66 e 96 - XXVI
📌 Músicas da Playlist:
• Sunshine Of Your Love - Cream
• Killer Queen - Queen
...
— Repito — anotei o valor estimado no caderno, a observá-lo atentamente. Haja coragem para novamente afirmar — Por que você é obcecado por mim? Desculpe-me por relatar, mas, creio que com a minha barriga não sirvo para a prostituição, quem dirá para uma vingança.
— Preferes ficar presa do que somente obedecer às minhas ordens?! — A sua posição na poltrona de couro indicava poder, ele dedilhava a própria mão, refletindo na minha suposta punição.
A seriedade me afrontava mais do que qualquer sarcasmo ou magnitude, suas atitudes giravam ao objetivo de meu poder diminuir. Silêncio, simplório, mas que carregava muitas informações. A porta foi aberta, e o tenso clima se repeliu.
Yoongi no chão foi jogado, e como um cão, recebeu chutes e socos, suas feridas e hematomas faziam contraste à branca pele, e me assustavam, me prendiam, não calavam minha estúpida boca que fraquejava diante a dor.
De joelhos fiquei, a observar seus olhinhos quase dormentes, estavam inchados, entregues a maré breve que não queriam almejar às lágrimas. Acariciei seu rosto delicadamente, dedilhando suas vermelhas bochechas que queimavam à febre.
— Pare, por favor! — Pedi, segurando o pé do miliciano que tanto o agredia — Não faça isso, ele não fez nada — implorei.
Um olhar atrevido vindo do soldado, era uma resposta ameaçadora, seu pé de minhas palmas escapou, e num breve movimento chutou meu estômago. Estava próximo, próximo demais.
— Já chega — Jay Park pronunciou a ordem numa voz clara e ríspida, evitando qualquer outra ação impulsiva. — Quais foram os resultados obtidos na avaliação?
— Nunca conheci uma pessoa tão resmungona e hostil quanto ele.
— Hostil... — averiguou os machucados em uma distância considerável, ainda sentado — Pelo visto ele é confiável. Quais perguntas lhe foram direcionadas?
— Sobre a criança e esta mulher, e ele sequer hesitou, não respondeu diante das torturas.
Esses testes não me parecem confiáveis...
— Ótimo resultado. Leve-o para a enfermaria, faça um cadastro qualificativo dele.
Assim o miliciano fez.
— Qual foi o objetivo de machucá-lo? — Espumei palavras baixas. — Me diga, o que adianta nos testar sabendo que não seremos os seus escravos?!
— Eu não estou aqui para escutar resmungos. Agradecido — Jay Park apontou para a saída.
— Me perdoe, sou ignorante o suficiente para refutar o seu desejo. Como disse antes, não sou sua escrava.
— E por qual motivo faz questão de me contrariar? Lhe dou moradia, alimento, um bom emprego. O que mais necessita? — Foi sarcástico.
— Liberdade. Em nenhum momento desejei aqui ficar, você me persegue pelo teu passado, me usará como objeto para a tortura de Jungkook.
— Poderei usar, não nego essa alternativa. Estive esse tempo todo a assumir a responsabilidade dele.
— Faça com que essa obrigação se torne minha.
— Por que você é tão terrível?! — Alterou sua voz, me aterrorizando.
— Porque você é desumano... — sussurrei.
O mesmo da poltrona se levantou, insensato e impulsivo segurou o meu punho, me puxando em direção a porta. O encarei, abismada, estava sem reações para poder agir, e do lugar não me locomovi. Meu pulso ele soltou, suspirando fundo e cansado, parecia exausto para discutir.
— Só vá, deixo você dormir em um lugar confortável, mas em troca retire-se daqui.
Tombei minha cabeça, após tamanho escândalo tomou somente esta atitude. Não neguei, agora tinha acesso a um quarto confortável.
— Eles não vão acreditar na minha palavra, sou nova aqui... avise-os sobre.
