13
O corpo vibrava à cada toque. As mãos lhe tocavam nos lugares certos e ele sentia que entraria em combustão espontânea em um momento muito próximo, porque o baixo ventre se contorcia e ele não conseguia mais segurar os gemidos engasgados.
O interior da boca quente o deixava desesperado, a língua rosada circulando a glande deixava as pernas moles e os dedos longos lhe acariciando por dentro faziam com que a boca se abrisse em gemidos mudos. Toda a sensação era multiplicada quando ele abria os olhos e encontrava as íris escuras que não quebravam o contato em momento algum.
Ele estava perto. Ele estava muito perto e encarou a mão tatuada antes de gemer alto e... acordar. Acordar suado, ofegante e incontestavelmente duro. Jake observou sua situação e esfregou os olhos, mais uma vez frustrado ao constatar que a frequência de sonhos como aquele continuava aumentando, ainda que ele se cobrisse de orações antes de se deitar.
Quando achou que não podia piorar, notou que faltavam menos de vinte minutos pro despertador tocar e ele sentia como se não tivesse dormido nada. O corpo doía, estava quente pelo sonho erótico e ele sabia que, além da ereção latejante, ele ainda teria de lidar com a culpa agoniante por querer se tocar até que o calor fosse embora; a carne gritava por alívio e o espírito padecia por culpa do desejo.
O banho gelado aliviava o calor, mas não a culpa. O sabonete cheiroso limpava a pele suada mas não os pecados ocultos e embora a água levasse embora a sujeira do corpo, ele ainda se sentia imundo por dentro.
Não existia uma fórmula secreta e há muito ele duvidava de que existisse de fato uma cura. E como se já não fosse cruel o suficiente, Sunghoon parecia disposto à continuar perturbando seus pensamentos e fazendo com que se sentisse cada vez menos digno do paraíso e mais próximo do inferno.
Mas ele ainda se sentia tentado.
A curiosidade fazia com que o corpo agisse sozinho, tornava a conduta menos engessada e fazia com que o estômago rodasse naquela sensação deliciosa de adrenalina. Adrenalina essa que durava pouco demais para fazer com que a consciência não o perturbasse por horas.
Ele queria fugir, mas não era o tempo todo. Ele ainda se cobria em preces, mas ás vezes esquecia de pedir perdão e o terço jazia esquecido no peito.
E faziam apenas dois meses.
Ele refletiu sobre tudo enquanto se movia de forma automática para se vestir. Em cinco minutos estaria tomando café. Em quinze Soojin viria buscá-lo. Em quarenta estariam na faculdade e em uma hora estaria tendo a primeira aula do dia.
Tudo em sua vida parecia ser um ato mecânico e treinado para que fosse perfeito, e o que mais lhe causava medo era que a insegurança causada por Park Sunghoon fazia com que sua personalidade real gritasse e esperneasse para romper a barreira que a religiosidade impunha.
Alguns diziam que aquilo era bom, mas para ele soava como uma maldição.
Querer paz não devia ser um pedido tão inalcançável. Queria ser normal, queria poder ter decisões fáceis ao alcance de suas mãos e queria não precisar fugir de nada, por que não existiram escolhas que necessitassem de fuga.
Mas a cabeça vinha questionando coisas demais e o corpo desejando mais do que podia.
Com isso, a cura parecia cada vez mais longínqua e indisponível. A língua parecia tendenciosa à mentir e nenhum banho faria com que ele se sentisse menos sujo, por que a água não limpava a cabeça confusa.
Com isso o mau humor veio e a revolta acompanhou-o.
Jake queria explodir.
— Você está estranho hoje. — Jeonghan comentou e entregou uma bandeja em suas mãos. Soojin assentiu e o encarou brevemente antes de pegar a fila e reclamar do barulho, embora soubesse que o refeitório nunca seria silencioso durante o almoço.
Jake ignorou a constatação dos amigos e montou sua bandeja com arroz, kimchi e carne de porco, separando algumas verduras em uma tigela antes de buscar uma garrafa de chá gelado na geladeira. Soojin foi à sua frente buscando por uma mesa vazia e acabou encontrando cinco vagas em um espaço bem afastado da self-service, lugar onde eram acostumados a se sentar.
