07
Mesmo que ninguém soubesse, Sunghoon não havia mentido para Chan quando disse que tinha um compromisso naquela segunda-feira. Depois do almoço ele ainda participou de duas grades, fez anotações importantes e tirou dúvidas, mas não ficou para as três últimas aulas.
Ele saiu pela entrada da frente e cogitou fumar um cigarro antes de tirar o capacete do bagageiro da moto, mas se lembrou que ela não gostava de quando ele fumava, então desistiu.
O Park montou na moto que havia comprado com o dinheiro das corridas ilegais e sua rota foi tranquila até parar no supermercado mais próximo para escolher alguns doces antes de seguir na estrada que ligava Mulbang-ul à Sunsuhan. A velocidade fez com que ele chegasse no destino em apenas vinte minutos, quando toda a viagem levaria quarenta e cinco se ele andasse de uma forma segura.
Mas há muito ele não se importava com isso, afinal nunca havia se sentido seguro de fato.
Ele deixou a moto no estacionamento de uma pequena venda e seguiu à pé por cinco quarteirões até encontrar a casa que buscava. Sunghoon pulou o muro baixo e se esgueirou sorrateiramente até estar de na entrada de trás, então ele enviou uma mensagem pelo celular e aguardou até ouvir o som da porta sendo destrancada.
A mulher que abriu o puxou para um abraço instantaneamente e o mais novo não fez nada além de afundar o rosto na curva do pescoço cheiroso para retribuir o contato. Ele olhou para os lados, verificando se o ambiente era seguro e a puxou para dentro, trancando novamente a porta em seguida. O horário era conveniente e ele não havia matado as últimas aulas por qualquer motivo.
Afinal, ele estava trabalhando nesse horário.
- Que saudade de você, meu amor. - A mulher o abraçava com força e distribuía inúmeros beijos por todo o rosto. Os cabelos lisos e escuros estavam presos em um rabo de cavalo baixo, o corpo estava mais magro e ela possuía alguns hematomas nos braços. Sunghoon percebeu isso e seu coração doeu. - Você está bem? Tem comido certinho?
- Uhum. - Ele murmurou e a apertou mais forte. - Eu queria ter vindo antes...
- Tudo bem, você veio agora. Nós nos falamos bastante nos últimos meses, você sabe.
- Eu me preocupo. - Sussurrou. - Odeio a senhora sozinha com aquele animal.
Sangah se afastou um pouco do garoto para segurá-lo pela lateral do rosto e olhá-lo profundamente. Ele havia mudado bastante desde que havia saído de casa, mas ainda continuava sendo a pessoa que mais amava no mundo.
A mulher beijou-lhe a ponta do nariz e sorriu, decorando cada novo traço.
- Eu estou bem, bebê. - Respondeu, mas Sunghoon sabia que era mentira. - Eu amo você, Sunghoon. Você sempre se lembra disso, não se lembra?
- Eu me lembro, omma. Eu também te amo. - Ele sorriu pequeno e entregou a sacola de supermercado à ela. - Comprei chocolate. A senhora me disse que estava com vontade...
- Ele disse que eu estava engordando. - Deu de ombros, e abriu a primeira barra. - Me proibiu de comer doces e passou a verificar os cupons fiscais para ter certeza de que eu não estava comprando. Teve um dia que ele encontrou uma embalagem na lixeira...
- Por isso os braços roxos? - A mulher sorriu e deu de ombros, incapaz de falar enquanto mastigava o doce. - Eu preciso te levar embora.
- Você sabe porque não dá, meu bem.
- Que se foda. - O garoto socou a mesa com força e se levantou. - Ele continua te batendo e te impedindo de comer, ele te trai todos os dias e você ainda se importa com ele...
- Você sabe que não é por causa dele que eu continuo aqui, amor. - Sangah deixa o chocolate de lado e alcança as mãos tatuadas do único filho. - Por favor, eu não quero brigar... você cresceu tanto, fazia tanto tempo que não vinha... eu quero curtir você.
Havia nascido e crescido em Sunsuhan, mas seu coração não aceitava a cidade como sendo sua. A mãe era de Gwangju e o pai havia nascido em Busan, eles se conheceram quando foram cursar a faculdade em Mulbang-ul, se casaram um ano depois que terminaram os devidos cursos, mas não viveram lá por muito tempo, uma vez que o brilhantismo de Park Dongsun não demorou à ser descoberto por uma multinacional que mandou o jovem casal até Boston, nos Estados Unidos.
