Capitulo XI [PARTE UM]







H U N T E R


EU NÃO MENTI PARA APRIL. Nas horas que sucederam o nosso pequeno encontro, eu realmente não parei. Meus amigos ficaram encarregados de organizar uma pequena recepção para os alunos novos da Thomas e eu fui incluído na arrumação por tabela.

Não demorou muito para que calouros e veteranos estivessem reunidos no anfiteatro, o coração do prédio principal. O edifício fora inteiramente construído ao redor da estrutura — era um teatro ao ar livre, composto por um palco sem adornos, circulado por uma escadaria em forma de arco. Os degraus serviam como bancos para a platéia, que começava a se sentar.

E lá estava April.

Penúltima fileira, próxima à saída. Depois de achá-la, se tornou impossível ignorá-la. Enquanto todos os alunos borbulhavam em expectativa, April permanecia imóvel como uma escultura de mármore. Ela tinha o queixo erguido, as pernas cruzadas como as de uma dama e um belo par de coxas escondido sob a saia do uniforme. Eu não conseguia decidir se a peça de roupa era uma benção ou uma maldição. Quanto mais eu olhava, mais eu tinha certeza que aquela garota tinha sido feita sob medida para enlouquecer não só a mim, como a todos.

Havia algo diabólico no jeito que ela se movia. April atravessava os corredores de St Clair como uma criatura expulsa do paraíso e seus passos provocavam a mesma comoção que um evento de caráter religioso. Era um magnetismo natural que atraía a atenção de todos para ela.

— Ei — Seth me chamou — Agora vão apresentar a gente. Fica ligado.

Ele acompanhava a reunião como um participante de reality show, olhos presos ao palco, esperando surgir a oportunidade de entrar. Eu assenti, mesmo sabendo que Seth não notaria a ausência de resposta.

Havia cartazes espalhados pela escola inteira anunciando o evento. Aquele dia marcava o início das atividades estudantis do colégio. No centro do palco, Cole Wright, representante da Thomas e irmão de April, terminava o discurso de boas-vindas e convidava todos a se inscreverem para as olimpíadas internas. Segundo ele, cada um reunido ali tinha o dever de prestigiar a Thomas ao invés de matar aula. Pela primeira vez em muito tempo, nós tínhamos uma chance de vencer. Era por isso que eu estava em pé ao lado daquela cambada de idiotas: eu jogaria naquelas olimpíadas e me inscreveria em todos os esportes se dependesse dos meus amigos. Eu era parte do comitê, afinal. Eu e outros quatro felizardos escolhidos a dedo por Cole tínhamos o dever de parecer entusiasmados com as olimpíadas.

Pelo menos, o engajamento me renderia um ponto na média.

Eu ouvi meu nome ser chamado e depois o de Seth. Ainda no centro do palco, o representante anunciava os membros do comitê. April estava vestindo o casaco preto do uniforme, prestes a se retirar, quando Cole Wright tomou um último fôlego, observando as palavras escritas no cartão como se fossem a própria sentença de morte. Conhecendo a irmã que tinha, com certeza seriam:

— April Wright.

Um burburinho furioso inflamou o anfiteatro como um enxame de abelhas. Todos pareciam mobilizados em localizar a outra Wright, não se importando em serem discretos ou não. Algumas cabeças se viraram na direção da menina. Estavam famintos como urubus para captar alguma reação.

O rosto de April se transformou em uma máscara impassível, feita de pedra, e eu sorri mesmo que ela não pudesse me ver.

Cole não esperou que a irmã viesse ao palco se juntar aos membros do comitê. Ele fingiu uma estupidez momentânea, como se não tivesse visto a menina nas escadarias e suspirou:

— Enfim, pessoal. Se vocês virem a April, avisem a ela.





A P R I L



Dentro de St Clair, eu não representava perigo para Cole. Enquanto estivesse cercado de alunos inocentes, meu irmão estava protegido. Ele não era burro: como o presidente da Thomas, ele aproveitava para cumprimentar o máximo de pessoas possível que encontrava pelo caminho, sempre sorrindo.

Cole ainda fez questão de sorrir para mim quando passou por nós, mas sua tranquilidade não me enganou. Ele apertou o passo até o próximo grupo de alunos, com Zack Dempsey ao seu lado como guarda costas. Zack convivia conosco há tempo o suficiente para saber quando se afastar e quando posicionar estrategicamente na linha de tiro entre nós dois.

