13 | Rᴇᴇɴᴄᴏɴᴛʀᴏs
EU ME SENTIA TRAÍDA. Eu me sentia usada e estava irritada. Mais do que tudo, eu queria arrancar a cabeça do corpo de Richard Gecko. Queria estripá-lo e dar os restos do seu corpo dilacerado para os cães de ruas que moravam em um ferro-velho no centro da cidade.
Richard e Santanico saíram para concretizar a missão deles depois do encontro as segas que Eddie havia conseguido para Richard. E ele não me contara nada, apenas foi sem me chamar ou me contar. E ele sabia que isso me machucava mais do que tudo, que sua falta de confiança em mim faria meu coração ser esmagado.
Se era isso que ele queria, tinha conseguido.
Pelo menos, ele tinha deixado as chaves do carro.
Em um ato desesperado, liguei o carro e sai do galpão, mal me importando em fechar a garagem. Logo, não tive certeza de por quanto tempo eu já havia dirigindo.
Seu ato de traição me magoou demais. Desde pequena, com meus problema pessoais e médicos, cresci sendo insegura por dentro e fria por fora. Isso não passou com os anos, talvez até tenha piorado.
Estacionei o carro em um pequeno mercadinho bem na esquina da rua de um bairro tranquilo. Eu deveria estar bem longe da minha suposta casa, nada ao redor era familiar.
Assim que abri a porta, distraída em arrumar meu casaco, colidi com alguém. Instantaneamente, pedi desculpas, percebendo assim que eu chorava e mal conseguia falar direito com os soluços.
— Não se preocupe, está tudo bem... Salem?
— Ranger Gonzalez? — garanti, assustada. — Se lembra de mim?
— É meio difícil esquecer qualquer coisa daquela noite — disse ele, contido. — Está chorando? Você está bem?
Suas palavras me fizeram querer chorar mais ainda.
— Já foi traído, xerife? — perguntei, desesperada. — Por que eu me sinto traída agora.
— Foi o Gecko, não é?
— É — exclamei, aliviada por ele saber. — Aquele idiota do Richard e suas ideias mais idiotas ainda...
Foi então que percebi o que fiz em meio ao meu desespero. Rapidamente, limpei as lágrimas e coloquei meu sorriso mais desesperado no rosto, tentando concertar meu erro.
— Não! Quero dizer, sim foi o Richard, mas não o Richar Gecko — tentei disfarçar. — É um outro Richard, xerife. O nome dele é Richard Gero? Isso mesmo! Richard Gero...
— Eu sei que eles não morreram, Salem — disse ele, calmo demais. — Os Gecko nunca morreriam por causa de um acidente de carro. É patético demais.
Assenti, sem reação. Entretanto, eu sentia que podia confiar no Ranger Gonzalez.
— Como você está, Salem? — perguntou ele, delicado. — Depois de tudo que aconteceu no México?
— Sinceramente, xerife, me sinto usada — respondi, sendo sincera. — Se não fosse com causa do Richard, eu nunca teria me transformado nisso — sinalizei para mim mesma. — La bruja.
— Ninguém mais é o mesmo, realmente — concordou ele. — Disse que Richard te traiu, quer conversar? De todos que estavam naquele templo, você foi apenas mais uma vítima inocente.
— Eu acho melhor voltar para casa — falei, pronta para entrar no carro.
— Pera aí, Salem — pediu. — Você não está em condições de dirigir, pode acabar se machucando.
— Eu vou ficar bem, xerife, de verdade.
— Bobagem — disse ele, brincando. — Está com fome? É noite de chilli em casa. Minha esposa vai gostar de você, acho que minha filha também.
— Eu não quero atrapalhar, xerife. Mas obrigada pelo convite.
— Eu moro aqui perto, Salem, nessa rua — insistiu. — Vai ser bom para nós dois conversar sobre o que aconteceu naquela noite.
Assenti, sentindo que se eu distraísse minha mente talvez eu conseguisse esqueceu Richard Gecko por um tempo. Então, coloquei um sorriso radiante no rosto e falei:
— Lidere o caminho, xerife.
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A CASA DO RANGER GOLZALEZ ERA LINDA, a típica casa de filme americano que sempre sonhei em ter. Mas aqueles sonhos de infância pareciam estar cada vez mais longes. Talvez nunca se realizassem.
Percebi outra viatura da polícia estacionada em frente a propriedade. O xerife me disse ser do padrinho da Billie, seu parceiro. Assenti, compreensiva. Mesmo assim, ele ainda parecia desconfiado.
— Salem? — chamou-me. — Sabe quando os culebras mordem alguém e consegue copiar o corpo deles por um tempo?
— Sim, é meio sinistro, não acha?
