Capítulo III
A P R I L
O CÉU CONTINUOU FECHADO até a hora da saída, quando a chuva finalmente deu uma trégua. Eu empurrei a porta que dava acesso ao estacionamento e uma brisa fria atingiu meu rosto, soprando meus cabelos para trás. Do lado de fora, o ar cheirava a terra úmida e grama recém cortada. Era exatamente o que eu precisava depois de passar tanto tempo enclausurada em uma sala de aula.
A vista também não era das piores. A arquitetura gótica permanecia conservada em cada um de seus tijolos de St Clair desde a sua fundação, preenchendo os olhos de qualquer um que ousasse admirá-la. Uma vegetação rala se enroscava em pequenos arbustos e rastejava por trepadeiras, cobrindo os edifícios como se um dia planejasse engoli-los. Neblina e nuvens carregadas completavam o cenário cinzento, uma gentil cortesia do internacionalmente famoso clima inglês.
Eu estava tão distraída absorvendo a paisagem que acabei pisando com tudo em uma poça. Enquanto meus pés continuavam quentinhos e secos dentro das meias, o mesmo não poderia ser dito sobre os meus sapatos.
Engoli um pequeno xingamento e desviei do asfalto molhado.
Zack, meu melhor amigo, me esperava no estacionamento em frente a biblioteca. Ele me daria uma carona para casa hoje, já que eu havia optado por não incomodar meu irmão, Cole. Onde quer que estivesse, eu tinha certeza que o loiro estaria ocupado, rodeado por seus leais admiradores. E, sim, meu irmão era loiro. Ele descoloria o cabelo até atingir uma tonalidade platinada, quase branca. Não, eu não me orgulhava disso.
A biblioteca do colégio fazia parte de um edifício térreo, isolado de todo barulho e da agitação que dominava o resto do campus. Atrás da construção havia um pequeno bosque com um conjunto de mesas e cadeiras de concreto onde alunos matavam aulas e se escondiam na hora do intervalo para se agarrar. Desde que fizessem silêncio, nada de ruim acontecia aqueles que andavam por ali.
Assim que me aproximei da biblioteca, eu avistei Zack rindo de algo que Finch contava. Tirei um dos meus fones de ouvido e sorri para os dois. Meu sorriso morreu aos poucos assim que vi os outros reunidos em frente ao edifício. Além de Lexie Palmer e sua sombra, Heather B., também estavam ali Seth Montgomery e Hunter Campbell. Zack andava com eles quando não estava comigo ou com as meninas. Pela ausência do garoto na minha programação de férias, eu imaginei que ele estivesse se aproximando cada vez mais desses perdedores. Por sorte, alguns estavam se despedindo. Eles se dividiram e restou apenas um grupinho menor: agora Finch e Zack conversavam normalmente, como se não houvesse um emaranhado humano Hunter/Lexie trocando saliva ao lado deles.
Encontrar a menina de cabelos escorridos agarrada ao pescoço do Campbell não foi surpresa alguma para mim. Os dois tinham um relacionamento aberto desde o ano retrasado, marcado por inúmeras brigas e amassos em público. As más línguas diziam que, o que existia entre eles, jamais teve natureza romântica. Por mais que meu interesse no assunto fosse nulo, os boatos chegavam aos meus ouvidos. Era impossível não saber de alguma coisa sobre o casal quando os dois não hesitavam antes de se atracar em plena luz do dia.
— Minha garota chegou — Finch encurtou a distância que faltava e colocou um braço por cima dos meus ombros.
Hunter se afastou de Lexie e abriu um sorriso zombeteiro na minha direção, se preparando para a próxima rodada de provocações. Os lábios dele estavam avermelhados e os cabelos pretos estavam jogados para todos os lados, provavelmente obra de Lexie.
Tinha como ele saber que eu me aproximava?
— Eu desaprovo isso em tantos níveis — Zack fez uma careta. Ver o braço do Finch em cima dos meus ombros parecia ser pior que a visão do ensopado de carne servido no almoço.
