O Assassinato - XXVIII
📌 Músicas da Playlist:
• you should see me in a crown - Billie Eilish
• Wasting Love - Iron Maiden
...
Gatilho puxado, uma ação rápida, inesperada, Jay Park sacou sua arma, mirou para atirar, lançou a bala e o acertou. Estávamos eufóricos, loucos por adrenalina.
Encarei o maior, aliviada com sua atitude, contudo, como nossa pressa era inquieta, apenas confirmei com a cabeça, agradecendo-o. Consciente de que o caos se instaurou no ambiente, apontei para o mesmo, lhe dando espaço para ocupar a frente. Seu armamento não era pesado, porém, melhor que o meu, que se fazia inexistente.
— Venha comigo, vamos nos armar melhor — avançou alguns passos à minha frente.
— Quem planejou esse ataque? — Levantei uma sobrancelha, ciente que nem mesmo ele saberia.
— Espero eu não ser uma rebelião popular — a cólera franziu sua testa e rangeu seus dentes.
Quando Jay Park deu passos rápidos, mal pude acompanhá-lo, ele extravasava a fúria na velocidade, e eu fora dificultada pela gravidez. Os corredores estavam lotados, inocentes corriam para se livrarem da morte, e eu persistia em segui-lo para abater essa fonte, a causa dessa tragédia e o horror dessa utopia. A agorafobia estava bamba, atacaria em qualquer brecha.
— Os moradores estão seguros? E o resto?
— Quem? Os que estão fora da cabine? — Riu tosco. — Com segurança igualitária a nossa, isso lhe satisfaz?
O Yoongi, a Krystal.
— Contudo, se continuar, os infectados...
— Vão ouvir e invadir, os militares vão estar distraídos, não duvido. Preciso convocar a maioria para o ponto de segurança.
A cabine é o ponto de segurança.
— Eu convoco, e você pega o meu armamento, fechou?
— No quarto 52 nos encontramos — aceitou a opção.
— Beleza — sorri fraco, confirmando com a cabeça.
Batia de porta em porta, correndo o risco de falecer, era notável que muitos já haviam percebido, fugiam para evitar o confronto. A pressa nos corredores aumentava, equivocando ainda mais a situação, era uma locomoção agressiva marcada por empurrões e xingamentos. Eram como animais, loucos pela vida, insanos e incapazes de pensar. Tanto tentei avisar, poucos eu havia influenciado; era difícil, eu era negada, fui chamada de traidora sem sequer me pronunciar.
Novamente traçada pelo perfil de mentirosa, a troca de olhares falava muito. Yoongi me encarava de soslaio, como quem estivesse recheado de decepção.
— Yoongi, por mais trapaceira que me julgue ser, vai para a cabine.
— O que está acontecendo? — Indagou ferrenho, passos desequilibrados devido às operações. A multidão o desfavorecia, teria uma fácil queda com a brutalidade alheia.
— Segundo o chefe, houve uma invasão.
— De infectados?
— Talvez rebeldes... O sujeito por enquanto é desconhecido.
A verdadeira identidade humana fora revelada quando um homem tratou de derrubar Yoongi, no auge da pressa, sequer fez questão de ajudá-lo, deu as costas e prosseguiu com velocidade; as muletas do garoto caíram longínquas dele, e o seu ânimo era mínimo para pôr-se novamente de pé. Me rebaixei ao seu nível, mordendo os lábios para não expressar emoções.
— Você está bem? — Interpelei após a queda, criando fôlego para carregá-lo. Ele não estava estável, suas pernas estavam bambas.
— Me deixe em paz — fraquejou, como quem odiasse a companhia, contudo, flagrado pelos olhos flamejantes lacrimejando.
— Se um de nós morrer, permaneceremos brigados? — Contextualizei o episódio.
A euforia paralisou os nossos corpos, novamente cravaram os nossos olhares, o tempo pela única vez era favorável ao que estávamos passando. Suas íris se alagaram em cachoeiras, partiram meu coração, ele chorava silenciosamente, pelo desamparo e emoção. Pedi desculpas, por várias vezes, pedi o seu perdão.
— Eu quero a minha filha — comentou, escondendo as lágrimas, embora já camufladas anteriormente.
— De Krystal cuidarei.
— Permaneceremos em atrito até que cumpra — rebateu, como quem a independência transbordasse em seus atos. O orgulho gritava mais alto que a capacidade, em passos solitários e persistentes ele fez a caminhada.
— Eu te odeio.
— Eu também — consegui escutá-lo, distante, todavia, alucinações enxergaram um sorriso nele.
.·.⌚.·.
