A Herança de Ódio - XXXI
📌 Músicas da Playlist:
• Losing Grip - Avril Lavigne
• COPYCAT - Billie Eilish
...
Implorei até atingir a comoção, sentindo o acúmulo da pressão e desespero abaterem o meu físico como consequência. Não pensava, não sentia, não temia, não me desesperava, havia perdido os sentidos, não sabia se sequer respirava. Talvez fossem minhas últimas palavras até uma possível despedida, porque daquela esperança eu ainda aguardava uma resposta.
.·.⌚.·.
—🌷A·h·r·i Q·u·e·e·n🌷—
—•↪M.i.n Y.o.o.n.g.i↩•—
Mesmo o mais puro sentimento é capaz de corroer alguém, adoece-lo e levá-lo à falência, cujo óbito torna-se doloroso, completo de experiências torturantes e traumáticas. Olhar para os olhos fechados da garota deixava-me nervoso, os músculos dela sequer moviam-se para sinalizar vida, ela parecia morrer diante de meus olhos, abandonando o que tinha de mais precioso. Seu corpo desamparou-se no chão, e eu lutava para alcançar o degrau no qual ela se encontrava.
Dedilhei seu cabelo ondulado, apoiando sua nuca em minhas pernas, e no profundo silêncio, recordei-me dos últimos beijos, dos últimos toques. Seu corpo não tinha consciência, não tomava atitudes, não tinha capacidades para prosseguir. — Quem sou eu para dar suporte? — Pensei.
Repetidas vezes a pergunta me percorreu, e nenhuma solução viria à tona; continuei com a ação desesperadamente, pelo socorro, pela misericórdia; batida, batida e rebatida, esmurrava a porta, porquanto nada me atendia. Suspirei de alívio, com o coração acelerado após a breve recepção, a porta foi aberta e nos liberou espaço, após a minha passagem fora trancada de imediato.
Logo Queen estava nos braços do desprezível ser, desacordada, sendo levada para o veículo aéreo.
— Suba no helicóptero agora — Jay Park ordenou, ríspido, com a postura militar; estava pronto para aniquilar o que nos atrapalhasse. — Mais alguém sobreviveu? — Perguntou rápido, desviando seu olhar para o semblante de Queen. Ele dedilhava sua face como uma joia rara, a única preciosidade achada no caos.
— No momento apenas nós — fui direto, permitindo que levassem o corpo da Ah-ri.
— Mordida?
— Pressão psicológica; gravidez; ansiedade; agorafobia... — Comentei, guiando-me com a bem-vinda ajuda de seus colegas, adentrando no helicóptero com pressa.
Se meu toque fosse gracioso, o carinho seria mútuo e milagroso, ora lá, gostaria de ser tão sentimentalista assim; contudo, sinto que somente agora, após a perda desconhecida, meu coração explodia, como um grito voraz entalado na garganta, sem medo de despertar a quem for que acorde.
Jay Park confirmava no walkie talkie sobre os sobreviventes, e dadas as estatísticas, subiu no helicóptero com pressa, erguendo voo em horário apertado; no momento da invasão.
Os infectados estavam prontos para atacar, e em ações recíprocas, sacrificavam-se para satisfazerem os desejos egocêntricos, talvez tão sádicos que dariam calafrios na calada da noite. Algumas mãos pendiam-se na base de ferros abaixo do veículo, prendiam-se com as palmas fechadas, firmemente, e como primatas, sustentavam-se com anseio para o banquete, diferente de outros audaciosos que jogaram-se do topo do edifício para obterem o mesmo.
Aqueles que prendiam-se no helicóptero pelo contentamento de comer não obtiveram alegria, balas de aço furavam seus crânios, despertavam excitação aos olhos de quem amava massacres. Os infectados — logo verdadeiramente mortos —, caíram do céu, não saciando mais a utopia de devorar-nos. O helicóptero sobrevoou a cidade, num espetáculo catastrófico, horror em chamas do inferno, a inconfundível cidade de Seul assemelhava-se com o fim do mundo em quase inverno.
.·.⌚.·.
