VI. Pool parties suck

⊱♥⊰

Andar por aqueles corredores era o equivalente a uma pista de atletismo. Se pendesse muito para a esquerda, poderia cair no mar, mas também não poderia me sentir seguro demais à direita, já que esbarraria em alguns jovens mal encarados que aguardavam na fila no banheiro. Comparado à possibilidade de jamais trabalhar novamente ou de sair do iate direto para uma audiência, um banho noturno não seria nada mal.

A movimentação em volta da piscina estava começando a esvair, mas assim que me aproximo e sinto a água infiltrar em meu tênis, meu entusiasmo logo some também. Olho com tristeza para todos os copos sem proteção na borda e penso que mais tarde quem limparia tudo aquilo seria eu, já que recentemente fui nomeado como o chefe da equipe de limpeza da piscina, apesar de eu ser o único funcionário nesse time. Sabrina pensou que uma hierarquia mais alta me manteria mais motivado, mas o salário é o mesmo.

— Joshy! Se divertindo? — mal tive tempo para retroceder, já que a garota estranha de ontem me intercepta na saída. Melina talvez? — Pode relaxar e esquecer que você é um empregado hoje!

— Bom, essa não era exatamente minha preocupação... — coço a nuca e olho para os lados, levemente constrangido. Não acho que ela perceba as coisas que fala.

— Vamos, acho que uma hidromassagem deixaria você melhor. — ela sorri sugestiva.

— Obrigado pelo convite, mas não quero me molhar hoje.

Sa proposta fosse feita pouco antes da festa começar — e se Melina não estivesse envolvida — teria aceitado, mas agora seria arriscado demais me aventurar pelos fluidos desconhecidos e salgadinhos boiando na água.

— Ah, você não vai fazer essa desfeita comigo né, Joshy? — ela segura meu braço e faz um biquinho, mas ao perceber que eu não cederia, seu rosto assume uma expressão amargurada. — Meninos! Meu amigo aqui tá afim de um mergulho.

Mal pude reagir à seu pedido, já que logo uma boia infantil é depositada em minha cabeça à força e sou empurrado para a área mais profunda da piscina. Na queda, acidentalmente atingi meu nariz em seu entorno, o que deixou a brincadeira amigável ainda mais divertida para eles, que começam a rir freneticamente. Arranco o objetivo inflável de mim e imediatamente sinto o sangue escorrer de meu nariz.

— Qual a porra do problema de vocês? — com uma das mãos estocando o sangue, utilizo a outra para sair da água, esbarrando com força no ombro de um dos caras que me empurrou.

— Temos consciência, irmãozinho! Prevenção à afogamentos, sou o salva-vidas daqui. — um garoto loiro e alto sorri, abrindo caminho à minha frente e gesticulando em direção à praia, com um orgulho inabalável e vangloriando-se da gentileza em me colocar uma boia.

— Na verdade, Tristan — desta vez, o rapaz em quem esbarrei toma a frente. — Ele é quem deveria ter um pouco mais de consciência de classe e saber seu lugar aqui. — assim como seu amigo, exalava a confiança que só um homem branco e privilegiado tem ao proferir suas burrices.

— Babaca nepotista de merda. — murmuro e subo as escadas mais próximas, saindo da área da piscina. Caso estivéssemos sozinhos e sua gangue de deputados mirins não fosse plateia, não pensaria duas vezes em acabar com ele.

Antes de voltar ao meu lugar, rumo até a pia mais próxima no banheiro de serviço e limpo o sangue, que depois de meu banho inesperado, não saía com tanta intensidade.

Assim que sei que estou apresentável, caminho até onde sei que meu pai está, preparando drinks e lidando com alguns adolescentes junto à sua equipe. Uma pena eles estarem aqui somente para essa noite, seria bom mais pessoas que despistassem os amigos de Sabrina no dia a dia. Minha expressão de alegria ao vê-lo é aparente, já que o mesmo larga o copo que preparava e vem até mim prontamente, carregando um pano consigo e limpando as mãos.

— Por que não está aproveitando com seus amigos?

— Não são meus amigos — entro atrás do balcão e pego a toalha que segurava, limpando os respingos na bancada. — No que posso ajudar aqui? Aliás, quando podemos começar expulsar as pessoas?

Meu pai abre um sorriso e dá risada, com seu bom humor inabalável de sempre. Começo a procurar algum avental para servir bebidas, mas uma movimentação estranha em um ponto cego na área de serviço me chama a atenção. Me despeço rapidamente e os sigo com os olhos, para que não saíssem de meu campo de visão. Reconhecer seu rosto foi fácil, a parte difícil foi a perseguição às escondidas que iniciei no momento em que lembrei de sua relação com Sabrina.