— Não, não, não, não, não. Tome esta chave, fique com ela, depois suma. — Pegou uma chave qualquer em seu bolso, me entregando o mais depressa possível, sem em meu rosto olhar. — Quarto 66, 4º andar, nesse edifício.
— Ah... obrigada — agradeci, ainda sem respostas.
Avancei passos longos até a porta, encarando a chave em minhas mãos, me retirei do cômodo, ignorando Jay Park.
.·.⌚.·.
Podia xingá-lo o quanto fosse, gostaria de ter o direito de opinar, me calei, me ofereci aos seus serviços. Pelas condições de Yoongi, presumo que Jungkook se encontre morto.
Eu estava na enfermaria, aguardando os procedimentos que a médica finalizaria, talvez no estado que ele se encontrava, creio que sérias fraturas habitavam em seu corpo. A ansiedade comigo esperava, sentada numa cadeira, do lado de fora do consultório.
Em uma muleta Min Yoongi andava, ficava um pouco torto, mas sem fraturas pelo visto, seus olhos não estavam mais inchados, aparentava muita sonolência a cada passo que dava. Encarei a médica, que comigo intrigada estava.
Eu não era a culpada pelos ferimentos dele!
— Você vai ser a responsável por ele? — Perguntou diretamente para mim, me espantando de início.
— Não preciso de ajuda, já disse que passei por situações piores.
— Estou cumprindo uma lei, eu não posso desrespeitá-la, senhor Min.
— Você me parece bem teimosa, porém garanto que sou mais... — sorriu para a garota, que apenas bufou como resposta.
— Já avisei o que acontece com pacientes teimosos.
— Estou louquinho para te contrariar, isso só para vislumbrar a sua reação — provocou a mais baixa, continuando a caminhar tranquilamente, se afastando cada vez mais, como se eu fosse um fantasma.
Isso é tão... estranho e... esquisito.
— Seguindo as ordens em claro, afirmo ser a responsável por ele, não é mesmo, senhor Min? — Minha voz automaticamente engrossou, um som sério e inesperado até para mim. Eu estava sentada, fixando o olhar neles.
O sorriso de Yoongi se desmanchou, um semblante tão vazio que meu coração quebrou, partiu-me em pedaços ser unicamente digna do seu rancor.
— Não preciso da sua ajuda — Recusou a minha oferta, imóvel, sem sequer me avistar.
Continuou a caminhar, agora, sem a companhia da médica. Ela estava encarando o denso corredor, em específico, Min a andar, não dispensando o tenso clima a se formar.
— Não seja orgulhoso, estou aqui para retribuir favores — do banco me levantei, alto a pronunciar.
— Já disse e repito, não preciso da sua ajuda — insistente continuou.
— Por que? O que te fiz para tanto me ignorar? Estou sentada aqui há quase cinco horas.
— Desnecessário.
— Eu não sei onde está Krystal, sequer sei se Jungkook está vivo — revelei, sem um músculo movimentar. — Se eu fiz algo que te magoou, entenda que fui forçada.
— Você teve a oportunidade de evitar.
— Eu não quero discutir com você — mordi meus lábios, nervosa e perdida nas frases.
— Então por que insiste tanto em forçar?!
— Porque sou uma egocêntrica que te ama.
— Uma pessoa que ama preza pelo bem da outra.
— É o que te quero oferecer, mesmo que você negue — semicerrei os punhos. — Me escute, do contrário não me aceite, apenas vá embora, se a mim não ouve, não será digno do que eu sinto.
Um silêncio amedrontador preenchia o corredor, eu respinguei suor por respondê-lo tão fervorosamente.
— Conte, relate, explore ficções, use sua imaginação para reconquistar a minha confiança — após suspirar fundo ao que era vago, voltou a andar com a muleta.