Eles haviam construído uma boa vida na capital estadunidense, Sunghoon foi concebido lá e teria nascido naquele lugar se seu pai não tivesse adoecido e definhado por uma doença que corroeu sua saúde até o último osso. Da descoberta do câncer em estado terminal até que a doença o levasse demoraram menos de dois meses.
Sangah descobriu a gravidez durante o processo de tratamento do marido, mas ele só soube que seria pai quando a esposa notou que não teria mais volta. Ela pretendia aguardar que ele se recuperasse e eles pudessem viver aquele momento feliz como um casal normal, mas Dongsun nunca se recuperou e nunca conheceu o filho.
A mulher voltou para a Coréia e participou do enterro do marido em Busan, voltando para a casa dos pais em Gwangju logo em seguida para não ficar sozinha durante a gravidez que descobriu ser de risco. Agora, sem o marido e com a saúde debilitada, Sangah se viu afundando em uma depressão cada vez mais forte sem que conseguisse nadar até a borda para se salvar.
Foi pelo filho que começou a frequentar pequena e tradicional capela localizada no centro, e também foi lá que conheceu o homem que a carregaria lentamente até o fundo do poço, mas ela não sabia disso. A doença a deixou fraca física e emocionalmente, e já aos sete meses de gestação ela sequer acreditava que continuaria viva depois de Sunghoon. Dongsun continuava presente e sua falta era enlouquecedora.
Yeong Sunho estava passeando pela cidade e parecia um bom homem. Ele prometeu que cuidaria dela e de seu filho de baixo da vontade de Deus, então eles se casaram antes mesmo que Sunghoon nascesse e se mudaram para a pequena cidade de Sunsuhan. Ele nasceu forte e saudável menos de um mês depois, mas Sangah perdeu muito sangue e teve complicações que lhe custaram as duas trompas.
Estéril, o marido bondoso logo se dissolveu e as coisas foram piorando até que se chegasse a situação atual.
- Me desculpe. - Sunghoon disse logo após suspirar. - Eu odeio saber que a senhora continua nesse lugar.
- Mas você está livre, bebê. Para mim é o suficiente.
- Meu pai odiaria, também. - Sussurrou e Sangah travou, descendo os olhos e mordendo os lábios para segurar o choro. - Ele te amava, omma. Iria querer que a senhora fosse feliz.
A mulher deixou que uma lágrima solitária escorresse, esfregou os braços machucados, mas ainda assim forçou-se a um sorriso. Ela secou o rosto com as mãos que um dia foram seu maior charme e segurou o rosto do filho mais uma vez.
- Dongsun está em paz, Hoonie. Ele me conhece e sabe que eu sou forte. - Sorriu. - E você também é forte, teve a quem puxar. Eu sei que ele olha por nós de onde quer que esteja, e eu sou muita grata por tê-lo tido. Você é nosso maior tesouro e eu vou te proteger até o último momento.
Sunghoon tornou a abraçá-la e chorou baixo, como sempre fazia quando se encontravam e como ele jurava ser extremamente discreto.
Mas Sangah sabia.
E chorava junto dele.
*
Seungmin se jogou na cama de Somi e suspirou. A garota veio em sua direção pulando em um pé só enquanto lutava para retirar as meias 7/8 que compunham o uniforme escolar. Quando as duas estavam fora do corpo ela se deitou ao lado do amigo de forma que pudesse observá-lo enquanto ele mantinha os olhos no teto.
- Ele não falou por mal. - A garota disse, baixinho, aguardando que o melhor amigo voltasse os olhos para si. - O Minho só se importa contigo...
- Se ele se importasse comigo não falaria aquele tipo de coisa.
- Amigo... - Ela chamou de novo e suspirou. - Ele tenta te proteger do jeito dele. Poxa, nós somos amigos há tanto tempo, ele não seria tão duro se não estivesse preocupado com você.
- Mas ele não tem motivo nenhum para ficar preocupado comigo, Somi! - O garoto se sentou no colchão e bagunçou os cabelos loiros. - Que droga, não é possível que seja tão difícil ele ser sensível quando fala sobre os meus sentimentos sobre o Niki hyung.
- Ele fica assim por que você mal tem dezessete e o hyung é quase dez anos mais velho que você. - Ela disse com cuidado e Seungmin a encarou. Somi se sentou também e observou o movimento dos próprios pés. - O Minho acha que você vai se machucar.
