IV. The first kiss
⊱♥⊰
Flashback
— Bash, quero te mostrar uma coisa — deixo escapar uma risadinha que logo cubro com as duas mãos. — Vem! — agarro seu pulso e o conduzo sobre o caminho de pedras pelo vasto jardim.
Apesar das gotículas de água que ameaçavam cair, não atrasei o passo e segui determinada até meu destino. Tiro a franja molhada dos olhos e solto o braço do meu melhor amigo, lhe apresentando ao meu pequeno lago de peixes, enfeitado por acessórios rosa da Barbie e flores amarelas. Havia feito um ótimo trabalho ao planejar a casa de lago das minhas bonecas.
— Olha... — agacho próximo às pedras que delimitavam a água e dou meu melhor sorriso assim que o encontro. — Meu sapinho! — estico o animal, agora em minhas mãos, em direção a Sebastian, que pula para trás.
— VOCÊ QUER ME MATAR? — ele grita olhando assustado para o pobre animal. — Minha tia disse que os sapos fazem xixi nos olhos quando vamos dormir tarde, e nos deixa cegos!
— Você é um bebezinho mesmo.
Junto as sobrancelhas em sinal de reprovação e levo meu querido sapinho em direção ao peito, acariciando levemente suas costas. Para finalizar o horror completo do garoto a minha frente, dou um beijinho em meu animal de estimação recém-adquirido.
— Achei ele nos fundos do quintal há um tempinho, pedi pro papai uma casinha pra ele. — sorrio ao pensar que meu amiguinho não estaria mais desabrigado, ao invés disso, poderia passar seus dias ao lado das irmãs da Barbie e dormir na parte de cima do beliche roxo da Skipper.
— Como você tem coragem de beijar esse bicho feio e gosmento? — Bash dessa vez se aproxima, encarando de perto o animal e fazendo careta.
— Você também é feio e gosmento — faço piada e coloco o sapo novamente nas pedras. — Mas eu não tenho nojo disso! — e sem pensar duas vezes, dou um beijinho singelo em sua bochecha. O que não seria errado ou inédito, mas não considerei a hipótese do seu rosto virar de repente por susto do meu sapo saltitante, o que fez com que meus lábios acertassem um pouco mais à direita. Agora, para o meu horror, havia acabado de ter meu primeiro beijo com Sebastian Willis.
⊱♥⊰
Acordo com o chacoalhar das ondas e um leve enjoo, talvez causado pelo excesso de coquetéis na noite passada ou as lembranças de meu sonho envolvendo beijos e sapos. Esfrego os olhos de leve para despertar e tomo um leve susto ao observar meu reflexo no espelho e constatar um leve sorriso. Franzo o rosto e reprimo as memórias de infância que teimavam retornar.
Foi uma má ideia envolver-me nessa história, minha conversa da noite passada com Sebastian foi o bastante para perceber a furada em que estava me metendo. E todas essas lembranças detestáveis, coisas que decidi enterrar há muito tempo, pareciam me perseguir desde que beijei aquele maldito garoto.
Decido clarear a mente e esquecer meu passado enquanto me apronto para encontrar meus amigos, que esperavam ansiosos por atualizações na operação "desafio do garçom". Que nome mais ridículo, mas não poderia esperar muita criatividade de quem usou coleções repetidas em 2 anos seguidos. E falando da própria...
— Sasa! Como você está linda, tudo de pé pra nossa pool party, né? — Melina me aborda de repente no corredor, me assustando momentaneamente. Minha teoria de que ela possui câmeras instaladas nos arredores do iate ainda não foi descartada.
— Dã?! Mas é claro! Ontem estávamos só esquentando, é a partir de hoje que a verdadeira diversão começa. Melzinha. — retruco com outro apelido odiado pela mesma. A última pessoa que insistiu em me chamar de Sasa não está presente para testemunhar, mas posso garantir que a história não terminou bem.
Assisto enquanto uma fagulha de ódio sorrateiramente balança sua expressão alegre, mas que é logo varrida ao avistar-mos nossos três outros amigos, Margot, Louise e Elliot, que rodeavam a mesa de cristal interna, onde estavam tomando café da manhã.
— Por que tivemos que acordar tão cedo? Não eram pra ser férias? — Louise reclama escorando-se em Margot, que dá dois tapinhas gentis em suas costas.
— São 10 da manhã, princesinha — Nicholas, meu namorado, chega por trás e me dá um beijo na bochecha, agarrando minha cintura. —Oi, amor. — ele sorri e senta-se à mesa, roubando uma das tortinhas de limão do prato de Melina.
— Ei! — ela finge incômodo e dá um leve tapa em seu braço. Reviro os olhos e me afasto da roda.
Descobri noite passada durante nossos jogos. Esteve sempre óbvio demais. Ainda vou fazê-los sofrer, mas preciso reunir toda calma e oxigenação no cérebro que posso enquanto espero.
Fingindo despretensão, caminho até o bar ocupado por Dean Willis, que cantarolava ao limpar a bancada, alheio à minha presença. Apenas espero enquanto não sou notada, me recuso a pigarrear ou fazer qualquer outro som remotamente parecido com uma motocicleta para receber atenção.
