O Inquilino de Minha Juventude - XXIX
📌 Músicas da Playlist:
• I Think I'm OKAY - Machine Gun Kelly, YUNGBLUD, Travis Barker
• You Give Love A Bad Name - Bon Jovi
...
Levei minha palma na sua bochecha, dedilhando sua delicada face, logo, trocando gestos carinhosos e beijos de leve sintonia. Os lábios eram macios, dispostos pela exploração, matavam a saudade e aniquilavam qualquer sofrimento já passado. Apenas não aguardava aquela experiência, no fundo de minha mente e coração. Após ter entrelaçado os nossos corpos, o selar de nossas bocas seria o último toque antes do ocorrido.
Adeus...
Meus olhos espantados queriam fechar, crer que aquela ideia era tosca, que pertenciam à um sonho, longe da realidade, aquilo não era confortante, não me trazia felicidade. Meus braços não se abriam, apertavam o falecido com força, e por não confiarem em mim, desferiram outro tiro a fim de confirmar a morte de Jungkook. Meus olhos cobertos por água denunciavam a postura e o arrependimento, uma dor inacreditável que fazia meu coração gritar pelo vazio sentido.
— Por que vocês fizeram isso?! — Gritei, ainda pendendo Jungkook em meu corpo.
— Eu te avisei, não avisei? — Jay Park me questionou, tão irônico e frio que facilmente me irritou.
— Tanto me avisou, mas do que adianta se pouco explicou? — Rebati, soltando Jeon rapidamente, não esquecendo que seu corpo já me serviu como afago nos dias frios de inverno.
Visão dianteira, raiva fulminante, uma dor da perda, o sentir da falta, pronta para enchê-lo de socos, avancei passos firmes para descontar o horror presenciado.
Por mais que o agredisse, sua feição séria não se desfazia, continuava de braços cruzados, pernas presas na mesma posição, olhos fixados ao homem que entre nós não mais se habitava, não ousava erguer a mão por mais que o machucasse, por mais que ferisse tanto a mim quanto a um ser já morto. Estava exausta, emoções gastas para demonstrar raiva, a curiosidade que acendia-se era maior do que a rivalidade boba. Jungkook deve ter feito algo tão amedrontador que traçaria a própria morte, como um destino já selado, no qual não faria sentido julgar-me como culpada. Parei de atrair sentimentos idiotas e encostei minha cabeça na clavícula de Jay.
— Por quê... — funguei, tentando compreender o que tanto o fez cometer o assassinato.
— Agora não consigo explicar — depositou as mãos em meus ombros, eufórico ao notar o tumulto de fora —, eu prometo lhe explicar depois.
— Você matou ele, tirou o direito dele de ser pai.
— Não tenho nada a comentar, o destino dele foi traçado há anos.
— Você não sente angústia pela morte? — Enxuguei as lágrimas, cerrando os punhos para conter outra agressão.
— Sentirei angústia caso pessoas inocentes morram — me olhou com soberba razão —, o egocentrismo humano não tem face ou segue padrões — o olhar de rapina do rapaz tornou-se assustador à medida do tempo.
— Tenho o direito de saber, irei exigir até o último instante.
— Exija, não fará diferença — recuou alguns passos, ainda com as pupilas refinadas. — Lhe contarei na hora certa.
Deu de costas para mim, continuando a caminhada, sua ignorância era repleta de motivos, não podia questioná-lo dizendo que era insensato. Por mais que eu o odiasse, Jay Park estava coberto de sentido.
— Vá em frente, me deixe em paz, sei que causei o luto — alterei meu tom para o maior escutar.
— Doerá menos caso perceba as consequências da inconveniência — sugeriu, me deixando sozinha com o óbito.
Sentia dor, sentia ódio, mas as lágrimas iriam piorar o dia, a confusão que já sentia, o acúmulo canalizado que quase explodia. Observar o falecido não era um ato saudável, todavia, acariciava o seu rosto. Fiquei pensando, sem companhia, com as palmas no morto pude avaliar as feridas. Eram diversas, mostravam sinais facilmente visíveis, ele foi torturado por um longo período, estava preso, sem visitas.
Seria ele um dos cúmplices do traidor de Jay Park?
Continuei a dedilhar a face de Jungkook, admirando pela última vez a enorme galáxia presente em seus olhos: um ressentimento aceso pela fúria, um campo vasto onde não havia sinais de vida. Fechei suas pálpebras sutilmente, dando a ele o seu devido descanso, e pela última vez, guiei sua palma ao meu ventre, puxando minha camisa ao alto para que este sentisse o toque.
— Está se mexendo ainda mais — afirmei —, e você não vai querer perder isso, não é? Tenho certeza que é uma garota! — Ri, trazendo alguma empolgação ao ambiente vazio. Não era loucura, eu estava confortável, por mais ignorante que seja, seu funeral não poderia ser vago.
Ele não vai responder...
— Os olhos dela talvez sejam puxados, mas não duvido que se assemelham a duas castanhas — terminei de estereotipar o bebê, observando-o silenciosamente. — Eu ainda não consigo acreditar, quero que a sua morte seja uma mentira — afastei sua mão do ventre, encostando-a no assoalho, levantei-me e rodeei a sala em passos lentos e fúteis.
