2 | Oʟʜᴏs ᴇɴᴄᴏɴᴛʀᴀᴍ ᴏʟʜᴏs
EU E AQUELAS OUTRAS TRÊS PESSOAS éramos reféns dos que descobri serem os irmãos Gecko. A garota mais nova parecia tremer de medo deles, mais ainda de mim por estar tão calma. O garoto asiático, ao que deduzi, deveria ser adotado. E o senhor mais velho o pai daqueles garotos.
Seth, o irmão de Richard, mantinha o gatilho da arma destravado, pronto para atirar se fosse necessário. Mas eu sabia que ele não o faria, caso contrário atrairia muita atenção para nós.
Richard, do canto, não parava de me encarar. Eu não sabia o porquê, mas ele parecia fascinado.
— Certo, turista, vamos dar um passeio — disse Seth. — Não podemos passar pelo saguão todos de uma vez ou vai parecer muito suspeito. Então vamos fazer assim: você vai primeiro — apontou para o senhor. — Vai ir até o trailer, vai ligá-lo, trazê-lo aqui para a frente e vai nos esperar.
Notei que a arma na mão de Richard não tremia. Ele a segurava com confiança, sem mover um músculo.
— Cinco minutos depois, Richie e o menino prodígio vão descer com as malas — continuou. — Cinco minutos depois, eu, a Miley e a bruxinha vamos descer. Eu quero todos com o botão de herói desligado.
Bruxinha, repeti mentalmente, rindo.
— Não, Seth — disse Richie, antes que o irmão pudesse continuar. — Deixa que eu desço com Salem também. Será mais suspeito se virem apenas a mim e ao prodígio ali.
Seth, achando estranho, aceitou o pedido do irmão. Logo, todos se preparavam para executar o plano. Ainda sentada na cama, ouvi o senhor pedir a Seth para falar com os filhos primeiro, antes de sair, para os tranquilizar. Relutante, Seth assentiu, o senhor rapidamente se dirigindo aos fundos.
Vi Richei se levantar da cadeira, indo em direção ao irmão. Instantaneamente, foi como se algo me mandasse falar algo preso em minha garganta. Eu só não esperava que fosse o mesmo que Richie falava.
— Deveriam mover o trailer para os fundos.
— Vocês combinaram de falar isso juntos? — indagou Seth, apontando a arma para mim. — Por que faríamos isso?
— Alguma coisa me diz que é preciso — disse Richie.
— Alguma coisa está lhe dizendo? — repetiu Seth incrédulo. — E você, bruxinha? Qual o seu argumento? O sol vai te queimar se for até a rua?
— Não, mas porque tenho mestrado em psicologia criminal — respondi, dando de ombros. — Se colocar o trailer na frente, as câmeras de segurança podem ter pegado a imagem da movimentação interna do trailer. Além disso, caso não tenha percebido, as câmeras dos fundos da pousada estão desabilitadas. O reflexo dos painéis dos carros nelas danificam demais a imagem nítida. Então, todas estão realojadas nas escadas traseiras, bem perto das máquinas de bebidas.
— Você é o que? Algum agente do FBI ou da CIA? — perguntou ele, em choque.
— Não, é claro que não — falei. — Sou formada em psicologia criminal e atualmente estou estudando história, mais precisamente os cursos de culturas e rituais astecas e mais. Mais futuramente planejo me mudar para Machu Picchu e estudar suas ruínas.
— De onde você arrumou essa garota, Richard? — reclamou com o irmão. — Ela parece louca.
— Ela não é louca — exclamou contra Seth. — E eu apenas senti que deveria encontrá-la. Foi como se nos conectássemos.
— Se conectassem? — repetiu. — Não importa... Vamos lá, coroa! — mandou ao senhor.
Ele abriu a porta com cautela, observando o corredor para ver se ninguém os seguia. Então saiu.
Os próximos a descer seríamos eu, Richie e o garoto asiático. Seth monitorava o tempo com precisão. Foi só então que reparei que Richie segurava minha mala em uma de suas mãos. A bagagem era pouca, apenas algumas mudas de roupa, objetos pessoais e meus documentos.
— Gosta do Bruce Lee? — perguntou Richie ao garoto que assentiu. — Eu também. Já viu algum dos primeiros tralhados dele?
— Já — respondeu, descaradamente mentindo.
— Sério? Entende tudo o que estão falando então?
