I. We learned our lesson

⊱♥⊰

Cresci sabendo que algum dia dominaria o mundo, e sei que escala mundial é ambicioso demais, então me contentaria com 1/3 da população. Desde que ainda me encontrava nas profundezas do saco escrotal de meu progenitor ou quando reservara um cantinho especial no útero de minha genetriz, estava destinada ao sucesso. Doutor Anthony Van Dijk, mais conhecido como meu pai, comanda cerca de 50% das ações desta imensa Nova Iork, e por Deus, simular humildade está me corroendo por dentro, então gentilmente concedo a mim o poder de isenção à modéstia. Princesa legendária ou cactos espinhoso são apenas algumas traduções para meu nome, e embora julgasse que o primeiro atributo compreendesse minha personalidade perfeitamente, tinha pleno conhecimento de minhas habilidades fatais, e ao contrário do que podem estar pensando, não há mortes envolvidas, apesar de já haver chegado perto. E era exatamente este o problema que precisava resolver. Mas, para mim, nada com que não pudesse lidar.

Um inevitável suspiro irritado escapa de meus lábios, alto e expressivo. Procurava demonstrar minha insatisfação com pequenos sinais, como tamborilar os dedos na mesa central ou até mesmo bater os pés incessantes vezes no chão, atitudes inocentes mas que certamente poderiam tirar papai do sério. Entretanto, apesar de meus esforços, a discrição não parecia funcionar. Direciono o olhar para o lustre luminoso, buscando a inspiração para o que faria a seguir: apelaria para meu talento teatral, que de tantas vezes usado como chantagem emocional, havia se tornado natural e habitual para mim.

— Papai... — faço caminho até o homem sentado no sofá a minha frente, sentando-me ao seu lado e contornando seus ombros com meus dedos, de forma manhosa. — Aprendemos a lição da última vez! Sem prostitutas, sem atear fogo, sem transformar o iate em ponto de drogas... — sob seu olhar julgador, listo as regras recebidas ano passado, fazendo esforço para lembrar do último item.

— Sem atentados ao pudor. — sua voz soa séria, parecendo se recordar do fatídico, porém extremamente divertido, dia.

— O que há de tão errado em atividades aquáticas?

— Nada, com exceção as feitas por adolescentes bêbados e nus, às 7 da manhã, quando as aulas de surf infantil começam. O que estavam pensando? — ele frisa a palavra, e me sinto momentaneamente culpada, mas o sentimento logo passa, já que não havia tempo para remorso em um momento decisivo como aquele.

— Certo, certo. Isso não importa agora, já ouvimos broncas o suficiente e o senhor já sabe que me sinto tremendamente arrependida. — meu rosto se contorce em uma expressão de falsa tristeza, mas meu pai não parece se solidarizar.

Há uma grande pausa na discussão, e enquanto papai continuava a trabalhar em seu computador, pensando estar em vantagem quanto ao assunto iate, eu usava os minutos de vantagem da melhor maneira, permanecendo com os olhos arregalados por aproximadamente um minuto, para que assim as lágrimas surgissem com mais facilidade.

Após um debate caloroso sobre arrependimentos e perdão — que honestamente, fizeram os minutos parecerem horas — finalmente chegamos a um acordo. Eu e 5 amigos estávamos autorizados a passar as férias de verão no iate da família, contanto que além da equipe usual, um de seus funcionários de confiança e meu irmão estivessem presentes, nos monitorando. Pareciam condições justas até ouvir os nomes. Dean e Sebastian Willis, pai e filho. Apesar de ser um completo fracassado, não tinha nada contra Dean, no entanto, seu filho Sebastian era um total pesadelo, e a eternidade não parecia suficiente para listar todos seus defeitos.

Mas, por hora, era minha melhor opção, já que passar dois meses com minha tia solteira e desesperada em Paris estava fora de questão. Ver Louise e Melina praticamente implorando para estar na cama de jogadores de basquete era terrível o bastante.

