3 | Aɴᴛɪɢᴏ ᴛᴇsᴛᴀᴍᴇɴᴛᴏ
EU JÁ TINHA LIDO OUTRO CAPÍTULO quando passamos pela placa que indicava que estávamos chegando perto de Acuña. Enquanto estava concentrada na história, Seth discutia com Jacob, o senhor, sobre onde estava o kit de primeiros socorros e quem mandava naquele lugar. No meio tempo, descobri que o senhor era um pastor, Katy era devota a Deus e Scott achava tudo isso uma baboseira.
— Vamos chegar na fronteira de Acuña — começou Seth. — Vocês vão mostrar seus passaportes, dar seus lindos sorrisos de milho e aí vamos cruzar a fronteira com tranquilidade. Assim que chegarmos, eu e o Richie vamos fechar negócio com o nosso contato no México, todo mundo vai ficar feliz e depois cada um segue seu caminho sem se machucar.
— E quanto a caixa de banco que sequestraram em Abilene? — perguntou Jacob. — Deu sua palavra a ela?
Ignorei a discussão que estava prestes a se formar. Não era do meu interesse, no final das contas. Richie se levantou subitamente, caminhando até a cabine do banheiro e fechando a porta. Não passou mais do que um minuto e ele saiu de lá como se estivesse assustado.
— Dá para relaxar um pouco, Richie? — pediu Seth. — Agora vai ficar fácil daqui.
O celular de Seth tocou, pelo o pouco que ouvi um tal de Carlos e dez milhões de dólares. Revirei os olhos, não querendo entender. Richie retornou até sentar ao meu lado, a arma apontada para os dois adolescentes. Assustados, Katy tentavam impedir o irmão de falar.
— Só quero pedir para ele parar de apontar a arma para a gente — sussurrou ele. — Se passarmos por um buraco, pode disparar.
— Não vai disparar — garantiu Richie.
— Essa é uma Taurus 9 milímetros com pente para 17 balas. É um gatilho de pressão mínima.
— Quer dizer que o Bruce Lee entende de armas? — debochou Richie.
— Só estou dizendo que podemos passar por um buraco, uma pedra...
— Talvez eu não me importe se passarmos por um buraco — disse Richie, o assustando. — Talvez eu espere que passemos por 17 buracos para eu poder esvaziar o cartucho na sua cara de espertinho. Já pensou nisso, Desafio em Tóquio?
— Eu sou chinês — disse Scott. — Como o Bruce Lee.
Richie suspirou, deixando seu corpo cair para trás ao meu lado junto com a arma. Nossas mãos se encostaram levemente, e, por um segundo, vi por seus olhos. Com a vista vermelha, uma calda serpenteada de trás de Scott. Não me assustou, eu via aquele tipo de coisa desde que me dava por gente.
Entretanto, aquela experiência parecia ser nova para Richie, já que este levantou no mesmo segundo, apontando a arma engatilhada para Scott. O grito de Kate reverberou pelo trailer, fazendo com que Seth levanta-se da poltrona e caminhasse até o irmão, fazendo-o se afastar dos dois adolescentes.
— Não são o que parecem — disse ele à Seth, tentando se soltar de seu aperto. — Eles são perigosos.
— Não são o que parecem? — repetiu Seth. — Richie, o que está acontecendo com você? Você estava indo muito bem no motel. Se começar a surtar agora, eu juro que...
— Estou tentando nos salvar — disse Richie, a voz mais baixa. — Sei o que eles são de verdade. Eu posso ver.
— Como assim você pode ver?
— Só sei que sinto — respondeu. — Agora eu não quero ter que fazer isso, mas posso ter que matá-los, certo? É o único jeito.
— Escuta uma coisa — pediu Seth. — Richard, fale comigo. Explica para mim o que diabos está acontecendo. Pode ser?
Richard me encarou, depois aos dois adolescentes, só então voltou a encarar o irmão.
— Há algum tempo, eu venho recebendo sinais, por assim ser. Eu não sabia como interpretá-los, mas só até elas aparecerem.
— Elas?
— Elas são o motivo de eu saber o que o Jacob e o Scott são de verdade. Ela está me chamando, Seth, e foi ela quem me mostrou Salem chegando.
— Quem? Você viu a bruxinha antes de conhecer ela pessoalmente?
— Eu não sei o nome dela — disse Richie. — É uma deusa ou algo do tipo. Normalmente eu só vejo em reflexos, como na geladeira da loja de bebidas, no cofre do banco e pelo buraco da minha mão.
— Você viu ela pela sua mão? — repetiu Seth, incrédulo.
— Sim, mas ai ela se transformou na Salem — explicou, me deixando intrigada. — E agora eu acabei de ver ela de novo, mas pareceu que tudo se encaixou quando eu beijei a Salem. Foi como se ela me completasse, como se ela fosse quem eu estive procurando sem saber por anos.
— Espera ai — pediu Seth. — Você beijou a Salem?
— É, Seth, eu acabei de falar isso. Está prestando atenção?
Meu foco foi desviado quando ouvi Kate sussurrando desesperadamente para Scott, suando frio.
— Onde pegou isso? — perguntou ela, tremendo por algum motivo. — Scott.
— Se esses idiotas estivessem com bastões de lacrosse, seria como no segundo tempo.
— Levava isso para a escola?
— Não, mas caras assim precisam saber que o poder muda de mãos — disse Scott. — Assim que eu puder, vou fazer aquele maluco entender isso.
