A Vingança Dos Traficantes - XXIV

📌 Músicas da Playlist:
• Highway to Hell - AC/DC
• Wasting Love - Iron Maiden

...

Instantes o fizeram tão sossegado, segundos o apressaram a uma ação inevitável, desfazendo-se do que era sereno e calmo. O empurrei, na esperança de salvá-lo, precipitação minha, pois acidentalmente causei a sua morte. Deplorável situação de minha autoria, podia chorar litros de lágrimas, mas não sabia que isso o destino guardaria.

Prensado na superfície suja do chão, Min não se debatia, poucos movimentos tinha, decerto o sangue de alguém jazia no local, o infectado o cobria, admirava o cardápio, não se desprendia da sua alimentação. Minhas pernas trêmulas não andavam, estavam em choque num estado inaceitável. Queria fugir, gostaria de escapar, um repertório antigo, que agora hei de desqualificar.

Silenciosa avançava, faca empunhada, mãos fraquejadas, de joelhos fui ao chão. Em Yoongi o infectado jazia, e nas costas do morto ousei sentar, pensamentos fúteis me invadiam, e para acidentes evitar, fui rápida. Fixei o cabelo na minha palma, não reservei calma, o puxei junto com a sua garganta, torcendo o seu pescoço, e fúria acarretada, deslizei a faca para serrar a pele escamada. Sangue arterial jorrava em Min, banhava o ser abaixo de todos. Joguei aquela cabeça para longe, arrastando o restante do infectado.

Ajustei a minha posição, acomodando-me em cima da cintura de Yoongi, com a lâmina no seu pescoço, analisando seu aspecto novo. Banhado seria um termo pobre comparado a quantidade, talvez ensopado cabia em uso sincero.

— Você tá vivo? — Interroguei, observando-o com certo cuidado, minha lâmina pronta para levá-lo à morte.

— Mais vivo que você, isso eu garanto — abriu os olhos, me encarando fixamente. — E digo, o quão necessária foi aquela decapitação para você?

Meu sorriso se estendeu imperceptível, dobrava os meus olhos, afundava minhas bochechas e alegrava o meu corpo.

— Não é todo dia que banho alguém de sangue, deveria se considerar sortudo.

— Tão sortudo... — rebateu, suas mãos a ajustar o cabelo, logo, passada no pescoço, numa posição confortante.

— Melhor do que estar morto.

— E abrir os olhos e pensar que está no céu é algo bom?

— E o que te fez pensar que estava no céu? O sangue arterial em seu corpo? Ou a minha presença acima do teu corpo?

Ele não mais comentou palavras através de seus lábios, suas íris negras incandescentes já revelariam o seu desejo, o que gostaria de ter feito. Não ficar perdida, não ceder aos seus pedidos, tudo parecia difícil quando se tratava de Min.

— Você sabe que não podemos — afirmei, me retirando do corredor. Minha cintura foi deslocada, segurada delicadamente, braços a frente para não beijá-lo acidentalmente.

— Por que qualquer elogio para você se torna uma cantada desrespeitosa? — Criticou, ainda a me segurar, tão sério e...

— Se o Jeon saber, vou estar lascada...

— Tudo é fonte de ciúmes para vocês dois, parece até novela mexicana.

— Yoongi, você pode falar o quanto for, mas Jeon está mais certo do que nós pensamos.

— Como assim?

— Ele está certo em sentir ciúmes.

— Não, não está, isso é obsessivo demais para... — o interrompi, sussurrando contra sua bochecha.

— E para uma pessoa que eu gosto? É de mais sentir ciúmes nisso? — Questionei, sabendo das emoções que havia provocado, ansiosa sob aquela excitação — Jungkook percebeu antes... eu admiro você, não a ele — ri fraco, o espantando suficiente para beijá-lo.

Encostar a língua, sentir o ápice, transmitir o calor, ceder a passagem, queria senti-lo, queria tê-lo naquele instante.

— Você não pode transmitir falácias sem arcar com as consequências.

— Amaria controlá-lo sem compromissos — admito. — Mas de pouco adianta, me apaixonei durante o processo. Fui tola, não é?

— E dramática — acrescentou, rindo fraco, soltando minha cintura.