- Você acha que o Minho seria capaz de me machucar? - Somi apenas o encarou em silêncio e Seungmin negou. - Ele sempre é um príncipe comigo e eu quero tentar, Somi, por que acho que se eu mostrar como sou maduro, ele vai me dar uma chance.
A garota encarou o melhor amigo e eles ficaram em uma troca de olhares silenciosa durante algum tempo. Ela não tinha coragem alguma de dizer à Seungmin que ele estava se iludindo, afinal o garoto sempre ficava agressivo quando insinuavam que ele era novo demais para Niki.
Mas naquele dia, Minho havia tentado ter uma conversa muito franca com o ele durante o intervalo no colégio. Seungmin vinha stalkeando as redes sociais de Niki à semanas e se magoando sempre que o via com algum amigo novo, tendo a certeza de que ele havia ficado com cada uma das pessoas em questão.
Era dolorido para os três e o loiro não entendia que independentemente de sua maturidade, Niki ainda era uma pessoa decente e dez anos mais velha.
- Você gosta tanto assim dele? - Ela questionou, observando o perfil alheio que imediatamente sorriu com a pergunta.
- Muito. Desde que o vi pela primeira vez aqui na sua casa. - Ele encarou os próprios dedos entrelaçados; os dedões faziam movimentos circulares um em torno do outro e ele parecia sonhar acordado enquanto falava. - Ele é sempre tão gentil, Somi! Ele sempre faz questão de nos cumprimentar e conversar sobre qualquer coisa... ele é tão bonito e ainda assim consegue ser tão humilde e educado! Às vezes eu me pergunto se alguém como ele realmente existe. - Suspirou. - Ele ainda gosta de crianças, faz serviços voluntários... existia alguma chance de eu não me apaixonar por ele?
- A idade não te incomoda nem um pouquinho? - Ela fez o sinal de pouco com o indicador e o dedão e o garoto a olhou, sorrindo.
- Se o Minho tivesse a idade do Niki, você ia conseguir não gostar dele?
Somi ficou vermelha até as orelhas e acertou Seungmin com uma almofada felpuda.
- Não fala sobre isso!
- Mas você gosta dele, ué. - Ele riu enquanto tentava se defender do ataque, até que a menina parou de dentar acertá-lo e pressionou a almofada contra o próprio rosto, gemendo em frustração.
- Eu odeio gostar dele, Seungmin. - A voz parecia abafada por causa do tecido. - Ele gosta de outra pessoa.
- Ele nunca falou sobre ninguém comigo.
Seungmin não ouviu, mas ainda assim Somi disse, quase num sussurro mudo.
- Não me surpreende...
Ela retirou a almofada o rosto e encarou o teto por alguns segundos. Os pôsteres de grupos variados preenchiam a área acima de sua cama, e ela suspirou quando buscou o rosto amigo mais uma vez.
- Você deveria ir falar com ele. Eu vou ficar muito triste se vocês continuarem brigados.
- Chantagem?
Somi riu.
- Não. Vocês são melhores amigos, vão se acertar. Eu duvido que vocês queiram quebrar nosso trio das Totally Spies. - Ela fez um biquinho adorável e Seungmin cruzou os braços à frente do peito.
- Eu te odeio muito, Jeon Somi. - A garota riu e abraçou o melhor amigo, deixando um beijo estalado contra a bochecha macia.
- Vou pedir pra ele vir pra cá.
- Ele não tinha natação hoje?
- Ele pode vir depois! - Ela imediatamente sacou o celular do bolso do blazer da farda escolar e acessou o kakao para encontrar o grupo fixado no topo.
TRÊS ESPIÃS DEMAIS
Você [12:47]:
Vem p cá dps|
Seungmin quer falar com você|
A gente pode comer pizza e maratonar Meteor Garden|
Princesa Seungmin [12:48]:
| Jeon Somi eu te odeio
Lino [13:10]:
| esse dorama é muito ruim
Então, quando Seungmin tirou o telefone de suas mãos para responder agressivamente à ofensa de Minho contra o dorama favorito dos dois, Somi sorriu.
Ficaria tudo bem.
...
Recado do coração: Não se preocupem quanto ao trecho final que TUDO é explicado nós próximos e vai fazer sentido.
Guardem os comentários ruins pra só depois de saberem o que rolou de fato
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