Mal sabia Zack que existia um alvo desenhado na cabeça dele também.

— Eu amo o ensino médio. — Jackie suspirou sem esconder a profunda satisfação. — Não sei porque eu odiava tanto vir para a escola.

Eu tinha os braços cruzados e Finch e Jackie tentavam me distrair.

— Mais alguma brilhante realização? — eu perguntei seca.

— Jesus. Eu estava só brincando, relaxa um pouco.

Jackie cutucou Finch com o ombro, indicando que ele era a vez dele de falar. O garoto limpou a garganta, o rosto ligeiramente inclinado na minha direção. Pobre Finch. Acho que ele se intimidava um pouco com meu mau humor. Encarei seus olhos claros com impaciência.

— Você deveria estar feliz, sabe. Os calouros andariam pelados no corredor se fosse para conseguir seu lugar.

Eu olhei para o grupo de alunos entusiasmados do outro lado do pátio.

— São calouros — eu bufei — Eles andariam pelados pelo corredor sem que ninguém precisasse insistir.

Finch franziu a testa, sem entender meu estado avançado de negação. Ele murmurou uma despedida e seguiu até os membros do comitê, que o chamavam.

— Vai com ele, April — Jackie raramente estava no lado razoável da discussão. Com certeza, ela estava adorando essa inversão de papéis — Você não pode renunciar o posto. Seria muito pior.

Eu ponderei por alguns segundos. Ela não estava errada e isso era irritante para caramba.

— Eles não me perguntaram se eu queria fazer parte do comitê.

— Bom, a decisão está em suas mãos — ela deu de ombros — Só não fica com essa cara de contrariada. Eu até ficaria para ver como você vai se sair, mas não quero que me capturem também. Imagina se me escalam para jogar em alguma modalidade estúpida. — a morena passou os braços pelas alças da mochila com agilidade e ajeitou a roupa, se preparando para partir.

Um princípio de sorriso surgiu nos meus lábios.

— Uma pena — eu comecei a falar antes que ela se afastasse — Você ficaria ótima naquele uniforme de atleta.

— Oh, sim — Jackie gemeu, girando o corpo para me fitar. Quase esbarrou em um menino — Eu ficaria irresistível usando aquelas duas camadas de shorts bufantes.

Jackie desapareceu entre os alunos com um sorriso no rosto e eu só parei de rir quando percebi que, diferente dela, eu precisaria usar aquele uniforme horrendo. Meu irmão ainda me pagaria caro por isso.

Depois que minha amiga saiu, decidi parar de adiar o inevitável e me arrastei até os membros do comitê. Eles conversavam próximos a entrada do prédio, em um semi círculo. Eu me aproximei aos poucos, observando tudo a uma distância segura. Reconheci Zack e Finch entre os alunos. Eles me cumprimentaram com um meio sorriso e uma piscadela respectivamente. Consegui sorrir de volta, maquinando em silêncio um mapa mental da situação.

Alguém indicou meu nome. Provavelmente, meu irmão. Ele estava delegando tarefas para pessoas de confiança e me escolheu. Eu só não conseguia entender o porquê.

— April Wright — uma voz masculina me saudou assim que me aproximei — Quem diria.

Eu cercava o grupo sorrateira, escondida atrás de uma pilastra, quando Hunter me achou. Uma caretinha de insatisfação atravessou meu rosto e os lábios dele se repuxaram em um sorriso. Ele estava decidindo se me importunava ou não. Definitivamente, não senti falta dessa atenção especial. Como se uma força divina atendesse minhas preces, Hunter se deu por vencido e se virou para ouvir a mensagem. Ao contrário de mim, ele parecia mais do que confortável, seu ombro apoiado em uma das vigas do corredor.

No momento, meu irmão falava algo para o grupo, atribuindo tarefas e funções estúpidas ao comitê. Eu estava só esperando pelo segundo em que alguma atitude o entregasse.

— April?

— O quê? — eu respondi.

Fiquei orgulhosa por não rosnar.

— Esse aqui é o comitê — ele continuou — Hunter, Lexie, Seth e Zack. Seth estava nos falando sobre a organização da festa.

Eu olhei ao redor. Havia mais pessoas reunidas ali além dos membros do comitê. Era bom que estivessem interessadas no que eles tinham a dizer; quanto mais gente para ajudar, melhor.

