A Ruína da Utopia - XXVII
📌 Músicas da Playlist:
• all the good girls go to hell - Billie Eilish
• Bad Guy - Billie Eilish
...
— Por que até em meus sonhos você me infortuna? — Segurou minha palma, de olhos fechados comentando.
Sem resposta, fiquei a encará-lo por um tempo inestimável; estava perdida na curva de seu sorriso traidor, que se curvava para cima em conjunto ao despertar das pálpebras. Yoongi, Min Yoongi.
— Lamentável — Queixou-se.
— O que? — Interroguei, sentando-me ao seu lado, fixando em suas retinas.
— Não era o número 66, correto? — Perguntou calmo, referindo-se aos quartos.
— Sempre foi — entreguei-lhe a chave, indicando o número — Alguém virou a placa do primeiro seis, ou seja, entrei no quarto noventa e seis. A porta estava aberta por acidente do morador...
— Essa é a desculpa?
— E qual seria a graça de vê-lo andar com dificuldade? — Rebati, interferida pelo meu estômago roncando de fome. — Droga — murmurei baixinho.
— Não comeu por quê? — Franziu a testa.
— Estava esperando alguém no quarto errado — fiz uma autocrítica, perturbada por comentar.
— Como você soube que o quarto era de outra pessoa?
— Jay Park apareceu nele... — deitei-me no assento, desajeitada.
— Uma coincidência em tanto.
— Culpe quem inverteu a placa, ele não merece carregar essa responsabilidade.
— Não estou a julgá-lo — Proferiu, sonolento, sendo visível o cansaço.
Min cruzou os nossos dedos e juntou as nossas mãos, acariciando-a. Encarei-o sem contar os segundos, desejando beijá-lo naquele instante.
— Por que me vislumbra desse modo?
— Como?
— Caso eu devolvesse o olhar ficaria incomodada.
— Duvido que demonstre algo além de ódio — sorri brincalhona, negando com a cabeça.
— Eu também não vejo coisa além — foi sério e seco.
— Claro, já esperava por isso — afirmei, com um sorriso frágil, reservando o coração machucado.
Yoongi descruzou as nossas mãos, precipitado, desviou o olhar para um canto qualquer do corredor, e embora exausto, notava sua frieza acanhada e sibilante.
— Sinto que posso te machucar caso eu retribua qualquer outro sentimento.
— Já me fere o suficiente me odiando, me amando não seria diferente.
A sua boca estava pronta para proferir mais palavras cruéis, e meu coração já apresentava resistência para escutá-las.
— Eu te odeio.
— Eu sei.
— Mas eu quero te beijar.
— E por que não beija? — Questionei.
— Porquê... — suspirou fundo. — Porque eu...
— Porque você...?
— Porque eu te odeio demais para fazer isso agora.
— Claro! — Voltei a ficar sentada. — Ainda prefere acreditar que eu menti?
— Com tantas possibilidades, prefiro crer que gosto de você, uma garota apreciadora de mentiras.
— O que te faz pensar assim?
— Os fatos... — soltou um breve riso.
— Mesmo com esse tipo de teoria, ainda afirma gostar de mim?
— Acho muito mais belo quando alguém assume os erros — opinou, sereno, fortalecendo a sua mão sob a minha, trocando carinho e afeto.
— Você tem razão — criei coragem para tal ação, reprovando as suas atitudes românticas. — Descanse, seu corpo está quebrado.
Sem demora, me levantei, cansada para prosseguir com a discussão.
— Essa é a chave do seu quarto... — lancei a chave do meu quarto para o maior. — Eu menti, esse quarto é seu. Fique lá, e não faça esforços, a enfermeira provavelmente cuidará do resto, ela tem algum apreço por você.
— Se sente poderosa ao mentir para um palhaço que gosta de você?
Hesitei ao responder, lábios trêmulos e indecisão fixa, demonstrada em feições complicadas, embora as emoções fossem simples.
— Existem motivos para alguém ser falacioso — desviei o olhar.
— Espero que seja o seu caso.
— Cale a boca — exalei uma emoção impactante, mordendo a boca após refutar —, com licença.
— Fique à vontade, e não esqueça, a saída fica para lá! — Apontou, debochado e irritado, semblante transparecendo seriedade.
Passei pela porta, quase tropeçando, pensamentos distantes, porém próximos da realidade. Sem observá-lo, sem despedir-me, sem lhe desejar suporte na recuperação.
.·.⌚.·.
— Por qual motivo você está séria? O bebê está chutando? — Jay Park perguntou.
— Almejo finalizar minhas tarefas, esta é a minha profissão — afirmei, não usando informalidades na comunicação. Estava anotando detalhes nos quais ele informava.
O maior riu, descontraído e tímido, balançando a cabeça, verificando o que eu havia escrito. Estava sentado na poltrona, pernas cruzadas e mãos agitadas.
— Não vou te obrigar a dizer, todavia, soube que há tempos você tinha brigado com alguém — deu de ombros.
Fiquei estupefata pela sua descoberta, para ninguém eu havia relatado.
— Lhe darei Krystal, mas você terá que contar.
— Perdão?
— Sua bebê voltará aos seus braços, caso conte o porquê dessa tristeza.
— Ah...
— Mentiras objetivas omitidas para mim geram consequências graves, e creio que você não arriscaria sua própria filha.
— E o que te garante que não estou mentindo?
— Seokjin.
— Seokjin...?
— Ele te observa constantemente — revelou — Mas prefiro ouvir de você as verdadeiras palavras.
Será que ele sabe sobre Hyojong e a chave de Namjoon?
— Garanto que a fidelidade de Seokjin é temporária.