— Miyeon vai ter dificuldade em encontrar a gente aqui... — Resmungou quando se sentou, buscando o celular no bolso antes mesmo de tocar na comida.
— O que há entre vocês? — Jeonghan sorriu depois de questionar e ver Soojin virar bruscamente em sua direção. — Assustou, princesa?
— Você é ridículo. — Ela bufou e voltou a atenção pro celular. — Ela é legal.
— Com ou sem roupa?
Jeonghan arregalou os olhos e riu, afinal a pergunta veio de Jake. Não fazia muito tempo desde que se tornaram amigos, mas todos os dias se surpreendia com o quanto ele era extremamente autêntico em alguns momentos, mas em outros parecia uma criança assustada e totalmente reprimida pela religião.
— Jake? — A garota também tinha os olhos arregalados e prendeu uma risada quando ele deu de ombros. — Eu amo quando você fala assim.
— E eu amo quando você não muda de assunto, Soo. — Jeonghan mais uma vez tomou à frente. — Você ainda não falou sobre a Miyeon.
— Eu não-
— Se você quiser, consegue fácil. — A voz grave teria assustado Jake se aquilo ocorresse algumas semanas antes, mas naquele momento tudo que aconteceu foi a aceleração repentina do coração ao mesmo tempo que seu corpo se arrepiou, ocasionando uma sensação estranha, mas que não era uma novidade.
Jake a conhecia e sabia que ela não poderia estar ali.
— O que? — Soojin mais uma vez arregalou os olhos, abrindo e fechando a boca pelo menos cinco vezes antes de continuar. — É sério?
Sunghoon sorriu e colocou sua bandeja ao lado da de Jake.
— Como futura psicóloga, eu imaginei que você fosse mais esperta.
— Ela é esperta para as coisas dos outros. — Jake comentou de forma aparentemente despretensiosa. — Quando é com ela, fica toda idiota.
— Jake Sim, eu te odeio.
— Nem você acredita nisso. — Jake riu e separou uma porção de Kimchi nos palitinhos, mastigando devagar antes de se virar para Sunghoon. — Eu nunca te agradeci. — Ele deu de ombros. — Então, obrigado.
Ele não viu, mas Soojin cutucou um Jeonghan distraído com o cotovelo.
— Pelo que?
— Por ter me ajudado em cálculo um. — Ele abriu a garrafa de chá. — Eu consegui resolver bem.
— Fico feliz em saber. — Sunghoon virou o corpo na direção do outro; as mãos tatuadas apoiaram o rosto bonito e ele sorriu de canto. — Estou sempre à disposição pro que você quiser, meu bem.
Jake não voltou os olhos para ele e engoliu a sensação que subia pelas pernas até o estômago. Ele levou uma porção de arroz à boca e lambeu os lábios depois de engolir.
— Vou me lembrar disso.
Jeonghan trocou olhares com Soojin e analisou a situação enquanto o clima da mesa mudava. E todo mundo sabia o tipo de tensão que existia ali, embora um deles fosse insistente em fazer a egípcia.
— Vocês estudaram juntos? — Jake assentiu. — Quando? — Como uma boa amiga, Soojin se preocupou quando recebeu aquela informação. O Sim estava muito diferente aquela manhã, e por experiência ela sabia que ele se culparia mais tarde.
Era sempre assim.
Nas pequenas ocasiões onde ele não se forçava à personalidade engessada, ele sempre se recriminava mais tarde pelas interações não muito cristãs. Não era a primeira vez que ele agia daquela forma e Soojin se preocupava com o resultado; havia acontecido alguma coisa que ela não sabia.
Ou pior, vinham acontecendo coisas sobre as quais Jake não falava.
— Fazem algumas semanas. — Sunghoon respondeu. — Levei ele pra almoçar e resolver algumas questões de cálculo um.
— Por isso não vieram almoçar no dia da prova? — Jake assentiu. — Fiquei sozinho. A Soo estava estudando também.
— Eu não sei como você consegue notas tão altas sem estudar.