Nicholas e Melina. Reconhecê-la talvez tenha sido mais fácil ainda, já que seu rosto miserável ainda perseguiria meus pesadelos depois do episódio de hoje. Tentei dá-los o benefício da dúvida, mas foi impossível contestar o beijo e a batida forte na porta quando ambos se trancaram em um quarto.

Decidindo já ter visto o suficiente, desvio o caminho para uma das áreas comuns do iate, onde sabia que poderia ficar sozinho para esfriar a cabeça. Pego uma garrafa de uísque em uma das mesas e me acomodo na grande poltrona vermelha em frente à janela principal que dava para o mar. Como não sou nenhum psicopata, trouxe um copo junto, o que não diminui a sensação de queimar do primeiro gole, mas facilita com que dê o segundo sem cuspir nada no chão, afinal, já está bem claro a esse ponto quem limparia depois. De qualquer forma, consegui relaxar um pouco e aliviar a sensação incômoda em meu nariz.

Me doía profundamente pensar que era a isso que Sabrina vinha se sujeitando. Como ele não percebe o que tem para si? Não importa quantas vezes pense sobre ou quantas teorias crie, é simplesmente impossível imaginar alguém a trocando por qualquer outra pessoa.

Tamanha foi a coincidência ao pensar em Sabrina e segundos depois avistá-la no batente da entrada, cambaleando com seu salto agulha altíssimo e entortando os pés de vez em quando. Ao mesmo tempo em que não consigo conter a risada, me desespero e levanto abruptamente quando a mesma esbarra em uma mesa e cai na poltrona à sua frente. Se meu teste de qualidade envolvendo os acolchoados daqui não fosse tão preciso, ficaria mais preocupado ainda.

Seu cabelo estava em um emaranhado em cima da mesa de bebidas, mergulhado em um copo com gelo. Faço careta e me aproximo. Reuno suas mechas da frente e as coloco atrás de suas orelhas. Isso deve servir por enquanto.

— Cuidado, seu cabelo é cheiroso demais pra ser confundido com canudinho. — rio levemente, sentando ao seu lado. Sabia que ela estava fora de si, por isso tomo como missão protegê-la até que estivesse bem o suficiente, o que não me parecia um evento próximo.

Aproveito enquanto ela ainda não aparentava estar nauseada ou exaltada e apanho uma garrafa de água lacrada de outra mesa. Espio pela janela e me sinto mais tranquilo ao constatar que o lugar esvaziava aos poucos.

— Bash... — seus olhos levantam minimamente, me olhando. — Por que você foi embora?

Estaria mentindo se dissesse que ouvir meu apelido de infância depois de anos não me abalou. Lembro da última vez que fui chamado assim, foi um dos dias mais tristes da minha vida, e agora que essa é uma memória distante, dói ainda mais por saber que as coisas nunca mais voltarão a ser como antes. Precisei de alguns segundos para me recuperar e esvaziar a mente. Agora não é hora de divagar, Sabrina precisa de mim.

— Tá tudo bem, só fui pegar uma água pra você. Aqui... — alcanço a garrafa para ela.

— Não é disso que eu tô falando — choraminga e debruça-se sobre a mesa novamente, pegando a garrafa de minha mão. — Quando éramos crianças. Você até disse que seria meu marido quando a gente crescesse. — ela vira a cabeça para mim, ainda com os olhos fechados, e sorri.

Dessa vez, sorrio com as lembranças. Até os 11 anos íamos a todo lugar juntos, passávamos boa parte do tempo em sua casa mas também frequentávamos a minha. Pouco tempo depois disso, meu pai e eu precisamos nos mudar para passar os últimos momentos com minha vó, que acabara de descobrir uma doença terminal. Apenas dois anos depois retornamos, o pai de Sabrina prometeu nos ajudar a reestabelecer-mos novamente, mas quanto à garota, ela passou a me ignorar e fingir que nunca nos conhecemos. Após algum tempo parei de tentar, mas ainda assim o hábito de tomar conta dela, mesmo à distância, nunca foi embora.

— As pessoas já estão começando a ir embora. Seus amigos foram deitar também, e o seu namorado... — não me atrevo a terminar a frase, já que a imagem de minutos atrás ainda estava fresca em minha memória. Cerro os punhos e desvio o olhar, não queria que Sabrina pensasse que estava bravo com ela.

— Ninguém liga pra ele. — ela endireita a postura rapidamente para falar, mas logo relaxa mais uma vez e recai sobre meus ombros. Inconscientemente fico feliz com sua afirmação, embora isso tenha se tornando senso comum.