Quarto 52, pouco tumulto, silêncio presente. Eu estava calada, aguardando a chegada de Jay Park, exasperada pela agitação distante. Naquele corredor não havia resquícios de hordas, violência, ou qualquer sinal que uma chacina tivesse ocorrido. A desconfiança começou a me assolar.
— O que te faz pensativa, pequena coelhinha? — Uma voz alternativa me assustou, o ser cujo esperava pacientemente surgiu.
— Agorafobia — fui sincera, me contentando com o recebimento do meu armamento. — Não consegui comover os habitantes, poucos me ouviram e me respeitaram.
— Indiferente do que imaginei — comentou, me dando munição e um colete. — Agora me escute, fiel escudeira — o tatuado continuou. — Não sabemos o que houve, nem da origem dos problemas, então apenas use a arma para defesa.
— E caso haja aparição de um contratempo?
— Use apenas para sua defesa, caso contrário, terei que prendê-la novamente — alertou. — Apenas cuido de ti por pena de sua gravidez, é lamentável que a criança tenha como pai um ser medíocre como o Jeon.
— Não vejo motivos para confiar em mim, amo o Jungkook — dei de costas, copiando a insistência de Min Yoongi.
— Amaria a ficha criminal dele também.
— Irei consertá-lo a tempo, vou torná-lo um bom pai — dei de ombros. — Há indícios de que Krystal esteja bem?
— Eu lhe dei condições para que eu revelasse sobre Krystal...
— Yoongi — revelei, indiferente, rápida devido ao tempo — Estou apaixonada, e tudo nos perturba, todos conspiram contra nós. Suficiente para você?
— O quanto isso é verdade?
— Fui abusada pelo meu ficante, antigo soldado seu, e estou grávida de outro cara. Já não estou ferrada o bastante para mentir? — Suspirei fundo, séria e imóvel, quando nossos olhares se cruzaram, um atrito foi notável.
— Satisfatório — afirmou — Nunca pensei que homens te irritassem.
— Nunca pensei que cuidar da minha vida fosse prioridade ao invés da tua.
— Ela está no quarto 13, o cômodo é próximo ao porão, alguns lances de escada abaixo.
— O.k. — confirmei, caminhando até o local cautelosamente.
Desci a escadaria ordenada, ansiosa para ter Krystal em mãos. Quando no andar cheguei, notei o silêncio absoluto, à medida que eu andava, o corredor menos acessível ficava, e mais as luzes piscavam para dificultar minha visão, o frio ganhava espaço, e a solidão naquele cômodo me abominava. Olhei para trás e notei a consequência, foi rápido demais, não tive reação, um apagão após a forte pancada invadiu meu corpo.
.·.⌚.·.
— O que faz aqui com a arma do meu senhor?
— Hm? — Interpelei, com os sentidos atrasados.
— A arma que transporta é do meu senhor e... — o interrompi.
— Ele me deu para que eu recuperasse a minha criança — respondi. — Ela está no quarto 13.
— Ela estava com a patroa? — Questionou, instigado.
— Lamento dizer, apenas sei o quarto cuja criança está.
O homem privado de cabelo não mais pronunciou palavras, sua feição inquieta transbordava infelicidade, e afirmava o possível ocorrido.
— O que houve? — Fiquei atiçada.
— Deus que me perdoe lhe contar, mas soube que a patroa foi mordida por um infectado.
— Um infectado?
— Um traidor abriu espaço para um morto entre nós, não sabemos se o inconfidente fugiu às pressas ou ainda habita entre nós. O cúmplice dele já foi morto, fui o responsável devido às ordens superiores — revelou, como quem me devesse informação, isso pelo único privilégio. O artefato pessoal de Jay Park, a arma.
Krystal não pode estar morta, eu prometi para Yoongi que a salvaria.
— As pessoas que aguardam na cabine ficarão seguras?
— Se o traidor lá não estiver, talvez haja garantia de segurança.
Com respostas incertas, estanquei a minha insegurança, reservava a ansiedade, que palpitava o meu coração e deixavam trêmulas as minhas mãos.
— Esse local é seguro?
— Aqui os presos e desorientados recebem punições perpétuas de meu chefe, creio que seja seguro... bom, para infectados... — tentou ser positivo, o que poderia ser antônimo de sua aparência.
— Jeon Jungkook está aqui?
— Por que? — desconfiou.
— Ele é pai da criança que guardo em minha barriga.
O homem de grande porte negou com a cabeça, seus músculos foram flexionados devido aos braços cruzados durante a resposta.
— Ele está morto?
— Não, está proibido de qualquer tipo de visita.
— Posso me retirar daqui então? — Sugeri.