— Mais ou menos. Não muito.
— Você é parecido com o Bruce Lee — disse ao perceber a mentira dele.
— Por que, porque sou asiático?
— Não — respondi, frio e calculista. — Porque você se parece com o Bruce Lee.
A cara que o garoto fez indicava que ele não entendi sobre o Richie estava falando. Era quase cômico assistir àquilo.
— E Salem se parece com a Lara Croft — continuou, o garoto apenas assentindo. — Isso foi um elogio.
Sorri sincera, entendo bem a onde ele queria chegar.
— Prefiro a Alice — retruquei.
— Resident Evil? — quis confirmar Richard, ao que assenti. — É um exemplo ainda melhor.
— Hora do show! — disse Seth, interrompendo nossa conversa.
Richie abriu a porta, indicando para mim e o garoto sairmos primeiro. Já no corredor, o garoto foi andando até a escada, e bem atrás de mim Richie, se certificando de que não sairíamos correndo.
— Vocês primeiro — disse o garoto, parando na escada.
— Tem algo que queira me dizer? — perguntou Richie a ele. — Não vou perguntar duas vezes.
— Não tenho nada para dizer — respondeu o menino, dando o olhar que queria dizer tudo.
— Engraçado — sibilei, falsamente admirando minhas unhas longas pintadas por vermelho. — Parece que deu o olhar de "foda-se".
— É isso? — insistiu Richie ao menino. — Quer dizer "foda-se", Scott?
— Não — garantiu o menino que agora eu sabia o nome.
— Então talvez tenha sido o olhar de "vou fazer alguma coisa estúpida" — falei.
— É isso, Scott? — indagou. — Está pronto para fazer alguma coisa estúpida?
— E como eu poderia? — retrucou Scott. — É você quem tem uma arma.
— Tem razão, eu tenho uma arma — disse Richie, tirando-a da sua cintura. — E eu sei como usá-la. Você sabe como usar uma arma, Scott?
— Não...
— É uma coisa muito simples, qualquer um consegue — disse ele, interrompendo Scott. Cada vez mais, o risinho psicótico surgia nos lábios de Richie.
Richard me puxou para sua frente, colando minhas costas em seu peito. Ele pegou minha mão, levando a arma nas suas até a minha e fazendo com que eu esticasse o braço até o calibre estar na testa de Scott.
— Você aponta para quem quer que morra, puxa o gatilho e a bala sai daqui e atinge você bem aqui — explicou, tocando onde uma bala invisível o acertaria. — E não vai mais parecer o Bruce Lee.
— Entendi — disse Scott, suspirando vencido.
Richie olhou para a minha mala apoiada no chão, silenciosamente mandando Scott pegá-la. O garoto foi sábio em o fazê-lo sem reclamar.
Mesmo já tendo guardado a arma, Richie ainda segurava minha mão em uma das suas. Foi quando percebi que a outra estava enfaixada, um pouco de sangue escorrendo do ferimento.
— O que houve com a sua mão? — perguntei, descendo as escadas.
— Um tiro — respondeu simplesmente.
O trailer estava a poucos passos de nós. Scott abriu a porta primeiro, permitindo que as escadas baixassem para subir. Richie, mesmo não precisando, levantou a mão para que eu subisse. Ele estava sendo cortes até demais com uma refém. Assim que ele entrou e fechou a porta, caminhou até onde o senhor estava, mandando-o ligar o motor.
Tomei essa deixa para me sentar ao lado de Scott, vendo que aquilo ainda poderia demorar.
— Tive uma conversinha mais cedo com a sua filha — disse Richie, apontando a arma para o senhor. — Parece que vocês dois têm coisas a acertar.
— Não houve tocar na minha filha.
— Só quero te lembrar que ela ainda está lá em cima, então se tentar alguma coisa, qualquer coisa, eu vou ter Katey-Kakes de sobremesa.
— Como sabe que eu a chamo assim? — perguntou assustado.
Richie mudou o foco, encarando o nada.
— Sabem que estamos aqui — disse ele. — A polícia. Estão perto, quase sinto o cheiro deles... Mudança de plano! Vamos levar essa banheira lá para trás e agora.
O senhor foi rápido em engatar a primeira e dirigir entorno da pousada.
Richie abriu a porta, mandando que esperassem aqui mais que eu fosse junto, alegando que queria ficar de olho em mim. Não lutei contra, sabendo que seria um jogo perdido.