Observo enquanto um biquinho se forma em seus lábios involuntariamente. Rio comigo mesmo e passo o braço por trás de suas costas, a sustentando para que não caísse. Me acompanhando, ela percorre as mãos pelas minhas costas e agarra-se à minha cintura.

Perco a noção do tempo enquanto permanecemos nesse abraço desajeitado e reconfortante, mas percebo estar tarde demais quando até mesmo a música cessa. Olho em volta e congelo ao avistar meu pai adentrando o ambiente enquanto interceptava as garrafas de bebida perdidas, tirando qualquer chance de auto lamentação ao retirar a minha também.

— Cuide bem dela, filho — ele passa por nós e aperta meu ombro de leve. — Boa noite.

Ergo os lábios em um sorriso de leve, agradecendo internamente pela família que tinha enquanto o observo ir embora.

A garota parecia cada vez mais confortável ao meu lado, era possível até mesmo ouvir alguns pequenos roncos após ela apoiar-se mais à mim e escorar a cabeça em meu peito. Talvez agora seja a hora de levá-la até seu quarto, seu rosto está ficando pálido demais e acho que sei onde isso acaba.

— Sabrina — seguro a garota pelos ombros, fazendo com que me olhasse. — Precisamos ir agora, está bem tarde.

— Você vai me levar pra cama? — ela aceita levantar e sorri, equilibrando-se em mim para ficar devidamente em pé.

— Sim. Quer dizer, não. — respondo firmemente. — Consegue andar sozinha? — me sinto idiota por perguntar, já que a resposta estava bem óbvia. Por isso, apenas deixo com que se sustente em mim e começamos a caminhar.

— Eu odeio todos eles... — a mesma murmura, mas foi tão baixo que posso ter ouvido errado, por isso decido não tocar no assunto.

— Por que bebeu tanto assim?

— Bash, me diz, você não faria isso comigo, né? — ignorando minha pergunta, ela parece triste de repente, e me compadeço com seus olhos marejados.

Surpreendo a mim mesmo ao puxá-la para um abraço apertado. Foi um ato quase instintivo, não consegui evitar, suas lágrimas são meu ponto fraco. Ao perceber que talvez tenha cruzado os limites, tento me afastar, mas Sabrina me puxa de volta e passa os braços por meus ombros, escondendo o rosto na curva do meu pescoço e chorando baixinho. Afago suas costas de leve em movimentos circulares, tentando acalmá-la. Me pergunto se Nicholas era o motivo de sua tristeza, e por um momento sinto uma ponta de inveja ao lembrar do quão insignificante eu era para ela.

Me afasto gentilmente, já que a garota ainda mantinha os braços em meu entorno, e olho no fundo de seus olhos. Quando eles passaram a ser tão vazios e sem vida? Essa não era mais minha melhor amiga, e talvez essa Sabrina não tenha mais salvação, mas se eu pudesse, gostaria de tentar resgatá-la.

Abaixo a cabeça e mordo meu lábio inferior com força. Afasto os pensamentos que perturbavam minha mente e volto a caminhar ao seu lado, em direção aos quartos.

— Onde fica seu quarto? — pergunto enquanto andava com pressa pelas portas fechadas, esperando com que o traidor não saia semi-nu de nenhum quarto.

— Não sei... — ela se enrola, cerrando os olhos para enxergar melhor e tentar identificar sua porta. — Essa? Não, acho que a Melina tá ai — arregalo os olhos e rapidamente a direciono para longe. — Essa pode ser do Nick... mas também da Louise. — ela continua, passando com a ponta dos dedos pelas portas.

— Vem comigo. — ao perceber que Sabrina não fazia a menor ideia onde ficava seu quarto, a conduzo em direção ao meu. Não seria uma surpresa agradável apelar à tentativa e erro e por engano entrarmos onde não devíamos.

Por sorte, meus pertences estavam organizados, e quando digo isso, quero dizer que apenas fiz uso das milhares de gavetas e decidi lidar com a bagunça em outro momento. Ao chegarmos, pego algumas cobertas para arrumar sua cama, mas a garota já havia se feito confortável ao atirar-se sobre os lençóis. Rio levemente e me aproximo, retirando seus sapatos e colocando ao pé da cama. Por fim, a cubro bem e desligo as luzes.

Suspiro ao fechar a porta e me apoio na grade de proteção, de repente notando o quão brilhosa e grande estava a lua. Não sei se aguentaria passar pelos eventos de hoje outras vezes pelas próximas semanas. Acho que prefiro ser o garçom, se antes haviam dúvidas, agora sei que definitivamente não pertenço a esse lugar.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top