperar tanto? O que ele ganhava com isso?

Ele só poderia ter feito isso tudo por duas razões: prazer em me controlar ou puro capricho. Eu poderia entender se fosse por um desses motivos. Não eram ruins. Mas também não funcionavam como respostas boas o suficiente. Simplesmente não bastavam. Meu cérebro continuava com indagações.

Qual seria a consequência dessa noite?

Meu sorriso morreu um pouco.

Quando eu tinha os braços dele em torno de mim, não pensava em nenhuma dessas possibilidades. Era infinitamente mais simples — não havia nada para questionar quando meu cérebro parecia se derreter junto com minhas roupas.

Eu não queria alimentar aquela ideia patética, mas a ligação da noite anterior mexeu com a minha mente. Às vezes parecia que Hunter me mantinha por perto — sempre quente e luxuriosa — por ser a única maneira que ele conhecia de se aproximar. A possibilidade deixava minha boca seca e meu estômago frio, mas eu não era uma mulher de sentir medo.

Era Hunter. Sorrisinhos arrogantes, sedução barata e um senso de humor altamente corrosivo — sedento por sexo.

Uma vez que eu visse o rosto dele, eu me sentiria segura. Toda aquela loucura não passava de um mal entendido.

Certo — murmurei para mim mesma, conferindo meu reflexo uma última vez.

Cheguei tão perto quanto o móvel abaixo do espelho permitiu, apoiando minhas mãos contra a madeira maciça. Precisava me assegurar de que a minha autoconfiança ainda estava lá: firmemente atrelada ao fundo das minhas íris castanhas, irradiando de cada fio do meu cabelo.

Bingo.

— Esse é aquele filme em que o Leonardo DiCaprio fica rico para impressionar uma garota?

A voz masculina me fez pular como um gato assustado.

Era Cole, meu irmão.

Me afastei de ser engolida pelo espelho e cambaleei para longe da parede, quase derrubando um vaso com o movimento. Por sorte o recém chegado nem percebeu. Ele descia as escadas de madeira ruidosamente, toda atenção voltada para a televisão do cômodo, que transmitia imagens sem som. Eu gostava tanto do botão mute que nem percebi quando o pressionei automaticamente.

— Em que o homem aranha é o primo estranho da loira? Não? — meu irmão continuou apesar da falta de resposta, dando os primeiros passos para dentro da sala antiquada. Seus coturnos se destacavam sobre a tapeçaria vitoriana, assim como o penteado indisciplinado — Cara... Aquele fim é injusto.

Eu tive que piscar algumas vezes para espantar a confusão.

Cole havia desaparecido a tarde toda sob o pretexto de ajudar na organização da festa e voltou horas atrás para uma chuveirada e um cochilo. Ainda tinha sinais de uma bela soneca em seus cabelos.

— Na verdade, nesse aqui o Leo morre congelado no Atlântico. Já está pronto?

— Já. E você vai assim? — Cole inquiriu com as sobrancelhas franzidas no maior estilo irmão ciumento e eu o ignorei, puxando seu queixo para baixo, numa altura que me permitisse alcançar os cabelos claros — Vai acabar sentindo frio.

— Fica quieto.

Eu não era cabeleireira, mas me senti no dever de ajudá-lo. Minhas mãos se embrenharam entre os fios loiros, ajeitando-os da maneira que ele gostava. Cole ainda resmungou uma última vez que não queria ficar "parecido o Riquinho", mas não se afastou. Meu irmão sabia que eu conseguir arrumar seu penteado melhor do que ele mesmo.

Um princípio de risada subiu pela minha garganta.

Eu nunca me esqueceria do dia em que ele apareceu em casa daquele jeito. Os colegas de banda fizeram uma aposta estúpida envolvendo uma partida de futebol e Cole acabou levando a pior. Meu pobre irmão não tinha sorte no amor e nem no jogo — depois de vários copos ele não se importou em tingir os cabelos, anunciando sua derrota. Aposta é aposta, ele disse. Tirou foto e tudo.