— Isso sim afirmo não ser seguro, permaneça quieta nessa sala até que a-... — foi interrompido por ter sido chamado.
"Câmbio, alô?"
— Câmbio. O que houve?
"Precisamos de reforços na central, a sua presença é importante. O superior Kenneth está nos ordenando."
— O.k., Seokjin — confirmou, carregando as armas de porte médio como se fossem leves.
Seokjin...
— O que está acontecendo?
— Acho que os infectados estão se expandindo — arrumou-se rapidamente, para ajudá-los na central. — Preciso ir, fique aqui.
— Beleza.
— A pistola está na mesa, só atire em último caso.
Confirmei com a cabeça, vendo-o partir para a guerra de mortos.
Jungkook, espero que você longe não esteja.
.·.⌚.·.
Medir as ações não estava palpável para o contexto, o intenso desejo de vê-lo não podia ser facilmente interferido. Com a passagem dos infectados, abri a porta do cômodo, retornando para o corredor. As luzes de emergência estavam acesas, brilhavam à cor de fogo no mais profundo escuro. Engoli em seco, mãos trêmulas ao carregar a arma, arriscava meu sangue e o que no útero carregava. Aproveitadora das situações, uma lunática e consumida pelos sentimentos.
Passos calados, mente vazia, atenção minuciosa, fatores externos anunciaram minha chegada, atos indecentes, fúria equivalente, de pequenas distrações, a caçada tornava-se iminente. Dado o gatilho, as análises foram tolas, o som do tiro deu o tilintar da morte, foi uma bala à toa, um mero susto.
Eles estavam próximos, haviam escutado. Eles, os seres canibais e irracionais que não temem, causadores do caos e sofrimento, grandes feitores da tortura, eles, os infectados, me perseguiam no escuro, brincando de predador e presa. Passos longos, corriam e espancaram as portas, um tumulto ainda mais audível, barulhos internos em cada sala era perceptível.
A falta de ar sugava os meus pulmões, me impedia de continuar a corrida, e estagnei em pensamentos e soluções. Eles perto de mim beiravam, ruídos perturbadores corriam na região, eu era uma presa sem esconderijo e com caminho denso a seguir, com cansaço aparente para prosseguir. Meu destino estava traçado.
Inesperado momento de fuga, meu coração trepidava, apressei meus passos e recuperei meu fôlego, distante, até que eu o alcançasse. Jeon Jungkook estava gravemente ferido, com hematomas caóticos na extensão do corpo, contudo, um sorriso confortante o invadira, e este era acolhedor o suficiente para me causar esperança.
Ele me puxou para uma sala, silencioso e agitado, trancou as portas e desatou a chorar, ansioso para me sentir, apto para me amar. Levou seus braços à minha cintura, convicto de nunca mais soltá-la, seu abraço fora apertado e coberto por beijos, eram molhados e marcados de sangue.
Após enchê-lo de carinho pude observá-lo atentamente, e seu estado era pior do que o esperado, além do imaginável. Ele estava sujo, em soberba perdeu sangue, torturado até o último suspirar, não duvidava que estivesse doente por causa das suas condições.
Os meus olhos ao encontrarem os deles aclamaram-se de curiosidade, como uma pulga atrás da orelha, repleta de interesse sobre o que tanto fizera para Jay Park no passado.
Não é hora de perguntar, ele está em mal estado...
— A sua barriga... ela cresceu muito — sorriu, levando sua mão trêmula e imunda a tal parte. Não me importava, pelo contrário, fazia questão de induzi-lo ao tato.
— Você quer ver? — Perguntei, respondida com um breve movimento da nuca.
Levantei a vestimenta, suspendendo-a entre as alças do sutiã, guiei sua palma novamente para o lugar, fazendo-o sentir os leves chutes dados pelo feto. Sua emoção impagável transbordou meus olhos da mais pura felicidade.
Ele está bem, ele está vivo.
Levei minha palma na sua bochecha, dedilhando sua delicada face, logo, trocando gestos carinhosos e beijos de leve sintonia. Os lábios eram macios, dispostos pela exploração, matavam a saudade e aniquilavam qualquer sofrimento já passado. Apenas não aguardava aquela experiência, no fundo de minha mente e coração. Após ter entrelaçado os nossos corpos, o selar de nossas bocas seria o último toque antes do ocorrido.
Adeus...
Notas do Autor:
CHOREM, CHOREM MUITO, CHORAM MUITO MUITO MESMO, PORQUE MEU CORAÇÃO TAMBÉM DÓI. NÃO ME MATEM, EU PRECISEI FAZER ISSO.
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