— Não precisa se sentir ameaçado, Dempsey — Finch piscou e a cara de horror que o Zack fez foi impagável.
— Ok, chega, Finch — me desvencilhei do abraço rindo — O mundo ainda não está pronto para nós dois.
Lexie gargalhou e todas as atenções se voltaram para ela. Eu nunca troquei mais do que algumas palavras com Lexie na minha vida, mas já sabia que ela não gostava de mim. Não era pessoal. Todas as garotas populares da Thomas só conversavam com outras garotas populares da Thomas.
— O que aconteceria se seus amiguinhos da Rosseau vissem você agora, April? Deve ser difícil namorar uma vira-lata como você.
A amizade entre pessoas de séries ou fraternidades diferentes — como Thomas e Rosseau, que eram rivais em tudo — era mal vista no colégio. Porém, como eu havia dito antes, eu não ligava para nenhuma norma idiota.
— Bom dia, Lexie — eu sorri com frieza — Não sobrou mais ninguém para você perturbar?
— Não, April. Aparentemente a escolhida de hoje é você — Zack riu.
A morena estava prestes a responder quando Hunter a interrompeu, depositando um selinho em seus lábios e calando a menina como se todos seus assuntos ali tivessem acabado:
— Tchau, Lexie — ele sorria.
Ela o fuzilou com os olhos antes de virar o rosto, movimentando o cabelo longo no ar como uma supermodelo faria. Finch a seguiu, se despedindo rapidamente de nós.
— Zack, vamos logo que hoje você é meu motorista? — eu pedi, tentando não usar os olhos de cachorrinho que caiu da mudança perto do Campbell.
Esse seria meu último recurso e eu não entregaria tão fácil.
O sorriso de Zack sumiu e Hunter parecia estar se divertindo muito com a situação.
— Sabe o que é, April? Eu preciso ficar hoje a tarde no colégio — ele mexeu nos cabelos como sempre fazia quando estava sem jeito e continuou a balbuciar qualquer besteira, tentando diminuir o efeito das palavras.
— Como assim?
— Detenção por argumentar com uns caras.
Eu fiz uma observação mental de interrogá-lo mais tarde, quando estivéssemos longe da presença do Campbell. Zack era o garoto mais tranquilo que eu conhecia. Somente algo muito ruim para fazê-lo perder a calma.
— Sem problemas, vou procurar o Cole — me preparei para deixar os dois, mas a voz de Zack me surpreendeu.
— Você não vai achá-lo também.
Minhas sobrancelhas se arquearam com a nova informação. Dempsey tinha os ombros meio encolhidos e aquele rosto de "vou ouvir muito e sei disso".
— Posso saber o porquê?
— Altas chances do seu irmão também estar envolvido na detenção? — arriscou, a afirmação soando mais como uma pergunta.
— Ele está bem?
— Está. Eu só achei que você deveria saber.
— Claro que eu deveria saber. Eu sou a irmã dele. Como que ele entrou na discussão?
— Ah, o de sempre. Thomas e Champoudry no mesmo refeitório — Hunter se incluiu na conversa e eu o lancei um olhar atravessado. Não era para ele ainda estar ali — Eu também teria entrado se não fosse pelo nosso pequeno passeio no intervalo — Campbell sorriu cheio de insinuações, faiscando seus olhos azuis para mim. Tudo que saía daquela boca crepitava com malícia e me fazia arder de raiva.
Meu melhor amigo o encarou perplexo. O lado ruim de ter amizade com meninos era que eles acreditavam nas histórias contadas por outros mongolóides.
— Não escuta o Campbell, Zack. Ele considera seguir pessoas uma interação saudável.
Dempsey riu pelo nariz, balançando a cabeça em negação:
— Então, eu acho que a sua carona pra casa vai ser bastante produtiva — murmurou, olhando para os sapatos.
Eu franzi o cenho sem entender.
— O Hunter se ofereceu para te levar em casa.