Numa plataforma nós pousamos, rodeada pelo mar, num gigantesco navio de carga, distante do local no qual estávamos; finalmente seguros, somente um ataque vindo das nuvens daria um fim a nova moradia.
O traidor pode estar entre nós, necessito passar urgentemente essas informações para Jay Park em particular.
Helicóptero pousado, multidão acumulada, todos olharam esperançosos, vendo a carga que o veículo carregava: eram pessoas; talvez uma fosse relevante, o resto era resto, lixo maltratado, dando o fim para as buscas dos sobreviventes. Pude escutar lamentos daqueles que esperavam entes queridos.
Trinquei os dentes, embora em situação compreensível, Ah-ri estava em péssimo estado para ser tão mal recebida.
— Com licença senhor, mas a minha netinha, a Yuri, ela não voltou? — Uma senhora de idade perguntou, delicadíssima e crente que resposta fosse devota ao que sonhava, agarrando firmemente o braço do mafioso.
Jay Park negou com a cabeça, soltando-se dos membros da senhora, chamando uma equipe técnica para acolhê-la; mas, no fundo, sua atenção não era para aquilo, e sim, para a pessoa que aguardava no veículo, pronta para ser atendida.
Não me surpreendo, ele deve guardar sentimentos semelhantes aos meus.
Um grupo de médicos a socorria, medidas rápidas e drásticas, logo, a menor estava na maca, afastando-se de mim conforme era levada.
Minha parte não deixei de cumprir, pelo contrário, na primeira brecha adentrei com o assunto, ganhando sua confiança e estabilidade no navio. Embasamento a teoria tinha, sua mente martelava as próprias decisões e acarretavam-nas como erros: o sequestro forçado; a armadilha apaixonante direcionada a Queen; a morte de Jungkook; a morte de Taehyung e tantos outros inocentes...
Ganhei suporte suficiente para sobreviver, vaga salarial para postura militar, alimentação diária e inúmeras vantagens dadas aos riscos que eu corria. Consegui ser um bom informante.
— Yoongi, está disponível? — Perguntou diretamente para mim, enquanto jantava com os novos colegas militantes.
— Claro — confirmei, abandonando o momento para a atualização do meu suposto chefe.
Nos afastamos sorrateiramente das pessoas, andando próximos à costa da plataforma extensa, observando o movimento aquático sob a luz do luar.
— Sobre o que gostaria de saber? — Ousei em perguntar.
— Oras, se não fosse sobre ela, para que conversaria? — Riu fraco e satisfeito, o que para mim, foi inconveniente — Mas não somente sobre ela, dessa vez.
— Especifique — pedi.
— Queen está próxima de realizar o parto, sendo que não está totalmente bem.
— Concordo.
— Ela me disse hoje que, caso morresse, gostaria de ver o filho em suas mãos.
— Fizemos uma promessa válida quanto a isso, no começo de tudo.
— Garanto que não irei desatar seu laço com ela, Min Yoongi — comentou. — Pelo contrário, minha atual ganância é reforçar esse laço.
— Reforçar?
— Desde que faça bem para mim e para ela, será indispensável.
— O que seria?
— Uma promessa — Jay Park desviou suas íris negras para a lua, entregando-se à beleza do céu estrelado. — Prometa-me que o filho de Queen será meu caso você morra.
Não escondi o espanto da minha face após escutá-lo, minhas sobrancelhas arqueadas foram suficientes para protestá-lo e questioná-lo de seus motivos.
— Não me encare assim, meus motivos vão além da admiração... — deu de ombros, devolvendo um sorriso frouxo — Sou entregue a esse favor desde que matei Jungkook.
— Queen deverá saber do nosso acordo — avisei-o, deixando clara a minha única exigência. — Somente isso lhe peço.
— O.k... — encarou-me de soslaio, estragando o sério às ideais marotas. — Você gosta dela, certo?
Meu corpo paralisou, as bochechas ruborizaram, as íris perdidas refletiam a tão curiosa resposta. Tomei postura rígida, pronto para negar qualquer romance.
— Indiferente — contive as emoções.
