— ESTUDEI ESSE CULTO POR MAIS DE DEZ ANOS — disse Aiden. — Eles adoram a serpente da visão — afirmou, apontando para uma escultura de olho em uma perfuração na parede de pedras. — Seus grifos estão por todas as paredes. Vi suas escritas antes, mas nada como isso... Uau!

O olhar de Kate era de desespero, como se ela não soubesse processar se aquilo era real ou não.

— Estamos em território sagrado — continuou Aiden. — Este lugar é uma fonte de imenso poder para essas pessoas.

— Pessoas? — repetiu Seth, descrente.

— Quando querem ser — murmurei. — Muito do que ouvimos sobre vampiros vem de equívocos dos missionários espanhóis. Não erraram muito, na verdade, mas esse pessoal tem mais de cobra do que de morcego.

Aiden puxou um dos culebras para cima da mesa onde eu estava. Prontamente peguei uma faca largada ao meu lado, abrindo sua boca e mostrando o lugar de suas presas.

— Glândulas de veneno, células basais e secretoras, que produzem o veneno — expliquei. — Veem as presas? São cônicas e dobram para o lado das gengivas, já que são articuladas como as de uma cobra.

— Isso é loucura — disse Scott.

— Pois é — deu de ombros Aiden. — Os códices dizem que são descendentes da Amante, uma jovem que o deus serpente transformou em uma semideusa sanguessuga com súcubos. Mas até aí, ela e esses culebras supostamente não existem.

— O dia todo tem sido assim — reclamou Seth, no mesmo instante em que o culebra ao meu lado parecia acordar. — É melhor garantir que estejam mortos. Tipo, mortos mesmos.

Seth fez menção de tirar a arma de seu terno, tentando assim poder matá-lo, mas eu sabia que isso não funcionaria. Já com a faca na mão, a cravei no coração do culebra, ele agonizando em dor até virar cinzas.

— Você sabia como matar essas coisas? — perguntou Seth, indignado, me fazendo revirar os olhos.

— É só usar a lógica — respondi. — O coração é o órgão vital. Ou morrem por isso, ou arrancando a cabeça e queimando.

Ainda indignado, Richie e os outros pegaram as madeiras das mesas, não perdendo tempo em matar todos os culebras que pareciam prestes a acordar novamente. Entretanto, o grito de medo de Kate soou no ar, seu pai a protegendo da stripper que a atacaria se não cravasse a estaca em seu coração.

— Então essa amante é a Santanico Pandemonium? — perguntou Seth, ainda tentando assimilar as informações. — Não, espera. Como você sabe tanto dessas coisas, Salem?

— Estou me formando em história, tenho um interesse em especial sobre a cultura maia e celta — expliquei, ainda sem me mover do lugar. — Tudo bem, eu já sou formada em psicologia criminal, mas isso não vem ao caso.

— Bom, mas parece que o meu irmãozinho aqui tem uma pesquisa de campo sobre a rainha da dança — disse Seth, irritado. — Disse até que ela o trouxe aqui.

— Ela pediu para libertá-la — disse Richie, sinistro. — Matando-a, eu acho.

— Matando ela ou ela matando a gente?

— Eu não sei — exclamou ele. — Eu podia senti-la na minha cabeça, me atraindo para esse lugar, mas parou... Eu comecei a sentir a Salem de repente.

— O que você viu especificamente na minha cabeça? — perguntei, atraindo a atenção de todos para mim. — Por curiosidade mesmo.

— Isso não importa agora — gritou Kate, assustada. — Eu acho que eles ficaram irritados com a nossa presença aqui, por isso atacaram.

— Duvido — cortou-a Richie. — Viu a placas da fora? Esse lugar foi feito para atrair pessoas para cá e prendê-las aqui.

— E o que é esse lugar — perguntou Scott.

— Pelas marcas nessas paredes — começou Aiden — eu diria que este bar foi construído sobre um templo, como os conquistadores espanhóis fizeram com tenochtitlan.

— Tá legal, Indiana Jones da pistola e Bayonetta psicótica — zombou Seth de Aiden e eu. — Que tipo de templo?

— Do tipo em que as pessoas vêm fazer oferendas à serpente da visão — respondeu Aiden.

— Oferendas de sangue? — sussurrou Kate, quase chorando. — Se é sangue que eles querem, logo vão querer mais.

— Exato — concordei. — As escritas nas paredes... Este lugar é um espremedor gigante de pessoas.

— Espremedor de pessoas? — repetiu Kate. — Por quê?

— Se for uma alimentação em condições naturais, sua anatomia nutricional pode ser hierárquica — expliquei.

— Traduz para mim, bruxinha — pediu Seth.

Suspirei, cansada.

— Existe uma ordem: um grupo destroça o rebanho e manda os melhores cortes para o grupo superior.

Seth revirou os olhos, indignado com o que falávamos.

— Putas alimentam os cafetões, que alimentam os capos, os capos alimentam os chefe — zombou. — Sei disso, mas o que não entendo é como acabar com eles.

— Eu também não sei — negou Aiden. — Mas tenho certeza de que estamos no cardápio deles.

— Sério, cara? — disse Scott, sarcástico. — Precisa de um doutorado para saber disso?

— Seu adotado mal-educado — murmurou Ainden.

Jacob fez menção de atacar Aiden, mas Seth o impediu antes que pudesse fazê-lo.

— Todo mundo calminho, certo? — pediu. — Sei que somos um bando caótico de viajantes, mas eu acho que esta noite não vai ter um final de Scooby-Doo. Então esqueçam os rancores, ou todos vamos virar suco. Ou pior, terminar como o Cisco Kid acabou.

— E onde está o Ranger Gonzalez? — perguntou Aiden, confuso. — O que houve com ele?

— Esqueçam ele — mandou Seth. — Precisamos de um plano.

— Peguem todas as armas, facas e estacas que conseguirem — mandou Scott, explicando seu plano.

Revirei os olhos, pensando em como poderíamos sair dali sem ser por um garotinho que lia revistas em quadrinhos demais. Integer. Aperi trapdoor. Balas não perfurariam aço temperado. Et vectes ferreos confregit.

— O que foi que você disse? — perguntou Richie a mim, interrompendo Scott. — Salem, você fez de novo.

— Eu fiz o quê? — perguntei, em dúvida.

— Falou na minha cabeça. Em outro idioma. O que você disse?

— Alçapão.

Como em um feitiço maligno e poderoso, o chão abaixo de mim desabou, me levando por um túnel profundo onde eu caia desenfreadamente, cercada por pedras e sangue escorrendo por elas.

Antes de cair na profunda escuridão que não parecia ter fim, eu os ouvi gritar meu nome várias vezes, como se aquilo pudesse me fazer voar magicamente de volta a ele.

𝙉𝙊𝙏𝘼𝙎 𝙁𝙄𝙉𝘼𝙄𝙎:

Capítulo fresquinho para vocês e estamos crescendo cada vez mais em vizualizações.
Obrigada por todos os votos e comentários.