Na manhã seguinte seu novo estilo não parecia tão hilário. Com olheiras roxas e gosto de vômito na boca, Cole Wright, 17, estava considerando passar máquina zero no cabelo — como um protótipo de Britney Spears em 2007 — quando eu o impedi. Eu e minha fiel escudeira, Jackie Foster, pedimos uma última chance para tentar minimizar os danos, e deu certo — e que Jackie nunca saiba que a chamei de fiel escudeira.

No final, o cabelo acabou sendo uma bela adição ao visual eu-estou-numa-banda, junto com a notável calça preta que nunca foi apresentada a uma máquina de lavar e os suspensórios ocasionais. E por mais que a tonalidade punk dos fios deixasse uma marca, o ápice da rebeldia de Cole fora tatuar o antebraço esquerdo, ato que quase fez nosso pai enfartar.

A primeira de muitas, meu irmão avisou, impetuoso como todos os Wright.

— Põe o cinto de segurança — Cole advertiu quando já estávamos dentro do carro.

Ajustei a  tira ao meu corpo, observando nossa casa diminuir a distância.

Na maior parte do trajeto ficamos cercados por um silêncio confortável. No banco do passageiro, eu me corroía de ansiedade pensando nos meus planos. Se Cole percebeu, não comentou nada.

Enquanto meu irmão procurava uma vaga na rua estreita, eu desci do veículo. Era sempre assim: nós chegávamos às festas e íamos cada um para um lado, fingindo não conhecer um ao outro. A porta do carro se fechou em um baque surdo e eu segui até a calçada, ignorando a reclamação abafada que recebi de meu irmão.

No gramado, entre garrafas vazias e casais, cigarros eram apenas pequenos pontinhos de luz pendendo na escuridão, iluminando o rosto de desconhecidos. Aquela era a única casa da rua que ousava quebrar a paz harmoniosa da vizinhança perfeita. Eu ajeitei meus ombros, inspirando a noite antes de passar pela porta de entrada.

Era daquilo que eu precisava.

Música alta. Dança promíscua. Calor insuportável.

Finch deveria se considerar um sortudo por não terem chamado a polícia ainda. Os garotos provavelmente estavam bebendo desde que começaram a arrumar o lugar e não pararam mais. Eu tinha que admitir que Finch ficava engraçado quando bêbado, mas se Hunter estivesse afogado em uma poça do próprio vômito era melhor que ele morresse.

A casa dos Abberley estava irreconhecível. Havia casais agarrados pelos cantos e garrafas de bebidas alcoólicas espalhadas por todas as superfícies. Os móveis da sala de estar foram arrastados até a parede, dando espaço para uma pista improvisada transbordando de adolescentes. A primeira pessoa que encontrei foi Jackie. Ela era movimento, embalada pela música. Indy não ficava atrás quando o assunto era ritmo. Tinha os cabelos dourados jogados sobre os ombros, sua pele brilhante de suor. As duas não tinham muito em comum, mas eram ótimas parceiras de coreografia. Roubavam a cena com um simples remexer de quadris.

Fui recebida com risadas escandalosas, abafadas pela música.

— April! — Indy sorria, estendendo os braços na minha direção. — Vem dançar!

— Onde estão os meninos? — perguntei igualmente alto.

Jackie se inclinou para perto com um sorriso implicante:

Beerpong.

Ela piscou para mim como se soubesse quem eu procurava.

Revirei os olhos, pronta para agradecer pela informação e ir embora, quando a introdução de uma música conhecida atravessou os alto falantes. Eu reconheceria aquela batida em qualquer lugar. Passei dias dançando a esse mesmo som no meu quarto, inventando coreografias. Minhas amigas tinham os rostos preenchidos pelo mesmo entusiasmo.

— É a sua música! — Indy me tomou pela mão enquanto Jackie já movimentava os lábios de acordo com a letra.

Geralmente eu esperaria um copo ou dois antes de me aventurar na pista de dança, mas o inferno congelaria antes que eu ignorasse um sinal como aquele.

Eu e as meninas dividimos um olhar e, no segundo seguinte, foi como se todas nós chegássemos à mesma conclusão: nada nos impediria de dançar. A batida pulsava pelos alto falantes em uma cadência deliciosa. Eu fechei os olhos, deixei minha cabeça cair para trás e movi meus quadris, sentindo o calor subindo por meu corpo.