— Talvez, aliás, ele traiu vocês e se aliou à mim — Levantou-se da mesa, caminhando lentamente até o armário, com seu ego bem alimentado. — Sei muito sobre você, Queen, sei sobre todos que aqui estão graças a traição de Seokjin.
— A vingança te desmorona enquanto líder... — comentei, sentada.
— Longe disso — Observou um quadro de fundo vermelho, repleto de fotos e com breves ligações de lãs. Indicavam algo, algo desconhecido e não descoberto. — Venha para cá — ordenou.
Ergui-me, recompondo-me à direito de respeito, postura firme, mas cabeça desconcentrada. Haviam muitos planos, muita confusão.
— Jungkook esconde o próprio passado porque te ama.
— E a tortura dele não será dada a mim? Era isso que esperava de você.
— Não...! — respondeu num movimento grosseiro, mãos fixas em meus ombros, questionando as minhas atitudes. Sentia culpa, sentia ódio. — Eu nunca vou perdoá-lo, sacrificaria até o meu amor por isso.
— Oi?
— Você não vai pagar por punições que não cometeu. Essa é a primeira regra desse local.
Engoli em seco, desfrutando da maravilhosa paisagem de ter seus olhos fixos aos meus. Contrariar, era isso que eu devia fazer.
— Regra número dois?
— Obedeça o líder acima de tudo.
— E a terceira...?!
— Nunca, nunca mesmo, nunquinha mesmo... — afirmou. — minta para o nosso conselho, quem dirá para mim.
Pensativa fiquei, essas diversas regras invadiram as minhas reflexões, e num curto espaço de tempo fiquei nervosa. Era a desconfiança.
— No que a minha vida pessoal lhe interessa?
— Minha genuinidade não é suficiente? — Pressionou ainda mais os seus dedos contra minha pele. — Me conte, antes que fique caro.
— Tão caro... — ri fraco, não me sentindo ameaçada. — Me desculpe, não trabalho com informações gratuitas.
— O que você quer?
— Eu quero... — mordi os lábios, arrumando a sua blusa — ficar com você, do seu lado.
Ele riu, desacreditado com as frases citadas, e séria fiquei, desnorteada, as emoções transmitidas pelo maior eram temíveis. Mas esta era a lei, conquistar para ter tudo conquistado. Era apenas por sobrevivência...
— Que comercialização be-...
— Benéfica? — Perguntei, na insistência de conseguir.
— Que seja, eu tenho namorada, dificilmente vou conseguir me esquivar dela.
— Apenas gostaria de conhecê-lo.
— Por que guarda interesse em mim?
— Porque essa curiosidade é mútua — respondi simplista. — Jante comigo, amanhã às 21 horas, estarei a te esperar.
— E se não comparecer? — Tentou me provocar, todavia, percebeu a tentativa falha ao observar o meu semblante.
— Ficará por um bom tempo curioso.
Espero que vocês não estejam mortos, Jungkook e Taehyung.
.·.⌚.·.
Encarei os talheres preparados na mesa, estavam impecavelmente organizados, alinhados perfeitamente como deveriam. Pouco fazia referências ao que trajava, era um vestido belo e ousado, repleto de decotes.
A campainha tocou, 15 minutos depois da hora esperada. Abri a porta, o recebendo carismática, não havia ironia ou contra vontade, apenas a objetividade acima de qualquer moral. E é claro, ele não podia estar mal vestido. Como um grande mafioso, seu terno arrumado e cabelo bagunçado mostravam o quão playboy ele podia ser.
— Posso entrar?
— Diria que não, somente pelo atraso — suspirei fundo, dando espaço para o mesmo. — Entre, a janta está pronta.
— Para alguém que estava me cantando até pouco tempo atrás... — comentou baixinho, num tom cínico para me provocar.
— Cantadas e sentimentos não são sinônimos... — fechei a porta, guiando-o para a sala de jantar.
Ela era minúscula, interligada ao quarto e à cozinha, somente a mesa coube na sala fechada e espremida.
— Sei muito bem — rebateu, avançando até o cômodo, e sentando-se na cadeira.
— Isso é bom — afirmei, sentando-me também. — Refleti muito, e decidi falar sobre uma coisa.
— Sobre o que?
— Jungkook — com o talher, peguei um pouco de macarrão.
— Somente sobre ele? — Da mesa se levantou, como quem não tivesse interesse na conversa.
— Hyojong também.
— Adeus — despediu-se, me obrigando a correr até a porta. A tranquei antes que ele alcançasse, depositando a chave dentro do sutiã.
O encarei com soberba, o orgulho acima do esperado, ele não estava armado, eu seria a única preparada.
— Como sobreviverei sem obter as informações corretas? — Interroguei-o, séria, sendo respondida com um riso irônico.
— Faça por si, não falarei sobre eles.
— Por favor...
— Não te envolverei nisso.
— O que tanto fere o seu ego para não conseguir revelar o que ambos já fizeram?!
— Hyojong é ganancioso. Caso entregue Krystal a ele, a única herdeira da fortuna de Hyuna, ele a matará. Com os dados que tenho, ele é um dos principais suspeitos do apocalipse. Tente por si mesma saber mais, eu não ligo.
— Onde encontro Hyojong?
— Eu lhe passarei os dados, preciso apenas verificar os relatórios de Seokjin. Aliás, não aguento mais ouvir vo-....
Interrompido por gritos e barulhos agressivos, alguma espécie de chacina ou massacre ocorria na área habitada. Sanguinário, assassino, a minha porta antes trancada foi arrombada, desespero mútuo, tanto de mim quanto a da pessoa que atirava.
Gatilho puxado, uma ação rápida, inesperada, Jay Park sacou sua arma, mirou para atirar, lançou a bala e...
Notas do Autor:
Capítulo compridinho com uma certa relevância. Espero que vocês tenham gostado, por mais que extenso ksksks.
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