❖ Medos

Oláaaaaa! Eu voltei com isso aqui!

Então, hoje, 11 de maio, é o meu aniversário. Eu tenho uma tradição meio boba que começou devido a minha inconstância antigamente para atualizar minhas histórias. Então toda vez que chegava no meu aniversário, eu me esforçava ao máximo para atualizar TODAS as minhas fics em andamento no MESMO DIA, hahahaha. O tempo passo e embora eu tenha melhorado isso e agora seja mais disciplinada, pensei que seria legal continuar. Então estamos aqui com uma atualização depois de um tempo paradinha com essa história aqui.

Eu já tinha postado uma outra versão desse capítulo antes ainda no Spirit, só que depois eu fiquei insatisfeita com ele e resolvi adicionar algumas coisas. Então pra quem leu antes, vai ter umas coisinhas novas.

Agradecimentos a: MaryHHyuuga, AthenaRocha e Danystefribhina. ♡ Obrigada, meus amores, por lerem e comentarem, é super importante pra mim, principalmente por eu ter precisado recomeçar. :) ♡♡

Feedback é sempre bem-vindo! Boa leitura e até as notas finais!

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Não demorou muito tempo para que Hinata percebesse que a vida em Bagneux era tranquila. Tão tranquila que estava começando a ficar entediada. Não tinha ido embora pensando em ser dona de casa e ficar sendo sustentada pelo dinheiro abundante de Sasuke, muito pelo contrário, queria poder trabalhar no que quisesse sem se preocupar com o que as pessoas iam achar dela. Que as oportunidades não lhe fossem negadas só por ela ser mulher.

As primeiras semanas passaram bem rápido e Sasuke ficou a maior parte do tempo em casa. Eles tiveram tempo mais do que o suficiente para se conhecerem melhor e descobrirem mais sobre os gostos pessoais do outro. O Uchiha não ficou surpreso em saber que ela tocava instrumentos com maestria e ficou feliz em ouvi-la tocar o piano antigo que seu pai tinha deixado ali — o velho tinha esperanças que Sasuke aprenderia a tocar um dia. Além disso, Hinata tinha se mostrado muito perspicaz, o que fez com que eles desenvolvessem uma espécie de comunicação silenciosa, em que um era capaz de entender o que o outro tinha em mente sem precisar dizer uma palavra.

Tinha funcionado muito bem na cama.

A Hyuuga teve o prazer de descobrir a paixão do mafioso por tomates e histórias. Sasuke não era muito de falar, mas ele gostava de ouvi-la contar as presepadas de sua vida e escutava tudo atentamente, inebriado pela voz doce e se divertindo com as aventuras pouco apropriadas para uma dama na sociedade em que eles viviam. Ele também compartilhou algumas de suas experiências e ela não o julgou por nada que ele já tinha feito, em vez disso, dissera:

— Não estou em posição de te julgar, eu escolhi fugir com você sabendo dos riscos, sabendo quem você era. Não quero e não vou te cobrar coisas baseadas em uma moral hipócrita.

Ele escondeu um sorriso de canto e, embora tivesse ficado surpreso com as palavras dela, nada disse. Hinata era mesmo uma caixinha de surpresas. Isso só provava ainda mais que ela era perfeita para ele.

Naquele dia, Sasuke tinha saído de casa para resolver os seus negócios, já tinha ficado muito tempo parado e ele precisava pensar sobre o que faria agora que já não estava mais em Paris. O mafioso tinha propriedades em muitos lugares diferentes do país, e uma delas ficava ali, em Bagneux, que tinha sido o seu destino naquela manhã.

Para sua total surpresa, encontrou Suigetsu assim que abriu a porta da construção e entrou. Ele estava dormindo em um dos sofás de couro do cômodo que deveria ser uma recepção. Sasuke se aproximou depois de fechar a porta e chutou o sofá, fazendo com que o Hozuki despertasse do seu sono em completo desespero.

— O que? Não atire! Eu posso explicar, Karin! — Os olhos dele demoraram a focalizar em Sasuke, e o mafioso revirou os olhos e estalou a língua depois do amigo despertar parcialmente.

— Não quero nem saber o motivo por trás de você estar dormindo aqui.

— Exagerei na bebida e Karin não me deixou entrar em casa morto de bêbado — explicou meio sonolento, enquanto se sentava e massageava as têmporas.

— Eu disse que não queria saber — Sasuke pontuou e se virou para entrar no cômodo mais a frente, que era para ser um escritório, mas estava empoeirado demais. Ele espirrou assim que entrou e seu rosto se fechou em uma carranca. Suigetsu já estava o seguindo de perto, bocejando. — Eu achei que você já tinha chamado alguém para dar uma faxina nesse lugar, me lembro de ter sido bem específico ao dizer que queria esse lugar limpo até hoje.

Suigetsu abriu um sorriso preguiçoso e coçou a parte de trás da cabeça. Sasuke revirou os olhos, porque já sabia o que isso significava.

— Era pra eu ter feito isso, mas eu acabei esquecendo. Estava ocupado — disse na maior cara de pau e recuou quando o Uchiha estreitou os olhos em sua direção, enquanto passava a mão pela mesa de madeira repleta de pó e a levantava em sua direção.

— Não sei como alguém tão incompetente como você é o meu braço direito — o mafioso resmungou não verdadeiramente irritado, mas balançava a cabeça em negação. — Eu deveria te fazer limpar essa merda com a língua.

O rosto do albino se contorceu em uma careta de nojo.