A música ainda não havia chegado ao fim quando eu o avistei. Hunter Campbell estava do outro lado do cômodo, me observando dançar. Cabelos desalinhados, camiseta preta de alguma banda e jeans de lavagem escura. Um corpo no auge da juventude, maxilar tenso, olhar perigoso. Muito sexy. Eu sorri maliciosa e ele continuou sério.

Uma mão se fechou ao redor do meu pulso e me virei, pronta para me deparar com Indy. Porém, não foi ela quem eu encontrei.

— Dança comigo — a julgar pelo sorriso satisfeito em seu rosto, eu não consegui disfarçar meu susto.

Um completo estranho segurava meu braço. Ele continuou a falar, mas sua voz era baixa demais para que eu pudesse entender qualquer coisa que abandonava sua boca. O odor inconfundível de álcool me dava alguma ideia do que poderia estar passando por sua cabeça.

Olhando por cima do ombro, avistei Hunter. Ele havia se enfiado no mar de pessoas e quebrava distância sem nunca me perder de vista. Alguns corpos o empurraram de volta, reagindo à batida violenta.

Tudo estava acontecendo rápido demais. Ruído e música espremiam meu cérebro com a mesma força que o estranho usava em meu pulso. Ele me arrastou em sua direção com um sorriso, mas eu resisti. Puxei meu braço de volta, para perto do meu corpo e, como um presente enviado pelos céus, minhas amigas se colocaram entre mim e o cara do aperto de ferro. Elas não pararam de dançar, me empurrando para longe.

Nenhuma de nós queria tentar a sorte com o desconhecido.

Vaca — ele se aproximou uma última vez, nos xingando em plenos pulmões. Aquela foi a única palavra que consegui ouvir.

Meu coração batia rápido para caramba. Eu só consegui relaxar quando o estranho deu as costas, procurando outra pessoa para atormentar.

— Você está bem? — Jackie praticamente gritou no meu ouvido — Quer que eu arrebente aquele cara?

Eu estava tão aliviada que poderia beijar aquelas duas.

— Estou ótima! Eu vou ao banheiro — exclamei de volta e elas trocaram um olhar preocupado. Deveriam estar se perguntando se era uma boa ideia nos separarmos — Vou ficar bem!

Não parei para conferir se Hunter me seguia. Ele deveria estar em algum lugar à minha esquerda. Fui até a porta de saída sem olhar para trás e adentrei no corredor cheio.

O barulho de vozes alteradas superou a música alta, atraindo a atenção de curiosos, que correram para a sala. Deveria ser alguma palhaçada de gente bêbada. Eu andei contra o fluxo, seguindo para o interior da casa.

Quando alcancei a porta do banheiro, uma mão quente se posicionou na base das minhas costas. Meu corpo estava familiarizado demais com aquele toque para rejeitá-lo. Era gentil, mas firme. De repente, toda a merda envolvendo a pista de dança havia ficado para trás.

— Oi — a voz soava baixa, perigosamente próxima ao meu pescoço.

Era Hunter. Seu calor me envolvia por inteiro e enlouquecia meus sentidos. Girei meu corpo sobre os calcanhares, preparada para a visão gloriosa que me aguardava. A iluminação fraca projetava sombras no rosto de Hunter. Seus contornos eram linhas retas e traços masculinos. Os olhos azuis carregavam uma seriedade indecifrável, percorrendo meu rosto com cautela.

Eu tive certeza que nada mais estragaria a minha noite.

— Olá.

— Estava procurando alguém?

— Depende — malícia crepitava em meus lábios. — Tem alguém para me apresentar?

Ele deu um passo para frente e minhas costas foram de encontro à parede.

— No caso — ele inclinou seu rosto, os lábios arregaçados em um sorriso obsceno — , tem alguém bastante ansioso para conhecê-la.

Eu precisei morder o interior da boca para não rir, mas meu humor foi embora tão rápido quanto surgiu. Um vislumbre vermelho me chamou a atenção. Envolvi a mão dele com cuidado e a trouxe para perto. Havia um corte em seu punho direito, na junta de seus dedos.

