Capítulo XII [PARTE DOIS]







A P R I L


O REFEITÓRIO DE ST. CLAIR era um salão espaçoso, com mesas largas e paredes de pedra. Se eu olhasse pelas janelas, veria o topo de algumas árvores e apenas parte do gramado úmido. Todo o resto da paisagem fora engolido por uma neblina espessa, que transformara os arredores do colégio em silhuetas cinzas e sombras sem forma.

Dentro do salão, os alunos foram forçados a vestir seus casacos e a abotoar suas camisas até a última casa. Eu estava prestes a me levantar para buscar um agasalho quando uma risada escandalosa me desconcentrou. Era Seth Montgomery. Ele sorria de orelha a orelha para os meus amigos, envolvido em uma conversa animada. Aquele deveria ser o terceiro ou quarto dia seguido em que Seth e Hunter se sentavam na nossa mesa e eu já havia perdido a conta de quantas vezes ouvira o som de sua gargalhada alta e melodiosa.

Por mais barulhento que fosse, o novo arranjo da nossa mesa não era tão ruim quanto parecia. Na verdade, eu me perguntava por que nunca havíamos sentado todos juntos antes. Eu e as meninas fomos superadas em número, mas estávamos tranquilas com as novas adições.

Com exceção de Jackie, claro.

— Eu assisti essa série semana passada — Seth murmurou, sacudindo a caixinha de suco para checar se havia mais. Ele e Jackie conversavam sobre séries de televisão, mas nem esse assunto conseguia ser neutro o suficiente para evitar brigas. — Parece uma versão fracassada de Friends.

— Não, a versão fracassada de Friends já existe — ela sorriu maldosa, saboreando o impacto de suas próximas palavras; — E se chama How I Met Your Mother.

— Você não disse isso — Seth estava horrorizado.

O tom da dramático da discussão chamou a atenção de todos na mesa. Eu e Finch nos calamos para observar os dois se digladiando como cão e gato.

— Porra — ouvi meu amigo suspirar ao meu lado. — A Jackie tinha que mencionar How I Met Your Mother, não é? Agora ele vai ficar histérico.

Eu avaliei os dois. Cheguei a cogitar sentar entre eles para impedir que se batessem ou algo assim, mas não precisei a fazer isso — fomos salvos pelo gongo, por assim dizer. O sinal tocou, anunciando o fim do almoço e os recém declarados inimigos mortais se separaram.

Aos poucos os alunos se levantaram, retornando as bandejas para as pilhas acumuladas próximas às lixeiras. Eu catei minhas coisas e estava preparada para me despedir quando uma movimentação do outro lado da mesa me chamou a atenção.

— Bom — Hunter se pôs de pé, espreguiçando os ombros relaxado —, eu tenho um trabalho de biologia para fazer. Você vem, Wright?

Naquele momento, congelei. Demorei vários segundos para levantar a cabeça e encarar o rosto dele, cheia de desconfiança. Eu precisava me certificar de que Campbell não falava com meu irmão, que atendia pelo mesmo sobrenome.

Quando Hunter percebeu meu olhar questionador, ele ergueu uma sobrancelha espessa, livre de preocupações. Aparentemente, um de nós não era tão bom em improvisar. Eu por procurei algo ácido para dizer em retorno, mas não encontrei.

Para minha felicidade, o resto dos meus amigos não reparou. Apenas Cole e Jackie notaram a atividade suspeita. Eles alternavam o olhar entre nossos rostos, cada um por um motivo diferente: enquanto meu irmão não escondia a confusão, Jackie sorria abertamente. Ela movimentava os lábios em silêncio, frisando cada sílaba do xingamento: "PUTA MERDA".

— Claro. — Eu respondi hesitante, me afastando da mesa. Passei as alças da mochila entre os braços e me despedi, pronta para seguir Hunter.


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— Espere aqui — Campbell murmurou assim que a porta se fechou atrás de nós.

Após uma breve caminhada pelo campus úmido e sombrio de St. Clair, nós chegamos ao hall da biblioteca. Durante o trajeto, eu e Hunter andamos lado a lado a uma distância segura. Nenhum de nós teve coragem para quebrar o silêncio. Eu fiquei curiosa para descobrir para onde iríamos, claro, mas não o suficiente para estragar a surpresa. Quando percebi que realmente estávamos a caminho da biblioteca, murchei em decepção. O sentimento, porém, não durou muito — assim que olhei para ele procurando por uma explicação, encontrei uma expressão que fez brotar um friozinho na boca do meu estômago. Definitivamente, não estávamos ali para estudar.