A sequência de acontecimentos estranhos serviu apenas para fortalecer minhas suspeitas: eu só podia estar em um episódio de Twilight Zone. Hunter se voluntariando para ficar no mesmo ambiente que eu duas vezes no mesmo dia? O que ele estava me planejando? Me jogar do carro em movimento?
— Muito gentil, mas, nessas condições, acho que eu prefiro ir andando — abri o mesmo sorriso que havia usado para Lexie, fazendo Campbell rir.
— April, deixa de ser mimada, por favor? Sua casa fica longe daqui.
Zack só podia estar brincando. Será que ele esqueceu que estávamos falando de Hunter Campbell?
— Mimada? — uma exclamação de puro choque escapou por meus lábios.
— Princesa, se te fizer feliz, eu até te deixo dirigir — Hunter debochou, e eu voltei minha atenção para ele. Ah, ele estava louco se achava que isso ia ficar barato.
— Nesse caso, então eu quero, sim — estendi minha mão, sorrindo com uma expressão de inocência, mudando da água pro vinho.
Hunter ficou sem reação. Ele parecia não acreditar que havia me convencido tão rápido. Sua boca se abriu e fechou, pronta para proferir inúmeras variações de "não mesmo" ou "nem fodendo", mas nenhum som abandonava seus lábios. Zack o pressionava silenciosamente para que aceitasse minha condição e ele não podia argumentar contra o pedido do amigo. Campbell suspirou, se dando por vencido, e começou a procurar nos bolsos o que supus ser a chave.
Sorri como uma criança no natal. Eu sabia o quão possessivos garotos podiam ser com seus brinquedos. Ele deixou o chaveiro na minha mão, ainda a contragosto, e apertei o botão do alarme, procurando qual dos carros do mini estacionamento respondia. Despedi-me de Zack depositando um beijo em sua bochecha e pedi que ele me enviasse notícias do Cole por mensagem.
— Vai indo na frente, princesa — Hunter gritou quando ela já estava um pouco longe, percebendo que a menina não lhe dirigiria o olhar — E se você achar algo que não devia, não mexa.
Ela ergueu o dedo médio sem olhar para trás e os garotos gargalharam. Hunter meneou a cabeça com um sorriso leve no rosto, distraído com os quadris da garota.
April Wright era estranha. Em todos os sentidos positivos dessa palavra. Tinha dias em que ela se contentava em lhe dar um sorriso prepotente — um que ele certamente também carregava no rosto — e outros em que ela se esquecia da obsessão por controle e deixava escapar que havia algo por trás daquela indiferença calculada. Ela parecia mais com uma garota, menos aquele projeto de burguesa ignorante, estrela de Hollywood. Se tornou um jogo para ele: tirar April do controle.
— Sabe, Hunter, você podia tentar uma abordagem mais tradicional, como chocolates ou flertes — Zack comentou debochado, desencostando da parede da biblioteca — Funciona com a maioria das garotas.
O simples assimilar da frase do amigo fez Hunter rir com descrença.
— Assim não teria a menor graça. Ela ficaria louca por mim em dois segundos — comentou, arrancando um riso silencioso do outro.
— É muito difícil de imaginar isso acontecendo. Acredite em mim.
— Zack, você tem que parar de dar tanto crédito a garotas. April é só mais uma como todas as outras — Hunter puxou o celular do bolso, examinando o visor — Eu darei a ela exatamente o que ela precisa.
— Você que sabe — murmurou sem paciência para argumentar com o outro, que já estava absorto na tela do aparelho.
Hunter riu para si mesmo e assim que levantou a cabeça o outro já se encontrava longe. Repassou a conversa mentalmente para se lembrar do que falavam.
— Não enche! — ele gritou, antes que Zack fechasse a grande porta de vidro da biblioteca atrás de si.
Assim que April girou a chave na ignição, as primeiras notas de um solo de guitarra escaparam dos alto-falantes. Era Obstacle 2 do Interpol. Ela rapidamente percebeu que música fazia parte de um CD com faixas que iam do rock alternativo ao clássico, provavelmente uma coletânea das favoritas do Campbell. Anotou mentalmente que não deveria comentar nada sobre a música. Seria estranho se os dois descobrissem ter algo em comum além de transformarem oxigênio em gás carbônico.