— Eu levo jeito pra matemática. — Respondeu sorrindo e encarou a autora da questão. — Eu presto atenção na aula e tudo bem, mas por outro lado não importam quantas vezes eu leia algo de humanas, eu não consigo entender.
— Pessoas de exatas são estranhas.
Soojin trocou um olhar com Jake. Ela sabia que sexta ele havia tido uma sessão com o padre, também sabia que existiam coisas que ele estava escondendo e ainda que fosse um bom mentiroso, ele nunca soube fazer esse jogo com ela.
Seu comportamento estava estranho; ele estava irritado, direto com seus sentimentos e não pensava muito antes de falar, da mesma forma que acontecia toda vez que sentia raiva de algo. Talvez soasse pretensioso, mas não existia no mundo alguém que conhecesse Jake Sim melhor que Seo Soojin e era por isso que se sentia preocupada. Os olhos bonitos estavam diferentes e ela não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo e do quão afetado ele havia ficado depois de sexta.
Precisariam conversar.
— O resto do grupo não vem? — Jeonghan engoliu um pedaço de porco e encarou Sunghoon, esperando por uma resposta.
— Sunoo, Niki e Jungwon estão em reunião com a atlética da faculdade. Logo chegam os jogos acadêmicos e eles fazem parte da organização. — Explicou. — A Miyeon tinha prova no primeiro período e o Heeseung me disse que ia terminar um projeto. O Jay... — Ele riu. — Bem, Jay é o Jay.
— E isso quer dizer o que? — Jake arqueou a sobrancelha em sua direção.
Sunghoon sorriu.
— Que ele provavelmente está de joelhos em algum banheiro.
Os olhos ficaram juntos por alguns segundos e Jake concluiu que toda a conversa com o padre naquela sexta-feira havia lhe deixado com duas certezas; a primeira era que ele não queria mais deixar todos os seus pecados dentro daquele escritório. E a segunda...
— TMI. — Resmungou, inquieto. — Informações demais.
— Você pediu por essa, Jake. — Jeonghan disse com a mesma voz monótona de sempre e Soojin não se refreou em rir alto quando o amigo revirou os olhos para a cara debochada de Sunghoon.
A segunda certeza era que não importava o quanto fugisse, Sunghoon sempre lhe daria motivos para lembrar.
***
Antes
Havia demorado até que os pais lhe comprassem um celular com android e acesso à internet, mas quando Jake completou quinze eles acreditaram que era importante ele manter contato com os colegas da escola e Sunsuhan passou a ser mais aberta sobre isso, então presentearam o filho mais velho com seu primeiro smartphone.
A primeira coisa que o garoto fez quando o aparelho finalmente chegou pelos correios, foi instalar o aplicativo e criar um login no Facebook. Todos os amigos já possuíam contas ativas, então orientaram o garoto a como mexer corretamente e ele não demorou nada para aprender a se virar sozinho.
Foi depois de uma aula, enquanto o pai trabalhava e a mãe visitava a avó em uma cidade próxima com Jeongin, que viu uma notificação brilhando em seu perfil; uma solicitação de amizade de uma pessoa que possuía poucos amigos em comum, mas um nome extremamente familiar que fez seu coração ficar agitado.
Hwang Hyunjin está te enviando uma solicitação de amizade.
( ) Aceitar ( ) Excluir
Faziam alguns anos desde que havia se despedido do melhor amigo de infância. Eles até tentaram manter o contato e trocar algumas cartas e poucos telefonemas, mas como eram muito novos e dependentes dos pais, aos poucos as cartas deixaram de ser enviadas e as ligações foram extintas.
Mas naquele momento parecia que não haviam se passado tantos anos, e Jake ofegou.
O primeiro amor é difícil de se superar.
Hwang Hyunjin está te enviando uma solicitação de amizade.
( x ) Aceitar ( ) Excluir
E com o pedido aceito, jake vasculhou todo o perfil; Hyunjin estava tão diferente. Os cabelos lisíssimos haviam sido descoloridos e exibiam um tom verde pastel, estavam sempre bagunçados e ele sentiu vontade de dar um pote de hidratação ao outro, mas ele continuava tão bonito... não era mais uma criança de oito anos, estava mais alto, o rosto já possuía traços mais adultos e parecia que à cada nova foto o coração do Sim ficava mais agitado.