Ignorando o pedido do Campbell, eu deixei minha mochila no guarda volumes e o segui.

Fazia algum tempo desde minha última visita à biblioteca. O interior do hall continuava do jeito que eu lembrava: assustador, mas bonito. As paredes coloridas em vinho ostentavam telas de pintura à óleo e o piso alternava entre quadrados de mármore pretos e brancos, como um grande tabuleiro de xadrez. No canto, o busto de um homem solitário.

Havia um balcão de madeira entre as duas passagens arqueadas que interligavam o hall à biblioteca. Hunter andou até o móvel largo, carregando na mão um livro de capa escura e sem identificação. Ele se postou em frente à bancada e cumprimentou a bibliotecária com um sorriso. Como toda senhora de idade, ela tinha os cabelos brancos curtos e bem arrumados. Vestia um suéter de lã marrom por cima de uma blusa branca de botão e um par de brincos de pérola finalizava o conjunto.

— Boa tarde. Você precisa de algo, docinho?

— Boa tarde. — Ele estendeu o livro para a bibliotecária, que o aceitou com um semblante atento — Só vim devolver isso.

A idosa franziu o rosto enrugadinho por trás dos óculos retangulares. Depois do que pareceram segundos, um brilho de realização preencheu o semblante da bibliotecária. Ela sorriu, ajustando um pequeno aparelho na orelha direita.

— O que disse?

Hunter repetiu pacientemente, apoiando os cotovelos sobre a bancada. Era como se ele estivesse familiarizado com o processo. Observei o baixista jogar conversa fora enquanto a idosa procurava pela ficha dele. No fim, ela carimbou o selo de devolução e sorriu adorável:

— Mais alguma coisa?

— Por enquanto é só, Beth.

A bibliotecária ficou satisfeita com o sorriso de Hunter. Ela tocou o pequeno aparelho em sua orelha novamente, voltando a se concentrar no livro que lia antes de chegarmos. Campbell lançou um último olhar divertido para o balcão antes de se voltar para mim. Eu o esperava encostada em uma pilastra do hall, escondida feito uma criança bisbilhoteira.

— Venha — seu rosto ainda tinha alguns vestígios de sorriso. Estavam em suas íris azuis e em sua boca.

— Não tem medo de sermos pegos? — eu saí do meu esconderijo, relutante. — Nós temos aula.

— Só se formos muito azarados. Veja — ele indicou o móvel comprido que escondia a bibliotecária — Hoje é quinta, o que significa que é dia de romances quentes. Beth sempre desliga o aparelho auditivo quando lê.

Do outro lado do balcão, Beth folheava as páginas de um exemplar surrado de um romance de banca de jornal. Mesmo a distância, eu consegui ver a imagem da capa: um homem musculoso e sem camisa segurava uma mulher em um vestido vermelho pela cintura. Eles pareciam prestes a compartilhar um beijo arrebatador.

Tentei conter uma risada, mas o som escapou de minha garganta sem que eu tivesse a chance de impedir. Minhas mãos voaram para cobrir minha boca, abafando a gargalhada, porém o estrago já havia sido feito. Primeiro chequei Hunter e depois a bibliotecária. Diferente das outras vezes, a idosa não se levantou pronta para me repreender com o dedo indicador riste aos lábios. Ela nos ignorava completamente, como se eu não tivesse acabado de emitir um ruído escandaloso.

— Você quer... — Campbell limpou a garganta, arriscando uma espiada — Voltar para aula?

Sob meu olhar atento, ele esfregou a nuca com os dedos. Parecia desconfortável, quase nervoso. Era adorável.

— Não sou uma amadora — eu franzi o cenho divertida.

Hunter sorriu em resposta, entrelaçando sua mão à minha. Não tive tempo de me assustar com o gesto. Campbell me guiou entre as mesas de estudo sem esperar para ver a minha reação e seguiu até o labirinto de estantes altas. Foi tão espontâneo que eu me peguei sorrindo.

