Bem-vinda
O som de pele rasgando, do sangue escorrendo pelo corpo, pela ferida, pela minha boca. O meu corpo arrepiando com cada dentada deliciosa.
É melhor coisa do mundo.
É como se nunca tivesse sentido felicidade na minha vida, como se ainda não tivesse existido, e agora, nasci.
Quando acordo sinto que estive num sono sem sonhos que durou meses. Os meus músculos doem muito, muito mesmo. Cada movimento dói.
Estou no meu quarto, está sol lá fora e consigo ouvir os pássaros cantando.
Não morri, estou em minha casa, o que aconteceu?
"Você vai colapsar."
"É normal. Só se deixa levar e eu trato de você, ok?"
Me lembro das terríveis dores que tive, veio de repente, quando parei de comer. A garganta fechou e, aos poucos cada membro do meu corpo foi desligando. Não aguentei e acabei por desmaiar. O Arius cuidou de mim? Trouxe-me para aqui?
Foi isto que aconteceu com o Bo? Ele sentiu isto? Um miúdo de seis aninhos sentiu estas dores horríveis?
Por que mesmo depois de sentir que queria morrer com todas as dores, sinto que valeu a pena porque provei carne?
Agora entendo, eu não me controlei, uma adulta, como um garoto pequeno deveria ter autocontrole?
Eu não queria parar, mesmo que me encontrassem, mesmo que me ouvissem eu sabia que não ia sair dali, só se me matassem. Eu ignorei o instinto de sobrevivência para ficar com aquele corpo, para comer.
Agora entendo o desejo, a vontade selvagem, nunca me tinha sentido assim.
Quero mais, quero sentir-me assim mais vezes.
Quero mais... carne humana?
Meu deus, o que estou dizendo? Uma pessoa morreu e eu me aproveitei do seu corpo, eu cravei os dentes nele, num garoto assustado que foi morto brutalmente só para ser encontrado por um monstro.
Isso quer dizer que eu sou esse monstro.
Que sou como eles. Que posso fazer o que eles fazem. Mas, como é isso possível? Como posso ser um deles? Eu nunca tive nenhum sinal que podia ser, e o Arius disse que tinham que comer, que isso afetava o crescimento deles, para isso eu precisava de ter comido este tempo todo. Fi-lo sem saber? Não é possível.
As perguntas amontoam-se numa montanha, todas elas são dirigidas a Arius.
Preciso de o encontrar.
Um barulho lá fora me faz voltar á realidade, poderá ser o Arius, ou o Bo, ou talvez a Heli, ou um desconhecido.
O nome deixa-me assustada, onde está a Heli? Eu não consegui encontrá-la naquela floresta.
Tenho que saber, o meu coração não aguentará uma tragédia. Quanto tempo passou? Onde está ela?
Com muito esforço levanto-me da cama e fico irritada por não ter aqui ninguém para me ajudar. Cada passo magoa o corpo inteiro.
Quando levanto a mão para abrir a porta é que vejo a minha pele roxa, tenho uma mancha enorme do pulso até ao antebraço. Exatamente como o Bo tinha, estava com as manchas roxas, como se tivesse lutado com alguém.
Quando saio do quarto para a cozinha sinto imediatamente a diferença de temperatura. O cheiro a produtos de limpeza irrita-me o nariz, e o chão molhado deixa-me os pés frios. O sofá-cama está aberto e o Bo está deitado, vendo televisão.
E à minha frente, está ele.
Com um pé na cadeira que sustenta o seu peso e outro no móvel, está com um pano na mão e o spray para móveis no outro, tentando chegar às partes mais altas dos armários da cozinha. Vejo que tem uma panela grande ao lume, e quando paro de sentir o cheiro a limão do spray, percebo que está fazendo sopa. Espalhadas pela sala estão caixas castanhas fechadas.