— Existe algum feitiço que te permita ver quem é a pessoa de verdade?
— Existe, acho que sim — respondi.
— Que bom, porque eu acho que você vai precisar fazê-lo.
Assim que ele abriu a porta, indicou para que eu entrasse, o que fiz, pedindo licença ao entrar em sua casa. O xerife abraçou sua esposa, o outro policial atrás, perto do balcão da cozinha.
— Amor, essa é Salem — me apresentou. — É uma velha conhecida.
— Ah, é? — perguntou ela. — De onde se conhecem?
— O xerife me salvou de ser atropelada quando criança — menti, o xerife me encarando agradecido. Sua esposa não parecia saber o que acontecera no México. — Desde então, sou muito grata a ele.
— Esse é o meu Fred — disse ela, apaixonada. — A propósito, me chamou Margaret.
— É um prazer conhecê-la — respondi de volta, sendo agradável.
— Eu até o convidaria para jantar, mas você já comeu — disse o xerife, guiando seu parceiro para fora da casa.
— Me desculpe por isso — pediu Margaret a mim, logo virando para o policial. — Ele mandou você vigiar a casa, não é?
— Não vamos falar disso agora — mandou o xerife.
— Vamos sim, aqui e agora. Acha que pode nos trancar aqui dentro?
— Eu acho melhor ir embora — falei, mas o xerife me impedindo.
— Entregue-me o que eu conseguiu na casa do professor — pediu o outro policial, eu finalmente entendendo a pergunta do xerife sobre feitiços.
— Entregar o quê? — perguntou o xerife, confuso.
— Ora, vamos lá. Deve ter conseguido alguma coisa. Deixe que eu vou adiantando, é o mínimo que posso fazer depois de comer metade da caçarola?
Eles riram falsamente, o xerife me dando o olhar que eu precisava para fazer o que ele queria. O Ranger empurrou Margaret para trás de si, apontando a arma para o policial falso enquanto ela gritava para ele parar.
— Eu não te falei que fui à casa do Tanner, o que pode significar duas coisas: eles chegaram até você ou você não é você.
— Amor, o que está acontecendo? — perguntou ela.
— Se tivesse me dado o que eu queria, teria sido mais fácil.
— Ipsum revelare — mandei.
Em menos de um segundo, o policial se revelou quem realmente era. Aiden Tanner, em carne e osso, e transformado em um culebra. Ele estava prestes a atacar o xerife e Margaret, possivelmente machucar sua filha também.
Antes que Aiden pudesse fazer algo, o encarei de frente, puxando-o com força pela gola da jaqueta. Quando minha mão tocou em seu corpo, ele agonizou em choque, voltando para sua forma mais humana.
— Ah, seu imbecil arrogante e pervertido — o amaldiçoei, ele tentando sair de meu aperto. — Desculpe o incômodo, xerife. Tenham uma boa noite.
Antes que pudessem me parar, puxei Aiden para fora, o guiando em passos firmes e pesados até onde o Camaro estava estacionado, apenas alguns metros para baixo na rua.
Abri a porta do banco do motorista, empurrando Aiden para dentro enquanto ele protestava. Em meio minuto, eu estava ao seu lado, dentro do veículo, sem reação.
— Seu idiota babaca e impertinente — o xinguei, batendo em seu braço. — Qual a porra do seu problema, Aiden?
— Eu não estaria fazendo nada disso se o Ranger não tivesse invadido a minha casa e pegado as minhas coisas — tentou se justificar. — Exatamente como ele fez com os títulos.
— Foi o Malvado que te enviou? — perguntei, incrédula. — Quando é que você foi transformado, afinal? Achei que tivessem te jogado numa tumba depois de quase sacrificar a Kate.
— Bom, uma coisa levou a outra, sabe como é — deu de ombros. — Você estava chorando, Salem? Seus olhos estão vermelhos.
— Eu não choro, sabe disso — menti. — Tudo bem, eu estava chorando. Mas isso não vem ao caso e eu não quero falar sobre isso!
— O Richard partiu seu coração, não foi? — pressupôs.
— Foi — respondi a contragosto. — E eu vou partir as bolas dele em quatro.
— Essa é uma dor que eu nunca quero experimentar, principalmente vindo de você — disse ele, assustado. — Agora, que carro é esse? Tem cara de ser caro.
— É do Richard — chorei.
— Você é minha melhor amiga, blá, blá, blá, legal te ver, Salem — brincou ele. — Mas será que pode dirigir? O Sol já está nascendo.
𝙉𝙊𝙏𝘼𝙎 𝙁𝙄𝙉𝘼𝙄𝙎:
Eles se reencontram afinal.
E então? Estão com raiva do Richard?
Eu já aviso para prepararem seus corações para o que vem a seguir.
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