— Obrigado, Cole — Seth agradeceu ao meu irmão como um profissional — Como eu estava dizendo... A casa do Finch vai estar vazia na semana.

O ruivo não conseguiu terminar de falar sem que Finch interrompesse o discurso. Aparentemente, estava na vez do Finch sediar a festa e ele não parecia feliz com isso.

— Finch vai matar o Seth — Hunter murmurou ainda apoiado na pilastra.

— Eu me sinto mal por ele — eu tentei não rir da desgraça do meu amigo.

Finch não teve nem a chance de argumentar. Perdeu a batalha no segundo em que Seth puxou uma salva de palmas para parabenizar o amigo por se voluntariar a ser o anfitrião da festa. Seth nem percebeu os olhares raivoso que recebia de Finch. Ele continuava a coordenar os detalhes a todo vapor com tanta dedicação que surpreenderia os educadores de St Clair.

— Você vai?

— Aonde? — eu me virei para Campbell e o arrependimento foi instantâneo.

Era difícil saber o que olhar no rosto de Hunter quando ele estava tão perto. Suas íris azuis desceram pela minha boca com malícia e um sorriso deslizou vagarosamente por seus lábios. Tive que piscar duas vezes para sair do transe, dando um passo para trás para absorver a curta distância que nos separava. Seu peitoral e ombros largos ocupavam minha visão. Segundos depois levantei o olhar para encará-lo.

Nós nunca conversávamos. Nós nos avaliávamos. Deixávamos nossos olhos passearem pelo corpo um do outro, descarados. Respirávamos o ar que o outro exalava, queimando nossas peles em cobiça.

Era um jogo sem placar. Um esperando até que o outro cedesse.

— A festa. Você vai?

Eu o medi silenciosa, cruzando os braços sobre os seios. Hunter desceu os olhos por uma fração de tempo para os primeiros botões abertos da minha camisa e se recompôs inabalado.

— E então? — ele indagou seco, depois do que pareceram minutos de uma batalha silenciosa.

Eu tive a chance de ver com meus próprios olhos o quanto era difícil para ele engolir o orgulho. Lutei contra um sorriso, ainda muito contente com os braços cruzados:

— Ainda não sei. Talvez, se nada melhor surgir.

Hunter respirou fundo, seu rosto aos poucos se colorindo de vermelho. Como era bom vê-lo irritado.

— Campbell — a voz de Lexie nos chamou de volta para o dever. Ela também fazia parte do comitê — Não fique aí parado! Venha ajudar.





Passados alguns minutos, a multidão finalmente começou a se dispersar. Observei estudantes contaminados pelo espírito escolar se inscreverem em todas as modalidades possíveis, ansiosos para competir nas olimpíadas internas. Eu não conseguia entender o que os fazia acreditar que esse ano seria diferente. A Thomas sempre perdia de lavada. Quando escolhi fazer parte dessa fraternidade, eu já sabia que esse estigma de perdedores nunca iria embora e não estava nem um pouco interessada em mudá-lo. Chegava a ser cruel observar as pessoas se encherem de esperança daquela forma.

Na reunião informal com o comitê, nós conversamos sobre a organização de festas, arrecadação de dinheiro, as canções tradicionais e camisas oficiais para o time e torcedores. Eu até ajudei com algumas ideias, mas mantive um pé atrás. O massacre das olimpíadas chegaria voando e seria difícil manter a moral alta depois da derrota. Talvez até pedissem a cabeça do meu irmão por isso.

— Então, April — Hunter se aproximou com os olhos presos a uma prancheta. Ele ficou encarregado de arrebanhar mais alguns alunos para as olimpíadas. — Time de natação?

Eu tinha certeza que Campbell estava fazendo aquilo para me provocar. Só nos sonhos dele que eu entraria voluntariamente naquela piscina.

— Eu não nado.

— Não sabe andar de bicicleta e nem nadar — ele pousou as íris azuis em mim, me fitando intensamente — Você teve uma infância?

Eu senti o rosto esquentar. Os alunos amontoados ao redor perceberam a tensão crescendo entre nós, mas isso não me incomodou. O que me desestabilizou de verdade foi perceber que Campbell ainda se lembrava do que eu havia dito para ele naquela noite, momentos antes de eu aceitar a carona e subir na moto dele.

