O Verdadeiro Traidor - XXI

📌 Músicas da Playlist:
• Copycat - Billie Eilish
• STUPID - Ashnikko

...

— E o que te faz ter direito de falar assim comigo? — Rebati impulsiva, descartando a vida por uma simples briga.

— Você ainda procura saber? — Foi frio, tão gélido que nem meus olhos ele encarou.

Pensamentos longes, fúria ensandecida, caso o respondesse, uma intriga se tornaria. Mordi meus lábios, guiando a conversa entre os sussurros.

— Não é hora disso, sua vida também corre perigo!

— Jura? Que perfeição — romantizou até o cúmulo de sua alma, ironizando. Um verdadeiro suicida — Agora vaza.

— Jeon, estou falando sério — segurei o seu pulso firmemente, numa súplica inesperada — Eles não são surdos, abaixe o tom.

— Não me importo, agora me dê licença, tenho o que fazer — puxou de volta o seu pulso e abriu a porta, de fato não sendo cuidadoso.

Teria de conquistá-lo.

Meus braços contornaram sua cintura, minha testa se apoiou nas largas costas, não o soltei, pelo contrário, o abraço apertei. Estava com medo, estava cansada, como amigo ele teria de me ajudar.

— Me empresta a arma para a complicação resolver, por favor.

Ele suspirou fundo, com a voz trêmula também sussurrou, ainda suspeito do que eu faria.

— O que me garante que você não me mate? — Hesitou, de costas para mim, entre seu quarto e o corredor obscuro.

— Se você me der a arma, prometo te fazer o que quiser... — Ofereci sem total consciência, permanecendo a abraçá-lo.

— Voltaria comigo e descobriria ao meu lado quem nos traiu? — Me interrompeu com a frase carente, ocasionando o meu afastamento do abraço, e posteriormente, o meu recuo.

— Jeon... — permaneci sem palavras para respondê-lo.

— Eu devo para Jay Park, muito mesmo, para ser sincero, mas saiba de uma coisa, nunca lhe entregaria por isso.

Jay Park, o mafioso mais potente de Seul, o mais procurado de toda a Coréia. Então é ele, para ele quem Jungkook deve.

— Eu engravidei a namorada dele...

— Você o quê?!

Ele se voltou para mim, olhos-de-reflexo revelando o erro cometido, membros largos e fortificados emanavam a fraqueza, como o de uma criança em apuros. Expressões polidas por sentimentos arenosos se petrificaram, percepção de águia, a minha rigidez estagnou-se ante a figura do medo. A mensagem de som passada pelas paredes sólidas aumentavam, os terrores instauraram-se velozes e furiosos, ardilosos por aqueles presentes, e famintos pelo que os aguardavam lá fora. Eu e Jungkook fomos vistos pelos mortos.

Indefesos diante o caos, a ação foi rápida, sem pensar, cabeça à frente, joelhos ao alto, passos inatos, desesperados, defronte afadigados, desamparados, coração acelerado, suor respingado, parecia distante aos pés cansados. Corríamos, pois teríamos de matá-los, nos escondermos causaria mortes, pois os outros não sabiam do caso.

Pernas encruzilhadas, do chão sentia a imundice, ao pé da letra tropecei na margem, jogada na superfície, era árduo pela falta de coragem, meu corpo traído se contorceu, cotovelos ralados e membros feridos, a insegurança defronte a morte me envolveu. Impossibilitada meu andar, aquilo dera passagem ao meu sufoco, falta de ar pelo instante, não aturaria nem mais um pouco.

— Corra! — gritei para Jungkook.

Teimoso e desobediente, Jungkook aguardava ali a decisão correta, olhos espantados e mãos para o alto, buscando por um tempo a resposta certa. Estava nervosa, queria fugir, o tempo me fez ansiosa, pronta para decidir, o corpo permaneceu inquieto, pulmão a esvaziar, a me debater para levantar, a morte não aceitar.

Os dedos agarraram o chão, desprendidos da vida há muito tempo, se arrastavam pelo prazer, não mais pelo viver. Pendente ao alimento, rastejava lentamente, estômago sedento, imploravam por menos sofrimento, ele estava dilacerado, massa corporal antes devorada, cabelos ensanguentados, olhos perdidos e apavorados. Ele soltou um gemido frio, interrompido pela tremedeira, como não pendiam da vida, Namjoon não sentia a incerteza.

Entre quatro patas o outro avançou, os olhos superficialmente furados por uma faca, a raiva emanada por sons de sua boca era estridente, o tom vivo de sua pele não era mais existente, eram feridas sanguinárias que contemplavam seu corpo. Ele cego, mas persistente, ouvidos a captarem os presentes, agressivo, devorava, não pensava, apenas fungava. Namjoon se debatia, tentava se arrastar, mas de fato falharia, pois ferido estava ao batalhar. Uma cena de canibalismo, tão irreal quanto sobre-humana, dois infectados a lutarem, uma fome insana, não questionavam quem iriam matar, apenas devoravam o indivíduo ao atacar. Uma luta de animais pelas duas presas.

Debruçada ao chão, Jungkook encarei, assustada ao visualizar, apenas me calei. Me reergui, usando o tecido da minha roupa para deslizar, sem ruídos, ainda manca e desastrada para caminhar. Jeon deu poucos passos para ajudar, atraindo os sentidos do infectado ao andar, porém, ficou paralisado após notar, então fui até o mesmo, me levantando com a sua caridade.

— A única arma que eu tenho está no meu quarto — movimentou seus lábios nos meus ouvidos.

Era complexo, era indevido, não podia me sentir arrepiada por aquele gesto naquele instante.