— Você não vai acreditar no que acabei de conseguir, meu amor — deito em minha cama com o celular em mãos, conversando com Nick através de uma vídeo chamada, com um sorriso gigantesco estampado em meu rosto. — Convenci meu pai, e agora temos o iate pelos próximos dois meses. — meu namorado pareceu se animar com a ideia, e logo um sorriso malicioso fez-se presente em sua face.

Entre tópicos acerca de quem convidaria e as novas possíveis atividades que faríamos lá, iniciamos outra conversa na qual o único interessado era Nicholas.

Havíamos marcado nossa primeira vez para as férias do ano passado, mas devido a seus acontecimentos, tivemos que adiá-la. E até hoje, não parecia ter encontrado outra data especial. Nick discursava animadamente sobre como o sexo seria incrível e de como havia esperado por isso há anos, tão envolvido que fez parecer que a genital em meio a minhas pernas fosse a única motivação em nossa relação. Apesar disso, a ideia é logo descartada, e me sinto idiota por duvidar das intenções do meu namorado.

— Espero não ter escutado a voz da sua tartaruguinha doméstica, mocinha. — Aaron adentra meu quarto abruptamente, e pelo susto, desligo a chamada. Para obter vantagem e disfarçar, passo a encará-lo com serenidade, mas o sentimento é logo substituído pela irritação.

— Não sabe bater, estúpido? — largo o celular sobre a cama com força, levantando de onde estava para poder expulsar meu irmão mais velho com mais facilidade. — Ainda não entendo porque insiste em chamar Nick desse jeito.

— Então admite que estava falando com aquele troglodita? Você é péssima com mentiras, Sabrina, acho que o papai acredita nelas por pena — Aaron provoca. — E ah, claro, tartaruga porque ele tem um corpo enorme mas um pescocinho e cabeça tão pequenos. É fofo, se me permite dizer.

— Esse instinto de irmão protetor já foi fofo, mas quando eu tinha 10 anos e precisava de alguém para bater nos meninos que implicavam comigo. Agora é apenas chato. — tento pôr um fim à discussão desnecessária, mas o discurso de Aaron não parecia próximo de acabar.

— Sabrina, é sério. Minha irmã não nasceu pra ficar presa a um só garoto, ainda mais um jogador de basquete seboso — ele diz e beija minha testa rapidamente, me fazendo sorrir pelo ato inesperado. — Vocês não têm minha benção, ok? Se virem para criar seus futuros filhos bastardos sem a ajuda do querido irmão.

— Vai se ferrar. — dou risada, o empurrando e fechando a porta com força, trancando-a por precaução. Não gostaria de outra argumentação como essa, o que não seria uma surpresa dada a família que possuía.

Eu, com 17 anos, era a filha do meio, mas além de mim existiam outros 4 irmãos. Anne, com suas adoráveis mechas loiras e olhos azuis herdados da mamãe, acumulava diversas confusões e cabelos cortados com tesoura na creche ao longo de seus 3 anos. Benjamin poderia ser facilmente considerado meu irmão favorito, era relativamente tranquilo, e aproveitava seus 12 em frente a tela do computador jogando minecraft. Andrew era suspeito, já que era tão diferente de nós que parecia ser fruto de alguma das aventuras proibidas da minha mãe 18 anos atrás. E bem, já conheceram Aaron, meu irmão de 20 anos, extremamente ciumento e carinhoso quando o convém.

Sim, meus pais já estão bem familiarizados com a arte da reprodução. Às vezes penso que nasci em uma família de coelhos.

Meus ouvidos estavam gratos pelo silêncio gentilmente oferecido a eles, mas como qualquer sentimento de paz e tranquilidade nessa casa, ele é momentâneo. E os motivos eram: Andrew e seu peculiar gosto musical. Por essa e tantas outras razões ainda sustento a teoria da adoção, pois a ideia de ter compartilhado o útero com um ser humano que escuta poesia acústica é incabível.