Antes que eu largasse aquela posição, lhe roubei um selo, tão molhado e demorado que criei expectativas de um beijo. Idiota, ele te ama, mas não podemos nos amar agora.

Levantamos e esquecemos das próprias vontades, pelo senso comum, teríamos de procurar algum alimento, recordando dos nossos perigos. Investigamos o infectado, retirando dele uma única chave, a chave da loja do posto de gasolina, que servirá para algo útil. Estar contente pela vitória era natural, porém, pensar em conceitos tão óbvios me assustou.

— Yoon, você não acha estranho?

— O que? — Se voltou curioso, calado e atencioso.

— O homem que aqui trabalhava aqui permanecer — meu olhar inquieto nunca se acendeu de forma tão insolente, talvez meu estresse excessivo hoje me cedeu essa condição.

— É difícil encontrar um ser que trabalhe mesmo após a morte.

— Considero quase impossível.

— Mas a sua teoria me atiçou... — suspirou fundo, sobrecarregando sua jaqueta com bolinhos empacotados da prateleira. — O que tanto te intriga?

— Minha lógica pode estar errada, mas... — o vislumbrei, parando de estocar o alimento em minhas mãos. — Se ele não vagou por esse mórbido espaço de estrada, significa que foi infectado recentemente.

— Realmente, é de muito incômodo pensar que ele poderia vagar pela floresta.

— Sendo assim, o que faremos caso estejamos cercados?

Ele desviou o olhar, recuando-o para o chão, testa refletida na luz solar emitida da minúscula janela, e entre as paredes do cômodo frio e úmido, Min respingava suor, pensava para investir suas intuições em planos de fuga.

— Você está dizendo que os infectados se juntaram para nos caçar? — Questionou.

— Depois dessas confusões, não me parece errado suspeitar.

Yoongi mordeu os lábios, inseguro do que fosse comentar, olhar perdido, uma resposta a procurar, não negava o que era certo ou errado, apenas estava a matutar.

— E por que você não descansa, mesmo sabendo dos infortúnios? — Sugeriu suave e descontraído.

— Caso ele investir um golpe em nós, eu serei a mais afetada... — fui interrompida.

— Às vezes desconfio, como Jungkook deve tanto a um desconhecido?

— Jay Park, eis o nome da criatura. Jeon se meteu com a namorada dele e deu ruim...

"Deu ruim"? — Min perguntou, com a testa enrugada pela curiosidade.

— Ele se envolveu com prostitutas — abri um dos bolinhos, o devorando em instantes. — Nem sei quantas delas ele engravidou também...

Min se calou, talvez previsse no que Jungkook se meteu.

— Jungkook pouco viverá, estará a se esconder de dois males minuciosos.

— E é por isso, Min, que confio este filho a você — levei sua palma aberta até minha barriga, que por segundos levaram o despertar de seus olhos e o boquiaberto de seus lábios — Jungkook está vivo como nunca, mas assim como ele, corro os mesmos riscos...

Ele confirmou com a cabeça, talvez não fosse difícil aceitar, aliás, há muito tempo contemplamos essa promessa. Eu com Krystal, e agora ele com o feto.

— Me admira você com essa idade falar isso...

— Por quê?

— Eu com essa idade estava comendo areia — tirou a mão de minha barriga, logo a passando por trás de seu pescoço.

Droga, novamente esqueci do que ocorria em volta, como se nada mais importasse, como se nada existisse, como se o tempo parasse, mas continuasse a andar. Suas mãos enroscavam-se na parte mais esbelta de meu corpo, sem toques com malícias, contudo, recheados de pretensões. Falta de ar ao coração desamparado, a fadiga era pouco perto dos sorrateiros sentimentos de um apaixonado. Era apenas um selo, todavia, quanto mais cedida me encontrava, mais esquecida da realidade estava.

Mais fundo, além do profundo, o medo e a ansiedade se foram, se despediram após carícias no escuro.

— Cuidarei bem, tão bem quanto fui criado — Ele garantiu. Continuei a roçar nossas bocas, logo, selando-as outras diversas vezes.

— Que belo discurso — A voz ecoou na sala com superioridade, como se pegasse no flagra o maior crime já cometido.

