VII. The pink bra
⊱♥⊰
O calor do sol em minha pele em contraste com a brisa fresca que agitava de leve meus fios de cabelo me impedia de sair da cama. Viro para os lados algumas vezes, agarrada ao travesseiro, estranhamente inebriada. Talvez tenha trocado os lençóis ontem à noite, porque essa cama cheira tão bem. Familiar e ao mesmo tempo me arrancando suspiros se permanecesse tão perto por muito tempo. Aliso a coberta e faço careta ao tatear alguns farelos de bolacha. Isso não era possível, jamais comeria em meu quarto.
Arregalo os olhos na hora, interrompendo meu transe.
Imediatamente noto que não estou em meu quarto. Olho em volta tentando reconhecer o ambiente, que assim como a maioria dos quartos, não era decorado. Apesar disso, alguns detalhes são impossíveis de serem deixados de lado, como a gaveta entreaberta gritando para ser explorada. Levanto em passos leves e a abro angustiada, me sentindo aliviada ao constatar que eram roupas do meu pai. A sensação não dura muito tempo, já que logo as reconheço como as peças da noite anterior, as que deixei com Sebastian.
Não, não pode ser. Não existe cabimento para os pensamentos que surgem à medida em que processo as informações que recebi. Deve haver algum erro ou...
— CÉUS! — grito quando uma cueca preta jogada no chão capta minha atenção. É isso, para mim deu, é meu fim.
Tento seguir até meu quarto o mais rápido que posso, quando no meio do caminho percebo estar sem sutiã. Choramingo e retorno de onde vim, contrariada. A porta ainda está aberta, facilitando com que rapidamente interceptasse a peça ao lado da cama. Respiro fundo e assim que o corredor está livre, início minha fuga. Me pergunto se atirar-me ao mar seria drástico demais quando encontro com quem menos esperava.
— Se você disser uma palavra... — em um tom ameaçador, aponto o dedo em sua direção, mas esqueço de tomar nota de meu sutiã em mãos, que ainda pendia no ar.
Assisto seus olhos desviarem dos meus para o gritante tecido rosa, que logo escondo atrás das costas. Minha maior sorte foi que nenhum comentário acerca do outro objeto que carregava foi proferido, este sim, me dei ao trabalho de esconder.
— Eu só queria ter certeza que você estava bem depois de ontem. Você já tinha dormido, mas eu voltei e deixei um baldinho ao lado da cama, espero que não tenha precisado usar — ele sorri de canto, parecendo nervoso. — Ah, claro! Entrei com os olhos fechados, não se preocupe.
— Não tenho tempo pra isso agora. — e então, sem segundos avisos, finalmente rumo até meu próprio quarto.
Mas eu ainda não encontraria a paz.
— Sabrina! Que bom que te encontrei, nós estávamos pensando em dar um mergulho no mar. Sabe, pra tirar a ressaca — Louise ri consigo mesma. — Por que ainda está com a roupa de ontem? Não me diga que você e o Nick... — a garota sorri, dando-me uma cotovelada de leve.
— Não! Eu só... estava cansada demais. — dou uma desculpa esfarrapada, mas que não é totalmente mentira. Eu estava, de fato, cansada demais, por isso aceitei dormir no quarto de Sebastian e estou nessa confusão agora.
— Ah, sim, claro — minha amiga ri, como quem não acredita em minha história. — Só toma um banho e encontra com a gente, ok?
Concordo em um sorriso amarelo e continuo em direção aos meus aposentos, dessa vez, sem interrupções.
— Louise, eu disse que já vou! — grito ao som de passos se aproximando de minha porta aberta. Termino de amarrar os cordões do biquíni e me volto a ela.
— Eu vim... entregar seus sapatos — para minha surpresa, quem estava parado no batente com a expressão mortificada era Sebastian. Por que esse garoto insiste em me perseguir? — Desculpa, a porta estava aberta, pensei que...
— Tanto faz — caminho até ele, carregando a correntinha dourada que pretendia usar. — Você já invadiu mesmo, pode me ajudar com isso? — o entrego a joia, puxando o cabelo para o lado e ficando de costas.
Seus dedos quentes em meu pescoço me causam arrepios. Mordo o lábio e fecho os olhos com força, me controlando para não cometer besteiras. Era um ato tão inocente, mas que de alguma forma mexeu comigo. Talvez eu estivesse no período fértil.
— Pronto. Muito linda... digo, lindo, seu colar. — ele se enrola para falar, com o rosto virado permanentemente para o lado assim que termina. — Mais alguma coisa?
Sorrio com sua timidez.
— Você pode olhar, é só um biquíni. Seria um desperdício não apreciar um tecido tão bonito. — ainda assim, o garoto permanecia encarando a parede.