— Ela acordou! — O Bo grita quando me vê, levanta-se num pulo e corre até mim, me pegando no ar para me abraçar. As dores que o seu toque me proporciona são enormes. — Finalmente!
O Arius balança na cadeira com o susto do seu grito e desce para chegar a mim.
— A Heli? Ela está bem? — Cuspo as perguntas de uma vez, me dirigindo ao Arius, preocupada.
— Calma, ela está bem. Eu a tirei de lá. — Informa, pondo as mãos nos meus ombros.
— Você a tirou de lá? — Sinto as lágrimas a quererem sair, mais uma vez ele se arrisca para me salvar e aos meus. Ele disse que resolveria isto e eu não acreditei, podia ter prevenido tanto.
— Ela estava um pouco assustada no início, mas já está bem. — No início? Quanto tempo passou? — Ela está trabalhando. Eu fui levá-la e vou buscá-la daqui a pouco. Não se preocupe. — E a preocupação fugiu, é esse o poder que ele tem, o rapaz que vê medo me deixa sem medo algum. Como ele consegue sempre me proteger, me fazer sentir segura?
Porque não aguento o meu coração apertado, enlaço os braços no seu pescoço, estou demasiado emocional.
Não sei se porque acordei agora ou se porque o meu corpo está doendo ou se passei por demasiado e ainda não lidei com isso, só sei que o quero por perto, que quero agradecer, que quero chorar por todos estarem bem. Ele corresponde ao meu abraço, me apertando contra si, e ainda que o meu corpo doa tento ignorar ao máximo, porque sabe tão bem ser reconfortada neste momento, ter alguém que cuide de mim é a melhor bênção deste mundo.
A vontade de me afastar é mínima, e quando o faço acho que ele também não se quer separar de mim.
— Quanto tempo estive a dormir?
— Uns dois dias. — O Arius responde, acho que está escondendo um sorriso. Não sei se está assim pelo abraço se porque me está vendo bem. — É normal, ainda está curando. — Eles me empurram até me sentar na cama da sala onde o Bo estava. — Você precisa de descansar, e tratar desses hematomas. — Ele se levanta e passado uns segundos volta com uma pomada. — Deita.
O Bo deita-se ao meu lado, voltando a sua atenção para os bonecos que passam na televisão. E eu obedeço ao Arius que, concentrado com a sua tarefa, se senta ao meu lado na cama para poder tratar de mim. Ele dobra-me a perna e sobe-me as calças, revelando o meu joelho pisado, ele sabia dessa marca, é ele que tem tratado disso?
— Barriga. — Ele pega na minha mão e coloca alguma pomada. Quando subo a camisola vejo uma pisadura enorme perto do umbigo que sobe até as costelas. A pomada branca é muito espessa e cobre a mancha por completo, está fria, mas sinto um alívio imediato.
Por último ele sobe-me a manga e passa a pomada pelo sítio onde já tinha notado na marca roxa. Ele parece tão alerta, tão concentrado em tudo o que faz, mas a sua aparência deixa a desejar. Está com umas olheiras enormes, parece tão cansado, passa o tempo todo a suspirar. Será que tem comido? Porque não parece que tem dormido.
— Não vão dizer nada sobre eu ser como vocês? — As palavras voam-me da boca, é a minha maior curiosidade. Ficaram surpresos, o Arius pareciam chocado quando me viu comendo, não estava esperando.
— Eu já sabia. — O Bo constata ao meu lado, sem desviar a atenção da tela. — Já te sinto desde pequeno.
— Por isso você disse que me sentiu naquele dia? — Ele abana a cabeça. Era isso que ele queria dizer? Eu não poderia ter adivinhado, mas ele sabia, e ainda era tão pequeno.
— Bem-vinda à família.— O Bo diz com uma risada adorável, depois me abraça de lado.
O Arius desaparece por uns minutos, para depois nos obrigar a sentar, colocar um tabuleiro em cima de cada um e nos dar a sopa que fez. Parecemos duas crianças sendo alimentadas.
