IX. Rocks in his pocket

⊱♥⊰

Desbloqueio o celular e sorrio para a imagem refletida. Desconfiava que os efeitos de Sabrina eram uma espécie de amarração amorosa feita em tom de piada, e ao pensar bem, isso explicaria por que corações enfeitam meus olhos até mesmo quando ouço seus insultos. Certamente um ato de pura maldade dignos de tal personalidade infame. Dessa vez, com a mão no peito monitorando meus batimentos acelerados, encaro incrédulo sua mais recente publicação. Como podem seus cabelos serem tão brilhosos mesmo em uma foto?

Queria poder sentir seus fios entre meus dedos enquanto seguro seus lábios contra os meus.

Afasto tal pensamento e inspiro profundamente. De repente o ambiente ficou quente demais para sustentar o casaco que usava, então o retiro e deposito-o sobre a mesa em busca de um pouco mais de ar.

— Bash? Papai vai comprar os ingredientes para o jantar de hoje, o cozinheiro passou mal e está descansando. — meu pai surge pela porta antes que pudesse sair, "papai" soando como uma tratativa obrigatória. Recentemente recusava-se ser chamado simplesmente de "pai", ele diz que o deixa mais velho do que realmente é.

— Quando voltamos a navegar? Já faz um tempo desde que... — pergunto, subitamente estranhando o silêncio atípico na embarcação. — Cadê todo mundo?

— Soube que foram aproveitar o último dia antes de voltarmos ao mar. Sabrina deu a eles a noite de folga — ele suspira, com um sorriso no rosto. — É uma menina muito boa.

— Genial, sem funcionários, sem amigos folgados e barulhentos — sorrio, constatando o fenômeno da causa e efeito. — A consciência dela deveria pesar mais de vez em quando, eu poderia me acostumar com noites relaxantes como essa.

— É... mas não se esqueça que enquanto estou fora é você quem cuida daqui. — ele diz, acompanhado de um leve tapinha em meu ombro.

Aparentemente, nosso encontro servia apenas para delegar minha tarefa. Choramingo ao perceber que não poderia descansar e encarar as fotos de Sabrina por mais algumas horas.

— Quem mais tá aqui? — mesmo contrariado, coopero com seu pedido.

— Talvez um ou dois amigos da Sabrina... A maior parte deles está no luau da praia. — meu pai gesticula, e finalmente percebo a movimentação incomum na areia à nossa frente. Ainda estávamos há uma boa distância da margem, mas não poderia deixar de me preocupar com os bêbados com óculos de mergulho, ainda mais quando sei quão perto o quarto de Sabrina era da entrada principal.

Aceito a responsabilidade e assim que Dean Willis põe os pés para fora da embarcação, início um checklist mental. Precisava de um terno e gravatas para dar mais credibilidade ao meu serviço de segurança, e certamente um par de sapatos bem engraxados tornaria tudo mais real. Embora tudo isso, tal confiança já estaria arruinada no momento em que decido manter seguro apenas o corredor do quarto de Sabrina. Um bom profissional sabe delegar suas prioridades.

Ouço murmúrios abafados vindo de seu quarto, e inesperadamente sinto o ar comprimir em meus pulmões. É claro que o namorado intelectualmente desprovido deixaria a porta entreaberta. Prestes a deixar o espaço antes que minha respiração irregular me entregasse de alguma forma, interrompo o passo quando não tenho mais tanta certeza da consensualidade do que acontecia no cômodo.

Em passos apressados retorno ao batente de sua porta, impulsivamente girando a maçaneta gélida em minhas mãos. Não me importava em lavar os olhos com ácido caso eles realmente estivessem apenas se divertindo, mas de forma alguma deixaria algo ruim acontecer a Sabrina. Mas o que presencio supera qualquer horror ao qual me preparava mentalmente.

As próximas cenas acontecem de forma incrivelmente rápida. Em um segundo estou paralisado encarando a expressão realizada do homem com o torso pressionado no de Sabrina, em outro já havia empurrado seu corpo com força, eximindo-o de mais explicações. Apesar de sua figura desarmada ao chão, não me contenho e agarro-o pelo colarinho parcialmente desabotoado, cerrando os punhos e acertando seu rosto em cheio. O golpe faz um corte superficial na face do rapaz, que tenta se afastar assim que vê o sangue nos nós dos meus dedos.

Seu olhar é perfurante e odioso, mas apesar da postura que insistia em manter, sua capacidade nula para brigas é denunciada ao hesitar e dar um passo para trás, um típico covarde agressor. Posso ser indiciado com o dinheiro de seus pais, não me importo mais com as consequências, estou cansado de toda injustiça e impunidade que cerca suas famílias.

Com a intenção de afastá-lo de Sabrina, arrasto-o até o corredor, onde continuo a desferir golpes que o mantém desamparado. Rio em escárnio quando o mesmo tenta revidar, mas já estava com o rosto tão destruído que sua mão mal consegue alcançar-me, ao invés disso, apenas tenta proteger sua face ensanguentada. Em uma última investida, ele consegue me empurrar até que caísse no chão.