— Foi um golpe limpo — Hunter puxou a mão de volta, sem me olhar nos olhos. — Ele deve ficar inconsciente pelas próximas horas.

— Eu consigo me defender sozinha — murmurei de volta, embora soubesse que estaria perdida sem Indy e Jackie.

— Eu sei — ele estava agitado, afastando-se de mim. — Também sei que você não gosta de escândalos, mas eu não poderia deixar aquele imbecil sair impune depois do que ele fez — eu o segurei pelos ombros, como se isso pudesse acalmá-lo. Funcionou. Subi minhas unhas pelas laterais de seu pescoço e Hunter fechou os olhos, encostando a testa na minha — Só lamento não ter chegado antes.

Concordei em silêncio, examinando o rosto dele. Hunter estava controlado. Em comparação aos seus adversários anteriores, o estranho teve sorte — um soco bem dado deveria ser o mínimo que sua mente envenenada de ódio conseguia conceber. Suas mãos fortes desceram por minha cintura e eu estava sorrindo novamente, sentindo o corpo dele pressionado contra o meu.

Meu coração deu um pulo no peito quando escutei uma risada familiar.

Na outra extremidade do corredor, Cole e mais dois amigos discutiam animados. Eles andavam em direção a sala, distraídos, o que me deu tempo o suficiente para elaborar uma saída brilhante.

Empurrei Hunter para dentro do armário de casacos e fechei a porta atrás de nós. No momento em que viu Cole no fim do corredor, ele entendeu meu alarde e parou de resistir.

Meus olhos demoraram a se acostumar com a pouca claridade. A única luz dentro do closet provinha das frestas horizontais da porta.

— Ok — minhas mãos deslizaram por seus braços fortes, mas Hunter não cedeu. Ele continuava tenso sob meus toques — Onde estávamos?

— Está com vergonha de mim? — seu hálito morno fazia cócegas no meu pescoço. — Desse jeito você vai acabar ferindo meus sentimentos.

— Achei que você gostaria de reviver uns momentos preso aqui comigo — eu o puxei pelo cinto.

— Bem pensado — Hunter murmurou, percorrendo meu quadril com as mãos.

Minhas pálpebras pesaram até se fecharem completamente. O rosto dele estava a centímetros do meu. Hunter desceu o nariz por minha bochecha e alcançou meu pescoço, depositando um beijo ali.

— Você se lembra disso?

Não consegui responder. Minha respiração era alta e descompassada. A boca dele fez o caminho inverso, subindo por minha garganta enquanto posicionava uma das pernas entre as minhas coxas.

— E disso? — continuou ofegante — Você lembra?

Meus joelhos cederam e eu me segurei aos seus ombros. Estava completamente embriagada pela curta distância que nos separava. Encarei seus olhos azuis, arfando, e ensaiei uma súplica silenciosa. Meu desejo foi atendido na hora. Hunter tomou meus lábios em um beijo pouco gentil. Seus dedos calejados afundaram em meu cabelo e me puxaram para perto. Hunter já não conseguia mais refrear seus desejos e eu estava adorando. Tudo era válido por um pouco mais de contato. Eu escorreguei minhas unhas por suas costas e ele arqueou o corpo, pressionando seu quadril contra o meu.

Eu estava prestes a dizer algo engraçadinho quando a porta se abriu abruptamente, preenchendo o armário com luz. Nós fomos pegos de surpresa e, por sorte, a pessoa sequer reconheceu a existência de vida dentro do closet. O intruso apenas jogou um casaco para dentro sem olhar e fechou a porta, nos deixando na semi-escuridão.

— Que merda é essa? — Campbell rugiu, se livrando da jaqueta que foi arremessada em cima de nós.

Ele fez menção de escancarar a porta e ir atrás do invasor, mas antes que alcançasse a maçaneta, eu o tinha em meus braços novamente. Juntei nossos corpos, abafando uma risada contra o peito dele, e Hunter me apertou de volta com chateação.

Com certeza ele riria do incidente da jaqueta mais tarde.

