38

Na segunda-feira o pai de Jake voltou para casa depois de quase dez dias na estrada. Ele estava um pouco mais gordo e parecia não fazer a barba desde que saíra de casa, mas era sempre assim. A vida na estrada não era fácil e nenhum deles esperava que o homem voltasse tão aparentemente bem quanto saiu.

— Sabe do que eu mais senti falta? — Ele disse, enquanto a Sra Sim alimentava a mesa do café da manhã com mais uma porção de kimchi. — Do meu chuveiro. De poder tomar um banho quente pelo tempo que eu quiser, é disso que eu mais sinto falta.

— Eu achei que você sentisse falta da gente. — A esposa comentou, de um jeito um pouco mais sério, e todos na mesa se entreolharam.

— Mulher, eu achei que já estivesse claro que vocês sempre serão minha prioridade e que era óbvio que eu sentia mais a falta de vocês. — Ele sorriu para os filhos e comeu mais uma porção. — Como as coisas andaram enquanto eu estive fora?

O pai não sabia de tudo o que acontecia dentro daquela casa. Na verdade, ele não sabia da missa a metade, e sua mãe fazia questão de nunca dizer ao homem o que havia acontecido naquela família sete anos antes. Ele sabia da inclinação de Jake à "atitudes erradas", mas duvidava muito que ele soubesse, de fato, que essa inclinação era homossexual.

E ainda que o homem não soubesse de nada, aquilo ainda o feria um pouco.

Entretanto, em momentos como aquele, Jake tinha vontade de dizer à ele. Tinha vontade de olhar nos olhos do pai e dizer a verdade, pois sabia que o homem simplesmente... o aceitaria. Ele tinha essa convicção tão forte que, naquele momento, a barriga até gelou pela vontade que sentiu.

O Sr Sim era um homem simples, estranhamente submisso à esposa − embora a mulher jurasse de pé junto que ele era o dono da casa −, mas não era apegado a religião como ela. Ele aceitava as coisas que ela dizia e os filhos tinham a absoluta certeza que era pura e simplesmente para evitar a fadiga, não se relacionando ao fato de concordar com a matriarca.

E por isso nunca havia insistido no que dizia respeito à Jake. Havia dito amém para todas as decisões da esposa, já que nunca estava em casa e acreditava, de verdade, que ela sabia o que era melhor para os meninos.

Se ela dizia que era perigoso para Jake dirigir, ele concordava. Se ela dizia que era melhor ele não ir pra faculdade e se ocupar com a igreja, ele concordava, ainda que não achasse que de fato era a melhor escolha, tudo isso por eu ele nunca estava lá e ela nunca se ausentava.

Ele fazia e sempre faria todo o possível pela família, mas raramente conseguia estar presente, afinal era o único da casa que trabalhava. E era graças à ele que eles possuíam uma vida boa e tranquila.

— Nada demais, querido. — Respondeu a mulher, também se sentando à mesa, coisa que não acontecia quando o pai não estava lá. Eles nunca se sentavam só os três; era desesperador. — Os meninos continuam indo bem nos estudos e eu estou focada em auxiliar nos preparativos para a quermesse da igreja.

Ela tem passado tempo demais lá. — Jeongin comentou, baixinho, mas Jake ouviu. E sabia que o garoto desconfiava de alguma coisa que não dizia à ninguém, nem à ele.

— Oh! — O homem limpou a boca e sorriu. Poucas coisas eram mais aconchegantes que aquele homem sorrindo por coisas tão pequenas. — Como o ano passou depressa... já estamos em época de quermesse?

— Será em algumas semanas. — Ela sorria, extremamente contente por falar daquilo. — Essa festa é para arrecadar fundos para as marmitas dos sem-teto. Sunsuhan anda fazendo um bom trabalho pela região. E... — Ela encarou todos da mesa. — Eu quero que todos participem.

Jeongin olhou para o irmão.