Enterrá-lo parte-me o coração.
— Lutarei para que consiga um funeral digno, até lá, servirei às forças que aqui protegem na linha de frente — mudei minha postura, a qual embora rígida, liderava com responsabilidade.
Isso é um breve adeus...
.·.⌚.·.
Me retirei da sala, com a cabeça agitada, difícil estava transmitir qualquer tipo de equilíbrio, a mente estava nocauteada, e os pensamentos remotos com o último acontecimento. Complicado estava para avançar no combate, apenas de fitar pude notar o quão problemático estava o campo de batalha. A minha curiosidade me traria problemas, disso Jay Park estava correto.
O inferno posteriormente seria melhor que aquela paisagem, nunca havia visto tantos corpos em um só lugar, vagavam entre a vida e a morte, alguns pendiam à transformação, no meio do salão, e outros desenfreados procuravam por carne, algo para sustentar a alimentação. Antes que o pequeno grupo militar abandonasse o lugar, atiravam nestes após a infecção, não sentiam dó ou piedade, apenas aflição.
Melhor ir pelos fundos, provavelmente aqui eu serei mor-...
— O que você faz aqui? — Uma voz masculina interrompeu as minhas reflexões, e tamanha ousadia foi rebatida, antes que soubesse quem fosse.
— Nada de interessante para o senhor — fixei meu olhar ao seu, logo, desfocando-o para vislumbrar o seu armamento. Engoli em seco, querendo reverter a resposta.
— Responda direito — cuspiu em meu rosto, dando a mim a posse de faltar com respeito.
— Vejo que não consegue conter a saliva em sua boca, sua mãe lhe ensinou a usar lencinhos durante a pré-escola? — Fui sarcástica, e correspondida também fui por outro ato, um tapa em meu rosto. A força fora tão grande que os olhos lacrimejavam, o local acertado estava quente e latejava.
Depositei a mão na bochecha, recuando os passos.
— Desgraçada! — Segurou meu pulso, puxando-o com o meu corpo sem a concessão.
— Para onde você está me levando? — Questionei, me debatendo.
— Para a prisão, onde mais levaria?!
— Me leve para um local mais seguro, o armazém.
— Somente pessoas dignas permanecem lá.
— Preciso avisar Yoongi sobre Krystal.
— E o que eu tenho a ver com isso?
Segurei suas mãos com delicadeza, teria que comovê-lo para a permissão da entrada.
— Senhor, ela é a minha filha, estou desesperada, não tenho armas e conheço o local. Me entenda, quero muito sobreviver — expliquei, denunciada pelas lágrimas. — Estou de luto, meu namorado faleceu agora, ele era soldado, e estou grávida dele.
A interpretação o convenceu, todavia, não era sinônimo de moleza. Ele me guiava até o armazém, com o comportamento estranho, cismado com a situação, parecia desconfiar de tudo, já que seu olhar não desvencilhou nem por um segundos.
O cansaço físico estava presente no andar dele, não era raro vê-lo capengar ou tropeçar em seus próprios pés, às vezes, necessitava do apoio da parede para conseguir realizá-lo. O sangue respigava, estava ferido, possível linha de frente durante o abate.
— Você está bem? — Interroguei.
— Estou normal — rebateu, levemente irado, depositando a palma em sua testa, como quem medisse os pensamentos antes de expressá-los. — Esqueça.
— Me parece macabro... — soltei minha opinião num breve sussurro, suficiente para não ser ouvida.
— E quem se importa?! — Grunhiu alto, retornando a depositar seu corpo frente ao meu.
A saliva dele espumava sempre que respigava da boca, seus olhos humanos pareciam inexistentes, sumindo no fundo branco opaco da sua esclera. Feridas antes apresentadas mostravam formas inadequadas, a hemorragia nesses machucados talvez fosse um dos sintomas fortificados.
Um infectado em sã consciência, armado...
Não respondi o seu comentário, pronta para qualquer reação agressiva. O soldado tomou posse para continuar a caminhada, no silêncio empoderador iniciou o desfile da ignorância, se transformando a cada metro andado. Ele estava de costas, e no calado momento saquei minha arma, ainda a acompanhá-lo, pistola mirada nele discretamente, como quem não preparasse aquilo. Quando o avanço dele veio a parar, me vi na obrigação de observá-lo.
— Senhor?
Sua plenitude já não era a mesma, quem dirá à sua disposição, agora, graças ao chamado, marquei presença no seu cardápio. Meu medo pairava, minhas fraquezas reataram, queria tanto atirar para com aquilo acabar, todavia, arcar com o barulho seria minha consequência.
Viver ou morrer, agora ou nunca, muitas possibilidades e nenhuma seria correta, apenas arcar com os erros, o amanhã não existe para quem preza o presente.
Notas do Autor:
Coitada da Queen! Nem um dia de descanso. Aliás, o que vocês leitores acham sobre a situação de Krystal? Triste, não? Ou ainda pensam no Jungkook? 😳
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