— Você viu o Hunter por aí? — eu ouvi uma voz do outro lado da porta perguntar.

Por motivos diferentes, nós permanecemos em silêncio dentro do armário. Enquanto eu ouvia a conversa, o baixista explorava a curva do meu pescoço com atenção. Eu quase revirei os olhos de prazer com as carícias. Aquilo era muito bom.

Nós estávamos prontos para retornar sessão de amassos como se o intruso nunca tivesse nos interrompido.

— Ouvi dizer que ele bateu em um cara e sumiu — uma segunda pessoa respondeu do lado de fora.

— Porra. É a vez dele no Beerpong.

— Chama aquele o aluno novo para jogar no lugar dele.

— Nem fodendo.

Eu não ouvi o resto da conversa. Os garotos devem ter seguido para outro lugar.

— Hunter? — eu chamei.

— Hm?

A voz dele soava abafada contra minha pele. Hunter arrastava os lábios pelo meu pescoço preguiçosamente, como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Nenhuma festa de arromba acontecendo do lado de fora, apenas nós dois.

— Você me fez esperar tanto — sussurrei. — Acho que posso esperar mais um pouco.

Hunter deixou os ombros caírem. Ele afastou o rosto do meu, tomado por choque e mágoa. Parecia que eu tinha dado um chute em um filhotinho.

O terror dele me provocou um sorriso:

— São seus amigos, Hunter.

A observação não surtiu o efeito esperado. Ele continuava a me observar, sem se mexer nem um centímetro.

— Eu vou recompensar você depois — propus, empurrando o baixista até a porta de um jeito delicado.

Hunter segurou minha mão sobre seu peito. As íris azuis queimavam em meu rosto.

— Me diga uma razão pra eu não levar você direto lá para cima.

Eu fingi pensar por dois segundos e, então, sussurrei em seu ouvido:

— Eu estou sem calcinha.

Campbell demorou uns segundos para processar. Sua respiração era profunda e entrecortada.

— Você... — ele se engasgou com as próprias palavras. Seus olhos claros se preencheram com entendimento. Eu o assisti hesitar. A julgar pelo volume contra minha coxa, seu sangue já se concentrava em uma parte bastante específica de sua anatomia — Você não pode me dizer uma coisa dessas — debaixo da palma da minha mão, o coração dele batia forte e vigoroso. Ele estava agitado de novo, fugindo do meu olhar — Era uma razão para eu ir embora e não mais um motivo para ficar e foder você no armário de casacos.

— Eu confio no seu autocontrole. Me encontre lá em cima em vinte minutos — beijei seu queixo, rindo sapeca — Vá lá e ganhe o jogo por mim.

Hunter não conseguiu sorrir de volta quando pisquei para ele.

— Espera — arfou frustrado, me puxando de volta.

O baixista retirou uma chave do bolso e me estendeu. Era pequena e prateada. Ele não precisou dizer outra palavra. Apenas encarou-me profundamente e eu o surpreendi com um beijo. Dessa vez, longo e necessitado.





H U N T E R


April era pura malícia. Seu vestido preto e justo abraçava suas curvas e delineava cada pedaço de seu corpo. A desgraçada era deliciosa e se movia como se soubesse disso. Deixou o armário sem olhar para trás, levando a chave do quarto em que passaríamos a noite. A garota partiu e tudo que eu consegui fazer foi assistir seu traseiro desaparecer a distância.

Sádica. April era uma sádica que adorava me ver duro.

Desde o início da festa eu aguardei por aquele momento. Bebi algumas cervejas e tentei acalmar os nervos com um cigarro ou dois, mas de nada adiantou: assim que soube que April havia chegado, perdi o controle. Fui atrás dela e a procurei no meio da multidão como um louco. Quando a encontrei, linda naquele vestido, meu cérebro congelou. Esperei pelo fim daquela música com a paciência de um santo. Aguentei firmemente enquanto ela rebolava aquela bunda e mexia os quadris em um ritmo que fazia meu pau pulsar dentro da calça. Claro que quebrei a cara do desgraçado que tentou agarrá-la a força. Eu ainda fiz rápido porque não queria perdê-la de vista.