Aquela frase era uma sentença. "Eu quero que todos participem" significava: todos irão participar, sem desculpas e sem possibilidades de negativa. Auxiliar na quermesse em família era cultural para a senhora Sim, já que era necessário para ela mostrar que todos de sua casa eram envolvidos com a igreja, ainda que o pai não desse a mínima, Jake fosse sufocado por aquele lugar e Jeongin quase não acreditasse na religião.

No fim, ela vivia de aparências, assim como todos os moradores daquela cidade. Em Sunsuhan, uma boa reputação era tudo.

Mas Jake sabia que não conseguiria participar integralmente daquela Quermesse. O trabalho era das 15 às 21h e a festa já estaria para além da metade quando ele estivesse deixando o café, e Jeongin sabia.

Seu irmão calculou aquilo no exato momento que foi dito, e Jake quis chorar, pois sabia que teria problemas. Ele não podia dizer que estava trabalhando.

— Eu estarei voltando mais tarde para casa nos próximos dias... — Ele começou, devagar. — Estou tendo que participar de uma sala extra e de um grupo de estudos...

— Desde que chegue para a quermesse, você pode estudar o dia todo se quiser. — A mulher rebateu, sem sequer olhá-lo, mas a sobrancelha estava arqueada e o mais velho compreendeu que ela não acreditava no que havia dito. — Não estamos abertos para discussões. — Então ela sorriu e serviu mais uma porção de carne para o marido, afinal jamais jogaria suas desconfianças com ele presente.

Jeongin observou tudo e fechou os punhos com força, então Jake prontamente alcançou o braço do mais novo de baixo da mesa. Não valia à pena discutir.

Eles só precisavam sair daquela casa. Rápido.

***

— Bom dia, senhor contratado. — Soojin sorria de um jeito muito bonito e se preocupou em falar baixinho quando estacionou em frente à sua casa.

Jake também sorriu. Inicialmente havia desejado contar Soojin e Jeonghan na segunda, durante o intervalo, mas havia ficado tão eufórico que fez uma chamada de vídeo e contou já no sábado à noite. E depois da conversa, ficou-se decidido que durante aquela semana Jeonghan compraria o material para pintar seus cabelos de ruivo, por que decidiram que fariam isso no sábado seguinte.

— Bom dia. — Mas sua expressão logo preocupou a garota.

— Por que você não está sorrindo até rasgar a cara?

Jake se sentou no banco do passageiro e fechou os olhos, suspirando.

— Minha mãe. — Soojin bateu a cabeça no encosto do banco.

— O que a tia fez dessa vez?

— Todos os anos ela cobra a participação da família toda nas quermesses da igreja. Minha mãe é bem rígida sobre a colaboração de todos, mas eu... — Soojin mordeu a boca.

— ...Mas você vai estar trabalhando esse ano. — Jake assentiu devagar e a garota suspirou antes de dar partida no carro. — Não tem possibilidade de você contar pra ela que arranjou um emprego? Em algum momento ela vai ter que saber, Jakey.

— Sim. Ela vai saber quando eu tiver um lugar para ficar e não precisar me demitir só por que ela quer. — Ele cruzou os braços, como se fosse se aquecer. De repente havia ficado frio. — Eu sei que ela vai surtar quando ficar sabendo, e eu sei que não vou poder só aceitar dessa vez. Quero evitar a fadiga, só um pouco, sabe? Eu ando tão cansado de discutir com ela, só queria um pouquinho de paz.

— Eu sei que é difícil passar por esse tipo de coisa, sei que fugir da situação é o método que você encontrou para deixar as coisas mais fáceis... — Ela mudou a marcha e o olhou de canto de olho. — Mas Jakey, sabe... o lugar onde você está hoje vai exigir que você não fuja mais, sabe? Você não vai mais poder deixar quem você é para evitar conflito...

— Sei disso. E também sei que vai chegar a hora que o inevitável vai acontecer. — Ele sorriu de canto. — Mas, até lá, eu quero paz, Soo. Só por hora, por que depois vai ser muito difícil de conseguir.