Nunca chegamos a conversar sobre o que aconteceu, mas eu achei que nós concordávamos que a melhor opção a se escolher era esquecer tudo.

— Eu me distraía com outros jogos — eu me defendi, cruzando os braços e Hunter ergueu uma sobrancelha, esperando minha resposta brilhante — Esportes que envolviam raciocínio rápido e comprometimento com o time. Esportes como... Futebol.

Nós nos encaramos em silêncio e eu levantei o queixo irredutível.

— Ótimo — um sorriso sacana deslizou por seus lábios — Parece que já encontramos a nova atacante do time de futebol feminino. Parabéns.

Campbell riscou algo na prancheta e seguiu para a próxima pessoa enquanto uma expressão de puro choque tomava conta meu rosto. Por alguns segundos, eu não pude fazer nada a não ser observá-lo partir.

Ele era um cretino esperto, eu tinha que reconhecer isso.

Dentro do bolso do meu casaco, meu celular não parava de vibrar com novas mensagens. Eram Finch e Zack. Eu li a conversa pela barra de notificações e ri sozinha, me afastando do anfiteatro. Finch reclamava sem parar, enchendo o grupo de balõezinhos transtornados sobre a festa na casa dele, e Zack botava lenha na fogueira. Eu me juntei a brincadeira e Jackie também.

Não precisei dar mais de dois passos para encontrar um rosto conhecido. Assim que levantei os olhos da tela, encontrei um par de íris verdes me encarando com curiosidade. Josh Halden cruzava o corredor com os cabelos loiros molhados de suor e uma bolsa de educação física pendurada sobre os ombros. Pela aparência desgrenhada e selvagem, ele devia ter acabado de sair de um treino de futebol.

— Josh — um sorriso se espalhou pelo meu rosto — O que faz aqui?

Eu me senti no dever de cumprimentá-lo primeiro. Se nós não nos falávamos mais, era por minha culpa.

Josh refreou um sorriso, ciente de que pessoas nos observavam. Toda vez que nós nos encontrávamos dentro do colégio, os burburinhos enchiam os corredores. Eu podia sentir que ele gostava da atenção. Nós nos destacávamos juntos, graças às nossas diferenças. O uniforme dele era vermelho, enquanto o meu era azul. Ele era um Rosseau, eu era uma Thomas. Só por isso nós deveríamos nos declarar inimigos mortais, mas esse pequeno empecilho não parecia ser o bastante para nos manter afastados um do outro.

Sozinha, eu tinha um rosto que não era de se jogar fora, um sobrenome que encabeçava a lista de convidados dos eventos da cidade e, talvez o mais importante: fazia parte do paradoxo vivo da aluna brilhante e garota problema da Thomas — intrigante o suficiente para me manter interessante. Dali por diante, a imaginação de adolescentes cheios de hormônios ganhava asas.

Josh Halden precisava de mim para continuar relevante e eu ficava feliz em ajudá-lo. Era um relacionamento descomplicado e previsível, que eu conseguia controlar com facilidade. Eu determinava até onde aquilo poderia ir e o quanto deveria voltar, como um pequeno novelo de lã enroscado entre minhas garras.

Com Hunter, eu nunca poderia experimentar aquele tipo de controle.

— Só checando minha mais nova nêmesis — ele se apoiou na parede do corredor, brincando com a alça da bolsa de educação física que atravessava seu corpo — Ouvi que você entrou na equipe da Thomas, tinha que ver isso com meus próprios olhos.

Eu sorri, inclinando a cabeça para o lado.

— Prepare-se para ter sua bunda chutada do podium, Halden. O primeiro lugar é nosso.

— Espera aí — Josh me mediu com divertimento — Eu me acostumaria com o terceiro lugar se fosse você. É lá que os Thomas estiveram desde que o St Clair original bateu as botas.

Uma risada maliciosa escapou antes que eu pudesse contê-la.

— Você não viu nada ainda, Josh.

Ele ficou em silêncio durante alguns segundos, novamente me admirando. Seus olhos eram muito verdes e seu sorriso charmoso.

— Até que essa atitude combina com você, Thomas.

Eu revirei os olhos com o apelido.

— Eu sei que sim. Mas e você? Quis entrar na Rosseau porque é a campeã em todos os jogos?