— O que me aconteceu, foi o mesmo que aconteceu com o Bo? — Eles assintem com a cabeça, confirmando. — Isso quer dizer que envelheci?
— Depende da idade, ele ainda estava em crescimento, então saltou essa fase. A partir dos 20 anos é mais difícil ter uma mudança tão drástica. Em pequenos eles têm que controlar o que comem, é muito importante.
— Você está igual. — O Bo reforça com um sorriso triste. Será que ele sente falta de ser pequeno? E de ser tratado como tal? Ou já se habituou a ser grande?
— Vocês querem vir comigo? — O Arius pergunta uma hora depois. Ficamos deitados na cama olhando para a televisão, mas apenas o Bo passou pelas brasas. O Arius, sentado numa cadeira tem a cabeça quase a tombar para a frente, com o sono, mas cada vez vai para adormecer acorda com o peso da cabeça. Deve estar exausto, o que tem acontecido esses dias? Eu sinto o meu corpo completamente cansado, mas não consigo fechar os olhos, deve ser porque dormi durante tanto tempo.
Ele quer ir buscar a Heli connosco, como se não quisesse nos deixar sozinhos aqui em casa. Acho que o faz pela nossa segurança e não porque nos quer como companhia. Será que é por isso que ele parece tão esgotado? Tem medo de que nos persigam ou façam mal? Preciso de conversar com ele sobre isso quando estivermos sozinhos.
A Heli fica radiante quando me vê, de banho tomado e com roupas limpas que cobrem as minhas manchas, pareço a pessoa mais saudável dentro deste carro. Ela abraça-me com força quando me vê e noto que tenta não chorar. Coitada, deve ter ficado tão assustada quando me viu naquele estado, eu me lembro como fiquei quando vi assim o Bo, tão roxo e murcho, sem vida.
Isso quer dizer que ela sabe que eu sou como eles? Ela foi capturada por pessoas assim, e não tem medo de nós?
Outra conversa para ter.
A noite chega rápido demais, a Heli sobe depois do jantar, e estranhamente não pergunta absolutamente nada sobre o que lhe aconteceu, acho que só quer ter essa conversa quando estivermos sozinhas, assim como eu. Vou arranjar um tempo para que possamos falar sem os irmãos por perto.
Por enquanto vai ser difícil, eles estão em minha casa e não parecem ter ideias de me deixar.
— Há quanto tempo não dorme? — Pergunto enquanto o Arius aconchega o Bo nas suas cobertas. Ele insistiu em dormir com umas das suas carruagens do conjunto que a Heli deu. Não obtenho resposta, não deve dormir desde o que aconteceu. — Tem medo que o Kaydon venha, por me proteger. É isso? — Os seus olhos caem nos meus, é exatamente isso. Está com medo. Também deve ser por isso que trouxe as caixas de casa dele e está passando aqui o tempo. — Ele mostrou que queria te apanhar?
O Arius se senta na cadeira em frente a mim, e eu me sento na cama, esperando uma resposta honesta vindo dele. Neste momento só preciso de sinceridade, e ele parece estar a ter dificuldade nesse departamento.
— Já não temos onde viver, Lace. — Confessa, sem olhar para mim. — Por isso ficamos aqui.
— Não tem problema em ficar aqui, depois do que fez por mim, é o mínimo. Mas...
— Ele queimou a nossa casa. — Ele interrompe a minha pergunta, respondendo. — Já suspeitava que fizesse alguma coisa assim. Peguei no que pude.
Tudo isto porque me protegeu, era suposto ele ficar parado enquanto o Sin me perseguia? Devia ter me deixado morrer?
— Lamento pelo que aconteceu, mas podem ficar aqui enquanto procuram um sítio. — Ele parece realmente abatido. E eu não posso evitar sentir que tudo isto é por minha causa, porque é.
