A Burguesia Hereditária - XXXII
📌 Músicas da Playlist:
• I Think I'm OKAY - YUNGBLUD
• you should see me in a crown - Billie Eilish
...
Ah-ri Queen... O mundo está contra você.
Até que os segundos tornaram-se meses com o passar da recuperação, estive a pensar na garota com a mesma constância. Mesmo que eu a obrigasse, nunca deixava a menor escapar de uma refeição.
Krystal também havia crescido bastante, os dentinhos para fora, um pouco mais gordinha, bochecha puxando os olhos, o sorriso fofo estampando os lábios babados. Ela não andava, sequer tentava, engatinhava com muita eficácia, mas se cansava rápido, feito a mim.
Neste instante, praticava isso com a pequena, estimulando a resistência da menor em caminhadas. Fui interrompido, sendo chamado por uma senhora, peguei a bebê em meus braços, esperando a exclamação da notícia.
— O bebê irá nascer! — A senhora de meia-idade informou, apavorada com a sua ansiedade incontrolável.
— Queen está dando à luz agora?! — Perguntei assustado, sem reações para a notícia. Quando notei, estava de pé, andando em círculos, calculando sobre o que foi divulgado.
— Ela quer fazer o parto normal mesmo nas atuais conjunturas, e vim aqui confirmar a sua autorização.
— Minha autorização?
— Como futuro pai da criança — explicou.
— Isso influenciará na saúde dela? O parto normal.
— Não diretamente, mas... — interrompi-a.
— Se não faz mal, faça-o imediatamente — fui direto, seguindo-a. — Não contrarie o desejo dela, o remorso será maior caso ela falecer...
.·.⌚.·.
Queen estava na cama, quase pronta para realizar a operação, o oitavo mês de gestação foi deveras turbulento, e vê-la sofrendo com diversos problemas sensibilizou-me. Seguindo seus restritos desejos, sempre visitava a sua prisão — ou quarto hospitalar, seja lá como for chamado — a fim de agradá-la em momentos difíceis. Me assumi pai de alguém que não fiz, contudo, de um sujeito que sempre considerei.
Aguardava no local, aflito ao vislumbrar as suas dolorosas feições. Havia estendido minha palma para a mesma, mas duvidava da plenitude dela, estava tão esmagada que pouco sentia os dedos.
— Yoongi, está doendo — afirmou, deixando as lágrimas cessarem seu rosto. Sua testa suada comprovou o imensurável trabalho.
— Você precisa ir com tudo! — Exclamei.
— É di-difícil...
Ao apertar mais ainda a minha mão, pude notar o seu esforço, para ajudá-la, me vi na satisfação de incentivar. Um barulho foi acrescentado no cômodo, um ruído muito esperado por todos nós que estávamos presentes. Um choro estridente dá a largada após míseros segundos do fechar de olhos de Queen. Exausta estava, largara meus dedos para um sono profundo.
Encarei Ah-ri, e em seguida, observando as parteiras, confuso e desconfiado.
— Ela está cansada, deixe-a descansar — anunciou a mulher.
— Felizmente... — comentei, levando um pano limpo à testa da garota, limpando o suor. Seus lábios se movimentavam.
— É bonito? — Interrogou, fazendo alusão ao feto.
— É igual a você — opinei, mesmo não tendo total visão do bebê.
— Que engraçado — bufou, ainda com os olhos fechados.
— E quem disse que isso é um xingamento? — Rebati, vendo ela abrir as pálpebras.
— Um elogio sairia tão facilmente... da boca de Min Yoongi? — Entre o intervalo suspirou.
— Dependendo da pessoa, sairia — dei de ombros, sentando-me ao seu lado. — Qual será o nome da garota?
—•↪M.i.n Y.o.o.n.g.i↩•—
—🌷A.h.r.i Q.u.e.e.n🌷—
— O sobrenome... — bufei, questionando-me sozinha.