"Não" eu me repreendi como faria com um cãozinho "April má. O cara te deu um orgasmo. E daí? Isso não faz dele um deus do sexo, não mesmo".

Pelo bem da minha sanidade, voltei a me distrair com a biblioteca.

Já havia me aventurado pelo lugar inúmeras vezes e ainda assim não me cansava de observar as prateleiras de madeira que subiam quase até o teto. Durante o dia, a iluminação ficava por conta das janelas estreitas, que traziam a luz do sol às mesas de estudo. Um lustre tão antigo quanto o próprio prédio pendia do centro do salão com infinitas peças tremeluzentes. Era lindo e, para alguns alunos, um lugar perfeito para tirar uma soneca.

Nós paramos onde dois corredores se encontravam em um "L". O espaço de estudos retangular tinha uma mesa de reuniões de mogno e uma janela emoldurada por grossas cortinas com vista para o gramado.

Hunter não esperou até que eu terminasse de avaliar o local.

Ele envolveu minha cintura e me puxou de encontro ao seu corpo. Seus lábios tomaram os meus em um beijo faminto, exigindo tudo que eu tinha. Era como se eletricidade corresse por minhas veias, formigando debaixo da pele. Eu subi minha mãos até seus cabelos escuros, o trazendo para perto ao mesmo tempo em que o empurrava em direção à estante. As costas dele encontraram as prateleiras em um gesto brusco e livros caíram ao nosso redor. Os três volumes acertaram o chão em um baque surdo. Eu pulei de susto, segurando a camisa de Hunter em punhados de tecido.

— Desculpa — eu murmurei.

Não tive tempo de ver o sorriso perverso se formando no rosto do Campbell. Em questão de segundos, seus lábios estavam colados aos meus novamente e suas mãos passeavam por minha cintura em uma carícia perigosa. O baixista me guiou até um divã preto de couro onde se encostou, quebrando o beijo para me fitar com os olhos brilhantes, me segurando pela mão como se me convidasse a me sentar em seu colo.

A visão me fez suspirar.

Eu apoiei um joelho de cada lado de seu corpo e suas mãos rapidamente agarraram minhas coxas. Um sorriso de satisfação cresceu em meus lábios: eu o tinha preso entre as minhas pernas.

— Quer dizer que hoje eu posso me sentar aqui?

O olhar contemplativo no rosto de Hunter deu lugar a uma confusão divertida.

— Eu achei que você fosse gostar de fazer algo mais criativo do que apenas se esfregar em mim em um banheiro sujo.

— Pode ficar tranqüilo, amor — senti um sorriso provocante brincar nos meus lábios enquanto o apelido idiota que já o ouvi usar tantas vezes saía pela minha boca. Eu inclinei o corpo para sussurrar a próxima parte colada ao ouvido dele, seus músculos tensos embaixo de mim — Seu oral é bem decente.

Decente? — Hunter repetiu a palavra com malícia, subindo suas mãos pela minha saia — De onde eu estava parecia tudo, menos decente.

Mesmo sem vê-lo, eu sabia que ele sorria. Sentia isso em sua voz e também em seu rosto, tão próximo do meu. Eu arrastei meu nariz em sua bochecha e desci até encontrar a linha de seu maxilar. Avancei para seu pescoço, distribuindo beijos leves, roçando minha boca contra pele sensível e arrepiada. O cheiro dele continuava exatamente como eu lembrava.

— Eu diria que a palavra certa para descrever é espetacular — Hunter murmurou, sua voz enrouquecida a centímetros do meu pescoço. O hálito quente eriçou minha pele e eu fiz o melhor que pude para conter o riso.

— Hunter. Você é literalmente o único cara que consegue conversar numa hora dessas. Puta que pariu.

Debaixo da minha mão, senti seu peito reverberar com uma risada. Eu levantei o rosto para fitar seus olhos escurecidos.

Amor — Campbell recitou a palavra como se tivesse aprendido um novo truque. Ele tomava cuidado para que eu absorvesse cada sílaba — Se eu estivesse realmente tentando, essa sua boquinha linda só se abriria para gemer — Ele segurou meu queixo entre os dedos, o dedão arrastando meu lábio inferior delicadamente para baixo e mirou minha boca de um jeito pensativo: — Ou gritar o meu nome.