— Duvide de mim, me odeie, faça o que quiser, contudo, eu vou cuidar de você! — Meu tom rasgou minha garganta, não pela fúria, mas pela certeza do que realizaria.
Um riso tão baixo e bobo acelerou meu coração, e a dúvida me partia, não tinha coragem de forçá-lo, todavia, queria cuidar para ter a garantia.
— Meu quarto é o 66, no 4º andar. Me ligue caso necessário, eu te busco.
— E o que te faz ter tanta certeza que lá estarei?
— Eu te amo.
Após ouvir isto, ele recuou, processou o que eu havia dito em palavras singelas, evitando qualquer tipo de intimidade. No fundo ele entendeu, soube que eu estava a fim de apoiá-lo, pelas promessas já feitas entre nós.
.·.⌚.·.
Muito esperei no quarto 66, que lotado de fotos do ilustre mafioso estava, quadros, medalhas, troféus, almofadas, lençóis, e seus antigos pertences. Até a maldita iluminação era semelhante a um motel.
Arrumei a cama, preparando dois travesseiros caso a vinda de Yoongi, a televisão permanecia ligada, enquanto limpava um pouco da sujeira que foi deixada. Tudo parecia pronto, perfeito até a sua chegada, que parecia uma eternidade quando o relógio observava.
Um cochilo breve dei, sentada na cadeira, o tempo inteiro esperando. Nada dele, nada de ninguém. Foi quando a campainha tocou que despertei do pesadelo. Me levantei, pronta para atendê-lo, esperança batendo a mil, coração acelerado. Ele ficou decepcionado.
— O que você faz aqui? — O traficante perguntou, me deixando aflita pelo nosso encontro.
— Estou no quarto cuja chave você me deu.
— Lhe dei a do quarto 66, neste andar.
— Não se trata desse estabelecimento? — Apontei para a chave, logo avistando o número.
Jay Park tornou o número 66 em 96 ao virar o primeiro número do indicador para baixo.
— Quarto 96, 4º andar. Acho que algum adolescente caçoou com você por ser novata. Por coincidência minha porta estava aberta, sempre acontece — comentou, me deixando ao ápice da fúria.
Me retirei de seu quarto, como se nada tivesse ocorrido. Uma coincidência proposital para com Yoongi não me encontrar.
— Onde está o quarto de Min Yoongi? — Séria perguntei ao Jay Park, no corredor com outros quartos.
— Sei lá, vou eu saber onde esse rapaz se encontra.
Minha vontade foi de xingá-lo, atormentá-lo e persegui-lo até obter uma resposta congruente, todavia, não adiantava, ele não me revelaria. Recebi a chave correta e aceitei a resposta, confirmando com a cabeça, me retirando do lugar mesmo após as desavenças. Como poderia achá-lo entre os quartos? O quão furioso estaria apenas por um engano qualquer?
Correr, buscar, cansar. Tudo para mim parecia ser merecedor de Min Yoongi. Tudo estava jogado no ralo, não sabia em qual quarto ele estava, e após tantas insistências ao bater de porta em porta, me contentei com xingamentos e palavrões que recebia.
.·.⌚.·.
Voltei para a enfermaria, sem saber o que esperar, iria aguardá-lo ali, talvez ele voltasse durante a manhã para verificar os ferimentos. Apenas sentada ficaria, já que minha esperança dificilmente largaria.
Sentado o encontrei, encolhido numa manta azulada, outras diversas blusas também o esquentavam. Estava frio, não negava, mas ao lembrar de sua febre fiquei apavorada.
Avancei até ele, que pregava o sono como uma pedra, retirei sua mantinha, a enrolando sob meu corpo, levei minha mão em sua testa, sua temperatura verificando.
— Por que até em meus sonhos você me infortuna? — Segurou minha palma, de olhos fechados comentando.
Notas Do Autor:
O romance entre eles um dia vai começar a engrenar minha gente. Tô começando a ficar carente com esses aí🥺
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