Ele estaria descansado se nunca me tivesse conhecido, não teria que lhe fazer frente, não teria que me salvar todas as vezes. Se não existisse o Bo e ele não teriam problemas, ainda teriam a sua casa intacta.
Não tenho coragem de lhe pedir desculpa, mesmo que me sinta a pior pessoa deste mundo. Será que ele me culpa? Será que guarda rancor do que aconteceu?
— Pode dormir, eu fico de guarda. — Aviso, e ele me olha confuso. — Dá para ver que não dorme há dias, Arius. E eu dormi muito tempo, não estou cansada, pode descansar e eu aviso se achar algo suspeito. — Esperava que ele recusasse mal eu mencionasse o deixá-lo dormir, mas ele fica parado, pensando. Deve estar mesmo cansado, para ponderar me deixar de guarda. — Deita.
Pego-lhe nas mãos e levanto-o da cadeira, deixo que ele se deite e cubro-o. Ele já fez demasiado, está na altura de fazer alguma coisa.
— Me acorda se ouvir alguma coisa. Por muito pequena que seja! — Bato continência e me deito na cadeira para poder ver televisão, não tenho muito sono, consigo ficar atenta ao meu redor por umas horas.
A sua respiração fica alta depois de uns minutos, adormece rapidamente, isso só prova a sua condição. Estes dias devem ter sido como tortura para ele, cuidando de uma criança num corpo de um adulto, se sentindo responsável por uma garota que não acorda e da sua amiga que pode estar em perigo, e por cima de tudo isso, alguém lhe destruiu a casa.
Eu estaria tão triste, revoltada com a vida, irritada com tudo, se estivesse na sua pele.
Nem imagino perder tudo, chegar um dia e ver a minha casa reduzida a cinzas. Ele foi esperto esperando este comportamento do Kaydon, ainda bem que trouxe alguns dos seus pertences para aqui, podia ter perdido literalmente tudo.
Como alguém pode ser tão maldoso, atacando a casa de alguém?
E agora ele está preocupado que ele faça a mesma coisa com a minha casa, que tente me magoar, e nem consegue dormir por causa disso.
Tento pensar numa solução, em algo que possa ajudar, mas não sei o que fazer. Devíamos sair daqui, arranjar outro sítio onde viver, mas eu não sei se conseguia pagar uma renda noutro sítio, e não conseguia deixar a Heli e a avó dela, elas também podem estar em perigo.
Mas não podemos ficar de guarda para sempre.
Umas horas depois já sinto os olhos pesarem, pensava que ia aguentar por ter dormido por dias, mas a verdade é que o meu corpo se sente esgotado e as dores das pisaduras me incomodam cada vez que me movo.
Aproximo-me lentamente da cama onde os dois garotos dormem, o Arius encolhido como uma bolinha e o Bo espalhado pela cama, ressonando de boca aberta. Sento-me na beira da cama e deixo-me cair para o lado, assim posso ficar deitada, para o corpo relaxar um pouco, mas não posso fechar os olhos.
— Pode dormir, eu fico com o resto da noite. — A voz diz atrás de mim, estou de costas para ele, como sabe que estou com sono?
— Só queria deitar o corpo, ainda me dói. Dorme. — Espero uma resposta salgada, em vez disso, sinto o seu braço passar por cima de mim e me puxar. Ajeito-me para tocar no seu peito com as costas, ele está me agarrando?
Sinto a sua respiração no meu pescoço e me arrepio por completo, nunca estive tão perto dele, nunca estivemos tão íntimos como agora. O meu coração dispara, só sei que tenho o corpo quente e a garganta seca e não sei o que fazer.
— Lace. — Outro arrepio desce-me pela espinha, está tão perto do meu ouvido. Ele chama por mim, e pressiona na minha barriga para que me vire para ele, fico virada para cima, e a sua mão continua por cima de mim, me agarrando a cintura. Quando olho para o lado, para ele, o coração quase que me salta do peito. Os nossos rostos estão próximos, ele está sério, me congelando com os seus olhos azuis-claros. — Você o matou?