Coloco meus fones de ouvido para abafar a poluição sonora que contaminara a casa e adormeço ao som de Taylor Swift com Frederic — meu bulldog inglês — em meus braços.

...

Vadia preguiçosa.

Repetia a frase mentalmente, como um mantra de punição. Eram 4 da manhã e estava extremamente atrasada para os preparativos do último dia de aula. Como pude ser tão descuidada? Não posso deixar com que esse tipo de imagem destrua a reputação cultivada por mim há anos.

— SABRINA!

Com um olhar de irritação, ignoro o chamado, prestes a acabar a maquiagem e me vestir. Benjamin deveria saber que não funciono bem sob pressão, e agora o que seriam apenas 10 minutos de espera, transformaram-se em 20. Ele fora avisado.

Ao chegar ao último andar, sou recebida com expressões frustadas e braços cruzados. Creio que meus irmãos esperavam ao menos um olhar culpado, mas tudo que recebem é um riso de escárnio e meu rastro de perfume. Enquanto o carro iniciava o percurso, podia escutar Benjamin reclamando sobre não poder conversar com a garota que gosta antes da aula começar, e quase sinto compaixão. Nada que não possa ser superado.

Os corredores da escola estavam vazios, com exceção aos alunos que não se preocupavam em disfarçar ao matar aula, e considerando meu atraso, decido que não vale a pena comparecer ao primeiro horário, por isso rumo ao banheiro.

O mais irônico — e talvez trágico — era não saber ao menos o terceiro elemento da tabela periódica, mas podia jurar que já havia memorizado cada detalhe daquele banheiro. As marcas de sujeira no espelho, batom nas bancadas da pia, algumas coisas que preferia continuar não sabendo e as mensagens enigmáticas nas cabines. Por mais fantasioso e incrível que possa parecer, Sara do primeiro ano descobriu que era traída neste ilustre lugar, e a mensagem ainda está lá para quem quiser ver, fora feita com caneta permanente. "Sara, Mike está com a Molly do 2 ano, assim que ver isso, cheque o porta-luvas do carro dele.".

— A namorada sonsa não tem importância. É óbvio que ele vai ficar com a Nina.

Normalmente, não me rebaixo ao nível de espiã de fofoca de banheiro, já que claro, tenho pessoas que fazem isso por mim, fontes confiáveis. Neste caso, já que o nome de uma de minhas melhores amigas estava envolvido, não aguentaria esperar Skyler — uma de minhas informantes — descobrir.

Mas então isso aconteceu.

— Porra!

Realmente desejava que estivesse me referindo ao sentido figurado, mas, de fato, fluidos corporais indesejáveis cobriam minhas mãos. Acabo de desvendar o mistério da pia do banheiro, definitivamente não era sabonete líquido como pensava, agora devia 200 dólares a Chelsea. Estávamos há dois dias em uma aposta acirrada quanto a origem da gosma estranha.

Frustrada pelo disfarce destruído, inclino a cabeça para trás e busco por forças. Não era fácil ocupar o posto de criatura mais odiada por Deus.

E como não havia sentido em permanecer em um local silencioso quando buscava por informações, grito internamente e ligo a torneira, lavando as mãos o mais cuidadosamente possível.

Quando finalmente acordo inspirada para boas ações, é isso que recebo em troca. Talvez seja algum sinal divino, apesar de ter perdido meu direito à ajuda celestial ao cometer um dos 7 pecados capitais com um dos membros do comitê estudantil. Seduzir o professor de ensino religioso não lhe dá um lugar no paraíso, vadia. Patético e desesperador, não me orgulho, mas de que outra forma conseguiria um A nos exames finais?

Depois da sucessão de desastres a qual fui submetida, não era justo continuar naquele ambiente hostil e, certamente, um descanso er- justificável. Por essa mesma razão, estava indo ao encontro de um dos meus restaurantes favoritos, Cheesecake Factory. Por ao menos um dia, dane-se a dieta, meus glúteos continuarão perfeitos após uma singela torta.

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