Corri meus olhos pelo rosto dele e talvez minha expressão denunciasse o quanto eu queria que aquilo fosse verdade.

Tente.

Nunca quis tanto que ele tentasse. Eu quase verbalizei meu pedido, mas tive uma ideia melhor. Se não estávamos na biblioteca para transar contra as estantes como animais, nós pelo menos teríamos alguma diversão.

Embaixo de mim, Hunter ainda aguardava por uma resposta. Ele sorria malicioso, percorrendo minhas coxas com a ponta dos dedos. Quando percebeu meu olhar, ele parou. Não podia existir momento mais perfeito que esse.

Eu tinha meus olhos presos aos dele quando movi meu quadril para cima. Suas pálpebras se fecharam pesadas enquanto eu sentava em sua ereção, pressionando nossos corpos em todos os lugares certos. Nós arfamos juntos. A boca de Hunter se entreabriu e eu a beijei leve. Subi e desci igualmente devagar, me aproveitando ao máximo da posição.

Tentei não fazer barulho ao senti-lo encaixado em mim, mas era impossível conter os suspiros que abandonavam os meus lábios. Debaixo da minha palma, o coração do baixista martelava quase tão forte quanto o meu.

Hunter afundou os dedos em minhas coxas, controlando a respiração como podia. Ele me fitava com pupilas dilatadas, escuras como dois buracos negros, e maxilar deliciosamente apertado em um sinal de fúria.

Sem qualquer sinal de aviso, ele ergueu a mão e desceu um tapa ardido em minha bunda.

O som limpo do estalo me fez parar de imediato. Eu segurei um grito de surpresa, me agarrando aos seus ombros. Hunter repousou a mão sobre a minha pele avermelhada enquanto eu arfava livremente.

— Não me provoque — ele rosnou.

Então falei mesmo em voz alta.

Eu umedeci os lábios, ainda absorvendo a quentura de seu toque.

— Eu não faria isso — sussurrei, mesmo que não fosse verdade.

Não consegui sorrir. Toda a sutileza do momento havia ido embora. Eu ansiava por mais. Meu corpo inteiro gritava desesperado por isso. Meu coração martelava em meu peito e pulsava alto em meus ouvidos, exigindo tudo para si.

Eu juntei nossos lábios da maneira mais sexual consegui. Hunter grunhiu quando cavalguei contra sua rigidez. Ele apertou minha bunda com vontade e iniciei um vai-vem lento, no ritmo do nosso beijo. O corpo dele estava cada vez mais tenso debaixo do meu, seus dedos afundados na minha cintura. Hunter segurou meu cabelo pela raiz e eu ofeguei, minhas mãos firmes contra o peito dele. Não restava espaço para qualquer outra coisa dentro de mim enquanto ele me beijava. Tudo que eu pensava naquele momento era Hunter.

O baixista notou a urgência do beijo. Ele me agarrou pelas coxas e se levantou do divã, me suspendendo em seus braços. Meu corpo respondeu aos seus movimentos quase de imediato, se enroscando ao dele. Minhas pernas engatadas à sua cintura e meus dedos entrelaçados atrás de sua nuca. Campbell me levou até a mesa e nos mudou de posição: agora eu, sentada, o tinha entre minhas pernas, subindo pelo meu corpo.

Não conseguia parar de desejar Hunter em cima de mim, sem nenhuma roupa para atrapalhar. A pele salgada de suor, as investidas bruscas e lentas, a mesa debaixo de nós envergando com os movimentos ritmados.

Um gemido sôfrego escapou dos meus lábios e eu me afastei. Hunter desceu o nariz pelo meu pescoço, parecendo achar algo interessante na pele sensível.

— Hunter.

Ele beijava meu pescoço e meu ombro descoberto, me ignorando.

— Hunter. — Chamei novamente, interrompendo o carinho distraído que eu fazia em sua nuca para puxar os fios. O baixista se afastou, suspirando frustrado quando a distância entre nós aumentou.

Campbell era ridiculamente paciente. Mais cedo naquela semana, quando compartilhei minha idéia brilhante de transarmos debaixo da arquibancada, ele apenas me segurou pelo rosto antes de rir e depositar um selinho nos meus lábios:

"Por Deus, April. Nós não vamos trepar na escola."