Só que não tão agitado como quando a caixa de som reproduziu o típico barulho de nova notificação e o nome do outro garoto pulou na tela.
Hwang Hyunjin te enviou uma mensagem.
Hwang Hyunjin [15:35]:
| Finalmente te encontrei aqui
| Uau, vc está diferente
| Está mais bonito do que eu me lembrava.
Jake Sim leu aquelas mensagens quase dez vezes. Ele sentia o corpo um pouco mole, o coração mandava impulsos para todo o corpo, os dedos formigavam um pouco pelo nervosismo, ele sentia as palmas das mãos suadas e absolutamente nada havia acontecido.
Ele apenas (e fazia questão de frisar isso para si mesmo) havia recebido uma mensagem de um amigo de infância e estaria tudo bem se aquele amigo de infância não fosse a primeira pessoa por quem havia se apaixonado na vida. E Hwang Hyunjin sabia disso.
Hyunjin sabia e o tinha deixado entender que correspondia, ainda que fossem crianças e a cabecinha infantil do Sim pudesse ter interpretado tudo de uma forma errônea. Mas, naquele momento, o coração de um Jake adolescente continuava a se agitar como se nada tivesse mudado e ele ainda tivesse oito anos.
Você [15:45]:
Faz pouco tempo que criei esta conta |
Você sabe como os meus pais são |
Então eu estou um pouco atrasado nesse mundo, hahaha |
Você também está diferente. Pintou o cabelo... |
Ficou bonito. |
Hwang Hyunjin [15:47]:
| Uau, nenhuma abv
| Continua certinho como smp
| E por acaso o senhor já baixou o kakao?
Você [15:48]:
É o costume haha |
Baixei... |
Hwang Hyunjin [15:48]:
| Vc pode me passar o número?
E Jake passou.
Hwang Hyunjin o chamou com um emoji mostrando a língua e printou a tela do celular. O número dele havia sido salvo como "keykey", então Jake salvou o número do esverdeado como "Jinnie" e colocou um emoji de um sorvete verde ao lado, que mais tarde seria substituído por um coração vermelho.
Os dois continuaram conversando até que em algum momento virou costume eles enviarem fotos um ao outro; por causa disso o fundo de tela de Jake logo foi tomado por uma foto de Hyunjin com uma bandana prendendo os fios ressecados e uma lindíssima cara de sono.
Tudo ia bem e eles conseguiam manter a conversa leve ainda que existissem muitas coisas que não eram faladas, mas é claro que depois de quase cinco meses alguns sentimentos retornam ainda que nunca tenham sumido de fato, e as coisas ficam difíceis de se ignorar.
Você [22:15]:
Mas naquela época você era fascinado por super heróis |
Eu ficava paranóico |
Jinnie ♥ [22:15]:
| Eu me lembro.
| ...
| Vc queria ser o meu homem aranha.
Você [22:20]:
Existem coisas que nunca mudam. |
Por que eu ainda quero. |
Jinnie ♥ [22:21]:
| jake
| Eu acho que estou me apaixonando por você de novo.
Naquele momento, o sentimento era doce.
Jake ainda possuía um relacionamento tranquilo com a mãe, não se via como um pecador e era fácil ser ele mesmo, especialmente enquanto ele podia estar ali com Hyunjin. A vida parecia era simples, ele continuava se dedicando à paróquia e embora o preconceito nunca tivesse sido inexistente, ele não chegava até o Sim...
Porque ele ainda não compreendia que era tão errado.
Falar sobre homossexualidade em Sunsuhan era raro, quase não acontecia, então nunca o haviam contado que era pecado. Nunca haviam lhe dito que ele era uma aberração porque ninguém chegou a pensar que Jake poderia ser gay.
E o mais novo não havia contado, por que estava tudo bem. Em seus lábios, aquele sentimento tinha gosto de mel.
Mas é claro que uma hora a realidade chega.
Keykey ♥ [22:25]:
| Eu quero ver você.
Você [22:26]:
Eu também quero muito te ver. |
E o mel vira veneno.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top