Enquanto andávamos pelos corredores abertos do Dew Drop Inn, Richie mantinha sua mão enfaixada em meu ombro, como se aquilo o assegurasse de que eu não iria fugir.
Quando viramos na curva, dois policiais caminhavam em nossa direção. Richie foi rápido em nos puxar para trás de uma máquina de bebidas. Não dava tempo para fugir, se tentássemos correr, eles nos viriam.
Richie fez o que eu nunca imaginaria. Em um movimento ágil, ele me entregou a pistola e me puxou pelos ombros, fazendo com que minhas mãos ficassem presas entre nossos corpos. Quando os passos se aproximaram ainda mais, ele levantou meu rosto na altura do seu e uniu nossos lábios com força. Fiquei sem reação, apenas permitindo que ele continuasse me beijando até segundos mais tarde quando os policiais já haviam passado por nós.
— Por que fez isso? — perguntei, recuperando o fôlego.
— Olhos encontram olhos — respondeu. — É instintivo que fechemos os olhos quando beijamos. E funcionou.
— Sempre beija suas reféns?
— Você foi a primeira — me assegurou, uma última vez me beijando sem motivo. — Fica atrás de mim.
Antes que eu pudesse formular algo para dizer, o barulho alto e estridente de um tiro soou pelos ares. Richie nos levou pelas escadas até o andar de cima novamente. Assim que virou a esquina, levantou a arma e atirou no policial que quase o acertara. Seu parceiro estava no chão, mas já se levantando. O Gecko foi rápido em apagá-lo com um chute na cara.
Então, reconheci pelo chapéu que usava, um Ranger disparou contra nós. Richie, mais uma vez, foi rápido em chutar a porta do quarto 203 nos puxar para dentro. Trancando o Ranger para fora do quarto, Richie foi arrebentando as trancas dos quartos interligados uma por uma, até que quatro portas depois uma arma foi apontada para sua cabeça.
— Se divertindo, irmão?
— Deus do céu, Richie! — exclamou Seth. — Você não podia ter dito "Oi, é o Richie e a bruxinha. Estamos chegando" antes de arrombar a maldita porta? Eu podia ter matado você.
— Levei o trailer para trás — disse Richie, ignorando o irmão. — Temos que sair daqui antes que o Ranger chegue.
Richie prendeu Kate pelo pescoço, correndo com ela para fora do quarto enquanto Seth me puxava para sair. Os dois com as armas em punho.
O Ranger atrás de nós gritou para pararmos, entretanto atirando de raspão em Seth no braço. Do outro lato, Seth atingiu outro policial e ao mesmo tempo trocava tirou com o Ranger. Foi sábia em correr atrás de Richie e Kate até o trailer. Ao me avistar chegar, Richie entendeu o braço para mim e me puxou para dentro do veículo.
Já dentro, o teto amassou um pouco, como se um corpo houvesse caído. Richie mandou que o senhor dirigisse, logo nos distanciando daquela pousava e deixando o policial para trás. Com um comando fervoroso, ele mandou Kate se sentar com Scott no fundo do trailer. Ele nem precisou mandar e eu já estava lá, exalando calma e indiferença entre os dois irmãos.
— Eu te falei ou não te falei? — perguntou Richie ao irmão que entrou pela janela traseira. — Se eu não colocasse lá trás...
— Tá bem — falou, descontente. — Você e aquela bruxinha são gênios.
Abri a minha mala que estava ao lado de Scott. Ele me observou enquanto eu tirava um livro dali de dentro, Anatomia do Mal de Harold Schechter. Despreocupada, abri exatamente aonde estava marcado.
Nesse meio tempo, Richie veio até onde estávamos, ainda com a arma apontada.
— Não quis assustá-la na piscina antes — disse ele à Kate. — Eu só disse a verdade.
— Eu não me lembro do que você disse — falou ela, tentando disfarçar o nervosismo. — Eu não me importo.
— Se importa sim — interrompeu. — Lamento que seu mundo esteja de cabeça para baixo, mas sinto que tudo isso esteja acontecendo por algum motivo.
— Pode mesmo ver as coisas? — perguntou ela, lágrimas chegando em seus olhos.
— Só quando olho.
𝙉𝙊𝙏𝘼𝙎 𝙁𝙄𝙉𝘼𝙄𝙎:
Segundo capítulo fresquinho para vocês. O que estão achando?
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