Soojin ainda o olhou por alguns segundos antes de assentir devagar. O jeito passivo de Jake lidar com os problemas com a mãe nunca a deixariam tranquila, mas ela compreendia o amigo o suficiente para não interferir naquela escolha. A vida ainda era dele e se o Sim achava que era mais fácil assim, ainda que ela discordasse, aceitaria.

Porque era disso que se tratavam as amizades, afinal. Existiam poucas coisas no mundo que ela não faria por aquele garoto, e respeitar as decisões dele com certeza não era uma delas. Por isso Soojin apenas continuou dirigindo até Mulbang-ul, estacionando o carro cerca de quinze minutos depois, quando entraram na Universidade.

Eles se despediram na entrada dos blocos e Jake fez uma prova de análise e gestão ambiental logo no primeiro período. Ele ainda assistiu aos outros três períodos antes da primeira pausa do dia.

Naturalmente ele iria até a cantina comer alguma coisa, mas naquele dia ele preferiu se encontrar com Sunghoon na frente do anfiteatro, onde existiam diversos bancos e era um pouco mais calmo.

E eles teriam ficado ali, se ele não fosse puxado para dentro de um dos banheiros para ser prontamente beijado. Ele se assustou de primeira, mas acabou rindo durante o ósculo quando percebeu quem era.

Jake lambeu a boca de Sunghoon e sorriu.

— Me assustou.

— Só um pouquinho... — O tatuado respondeu e o puxou para mais perto pelo quadril, puxando o lábio dele com os dentes. — Fazia tempo que eu não te beijava assim.

— Park Sunghoon, você é indecente.

— Sou. — Ele sorriu e deixou um selinho na boca dele. — E na última vez que estivemos nesse banheiro, eu te coloquei em cima da pia.

Jake o encarou. Os olhos estavam mais escuros e ele começou a sentir o sangue correr mais rápido também, mordendo a boca inconscientemente.

Não era novidade que desde aquele dia no motel, seus hormônios andavam instáveis; Sunghoon o desconfigurava. Ele acordava e ia dormir duro quase todos os dias, os banhos vinham ficando longos demais e ele não fazia ideia de como a mãe ainda não havia notado coisas como aquela.

Mas a verdade pura e simples era que desejava Sunghoon de um jeito perigoso demais. Foi por isso que ele ofegou quando sentiu os dedos longos o apertando com mais força para trazê-lo para perto o suficiente para que os quadris se roçassem e ele pudesse sentir.

— Tava com vontade de te sentir assim. — O mais novo sussurrou, levando a boca para lamber o pescoço cheiroso. Afundar o nariz naquele pescoço era uma mania nova, porque Jake era sempre absurdamente cheiroso.

— Eu acho que vou precisar dormir fora de casa essa semana. — Jake sussurrou, respirando forte conforme as mãos de Sunghoon desciam para apertar a bunda pequena e redonda. Então o tatuado assentiu.

— Você vai sim.

— Hoonie-ah... — Ele sussurrou e tentou empurrá-lo um pouquinho. — Você tá me deixando duro.

O mais novo gemeu arrastado e o trouxe para mais perto.

— Eu amo quando você fala assim. — Ele mordeu a pele da clavícula do mais velho de beijou em seguida. — Eu resolvo pra você... estou muito duro também.

— Sunghoon...

O ofego ansioso só foi acalmado pelos lábios que vieram sem aviso, e depois daquilo tudo virou uma bagunça. As mãos nervosas caminhavam pelos corpos trêmulos, tirando as roupas do lugar, mas não do corpo. Os dígitos caminhavam por lugares sensíveis e faziam ofegos roucos deixarem os lábios entreabertos.

Quando a mão de Sunghoon encontrou a ereção dura, masturbando devagar antes de juntá-la com a sua, Jake gemeu baixinho e se apertou nele, instintivamente movendo o quadril para foder os dedos longos devagar. A punheta dupla foi ainda mais prazerosa quando um dedo atrevido e úmido procurou pelo vão na bunda do mais velho, estimulando a entrada, sem nunca se penetrar de verdade.