— Vamos matá-los e avisar a todos, você escutou os barulhos? — Sussurrei contra o seu pescoço, ar abafado, quente, devido à pele.

— Os seres estão agitados... — respondeu, chamando a atenção de Hoseok para nós.

Silêncio, sem nenhum ruído, pulmões parados até a desconfiança passar. Jeon levou suas mãos mornas nos meus ombros, deslizando-as até as minhas costas, quando voltamos a andar, enxergamos Min a nos observar.

— Yoongi... — quase havia gritado, gostaria de explicar que nada além havia acontecido.

O semblante sério não seria novo para Jungkook, embora ambos confusos estavam na mesma situação. O infectado se aproximou, veloz ao escutar, meus olhos o avistaram, perto demais para atacar, Jeon seria o alvo, mordido sem protestar. Mãos trêmulas, empurrei Jungkook, pronta para enfrentar, milésimos se tornaram horas, uma tortura, sem armas para esfaquear.

Minhas pernas doíam, fraquejavam pela queda, a força do ser era barulhenta, esmagava o que havia em frente. Engoli em seco, sem resposta do meu corpo, sem movimentos, fiquei paralisada pela fonte do medo. Fechei os olhos, não querendo sentir, não querendo sofrer. Tarde demais.

Alguém fora mais veloz, no fundo do cômodo atirou, preciso, assustador, agradecia o desvio da bala, ela não me feriu. Respirei fundo, por mais que tentasse, ainda estava chocada, procurando fuga, sendo que o terror estava finalizado. Lágrimas jorravam do meu rosto, eram inacabáveis e sem sentido, fora da realidade, eu não estava chorando, não podia. Abaixei meu rosto rapidamente, limpando-me com as mãos sujas, logo, voltando a encarar o escuro.

— Cuidado, Namjoon está infectado... — alertei, soluçando levemente após avisar.

Mais um tiro, a pessoa que o praticou se preveniu na hora, sem hesitar.

— Precisamos fugir — a voz grossa era inconfundível, com o pouco de luz restante podia enxergá-lo.

Taehyung...

— Fugir? — Yoongi perguntou.

— Eles perceberam nossa movimentação, logo nos acharão — Kim comentou, avançando passos longos até nós Vamos fugir pelos fundos, eles dão pra floresta. Jungkook entende do que eu falo.

Yoongi ergueu uma sobrancelha, reflexivo sobre, já Jungkook pareceu inseguro, como uma negação silenciosa sobre o trajeto.

— Estamos expostos, a ponto de qualquer um entrar aqui, já verifiquei a nossa condição, o alerta é vermelho, Jungkook — Kim reforçou.

— Devemos avisar Seokjin primeiro... — lembrei eles, intervindo antes de qualquer discussão.

— O quarto dele está vazio — Kim afirmou. — Ele fugiu.

Seokjin fugiu?

— Vazio? — Jungkook desestabilizou qualquer esperança restante.

— Ele simplesmente fugiu daqui, não deixou um bilhete sequer — suspirou fundo, olhos cravados em mim. — Queen, creio que ele armou aquilo... O seu quase sequestro...

— Droga... trinquei os dentes e semicerrei os punhos. Mesmo com a resposta sob meus olhos, não pude enxergá-la. Pensamentos me mostraram, talvez ele fosse o culpado, mas meu coração hesitava em afirmar, queria me pronunciar.

— Eu disse que nunca venderia você... — Jeon cruzou os braços, tornando-se o dono da verdade.

— E isso faz diferença pra atual circunstância? — Interroguei, sem compreender o contexto do rapto.

— Você traiu sem saber quem era o traidor — rebateu.

Suspirei fundo, aos seus pés guiando meu olhar, uma total ignorante, avoada para dar importância, palavras chatas para receberem atenção, culpa dele, por não admitir o chifre.

— O que você acha de fazer a sua mala? Sabe, não temos tempo para discutir sobre seu chifre.

Sua testa enrugou, suas sobrancelhas arquearam, ele estava tão bravo que bastassem mais palavras para enlouquecê-lo.

— Sem discórdia, por favor — Taehyung fraquejou, mostrando sua bipolaridade a este fator.

— Desnecessário, de ambas as partes — Yoongi deu de ombros. — Principalmente da sua, Ah-ri.

Mordi os lábios, o corpo de Min a se dissipar pela escuridão, de forma ignorante e sucinta, sua frase me nocauteou por inteira. Estado de choque, mas que não merecia atração.

— Vou procurar o conteúdo do quarto do Namjoon.

— Camisinhas? — Jungkook ironizou. — Mais do que você já guarda?

Bateria nele por tamanha idiotice, poderia respondê-lo se não fosse pelo comentário de Min.

— Não, ele tem pesquisas relacionadas ao Hyojong.

O silêncio bruto envolveu minha barriga, me causou fadiga após me lembrar que Min Yoongi ainda lá estava.

— Você vai se envolver com ele? — Yoongi questionou, paralisando o som de seus pés, de costas para mim e o restante.

— Os artigos são confidenciais, Yoongi, remetem ao apocalipse, são dados sérios que vão além da sua familiaridade com ele.

— Não ligo quanto aos meus problemas que tenho em relação a Krystal, somente não iria se fosse você, mas seja qual for a sua interpretação, faça o que quiser — voltou a caminhar até o seu quarto, calado e misterioso.

— Não envolverei Krystal, resolverei sozinha essa incógnita, não se preocupe, Min... — Andei até o cadáver, retirando do seu bolso a tal chave do baú. — E espero que ninguém me interfira.

Notas do Autor:

Muita treta e morte para um capítulo só, né mores? A tensão emocional por causa da traição e parentesco ksksks.

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