Aquelas palavras me assombravam desde então, recheando minha cabeça de ideias para tentá-lo. Eu queria que ele mudasse de ideia. Nós estávamos beirando a insanidade nas preliminares, imagine só o sexo.

— Se continuar me negando, você vai sofrer de um caso crônico de bolas azuis — eu avisei gananciosa, descendo da mesa.

Eu não pude evitar. Hunter estava me privando de um orgasmo fantástico.

— Acredite em mim, você é tudo que eu mais quero agora  — ele murmurou como se estivesse sentindo dor física, virando de costas — Porra.

O baixista passou a mão pelo rosto em frustração. Sua respiração era tensa e constante, como se tentasse recobrar o controle.

Eu me aproximei sorrateira do baixista, observando suas costas subirem e descerem sob a camisa. Contornei seu corpo, me posicionando em sua frente. Seu rosto era ilegível, mas os olhos azuis o denunciavam. Eles pareciam me devorar.

— E se nós fizéssemos agora? — Comecei.

— Aqui? Agora?

Não respondi. Eu estava concentrada em desabotoar a camisa dele e retirá-la de dentro da calça. Hunter enrijeceu o maxilar quando passei minhas unhas pelas entradas que escapavam do elástico de sua boxer. Eu aproveitei para empurrá-lo contra a mesa, me abaixando até ficar de joelhos.

A visão era espetacular: veias destacadas sob a pele e olhos estreitos em frestas. Eu queria lambê-lo todo, fazê-lo se desmanchar na minha boca.

Seria a primeira vez que eu faria isso e ainda seria por uma boa causa.

Como se pudesse ouvir meus pensamentos, Hunter deixou o queixo pender para trás e respirou fundo. Segundos depois, quando voltou a me encarar, seus olhos carregavam uma intensidade que maltratou o fundo da minha calcinha.

— Eu te debruçaria sobre essa mesa e te comeria devagar. Meter até suas pernas tremerem.

Ele finalmente entendeu minha pergunta inicial. Eu brinquei com o cinto dele, satisfeita com a resposta, aguardando incentivos.

— Você empinaria esse seu rabo e gemeria meu nome enquanto eu fodo sua buc... — Hunter arfou quando eu segurei sua excitação por cima da calça. Sem fazer cerimônias, eu deslizei minha mão para dentro de sua boxer e o envolvi. Ele estava dolorosamente duro em toda sua extensão.

— Desculpa — eu sorri travessa — Eu te atrapalhei?

Hunter franziu o cenho em concentração. Respirando pesado, o baixista umedeceu os lábios e engoliu em seco. Ele assistiu emudecido enquanto eu procurava um ritmo que o agradasse, subindo e descendo devagar por sua pele macia.

Um sorriso safado escorregou por meus lábios. Então era assim que ele se sentia? Eu não conseguia esconder como aquela situação toda me agradava, mesmo ajoelhada no chão.

Um som rouco escapou do fundo de sua garganta. Era baixo, grave como um rosnado. Eu me tornei gananciosa por mais. Eu desci o zíper de sua calça e ele parecia cada vez mais tenso. Meus movimentos recomeçaram, dessa vez com alguma lubrificação, e a boca dele se entreabriu como se tivessem roubado todo o ar de seus pulmões.

Justo quando eu estava pensando em adicionar minha boca à equação, um barulho abafado atravessou os corredores.

— Você ouviu isso?

Eu congelei.

Aquelas palavras não saíram de Hunter.

Alguém cruzava os corredores da biblioteca com pressa. O som de passos contra as tábuas de madeira ficava mais alto a cada segundo. Hunter praguejou por baixo do fôlego descompassado e eu me pus de pé como um raio. Inferno. O cabelo desalinhado e as roupas amassadas denunciavam o que estávamos prestes a fazer. Eu olhei para meus joelhos avermelhados e quase tive um treco.

Para de rir, seu retardado — uma segunda voz advertiu. — Você não pode correr na biblioteca.

O desespero fechava minha garganta enquanto alisava minha saia. Era muita sorte mesmo, ser interrompida duas vezes.

Quando virei para Hunter, eu o encontrei parado no mesmo lugar. Coberta de pânico, eu o empurrei para outro corredor. Ele parecia muito irritado, seu rosto vermelho. Talvez só tenha se movido porque eu pareci muito desesperada.