— Quando eu te tiver de novo... — Sunghoon sussurrou, apertando as ereções com mais força. — Eu quero poder entrar aqui. — Ditou, pressionando mais o buraco apertado. — Duro e gostoso, até você gozar pra mim.

— Hoonie... — O outro ofegou. — Alguém pode nos ver...

Então ele aumentou a intensidade da punheta e sorriu.

— Então é melhor nós acabarmos logo com isso, não é mesmo, meu bem?

O orgasmo abafado foi pelo beijo que nunca acabava. Dessa forma as vozes foram contidas para não chamarem tanta atenção, mas a sujeira não pôde ser evitada e veio a ser limpa com muito cuidado depois, enquanto ambos se preocupavam em ficarem tão apresentáveis quanto possível.

— Tudo bem? — Jake sorriu fraquinho e deixou um beijinho na boca dele.

— Você ainda me pergunta sobre isso?

Sunghoon sorriu também. Era difícil não pensar que ele poderia se culpar e fugir à qualquer momento... ele não gostava da ideia de ser responsável pela tristeza de alguém, especialmente se essa pessoa fosse Jake.

— Estava pensando em te dar uma carona pro trabalho hoje.

Jake sorriu. Nada pesava por que faziam meses que ele não botava o terço no pescoço. Às vezes ele até se esquecia que ia pro inferno.

Eu aceito.

***

Jake havia trocado de roupa. Soyou havia dito que estava providenciando o uniforme que usaria no café, mas que por hora era melhor que ele usasse uma camiseta branca e jeans escuros, então ele havia separado aquelas peças e se trocado antes de sair da faculdade.

Sunghoon estava estacionado na frente da cafeteria e ainda faltavam vinte minutos para dar o horário de Jake entrar, por isso o mais velho se encontrava tentando respirar devagar para o nervosismo não o sabotar logo no primeiro dia.

— Vai dar tudo certo. — O mais novo disse, quando notou as mãos trêmulas. — Muito provavelmente hoje você vai só aprender a rotina e como as coisas funcionam. Tudo bem errar, eles não vão te demitir por isso.

— Não? — Sunghoon riu e deixou um selinho na boca dele.

— Claro que não. É seu primeiro dia e eles sabem que você nunca trabalhou antes... eles estão acostumados à ter funcionários assim e vão saber te ensinar. Você vai se dar bem.

— Certo. — Ele assentiu e desceu da moto, tirando o capacete e lhe estendendo, pronto para se despedir. Entretanto, antes que fizesse isso, Sunghoon o segurou pelo pulso.

— Hm... — Ele olhava para o guidão da moto. — Eu vou....visitar minha mãe. Hoje.

— Vai agora? — Sunghoon assentiu e Jake se voltou para ele, segurando suas mãos e sorrindo pequeno. — Essa é uma decisão importante. Ela vai ficar feliz em te ver.... tente não pensar demais. Ela é sua mãe, te ama, e só te quer por perto sempre que puder. Vai dar tudo certo.

— Sua positividade me inspira.

— Eu não estou sendo positivo. Estou sendo extremamente racional agora. — Ele repetiu o que o tatuado havia lhe falado dias antes e segurou o rosto de Sunghoon com as duas mãos, pra depois sorrir de um jeito bonito. — Você é corajoso.

O mais novo tinha os olhos fixos nele, mas não disse nada. O "Não, eu não sou nem um pouco corajoso" não lhe saiu pelos lábios. Ele apenas repassou na cabeça todas as vezes que havia falhado com a mãe por que era fraco, então sorriu pequeno, assentindo.

Jake não lia mentes. Não notou que o sorriso forçado não era apenas pela insegurança e nervosismo de sempre... ele não conhecia a parte mais escura da vida de Sunghoon, não tinha como saber.

— Eu saio às nove. Me ligue se quiser falar sobre isso. — Ele deixou um selinho na boca do outro homem e lhe devolveu o capacete definitivamente, acenando antes de entrar na cafeteria.

Sunghoon acenou de volta, mas continuou ali durante pelo menos dois minutos até finalmente dar partida.

Tentaria ser pelo menos um pouco corajoso.

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