O carro era um modelo antigo, mas parecia estar em ótimo estado. A não ser, é claro, pelo banco de trás — esse acumulava tralhas e uns poucos rasgos de onde o estofado saltava para fora como tripas esponjosas.
— Apreciando meu carro? — Hunter perguntou pela fresta da janela aberta, surpreendendo-a com a visão dos olhos azuis. Ele havia abaixado o rosto para mirá-la de perto.
— Dá pro gasto — ela sorriu, levantando uma sobrancelha — Agora só tenho que descobrir se anda.
Isso arrancou uma risada curta do garoto.
Ele contornou o capô para ocupar o banco do passageiro e, no segundo em que a porta se fechou atrás dele, April tirou o carro do ponto morto. Um afivelar de cinto dramático da parte do Campbell fez a motorista revirar os olhos nas órbitas. Eles seguiram para a saída mais próxima dentro dos limites de velocidade e deixaram o colégio pata trás. Hunter não pode fazer nenhum comentário sobre a direção da garota. Ela estava se saindo muito bem.
Os dois continuaram em um silêncio confortável, sem brigas ou constrangimentos, até que uma música infantil começou a tocar no rádio. April mordeu o lábio inferior para segurar uma risada e no mesmo instante o garoto se endireitou no banco. Ele alcançou o painel depressa, trocando de estação. Para seu completo horror, nenhuma rádio parecia segura no momento — era absurda a quantidade de músicas românticas distribuídas pela indústria musical da atualidade. Por fim, a rádio sintonizou em uma estação retrô inofensiva e o Campbell voltou a se recostar no banco.
Perfeito. Agora estava preso no carro com a garota, sem ter a mínima ideia do que dizer.
— Esse carro é mesmo seu? — April perguntou, sem desviar a atenção do trânsito a sua frente.
— Por que a pergunta? — a voz dele era áspera, quase na defensiva. April o observou por uns segundos quando achou seguro, estudando seu perfil.
— Parece um carro de família — ela deu de ombros.
O garoto estava desconfortável e por alguma razão aquilo a deixava curiosa. Mesmo com a mente pipocando em teorias, April optou pelo silêncio. Já era estranho o suficiente o simples pensamento de conversar com Hunter civilizadamente, imagine só tentar sustentar o assunto.
— Era o carro do meu pai. Ele não está usando e parece mais razoável vir pra escola de carro do que de moto — o garoto comentou, não vendo o mal em responder sinceramente.
— Você tem uma moto? — ela não pode conter o sorriso no canto dos lábios.
— Sim. Uma Harley — murmurou, tentando esconder a auto-satisfação por esse feito, o que não passou despercebido por April — Você está rindo — concluiu incrédulo.
— Desculpa, é que isso é um clichê adolescente absurdo. Você por acaso restaurou essa moto? — ele estava prestes a responder com irritação, mas April o interrompeu com um suspiro — Espera, não responda. Acho que já sei a resposta.
O vento que entrava pela janela bagunçava o cabelo castanho, avermelhado contra o sol, fazendo a menina parecer uma adolescente tirada de comerciais de televisão. Hunter se perguntou se era sempre assim quando ela dirigia. Reprimiu a vontade de revirar os olhos azuis com o pensamento, lançando para April um olhar desinteressado.
— Você acha que ter uma moto enquanto está na escola é clichê? — ele ergueu uma sobrancelha, esperando por uma resposta.
— Só quando você age como um bad boy que anda por aí de jaqueta de couro e óculos escuros.
Um sorrisinho esperto seguia inabalado no rosto dela. A menina estava se divertindo com isso, Campbell podia sentir.