A pergunta não é uma surpresa, estava à espera dela desde que acordei, que alguém falasse do que fiz. A Heli ainda não teve coragem de falar comigo sobre o que me aconteceu, o Bo acha normal porque sabe que somos iguais, mas ninguém me viu naquele momento de fraqueza, no momento em que me alimentei pela primeira vez, no momento em que virei um monstro.
Por muito que tenha gostado, porque não o posso negar, foi dos melhores momentos da minha vida, tenho que tomar consciência e ver o que fiz. Porque não foi algo normal, como o meu cérebro pensa, foi uma barbaridade, uma coisa assustadora.
Alguém morreu.
— Alguém o feriu, ele conseguiu fugir, mas não aguentou os ferimentos. Ele morreu à minha frente, cuspindo sangue e com as costas cortadas.
— Você provou o sangue não foi? — Ele sussurra, acho que não quer que o Bo acorde e ouça. Eu abano com a cabeça, confirmando, foi isso que me deixou na loucura. Só de pensar naquele sabor tão doce e quente fico completamente arrepiada e ansiosa. — Eu já estava convencido que você era humana, depois te ver assim foi...
— Porque estava convencido?
— Porque ele te testou, no jantar. Você comeu e não teve reação.— Eu sabia que tinha algum plano em me fazer comer, ele também suspeitava, por isso me fez comer a carne para ver se tinha a mesma reação que o Arius. Aquela mancha que apareceu, aquela veia vermelha nos seus olhos, quando nada me aconteceu ele presumiu que fosse humana e me jogou para a floresta com os outros humanos, para ser morta. Me jogou para a minha morte, passei a ser dispensável. — Então quando ele soube que te tirei de lá, ficou possesso. Me envolver com uma humana, em vez de a usar como isco? Inaceitável.— Ele rola os olhos, claramente achando que a maneira de pensar do Kaydon é ridícula. É isso que ele pensa? Que eles não devem estar com humanos? Como se fossem inferiores, como se só servissem para ser mortos. — Também não percebo como pode ser como nós e não precisar de comer. A princípio pensei que fosse o seu pai, podia te alimentar sem você saber, como o Kaydon, mas você disse que não falava com ele há anos. — Ele tem as mesmas dúvidas que eu, se eles precisam de comer como eu não preciso? — Talvez seja esse o seu dom, conseguir se abster durante muito tempo.
— Você vai me ensinar a fazer o que você faz?
— Posso te ensinar tudo. — Começo a sentir as batidas do meu coração nas têmporas quando ele sorri, aquele sorriso tão querido que lhe ilumina o rosto. Parece tão brilhante, como se fosse uma pessoa completamente diferente. Ninguém aguentaria se o vissem sorrir, os garotos ficariam com inveja e as garotas cairiam de amores por ele. — Tenho muito tempo, agora que estou desempregado. — Ele se ri, mas não parece achar a mínima graça, está frustrado.
— Desempregado?
— Trabalhava para o Kaydon. Agora que estou fora do grupo, vou ter que arranjar outra solução.— Outra coisa que não sabia, o que fazia? Trabalhava no restaurante ou algo relacionado com o seu grupo?
— Vai me ensinar a fazer aquela coisa? — Decido não falar nisso porque já percebi que o magoa, acho que se perguntasse ele não diria, então resolvo mudar o assunto para o fazer rir. Levanto a mão e mexo os dedos, a mesma coisa que ele fez quando o osso lhe saiu da pele. Ele percebe imediatamente o que quero dizer, e ri. Está muito mais animado que há umas horas atrás.
— Vou te ensinar tudo o que um Bruisan precisa de saber.
— Um Bruisan? — Ele se aproxima ainda mais, levanta as sobrancelhas e sorri, entusiasmado. Depois diz com uma voz falsa que me devia assustar:
É o que você é.
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