— Ah! Olá, senhorita Van Dijk! Dormiu bem? — ao me perceber, sua simpatia foi quase contagiante, mas não tinha tempo para cordialidades.
— Seu filho. Onde está?
— Sebastian? — ele espera por um resposta, confuso com meus objetivos com a pergunta, mas simplesmente o encaro. — Está limpando a piscina para sua festa hoje à noite, senhorita.
Ignoro os sorrisos maliciosos dos meus amigos que ouviam a conversa, e não consigo evitar um riso de escárnio. Como se aquilo fosse minha ideia.
— Sexy. — constato ao observar o peito nu e suado de Sebastian enquanto o mesmo limpava a piscina manualmente com uma espécie de peneira gigante.
O ambiente em que a piscina se encontrava era um andar superior ao que meus amigos costumavam ficar, então não me preocupo com a discrição quando me aproximo do garoto. Sua expressão assustada era quase tão encantadora quanto os fios de cabelo que insistiam em cair em seus olhos. Ajusto meus óculos de sol levemente para baixo, assim pude clarear meu campo de visão e observar melhor. Talvez isso não seja tão ruim assim.
— Está escorregadio na borda, ainda não enxaguei os produtos. Cuidado.
— Já usei sandálias na areia da praia e em escaladas na montanha, tenho equilíbrio o suficiente pra me sustentar em uma superfície plana, mas obriga... AH!
Era tarde demais para ouvir seus conselhos, já que eu havia, de fato, escorregado. Uma pontada de dor percorre meu tornozelo quando penso em nadar para a superfície, por isso, fico alguns segundos a mais submersa enquanto espero o formigamento causado pela pancada passar. Fecho os olhos e aprecio o silêncio em minha volta, quase bom demais, quando sinto a água vibrar e dois braços rodearem meu quadril, me puxando para perto e em direção à área mais rasa da piscina.
Por um momento, seus olhos ficaram tão intensos que mal pude respirar, apenas apreciar os segundos que me restavam envolta de seus braços enquanto minha mente não processava a situação. Nossas engrenagens parecem começar a funcionar simultaneamente ao desviarmos o olhar. Procurando algo em que focar, passo a encarar seu peito, o que piora a situação, já que agora meu coração passa a bater forte. Retiro as mãos de sua nuca quando Sebastian me pega pela cintura e me deposita com delicadeza sobre a borda da piscina.
— Por que pulou atrás de mim? — pergunto, dessa vez assumindo um tom mais rígido.
— Você não sabe nadar! — seu tom ainda continha preocupação. - Sem falar que seria uma indenização e tanto que eu teria que desembolsar se presenciasse sua morte. — completa.
— Bom, isso foi há séculos atrás, é bem comum crianças não saberem nadar. — levanto e começo a escorrer meu cabelo. Paro imóvel no caminho quando percebo o que fiz.
— Por acaso nos conhecemos antes, senhorita Van Dijk? Hum... seu rosto é bem familiar mesmo. — ele sai da piscina também, caminhando em minha direção com os olhos semi-cerrados. Tento ao máximo não manter o contato visual nesse momento, meus hormônios abalaram meu coração o suficiente para me fazer soltar bobagens.
— Obrigada por seus serviços de salva vidas, mas se estava tentando se exibir pra conseguir um cargo melhor, falhou. — desvio completamente do assunto e passo a encarar o oceano quando noto um leve rubor esquentar minhas bochechas. Preciso tomar mais cuidado, sei qual jogo ele está tentando me fazer entrar.
Bufo em frustração ao passar os dedos por meu vestido molhado. Olho em volta e dou de ombros ao constatar que minha única companhia eram peixes e um bobão com síndrome de super-herói, por isso retiro o tecido sobre minha cabeça ali mesmo, deixando à mostra meu biquíni de brilhinhos. Minhas roupas estavam arruinadas de qualquer forma, poderia me divertir um pouco enquanto estava ali.
— Hum... eu já... — ele respira audivelmente e percorre a mão por sua nuca, tentando não olhar. — Já estou indo, pode aproveitar o sol. Licença...
— Tchauzinho! Ah, e pode me trazer um martini quando voltar? — apoio uma de minhas mãos no rosto ao acomodar-me em uma das cadeiras reclináveis — Lembro de me dizer que ainda não tinha acabado com a piscina, certo? Vou supervisioná-lo hoje, considere-se com sorte. — sorrio provocante, sem me dar ao trabalho de esconder minhas intenções por trás do apelo.
Minhas últimas atitudes confundem até a mim mesma, é divertido voltar aos velhos tempos, ao mesmo tempo em que a Sabrina de 10 anos se sentiria enojada com minhas decisões. Ainda assim, há uma parte em mim que me impede de sair e me faz agir como um garoto de fraternidade que faz apostas envolvendo virgindade. Gostaria de mandar todos meus amigos se foderem e esquecer essa brincadeira idiota, mas não consigo me esquivar mais.
Nunca admitiria em voz alta, mas é o mais confortável que me senti em muito tempo.
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