— E o que você pode falar sobre clichês, April Wright? A garota rica que vive entre os dois mundos, diplomaticamente. A primeira da turma, estrela da aula de debate? Uma rebelde sem causa, namorando com o astro do time de futebol? — Hunter sibilou sarcasticamente para a menina, e ela quase se esqueceu que estava tentando fazer uma trégua.
April suspirou, parando o automóvel para um sinal vermelho.
— Bom, eu só sou a primeira da turma entre os Thomas. Cá entre nós não é nenhum desafio — ela admitiu com um tom de falsa modéstia, dando de ombros, o que fez Hunter rir, sem ter como evitar. Os Thomas eram uma vergonha — E meu plano de dominar o colégio ainda não está completo — completou irônica — Josh Halden e eu não estamos juntos.
Ela se arrependeu assim que tocou no assunto. Aos poucos uma curiosidade familiar preencheu o rosto de Hunter, que havia voltado sua total atenção para a menina. A lembrança da noite em que April o acobertou pairava entre os dois como um segredo intoxicante, um laço invisível que os puxava um para o outro. Os olhos azuis ancoraram nos seus e ela esqueceu do trânsito ao redor.
Por que tinham que ser tão hipnóticos?
A menina rapidamente desviou o olhar para longe e voltou a dirigir, dessa vez sem fazer tentativas de continuar a conversa. A tarde já estava esquisita o suficiente sem menções aquele noite e não precisava de seus esforços para piorá-la. Campbell, por outro lado, não se mostrou incomodado. Virou o rosto para a janela, absorto em pensamentos. Poderia ouvir as engrenagens trabalhando no cérebro dele se ouvisse atentamente.
A mente dela foi transportada de volta para o presente quando sentiu um roçar de dedos em seu joelho. Era Hunter. Ele esperou que ela olhasse para baixo para traçar um caminho lento por toda pele arrepiada, subindo pela perna até atingir a barra da saia. A mão masculina deslizou pela coxa descoberta até envolvê-la. Ela estremeceu e olhou para Hunter sem tirar as mãos do volante. As íris azuis a encaravam de volta mais escuras do que antes. A única resposta ao questionamento silencioso foi um aperto em sua coxa, um afundar de seus dedos na pele sensível. Uma exclamação muda se perdeu nos lábios da garota. Ela retirou a mão dele sem a menor delicadeza, sentindo o rubor queimar seu rosto.
O sorriso de Hunter cresceu e ele gargalhou enquanto April tentava alcançá-lo a tapas como podia, segurando o volante com uma mão.
— Seu pervertido!
Hunter estava tirando uma com a cara dela, testando se poderia seduzi-la a algo mais. A menina teve vontade de abrir a porta e jogá-lo para os carros. Entre risadas o garoto exclamava que April "deveria ter visto seu rosto" e sobre como era "hilário".
Ela parou o automóvel como pôde no acostamento e desafivelou o cinto, acertando-o com mais força; ele a segurou pelos braços com facilidade e a fitou com o maldito sorriso intacto, agora mais próximo pela forma que a segurava. Os olhos castanhos estavam transbordando de ódio, mas Hunter não podia evitar compará-la com um filhote irritado, incapaz de machucá-lo. Ou pelo menos foi isso que ele pensou.
April acertou a canela dele como pôde e, sem dar tempo para deixá-lo se recuperar, pisou forte no seu pé. O momento de distração serviu para que ela se soltasse do aperto e saísse do carro, fechando a porta com um baque.
Hunter ainda tentava se recompor, mas com a reação da garota ele desatou a rir novamente. Fodam-se os hematomas que aquilo o causaria. Vê-la irritada daquele jeito nunca perderia a graça.
— April — ele chamou, quase sem fôlego, se arrastando para o banco do motorista — Por favor, espera.
A garota andava na calçada evitando encarar o carro, que a seguia lentamente.
— Eu não vou te zoar mais — Hunter prometeu e depois de uma longa pausa acrescentou: — A não ser que você peça.
Mais risadas.
A menina nunca mais se livraria daquele sorrisinho presunçoso que dominava o rosto do Campbell. O que ela tinha na cabeça?