Foi a vez de Josh rir, olhando para baixo e me proporcionando uma visão privilegiada de suas covinhas. Ele parecia ter saído de um anúncio da Abercrombie ou algo assim.

Aos poucos, um grupo de meninas da Thomas próximo à nós começou a se cutucar. Elas provavelmente estavam se perguntando o que diabos eu pretendia fazer flertando com um capitão de um time adversário. April Wright virando a casaca por Josh Halden — estava aí um boato que não se escutava todo dia.

Mas, eu não estava interessada em saber no que aquelas garotas pensavam de mim.

Não. Minha atenção estava voltada para outra pessoa.

Hunter Campbell direcionava um olhar cortante para nós dois, falhando miseravelmente em disfarçar. Quando eu o peguei nos encarando, ele virou o rosto, seu maxilar firme e reto destacado sob sua pele.

"Isso, Hunter. Morra de ciúmes."

Parei de rir imediatamente. O que eu estava pensando? Desde quando fazer Campbell sentir ciúmes havia se tornado um passatempo para mim? Hunter não podia sentir esse tipo de coisa. Se ele era volátil o suficiente para ficar todo territorialista, azar o dele.

Parado na minha frente, Josh devia ter notado minha mudança de humor. Ele se desencostou da parede e sua fala se transformou em um balbuciar nervoso. Eu nem me incomodava mais em atribuir sentido às palavras que saíam de sua boca.

— Hm. Josh — toquei o braço dele gentilmente, sentindo-o relaxar — Eu estava indo a enfermaria agora. Dor de cabeça.

— Ah... Claro, desculpe — os olhos dele se demoraram no meu rosto, parecia decepcionado — Você quer que eu te acompanhe?

— Não, tudo bem.

— Te vejo por aí então.

Eu dei de ombros com um sorrisinho e murmurei qualquer coisa, me dirigindo ao interior do pavilhão sem olhar para trás. Antes de desaparecer dentro do edifício, vi Hunter arranjar qualquer desculpa para se afastar dos amigos. Mesmo sem poder vê-lo, eu tinha certeza que ele me seguia.








Os corredores estavam completamente vazios por ordem da direção. Ninguém tinha a autorização de perambular pelo colégio naquela hora. Nós, do ensino médio, éramos completamente livres para realizarmos nossas reuniões ou praticarmos educação física, desde que ficássemos quietos. Cada um em seu respectivo nicho: seja auditório, campo de futebol ou anfiteatro.

Eu estava virando a esquina de um corredor quando dei de cara com Campbell. Ele estava do outro lado do corredor, mas ainda era uma surpresa e tanto vê-lo chegar ali antes de mim. Pelo visto, existiam atalhos em St. Clair que até eu não conhecia.

A surpresa foi tanta que meus pés se travaram contra o chão. A cada segundo Hunter chegava mais perto, quebrando a distância entre nós com passos determinados. Tudo em sua postura deixava claro que aquilo não era uma coincidência. Eu expirei lentamente, na tentativa de parecer mais brava do que me sentia, mas aquela coisa no meu estômago não me deixava em paz. Era fria e se espalhava toda vez que ele me olhava daquele jeito.

— O que tem de errado com você, garota?

Definitivamente, não era daquele jeito que se começava uma conversa. Ele precisava aprender a ser mais cortês.

— Do que você está falando, Campbell? — eu tentei dispensá-lo, mas ele continuava a vir na minha direção. Antes mesmo dele parar na minha frente, eu me sentia cercada como uma gazela burra — Nós vamos ganhar uma advertência se nos encontrarem aqui.

Ele riu amargo.

— Você sabe muito bem do que eu estou falando.

— Não, eu não sei — rebati sem esconder o cinismo.

— Numa hora você me beija e na outra você está toda sorrisinhos com o Halden.

A voz de Hunter ressoava áspera contra as paredes, indicando que aquela discussão estava longe de chegar ao fim, mas eu não o esperei terminar. Se ele achava que era o único que tinha algo para dizer, estava redondamente enganado.

— Você some por uma semana e eu...

— Vai ser assim sempre? — ele me interrompeu — Não gosta de algo e já corre para os braços do próximo babaca que aparecer na sua frente?

— Você está ficando muito prepotente, Campbell. Eu não lembro de ter passado o controle da minha vida pra você em momento algum!