Devo deixar como Jeon, seu pai biológico, ou como Min, seu atual responsável?
Após tê-la em meu colo, pude vislumbrar a sua beleza, fazendo questão de ajustá-la quando me sentei. Apesar de embrulhada no tecido branco, conseguia notar as semelhanças que ela tinha com o Jungkook. Mal consegui tocá-la por medo de feri-la, de certa forma, ela era uma garota muito delicada.
Uma garotinha tão pequena...
— Não ficarei ofendido caso coloque o sobrenome Jeon. Sinta-se livre, ele é o pai bioló-... — o interrompi, trazendo as sílabas harmônicas do futuro nome da garota.
— Ah-ri Jungmin.
— Jung... Min?
— Será o nome dela.
— Você juntou dois sobrenomes para formar o nome dela?
— E o que te faz não gostar disso? — Deixei a pequena nas mãos dos responsáveis pelo parto. Agora ela teria de tomar as devidas preocupações para melhor saúde.
— Eu não discordei, apenas achei...
— Exótico — completei, voltando à postura anterior.
— Está tão cansada assim...?
— Sim, irei amamentá-la quando estiver pronta. Vou dormir agora, avise Jay sobre o procedimento.
— Pode deixar — acariciou meus fios de cabelo, causando-me desconfiança.
— O que te faz agir desse jeito? Está cansado também?
— Não oficializamos o que somos, nosso relacionamento.
— Eu gosto de você e sempre buscarei o melhor para ti.
— Mútuo.
— Suficiente para uma relação? — Continuou acariciando meus fios de cabelo, todavia, guiei sua mão para minha barriga, cruzando os dedos.
Talvez essa resposta fosse o suficiente, pelas nossas filhas, para o nosso bem.
.·.⌚.·.
—🌷A.h.r.i Q.u.e.e.n🌷—
—•↪M.i.n Y.o.o.n.g.i↩•—
Enquanto Queen descansava por um breve tempo, fui atrás de Jay Park, estabelecendo as ideias antes planejadas. Uma viagem rápida, sem necessidade de fazer as malas ou cargas. Apenas ir, com um breve kit de sobrevivência caso um acidente.
— Vamos ir hoje mesmo? — Fiz questão de perguntar novamente para ter total certeza.
— Sim, sem sombras de dúvidas — confirmou pela milésima vez. — O avião está quase pronto, necessito que dope a Queen.
— Dopar a Queen?
— Ela vai desconfiar, ficar agitada e atrapalhar o desempenho. Dope ela com isso, e a faça ter consciência do perigo dada a chegada.
— Não há efeitos colaterais?
— Confie, ela somente descansará... — arrastou os papéis da mesa até mim, num silêncio constrangedor. — Esta é a planta da fazenda e região. É totalmente seguro, somente vocês viverão lá.
— Iremos manter contato?
— Sim, em segredo, de preferência.
Confirmei com a cabeça, permanecendo a escutá-lo.
.·.⌚.·.
Era o ápice da tarde, o horário mais quente do dia, e eu andava pelos corredores, buscando o quarto usado como maternidade. Por mais precipitado que fosse, não queria vê-la sofrer por questões financeiras. Minha mente borbulhava os pensamentos, as ações incorretas para abrigar uma segurança incerta. Encarei o remédio utilizado que cometeria a consequência.
Não havia mais tempo de questionar, entrei no quarto, sem bater na porta, avistei uma cena indecifrável, sem palavras para descrevê-la. Queen acariciava Jungmin, amamentando-a delicadamente, braços envolvidos de modo confuso, ainda que protetora e cuidadosa.
Ah-ri...
— Que susto! — Rebateu.
— Desculpa — suspirei, sorrindo tonto e idiota.
— Alguma novidade?
— Tirando as broncas que levei pelo fato da senhorita não descansar.
— Estou atarefada agora!
— Então durma após a amamentação.
— Preciso observar a Krystal enquanto você finaliza as missões do Jay. Estou de licença agora.