— Sabe, para uma garota da Thomas, você tem um senso de humor muito limitado — ele tentou de novo, se dando conta que estava falando com o vento — Eu deixo você escolher a música.
April deixou uma risada amarga escapar de seus lábios antes de se voltar para o garoto.
— Escuta, Hunter — ela ralhou — Eu estou lutando para não me deixar levar pela raiva e te bater. Eu não sou como aquelas garotas da Thomas que adoram ser pisadas por você, não ouse me medir com elas. Fica longe de mim.
Essa última hora havia sido um erro. Concordar em entrar em um carro com Campbell fora a coisa mais estúpida que já fizera na vida. Só o fato dele continuar a segui-la a deixava mais irritada ainda.
O garoto ficou em silêncio, ainda a acompanhando de perto. Eles estavam em uma bairro caro, onde Hunter já havia vindo uma vez ou outra em festas. O maxilar de April ainda estava trincado de raiva e ela se abraçava, andando contra a garoa fraca.
Que ela era uma filha da mãe decidida ele não podia negar.
Cada mansão era cercada por jardins planos e gramados milimetricamente aparados com ciprestes verdejantes, resultando em uma distância absurda de uma até a outra. Aquele lugar foi feito para ser acessado a carro. Ela não podia ser teimosa a ponto de recusar passar uns minutos a mais no carro com Hunter se fosse para economizar tempo, certo?
— Desculpa. Eu não devia ter invadido seu espaço pessoal — depois daquele show de imaturidade, a voz dele soava sincera — E também não devia ter te zoado daquela maneira. Foi escroto. Você pode, por favor, voltar pro carro agora?
Já era de se esperar que ele fizesse algo daquela natureza. Ela realmente olhou naqueles malditos olhos e sentiu atração. Mas, claro, era tudo uma piada para Hunter. April Wright era uma piada pra ele. O garoto estava delirando se achava que isso sairia barato.
— Eu realmente tentei te tratar como uma pessoa normal e esquecer essa rixa estúpida entre eu e você, mas, Campbell, você... — a voz dela tremia de raiva, finalmente dirigindo o olhar a ele, cravando os dois orbes castanhos escurecidos de ódio no garoto — Olha, obrigada pela carona. E antes que eu me esqueça: vai se foder.
Ela estava tomada pelo orgulho ferido e cega de raiva, sem tempo para ser civilizada.
Hunter parou o carro, percebendo que estava na entrada de uma casa. Observou a garota subir as escadas para a mansão e suspirou, não escondendo a satisfação. Sabia que era errado, mas cada segundo do desprezo dela parecia valer a pena.
N/A: Boa noite, amiguinhes.
Estamos reunidos aqui para uma conversa séria e eu não sou de fazer rodeios. Vamos logo ao que interessa.
Como vocês puderam perceber nesse capítulo, haverá personagens reproduzindo comportamentos machistas nesse livro. Não vou usar esse espaço para passar de pano porque essa nunca foi minha intenção ao escrever esse tipo de cena. O que o Hunter fez nesse capítulo não foi uma atitude de bad boy, foi pura escrotice mesmo. Acho importantíssimo me endereçar a essa cena antes que a conduta machista do personagem seja relativizada. Pode problematizar mesmo.
"Ah, Barbara, mas se você é contra o machismo, por que eu escreveu isso?" Eu prefiro narrativas em que os personagens enfrentam as consequências de seus atos, entendem seus erros e evoluem. Eu prefiro escrever sobre pessoas imperfeitas que aprendem o que é certo. Não é dever da April ensinar ao Hunter o que é certo ou o que é feminismo; se ele aprender alguma coisa será consequência do que vai passar daqui pra frente. Não quero dar spoiler, mas preciso adiantar que April nunca se apaixonaria por um cara que a tratasse como menos do que ela é (uma deusa).
Enfim, estarei aqui para ouvir vocês qualquer coisa. Caso tenha algum bug no capítulo ou erro gramatical, por favor, falem comigo.
Beijos,
Babi
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