— Belo ator — comentou. — Quando fui visitá-la, agora pouco, a mesma declarou-se com tanta... Autenticidade.
— Verdade? — Questionei, atento ao que ele dizia. Droga, maldito sorriso entregador.
— Não — riu fraco, um pouco sem jeito —, mas garanto isso, ela não esconde essa admiração por você.
— Novamente, indiferente.
— Ela estará sozinha hoje, e a chave ficará no sótão.
— E?
— Faça ela feliz, suficiente para esquecer a fuga de Seokjin quanto a execução. Seja onde for, independente do local, quero vê-la bem, longe dessas encrencas de herança.
— E o que você ganha com tudo isso? Estará afastando-se de alguém que ama, estou errado?
— Estou dando a sonhada liberdade para ela, isso será suficiente?
Calei-me antes de responder, estava apto para refutar a idealização, porém, sua sinceridade foi digna de confiança, transmitia verdades com uma certeza admirável.
— Krystal virá comigo, correto?
— E por que não iria?
— Não sei, apenas estava à confirmar... — relatei, não tão espontâneo quanto de início — Caso Queen aceite, como vamos lidar com o parto dela?
— Médicos aqui não faltam — comentou, afastando-se de qualquer superfície próxima ao mar, caminhando pela plataforma.
— Hum... — confirmei, examinando a proposta.
Na sala de jogos consegui conter o que temia — a demonstração de emoções —, com o foco sério é nítido, o assunto não era distante do que discutimos; a caríssima mesa de bilhar carregada de documentos era a prova disso. Executei o que tanto queria, tendo em mente suas reais intenções, sem medo de julgá-las.
— Queen corre perigo?
— Corre. Tentei compreender a razão das perseguições dela, então levantei alguns dados sobre ela. Os pais dela vieram a óbito, assassinato foi o crime.
— Assassinato?
— O avô biológico de Queen era CEO da atual empresa de Hyojong, e seu filho primogênito, ou seja, pai da Ah-ri, era portador de autismo. Quando o senhor Kim notou as incapacidades do filho, abandonou-o num orfanato, apagando a sua hereditariedade.
Sentei-me na cadeira, curioso para compreender a intrigante história registrada no passado de Ah-ri. Por que ela nunca havia me contado?
— O avô dela teve um último filho, cujo Hyojong, irmão caçula de seu pai. Quando o senhor Kim soube que Queen, sua neta vinda de seu primogênito, nasceu neurotípica, o velho já beirava a morte, não conseguindo se redimir. Os pais dela, quando buscaram na Justiça sobre o caso, também foram assassinados. Queen sobreviveu por um ano sendo menor de idade, não sabendo o porquê da morte de seus parentes. Por ser a única herdeira da fortuna, corre um grande risco, Min, e é por isso que devemos afastá-la de Hyojong.
— Você está falando que Hyojong...
— Sim — Interrompeu-me, forte para continuar. — Pode matá-la apenas para ter segurança do poder, e garanto que não será difícil após a chacina passada. Nosso país permanece forte, todavia, repleto de ditaduras vindas de grandes empresas.
— Não duvido — opinei. — Contaremos para ela sobre esse direito?
— Não, jamais, — contrariou — isso irá instigar a curiosidade nela.
— Caso a história for mal explicada — completei. — Dê-me o direito de reportar para ela.
— Não, direito negado — apontou para a saída da porta, simplista e objetivo, com a feição furiosa — Retire-se antes que uma briga alarme os ouvidos alheios.
— Mas...
— Faça, antes que eu desista de todos os planos e deixe por assim mesmo — me manipulou através de uma ameaça.
Droga...
Apenas o obedeci, pois não havia como contrariá-lo, eu estava perdido, sem ações para tomar, enquanto um jogo armava-se contra todos, ocultando de nosso principal jogador as peças inimigas.
Ah-ri Queen... O mundo está contra você.
Notas do Autor:
Vocês tinham parado pra pensar nisso no primeiro capítulo? Que sei lá, a Ah-ri era herdeira de algo tão grandioso mesmo não sabendo?
Ah, um aviso, as quebras de tempo serão mais frequentes e necessárias.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top