— Então o que você acha de acalmar os ânimos e cuidar de si mesma?
— Como?
— Já bebeu água hoje?
— Não, por quê?
— Porque deveria! Vai amamentar estando desidratada?
Para o meu descontentamento, coloquei a pílula para dissolver na água, e ficando quase incolor, seria imperceptível a presença dela no líquido. Entreguei para a menor, e após ter bebido a água, a garota continuou a amamentar a criança, até que minutos depois assumisse o seu cansaço, pedindo mil perdões para mim.
— Não conseguirei cuidar de Krystal agora... — esticou seus membros exaustos para o ar, resistindo com o pouco de vontade que tinha.
— Ela está comigo, não se preocupe.
— Certeza?
— Absoluta.
.·.⌚.·.
Dadas as informações de Jay Park, até a rota de fuga estava planejada para caso um possível acidente. Queen estava dopada, com a recém-nascida em seus braços, e como uma pedra, permanecia estagnada, sem movimentos. Dentro do helicóptero entrei, ajudando o único piloto a arrumar certos artefatos. Todos os passageiros estavam lá: Queen; Krystal, Jungmin, eu...
Tudo estava certo, tudo estava pronto. A partida daquele local me causou alívio, a distância do perigo fazia-se presente, mesmo que o abrigo não fosse o mesmo, via que Queen estaria segura. Isso por um certo tempo, por quilômetros distantes, variados minutos e algumas horas, até a instabilidade do piloto, até o momento da queda, até o medo eminente, até a incerteza e o desespero frequente.
Ah-ri continuava no mais profundo sono, apenas eu e Krystal estávamos em plena consciência. Um ataque secreto, uma manipulação controladora, não havia um copiloto para a restauração do voo; sabotaram a nossa única opção, o nosso único meio de partida, a nossa salvação. Tentei manter o equilíbrio emocional, segurando firmemente ao que me prendia no veículo, não tínhamos paraquedas, não tínhamos o conceito de sustentabilidade. Iríamos cair sem parar, poderíamos morrer a qualquer instante por um simples erro, por uma simples queda.
Sem resposta, sem solução, tínhamos que escapar, apocalipse pela frente, helicóptero no chão, área destruída pelo forte impacto, meu principal dever era manter a concentração. Minha cabeça girava, meus pensamentos não arrumavam um plano, zonzo e tonto, machucado, talvez um pouco ferido, mas os infectados notaram a nossa presença, caímos em terras afastadas, contudo, ainda habitadas pelos mortos.
Lutei contra vontades impróprias, impus meu forte desejo acima das necessidades, a situação foi causada por mim, essa responsabilidade teria de assumir. Levantei-me, exausto e cansado, visão embaçada, corpo mole e insolente, movimentos pesados e incapazes; olhei para Queen, assustado com a visão que tive: sono profundo e solene, como quem fosse morto por um acidente.
Arrastei com esforço o corpo da mesma, e Krystal chorava, estridente e descontente, com hematomas consideráveis, de risco para sua idade. Com as costas no tronco da árvore, analisava a sua temperatura, ciente que caso não prestasse socorros, ela faleceria naquele instante.
Procurei por Jungmin, nascida há duas horas atrás, encontrada em estado de emergência, se não morta pelo momento, sem volta ou recuperação. Fui até a mais nova, segurando o seu corpo rente ao meu peito, sem ter o diagnóstico certo. Caminhei até a Queen, levando sua bebê ao seu colo; logo, tratando de cuidar de Krystal, que nem mesmo por um milagre pararia de lamentar. Balançava-a, tentando niná-la incontáveis vezes, nada funcionava, tudo caminhava de mal a pior.
Uma voz única e potente compôs o ambiente, uma sonoridade harmônica, porém, muito amedrontadora:
— Você mereceu.
Notas do Autor:
Que clímax, não galera? Bem no finalzinho, nem sabemos quem verdadeiramente morreu😳.
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