Eu não tinha reparado no quão alto estávamos falando até sentir a minha garganta protestar. Hunter me encarava, igualmente irritado. Observei seu pomo de adão descer em silêncio, uma vez. Enquanto eu estava no presente, Hunter parecia longe, escondendo tudo por trás daqueles orbes azuis. De novo, foi como se uma pedrinha de gelo dançasse na boca do meu estômago.

Os lábios dele estavam prontos para vociferar alguma resposta espertinha, mas aquelas palavras nunca chegaram a ser pronunciadas. O som ensurdecedor de um apito irrompeu pelos corredores nos fazendo pular e, se meu coração já estava disparado, agora ele ameaçava sair do peito.

Campbell tinha as sobrancelhas unidas e a atenção presa as portas que levavam ao refeitório, exatamente como um cão de guarda faria. Era de lá que o barulho de vozes e o apito vinham.

Aquele apito só poderia significar uma coisa.

— O que a gente faz?

Nenhuma das salas estaria aberta e simplesmente sair correndo seria estúpido. Certo?

Não houve resposta. Em vez disso, ele posicionou a mão nas minhas costas suavemente, me conduzindo para frente, para longe das escadas. O calor que emanava da pele dele atravessou o tecido da minha camisa, mas eu não me afastei. Hunter não tirava os olhos da porta, como se esperasse pelo momento em que ela se abriria revelando a inspetora cheia de fúria.

Foi aí que me dei conta de que nós andávamos em direção ao beco sem saída do banheiro interditado. Eu quase freei as solas do meu sapato contra o piso lustrado.

— Hunter, o que você está fazendo? — minha voz não passava de um sussurro — Que lugar estúpido para se esconder.

Qualquer tentativa de receber atenção era ignorada com sucesso. O velho banheiro interditado não tinha porta, só um grande armário de ferro que fora arrastado para selar o local. Ele retirou a mão próxima à base da minha cintura para deslizar o armário com cuidado.

— Rápido! — Hunter estendeu a mão para me ajudar a passar e eu me aproximei relutante.

O som de passos apressados virando o corredor me serviu como um último incentivo. Nós atravessamos a passagem estreita e ele não se incomodou em deslizar novamente o armário. Ainda tínhamos que sair dali.

Parado você aí! — eu segurei a mão de Hunter mais forte e ele se limitou a continuar ouvindo atentamente os sons do lado de fora — O que você pensa que está fazendo?

Era com a gente?

Ela nos viu entrando ali?

Eu não posso ser pega num banheiro com Hunter Campbell. Meu Deus.

Eu estava só indo buscar algo na minha mochi... — uma segunda voz respondeu, talvez um aluno do primeiro ano — Ai. Ai! Tudo bem, já entendi!

Nós finalmente respiramos, trocando um sorriso cúmplice. Soltei a mão dele, finalmente percebendo que estávamos a menos de um palmo um do outro. Meu peito subia e descia muito rápido. Provavelmente não sairíamos daquele lugar tão cedo. A inspetora estaria vigiando os corredores como um bulldog mal encarado e nós dois éramos belos bifinhos. Aquilo só podia significar uma coisa.

Meu pesadelo número um havia se tornado realidade.

Eu estava presa ali dentro com Hunter Campbell.

















N/A: AH, LELEK...... O QUE SERÁ QUE VAI ACONTECER, HEIN?

Acabar em cliffhanger assim...... É osso. Mas saibam que a parte dois promete [inserir aquele emoji safadinho].

Agora, vamos às vacas frias... Tô pensando em fazer um capítulo com aesthetics das fraternidades de St. Clair (porque futuramente elas serão abordadas). É muito difícil pra mim pensar que vocês estão mais perdidas que cego em tiroteio no meio disso e não custa nada elucidar um pouco.

CURIOSIDADES DO CAPÍTULO...

01. Não tinha POV do Hunter na versão original desse capítulo.

02. Antes da revisão, havia uma pequena conversa entre April, Finch e Zack, mas eu decidi retirar. Talvez... Se vocês ficarem de olho no instagram da história... Quem sabe vocês não conseguem dar uma espiada nessa conversa?

Bom, gente. Era isso.

Essa semana foi foda. Quem me acompanha no twitter sabe kkkkkkkk (são risadas nervosas) Enfim, obrigada pela paciência e pelo carinho. Vocês são uns chuchus.

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