Infelizmente, eu não consegui desaparecer entre as estantes também. Tudo que eu mais queria era que o chão se abrisse e me engolisse, mas já era tarde demais. Eu fui vista. Seria ridículo fugir. Nosso intruso estava muito perto, talvez até tivesse testemunhado eu empurrando Hunter para longe.

— Ora, ora — a voz pertencia a Zack Dempsey, meu melhor amigo. Atrás dele, Zoe Summers, carregava alguns livros, morta de vergonha. — Nós precisamos parar de nos encontrar assim.

Eu estava tão aliviada de não ter sido flagrada por um funcionário da escola. Ano passado ouvi falar de uma menina que foi pega transando com um aluno dentro de uma sala. O incidente resultou em expulsão imediata para menina e apenas ela.

— Assim como? — Eu ainda estava meio sem ar. Minha confusão era real.

Zack lutava para não rir. Ele estava se divertindo horrores com a situação. Eu nunca odiei as covinhas em seu rosto como odiei naquele momento.

— O que você estava fazendo aqui? — O vocalista reformulou a frase, dando um passo descontraído na minha direção.

Pelo canto do meu olho, eu pude enxergar Hunter no outro corredor, de costas para uma estante. Meus amigos não conseguiam vê-lo, mas eu sim. Ele não fazia esforço algum para se esconder.

Em uma tentativa patética de ocultá-lo, eu estiquei meu braço e apoiei o cotovelo em uma prateleira.

— Eu? Não. Eu estava só... Livros.

Zack não segurou a risada. Desgraçado.

— Seu idiota — Zoe acertou ele com os livros que carregava em suas mãos. Cada calhamaço daqueles deveria pesar mais de meio quilo. Eram volumes de capa dura e páginas amarelas, provavelmente esquecidos em alguma estante empoeirada da biblioteca. 

Eu me senti vingada.

— Cuidado, mulher. — Ele a advertiu. — Você pode acabar machucando meu instrumento de trabalho.

Ele apontava para o próprio rosto. Se eu não estivesse prestes a morrer, teria rido.

— Que instrumento de trabalho?

— Eu sou vocalista, Zoe!

Os dois discutiram por mais algum tempo e eu esperei. Graças à Zoe, eu já não estava mais tão nervosa. Eu poderia agradecer à ela mais tarde, mas preferia morrer a admitir o que eu estava fazendo.

— Desculpa te assustar, April. — A menina se aproximou de mim e eu me encolhi, com medo que ela visse Hunter. — Nós estávamos recolhendo material para aula de química. Zack ficou entediado e cismou que havia escutado algo por aqui.

Zack era vários centímetros mais alto que minha amiga. Por cima da cabeça dela, o vocalista estreitou os olhos. Ele fez um sinal para que eu limpasse o cantinho da boca e eu copiei o movimento no susto, esfregando uma sujeira que não encontrei.

A gargalhada de Zack eclodiu pelos corredores no mesmo momento. Percebendo o que acontecia, Zoe empurrou os livros para o estômago do vocalista. Ele os segurou como se protegesse um soco.

— Zack — minha amiga chamou — Por que você não entrega esses livros para a Beth?

Surpreendentemente, Zack obedeceu. Ainda tossindo um pouco, ele deu as costas para nós e desatou a andar.

Zoe esperou em silêncio que o garoto dobrasse em algum corredor e recomeçou a falar:

— Seu amigo é muito sem noção — Zoe resmungou — Ele cismou que as pessoas vem a biblioteca para transar e nós... — ela começou a agir com muita cautela — Sabe o que é? Eu vou indo — a menina começou a seguir pelo mesmo caminho que Zack, mas depois de quatro passos parou. Zoe deu meia volta com uma expressão culpada no rosto. — Espera, não. Eu acabei de lembrar: tem uma comissão de pais de estudantes fazendo um passeio pelo campus. Eles estão vindo para cá. — Seus olhos percorreram o vazio atrás de mim por segundos. — É melhor você ir embora também.

Quando encontrei minha voz para responder, a menina já estava bem longe. Eu precisava recompensá-la por bater no Zack por mim. A garota tinha força.