— Nem pense...
— Tenho que fazer alguma coisa — afirmou. — Acha que o pai vai fazer algo?
— Você não tem ideia do que o papai é capaz — disse Kate.
— Que diabos isso quer dizer?
— Quer dizer que ela acha que foi seu pai a matar a Sra. Jacob — sibilei, sem tirar os olhos do meu livro. — Estou errada?
— Como sabe disso? — perguntou Kate a mim. — Você é que nem o Richard?
Antes que eu pudesse responder, o trailer parou com um baque, jogando todos nós para a frente. Infelizmente, perdi a página do livro em que eu estava no processo. Conforme voltamos ao lugar, arrumei meus óculos que quase saíram voando.
— Chegamos — avisou Jacob, enquanto Seth e Richie recuperavam o equilíbrio.
Olhei pela janela, vendo as filas de carros que esperavam para passar pela segurança. Se aquele tivesse sido um dia normal, talvez eu já conseguisse planejar minha aventura por Cancún para as próximas semanas. Mas o destino me amava, então essa deveria ser a explicação do motivo de eu estar junto de dois ladrões de bancos e uma família em parte fanática por Deus.
— Vocês podem mesmo ver coisas? — insistiu Kate a mim e Richie que acabara de se sentar ao meu lado.
— Desde os meus seis anos, Kate, uma idade próxima disso, se não me engano — respondi.
— Você também vê? — sussurrou Richie a mim, instigado.
— Coisas que ninguém mais consegue — concordei. — Quando eu era pequena e falava isso para o s meus pais, eles acharam que eu tinha algum problema mental.
— Já pensaram que pode ser Deus tentando falar com vocês? — perguntou Kate à nós. — Conhecem a história de Moisés?
— Conheço a versão de Chuck Heston, é a única que conta — disse Richie.
— Moisés não acreditava também — continuou. — Não até que Deus falou com ele. Deus pode fazer a sua mensagem clara se você rezar. Feche os olhos, vamos rezar. Eu prometo que não vai doer.
O erro de Richard foi ter acreditado nas doces palavras de uma jovem devota. E talvez Scott que tenha sido inteligente por levantar imediatamente e apontar a arma que trouxe para a cabeça de Richie.
— Seth — chamou Richie.
— Kate, pega a arma dele — mandou Scott.
Seth foi rápido em sacar a própria arma e apontá-la para Scott. Kate tremia, ainda não conseguia entender o motivo.
— Pega logo!
— Eu meto uma bala na sua cabeça antes de tocar no cabo, querida — disse Seth em aviso a ela. — E quanto a você, Bruce Lee, tira essa arma da cabeça do meu irmão.
— Salem, faz alguma coisa! — pediu Seth, desesperado.
Abaixei meus óculos levantando uma sobrancelha. Não entendia como ele queria que eu fizesse algo. Suspirei, voltando a abrir meu livro e procurar pela página perdida, mas não antes de avisar:
— Eu não faria isso se fosse o senhor, pastor — exclamei.
Seth encarou o padre que tinha uma ferramenta em mãos, prestes a acertar a cabeça do Gecko. Seth o fez largar a chave de fenda e voltar para o volante com um aviso para não se meter.
— Eu te disse, Seth — lembrou Richie. — Atira logo na cabeça desse garoto!
— Richie, relaxa, eu cuido disso. Aí, pastor! Dê juízo ao seu filho antes que eu siga o conselho do meu irmão!
— Filho, larga essa arma! — mandou Jacob, gritando.
— Pai, isso é besteira! — retrucou Scott.
— Eu sei como se sente! Quer proteger a famílias, mas não assim!
— Esses caras são bandidos assassinos e essa mulher um bruxa desalmada! — gritou de volta. — Não merecem ganhar!
— Bruxa desalmada? — repeti, o encarando inexpressiva. — É sério? Desalmada até tudo bem, mas bruxa? Que falta de criatividade.
— Você acha que eu não consigo — disse ele a mim, destravando a arma para prova o ponto. — Mas consigo.
— Você pensava que podia — falei, atraindo a atenção de todos para mim. — Mas isso foi antes de destravar o gatilho, estou certa? Bom, mas agora que você está com o dedo no gatilho, também está preocupado com as consequências, coisa que eu não acho que eles estejam — continuou, se referindo à Seth e Richie. — A sua mão está tremendo, e a dele não, Scott. Porque você não é como eles, querido, e nem quer ser. Então, abaixa essa arma.
Lentamente, Scott foi ouvindo minhas palavras, fazendo o que mandei. Entretanto, Richie já estava preparado para pegá-la e mirá-la no garoto. Seth se jogou em cima do irmão, tentando fazê-lo parar com a breve tentativa de assassinato.
Nesse meio tempo, Jacob olhou para trás, sem querer tirando o pé do freio e fazendo o trailer bater no carro da frente. Seth deu uma última ordem para Richie ficar ali quieto enquanto ia até a frente.
Jacob desceu do trailer, caminhando até o furioso cara do carro que batemos contra. Não passou mais de dois minutos até que Seth abrisse a cortina para ver o pastor nocauteando o cara com um soco em cheio.
— Olho o Antigo Testamento aí.
𝙉𝙊𝙏𝘼𝙎 𝙁𝙄𝙉𝘼𝙄𝙎:
Mais um capítulo fresquinho para vocês. Como a série FDTD não é exatamente conhecida por todos, acho que a fic fica mais difícil de ser reconhecida, certo?
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