Logo que meus olhos se desviaram, observei o ser, posição tão severa que me vi obrigada a recuar de Yoongi. Não havia explicação para a verdade, não havia motivos para contestar o que não podia ser contestado, me encontrava sem rotas para organizar as palavras sinceras, sem qualquer semelhança com desculpas esfarrapadas. Me espantei ao ter que escutar Jungkook novamente.

— Mas qual é a graça, se não terá como cumpri-lo — deu de ombros, apoiando suas costas na vitrine — O filho é meu, a situação é minha e dela, Yoongi, e espero ,com toda sinceridade, que você saiba sua posição.

— Saberei de minha posição até quando você for responsável.

— Acha que não tenho responsabilidade?

— Não sabes até quando viverá, ou pensas que será eterno?

— Não serei eterno, mas pensas errado ao duvidar de minha natalidade.

— Que seja! O meu acordo com Queen existia antes da gravidez, e não será você qu-...

Barulhos frequentes, como uma ameaça constante aos nossos ouvidos, se aproximavam de repente, e se tornavam cada vez mais altos. Carros freando após uma alta velocidade, duvidava que meus tímpanos existissem após tamanho furdunço.

Taehyung junto a Krystal logo declarou, no auge do desespero, soltou palavras rápidas não legíveis, difíceis de se entender.

— Ele nos achou... — após milhares de enigmas, Kim se pronunciou.

— Ele...? — Fiquei um pouco confusa.

— Jay Park — Kim engoliu em seco.

— Merda — Jungkook resmungou, pressionando seus próprios punhos.

Desfoquei meu olhar para Min Yoongi, que agora simpatizava com o meu medo excessivo. Estávamos cercados, sem caminhos para escapar, presos numa jaula, sem rumo, sem destino, sem meios de se libertar. Logo, ameaças baratas conseguiram comprar o nosso temor.

.·.⌚.·.

Fiquei inquieta por não ter Krystal em meus braços, sobrecarregada pelo medo de Jungkook ser torturado, aguardar com o corpo sentado pouco adiantava se não enxergava mais nada. Fui vendada, e com panos tive a minha boca coberta, o desespero fundia no fundo da goela.

Um rangido estranho e sorrateiro se fizera até o fechar da porta, não me sentia sozinha, mas mal acompanhada, tão mal acompanhada que até calafrios subiam pela minha coluna, deixando rastros como a má postura. Passos pesados foram direcionados até mim, tudo estava planejado, de minhas punições à morte.

Logo que os meus sentidos recobrei, não podia sentir calma. Fitei o rosto de Seokjin e do miliciano, me preenchendo de raiva, soberba vontade de estragar o semblante do traidor.

O que eu fiz de errado para receber tamanho ódio? Do que adianta lotar a sala de um silêncio vago que a mim torturava?

— A Krystal, por favor, me informe onde ela está.

— Calada — repeliu Seokjin, insatisfeito com a minha condição.

— Ela é só uma criança, não foi criada por Jeon, não é fruto dele, ela é somente minha, minha e de mais ninguém.

— Não fuja do assunto — Seokjin rebateu furioso.

— Eu só quero saber dela, só isso! — Comecei a sentir falta de ar ao repreendê-lo.

Senti um ardor em minha bochecha esquerda, esquentadas devido a um tapa desferido, e como retribuição, funguei pelo impulso, sentindo saliva respingar em meu rosto. Seokjin havia cuspido.

— Yoongi é o pai dela, por favor, o poupem disso, não se importem com ele. Eu sou a única relacionada com o Jungkook.

— Você está grávida do Jungkook — o traficante rebateu.

Pisquei diversas vezes, desacreditada pelo seu conhecimento. Através de quem ele soube aquilo?

O tal Yoongi já tomou a decisão — ele continuou.

Decisão...?

— Decisão? Qual decisão...? — Perguntei, mesmo sabendo que não obteria resposta. — Ela tem a ver com o Jungkook?!

— Talvez, pequeno gafanhoto — o miliciano riu fraco. — Mas garanto que a situação dele não poderia estar melhor.

Que tipo de tortura vocês tanto sofrem? Yoongi, Taehyung, Jungkook, Krystal...

Notas Do Autor:

Depois disso tudo até eu estou em estado de choque, tipo, wtf velho? QUE MERDA ACONTECEU COM O JK E O GUINHO VELHO? QUE DIABOS DE DECISÃO É ESSA?

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