Por fim, eu finalmente a tive em minhas mãos e, mais uma vez, a deixei escapar.

Engoli uma infinidade de palavrões. Que hora horrível para ser lembrado pelos meus amigos. Um bando de empata foda. Eu não agüentava mais jogos envolvendo copos vazios e ping-pong. Mais um pouco dentro daquela cozinha fechada e o cheiro de nicotina ficaria impregnado de vez em minha pele, junto ao suor e o álcool.

A porta do armário se fechou atrás de mim. Eu estava tão irritado que nem me assustei quando topei com um rosto conhecido.

Era Finch, o dono da casa. Sóbrio como uma freira.

O anfitrião se recusou a beber naquela noite. Ele sabia que nós tínhamos vodka o suficiente para suprir uma pequena província na Rússia e esse fato sozinho pareceu ser uma motivação boa o suficiente para convencê-lo a manter uma distância segura do álcool. Finch me contou que, desde o incidente no ano novo, não conseguia mais saborear a bebida sem sentir o gosto da vez em que quase morreu.

Finch me encarava com sobrancelhas arqueadas, sem esconder a admiração.

— April Wright e Hunter Campbell no meu armário de casacos — ruminou lentamente as palavras que soavam alienígenas na língua dele. — Deixa eu adivinhar: você perdeu o casaco e ela te ajudou a procurá-lo. Foi aí que a porta emperrou por fora e ela caiu no seu colo.

— Não — eu suspirei, abrindo caminho entre o mar de pessoas. — Você esqueceu a parte em que jogamos damas.

— Mas é claro — um sorriso iluminou seu rosto e ele meneou a cabeça, repreendendo-se pela própria tolice — Como pude esquecer?

Antes que o dono da casa pudesse me irritar ainda mais, Seth, meu melhor amigo, nos encontrou. Ele tinha os olhos arregalados e corria até nós como se tivesse injetado adrenalina na veia:

— Finch! Cara, estão mijando na pia da cozinha!

— Puta que pariu — o dono da casa se moveu como um raio até o fim do corredor.

Eu respirei fundo, aliviado por me livrado interrogatório. Pelo menos eu ganharia algum tempo.

Do meu lado, o ruivo recém chegado tinha um copo na mão e sorria como o diabo. Usava uma camisa quadriculada, cor de vinho e desbotada, com uma grande mancha de bebida na frente. Ele deveria ter entornado cerveja na própria roupa enquanto corria.

— Não tinha ninguém mijando na pia, não é?

Seth apenas deu de ombros. Ele fez menção de trazer o copo a boca, mas parou no meio do caminho:

— Você não tem uma partida de beerpong para jogar?

Ainda tinha isso. April estava esperando por mim lá em cima. Sem calcinha.

Eu precisava ganhar essa merda. E rápido.





N/A: SALVE, SALVE, GALERINHA ZAPPING ZONICA!!!

VOCÊS SENTIRAM SAUDADES???? POIS EU SIM. *desvia de chinelos voadores e garrafas quebradas* Espero que tenham gostado do capítulo dessa semana.

Esse capítulo está bem diferente da versão original. Algumas partes foram um verdadeiro desafio para mim, mas deu tudo certo. Eu lembro que eu estava escutando Woman do Harry Styles quando escrevi a conversa Wribell pela primeira vez. Como algumas cenas mudaram, essa música já não se encaixa mais no contexto. Aliás, a música que a April dançou não é essa lkdjglj Na verdade, eu estava entre uma da Rihanna e outra.

O próximo capítulo é bem grande. Até eu tô nervosa kkkkkk E desculpa se fiz o coração de vocês pular; não dava pra ir direto ao ponto nesse capítulo. Meu estilo é meio lento kkkkkk

Muita gente tem falado comigo sobre não receber notificações dos capítulos, etc. Eu sempre aviso pelo meu perfil, então, se quiserem receber um salve quando atualizar, é só seguir que é sucesso.

Qualquer erro podem falar comigo!! Crítica construtiva ou dúvida, mesma coisa!

Obrigada a todo mundo que se manteve por perto.

Beijinhos,

B.

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