— Ei, Sabrina! Já contou ao pobretão do seu namoradinho sobre seus planos? — com os olhos semicerrados e ego inabalável, ele torna-se a porta aberta mais uma vez. — Essa puta nunca quis nada com você. É tudo uma... — não deixo que termine sua frase, já que também o empurro com força em direção à grade de proteção. Se não fosse tão idiota talvez tivesse equilíbrio suficiente para se segurar, mas cai no mar em um grito patético.

— Deveria ter afundado esse merda com pedras nos bolsos. Ou estourar a cara dele com elas antes disso... — murmuro antes de caminhar até o quarto novamente e trancar a porta por segurança. Espero que ela não me entenda mal.

Só então percebo o quanto sua figura sempre impassível estava fragilizada. Seus olhos costumavam ser irredutíveis mas ainda mantinham seu brilho, agora estavam vazios. Assisto enquanto suas mãos trêmulas percorrem seus fios, ajeitando a bagunça em que se encontravam, ela então me percebe. A postura forte que tentava sustentar de repente desaba e lágrimas espessas assombram seu rosto já bastante vermelho.

Enquanto limpo as mãos na parte traseira da calça, caminho cautelosamente até a garota, que continuava a chorar aos prantos, agora agarrando minha blusa e lentamente envolvendo os braços finos em meu entorno, em busca de algum conforto. Agacho até sua altura, transferindo os braços que estavam em meu quadril até os ombros. Procuro superficialmente por algum ferimento em seu corpo, mas sua posição limitava minha visão.

— Sabrina, olha pra mim — tento chamar sua atenção, mas a garota continuava com a cabeça enterrada na curva do meu pescoço. Afasto-a com cautela e seguro ambos os lados de seu rosto levemente. — Me escuta, meu anjo, tá tudo bem com você? Ele te machucou? — sinto cada vez mais raiva ao perceber lágrimas escorrendo pelas minhas mãos.

— Ele não conseguiu fazer nada... — entendo que seu "nada" significa que consegui chegar antes que algo pior acontecesse. De qualquer forma, ele tocou nela.

Desvio o olhar e cerro os punhos novamente.

— O desgraçado vai se arrepender disso... — me distancio minimamente, prestes a pular do maldito barco e deixar mais hematomas por todo seu rosto pervertido.

— Não vai... — a garota encolhida em seu lençol segura minha mão, sem forças para me puxar definidamente, mas o suficiente para fazer a raiva em meu coração ser substituída por um senso de proteção.

Não sabia até que ponto Sabrina estava confortável em me ter por perto, apenas sigo seus comandos e tomo seu corpo em meus braços, afagando suas costas enquanto sinto a ponta de seus dedos percorrerem meu abdômen até se aconchegarem em meu entorno. Comprimo os lábios e desvio o olhar de seu rosto.

— Não acha melhor...

— Não, hoje você é meu. — enxugando o restante das lágrimas, acompanho-a enquanto a mesma ajeita os travesseiros na cama, posicionamento dois deles lado a lado. Ainda sem afastar-se de mim, ela se deita em meu peito, com o aperto tão forte quanto antes.

Tenho certeza que Sabrina pode escutar os batimentos que ameaçavam deixar meu peito, nunca tivemos um momento tão íntimo e vulnerável. A sensação de êxtase em tê-la em meus braços mistura-se com a preocupação, e me pergunto se realmente tranquei a fechadura. A ideia de futuramente levantar dessa cama e deixá-la sozinha é o suficiente para me apavorar e me fazer vincular ainda mais nossos corpos, apoiando meu queixo em sua cabeça de leve.

— Você não vai mais precisar se preocupar... — digo em um sussurro. Talvez ela estivesse dormindo a esse ponto, me encorajando a dizer as próximas palavras. — Desde criança não me vejo sem você. Vou te proteger, Sabrina, não importa o que custar.

Não menciono mais nada relacionado ao incidente, ao invés disso, mantenho meu foco em deixá-la calma enquanto tenta dormir para amenizar o choque e descansar os pensamentos. Ignorar os pequenos ferimentos causados pela briga não era difícil quando havia lhe destruído, mas sinto a urgência em fazê-lo novamente sempre que me lembro do olhar de puro pânico quando adentrei o quarto.

Assim que a leve dormência assume meus sentidos, esqueço aos poucos por que estávamos tão próximos e passo a aproveitar mais sua companhia. A ansiedade crescente dá lugar à sensação de paz a medida que sinto sua respiração cada vez mais regular e serena. Estava cansado demais para dormir em seu sofá e protegê-la de longe, por isso logo meus braços também afrouxam em sua cintura.

Pela última vez antes de cair no sono abro os olhos, alisando com carinho sua bochecha e sorrindo comigo mesmo, apreciando nosso último momento juntos antes que Sabrina se fechasse e me empurrasse para longe como das outras vezes. Com um sorriso leve ainda dominando a feição, adormeço junto à garota, inspirando seu cheiro de fruta a noite toda.

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