Seguro seu queixo e direciono seu rosto para frente. Seus olhos estavam grandes e com um brilho diferente, lábios levemente entreabertos. Me sinto louca por desejá-lo, não sabia se realmente queria o beijar ou se apenas gostava da forma com que tentava manter os olhos longe de mim.
— Olhe para mim.
Por um breve momento, sinto seus olhos percorrerem meu corpo para então pararem em meu rosto, encarando minha íris. Aposto que minhas pupilas estavam quase tão grandes quanto as suas. Há uma espécie de doçura na forma com que me olha, como se eu fosse seu maior objeto de desejo e também a quem deveria proteger, inclusive de si mesmo.
Entrei nessa para ganhar de Melina, e sinto que as coisas estão escalando, mas era exatamente esse o objetivo. Sendo assim, não seria errado apenas me divertir um pouco. Certo?
— Por que faz esse tipo de coisa? — agora mais vermelho que o esmalte em minhas unhas, aparenta aflito enquanto comprime os lábios.
— Não estou fazendo nada. Por que? Está se sentindo tentado?
— Divirta-se com seus amigos — desviando de meus comentários, o mesmo deposita os sapatos que carregava em um canto qualquer e segue até a saída rapidamente, segurando a maçaneta. — Não deveria deixar isso aberto.
— Certo, papai. — rio em ironia. Talvez a escolha de palavras não tenha sido a mais correta, mas nada melhor para descrever seu repentino protecionismo. Afinal, ele também olhou.
— Espera... aquele é meu travesseiro? — antes de fechar completamente a porta, ele aponta.
— NÃO! — corro até a saída e termino de fechá-la.
Mal percebo, mas assim que Sebastian se afasta, noto quão acelerado estava meu coração, mas associo o sintoma ao embrulho no estômago que também se fez presente, me obrigando a ir até o banheiro. Não saberia dizer se o pior são os enjoos ou o fato de que lembro apenas pequenos flashs da noite passada. Minha memória mais distante e concreta era apenas a de acordar nos lençóis mais cheirosos que já me deitei. Preciso perguntar a ele qual a marca de seu perfume para indicar ao meu próximo namorado. O quê? Não, esqueça isso.
...
O resto da semana permaneceu sem grandes acontecimentos, e logo completaríamos nossa primeira semana aqui. Estava animada já que nossa próxima parada incluía uma reserva em um restaurante com 3 estrelas Michelin que meu irmão havia indicado. Geralmente odeio os lugares que se aplicam a esse quadrante, meu pior pesadelo seria desperdiçar calorias em comida esteticamente agradável mas ruim. Apesar disso, as fotos ficarão magníficas, não tenho do que reclamar.
E claro, a situação Nicholas-Melina também continua igual. Não me importo o suficiente com os dois para ter alguma ação definitiva sobre isso, mas não posso negar que sempre penso em empurrá-los ao mar em dias de tempestade. Mas os deixarei aproveitar suas últimas férias em minha presença antes de tê-los deportados. Por ora, os farei sofrer silenciosamente de uma forma que não poderão fugir.
— Melzinha, seria um incômodo muito grande separar as coleções passadas que ainda estão no fundo do armário? — peço gentilmente a ela. — Soube que estava precisando de roupas, posso até te fazer uma doação. — sorrio docemente.
— Claro. — percebo a garota contorcer-se internamente ao caminhar até meu guarda-roupa enquanto permaneço deitada em minha cama. Todos sabem que sua família está indo à falência, estou praticamente fazendo um favor a ela, sem mim essa traidora não seria ninguém, é bom que ela se lembre disso de vez em quando.
Enquanto deixo-a fazendo o trabalho pesado, passeio pelo iate com um objetivo em mente e sorrio ao avistar meu próximo alvo.
— Nick! Você não sabe! Noite passada vi uma aranha gigante entrar nas minhas gavetas, fiquei com tanto medo — me agarro ao seu braço. — Poderia procurar ela por mim? Por favor... — faço movimentos circulares em sua mão, para então sussurrar em seu ouvido. — Prometo te recompensar bem.
Seu sorriso é quase tão grande quanto o meu ao perceber que meu plano estava dando certo. Dou um beijinho em sua bochecha e deixo com que siga caminho até seu destino.
Seria uma oportunidade e tanto aos pombinhos, já que mencionei à Melina que estaria na piscina pelo resto da tarde, isso lhes daria tempo. Deixei camisinhas propositalmente à mostra nas tais gavetas, em locais estratégicos. O que não sabem é que me dei ao trabalho de furar uma a uma. Divirta-se sendo uma mãe solteira e ficando flácida, vadia.
Nicholas, você é o próximo.
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