Assim que minha amiga sumiu entre as prateleiras, meus pés dispararam sozinhos. Eu estava me controlando para não sair correndo desde o momento em que ela virou as costas. No outro corredor, Hunter continuava no mesmo lugar: apoiado contra uma estante, com a cabeça para trás.

— Hunter.

— O quê? — Ele grunhiu ainda de olhos fechados. Seu semblante era irritado, como se tentasse se concentrar.

— Te vejo na festa?

Pelo amor de Deus. Nós não podíamos mais adiar isso.

Ele demorou um pouco para assimilar o significado por trás da minha voz. De repente, seus olhos muito azuis me fitavam. Eram límpidos, cheios de expectativa.

— Com certeza.

Um sorriso tomou conta do meu rosto e eu estava preparada para partir.

Antes que eu pudesse deixar a biblioteca para trás, algo chamou minha atenção.

Três livros jaziam esquecidos no assoalho de madeira. Eles haviam caído ali mais cedo, quando eu empurrei Hunter contra a estante. Eu abaixei meu corpo da forma mais sugestiva que consegui e recolhi os três volumes como se não fosse nada. Ajustei minha saia de volta ao lugar e arrisquei um olhar na direção de Hunter.

Parado em seu lugar, o baixista tinha dificuldades em engolir em seco. Ele suspirou, olhos azuis cravados em mim. Parecia lutar para manter as mãos para si.

De volta às prateleiras, eu deslizei o primeiro livro por um espaço vazio. Era um romance de Hemingway. Meus olhos percorreram a estante mais uma vez, procurando pelas etiquetas em ordem alfabética. O vão do próximo título não estava em lugar algum que pudesse ser visto.

No próximo instante, foi impossível ignorar o barulho de passos atrás de mim. Hunter quebrava a distância e me preenchia com sua presença. Quando estava a centímetros de mim, o baixista tomou um livro de minhas mãos e esticou o braço para alcançar uma prateleira mais alta, prensando meu corpo contra a estante. Estávamos tão próximos que eu conseguia sentir seu hálito quente em minha nuca. Minha pele se deliciou com o contato, arrepiada. Hunter deslizou uma mão por minha cintura e depositou o volume em um vão acima da minha cabeça, onde eu não poderia alcançar nem se tentasse.

Por vários segundos, nós só respiramos. Suas mãos desceram por meu quadril e seus lábios se arrastaram pelo meu pescoço. Nenhum de nós queria ir embora. Cada espera era um castigo insuportável, pior que o anterior.

Eu virei meu corpo, ficando de frente para ele.

Quando Hunter me encarou, eu senti um pouco de dó. Seus olhos pediam por mais do que aquele momento permitia. Eu me ergui na ponta dos pés e depositei um beijo casto no canto de seus lábios. A julgar pelo olhar em seu rosto, o gesto o pegou desprevenido. Ele queria dizer alguma coisa, mas eu não quis ouvir. Qualquer palavra que saísse de sua boca naquele segundo tinha potencial para me enlouquecer.

Eu o deixei para trás com o último livro e um sorriso, desaparecendo no labirinto de estantes.






N/A: DIA 29/08 FOI ANIVERSÁRIO DESSE LIVRO!!!!!!!!! SURTEM COMIGO!!!!!!!!!!!!!!

Esse gif quase foi a mídia do capítulo. Existe um tweet do William Bonner que me descreve perfeitamente durante a escrita/revisão de certas cenas. Ele é mais ou menos assim: "AAAAAAAAAAAAAAAAAA".

Teve uma hora que April e Hunter estavam completamente fora do controle, não fui eu, eu juro. Não sabia nem o que estava acontecendo.

Quem já me segue no instagram viu as conversas desse capítulo e do anterior rolando nos stories. Vocês repararam que todos os celulares dos prints são da mesma operadora? (BT) Aqui é criatividade, irmãzinha. Aliás... Fiquem de olho nas minhas redes sociais para mais.

Qualquer bug ou erro, não esqueçam de falar comigo. Faço o possível para ajudar, sempre. <3

Por fim, vou deixar um jabá da história que eu escrevo com a Andy (AndresaRios) abaixo para vocês darem uma olhadinha. Se você gosta de mistério/comédia/terror adolescente, não deixe essa chance passar *piscadinha*.

Beijos,

Babissaura

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