— Ew. — Encostou-se na lateral da porta e observou o seu chefe bater a mão em uma poltrona no canto da parede e lhe lançar um olhar mortal antes de se sentar. — Eu vou dar um jeito nisso, tá bom? Ainda hoje.

— Nada mais do que sua obrigação — Sasuke resmungou impaciente e retirou um charuto do bolso do seu paletó, acendeu-o em seguida e deu uma tragada profunda. — Precisamos nos organizar o mais rápido possível, os negócios não podem parar, ainda mais agora que Orochimaru estará fora do nosso caminho por um bom tempo.

— Hinata realmente fodeu com ele, não é? Garota esperta. — Sorriu como um pai orgulhoso de um feito do filho. — Mas você sabe que ele não é o único, duvido que ele teria coragem de te enfrentar sem nenhum tipo de apoio.

— Estou contando com isso — admitiu. Havia uma expressão sombria no rosto do mafioso e ele soprou a fumaça do charuto para longe. — Eles já devem ter contratado Deus e o mundo esperando retaliação. Os desgraçados subestimam minha inteligência.

— Devem estar se cagando há semanas esperando por nós — Suigetsu debochou, mostrando seus dentes pontiagudos.

— Faremos as coisas no tempo certo — murmurou. — Mais importante do que isso: você já encontrou a desgraçada da Temari?

— Ainda não — o outro respondeu e saiu de perto da porta, começou a andar pelo escritório e foi até a janela e a abriu com certa dificuldade. Olhou para fora, a rua ainda vazia. — Deveríamos nos preocupar?

— Hm — Sasuke anuiu e suspirou. — Ela não é de ficar quieta por muito tempo, e já estamos aqui há algumas semanas. Já deveria ter aparecido. Mulher do diabo.

— Estamos no território dela — Suigetsu lembrou-o, embora duvidasse que isso fosse necessário.

— Eu sei. Vamos apenas esperar por ela. — Foi a decisão final de Sasuke. — Agora, vá atrás de alguém pra limpar a merda desse lugar, que temos trabalho a fazer.

— Antes de eu ir, tenho uma pergunta importante.

— Fala logo, Suigetsu. Sabe que não temos o dia todo, não é?

— Por que você é tão rabugento assim, hein? — Diante do olhar de poucos amigos de Sasuke, ele se apressou em continuar, aproximando da mesa empoeirada: — Tá, tá. Olha só, eu sei que provavelmente você já pensou nisso, mas mesmo assim... Sabe que é uma questão de tempo até que descubram que Hinata está com você. Por acaso já pensou em como vai protegê-la disso tudo?

— É, já sei — admitiu. A preocupação era visível em sua expressão normalmente séria, estoica. — As coisas com ela podem ser meio, como posso dizer, complicadas. Hinata é teimosa, ela não vai aceitar viver como uma dona de casa apenas para ficar em segurança. E eu jamais podaria os sonhos dela. Então a única opção é ensiná-la a se defender e chamar nossos melhores homens para garantir que ela não seja um alvo fácil.

— Nossa, você está mesmo de quatro por ela — Suigetsu zombou. — Você não era desse jeito nem com a Marie.

— Hinata não tem nada a ver com a Marie — Sasuke disse, a voz grave adquirindo um tom irritado. — Marie era uma vadia suja e interesseira. Hinata não é assim.

— Tá, foi mal, sabe o que eu quis dizer! — O outro levantou as mãos e deixou o recinto antes que Sasuke realmente atirasse em si.

Hinata depositou a xícara de chá no pires, antes de levá-lo a mesa de centro e deixar lá com um suspiro.

— Qual o problema? — Karin perguntou depois de bebericar o seu copo de conhaque. Hinata a achava meio doida por beber algo tão forte logo pela manhã, mas já tinha percebido que isso era um hábito estranho de mafiosos ou algo do gênero. — Você parece pensativa.

A dona dos olhos perolados sorriu um pouco, achando graça de como a ruiva era perceptiva. Durante as semanas que tinham se passado, as duas tinham se tornado bem próximas e Hinata agradecia por isso; porque além de Kurenai, ela nunca teve muitas amizades femininas ao seu redor e lamentava por isso. Com Karin as coisas eram sempre animadas e parecia que não havia mal tempo — tirando quando a ruiva se estressava com Suigetsu por algo idiota que ele tinha feito —, e Hinata adorava ouvir as histórias dela, sobre a adolescência aventureira e conturbada do trio de mafiosos.

Algumas semanas antes, ela tinha contado como conheceu Sasuke.

— Eu estava morando na rua, minha mãe tinha acabado de se suicidar, porque meu pai e meu irmão morreram na guerra. Eu não tinha absolutamente ninguém, Hinata — Karin contara. Os olhos da Hyuuga se encheram de lágrimas, porque ela conhecia muito bem esse sentimento e o quão devastador ele poderia ser. — As pessoas não se importam de verdade em ajudar quem é necessitado, só quando envolve política, aí sim eles fingem fazer isso.

— E o que você fez? — Hinata perguntara, interessada na história.

— Eu não queria ir para o orfanato, eles eram terríveis. Se fosse pra ser enchida de porrada, era melhor ficar na rua. Então, eu comecei a roubar. Ia no mercado e surrupiava as coisas. Não querendo me gabar, mas já fazendo isso, sempre tive as mãos bem leves e fiquei incrivelmente boa nisso. — A Hyuuga não pôde deixar de rir. — E foi quando eu conheci Suigetsu. Ele era um moleque catarrento que tinha acabado de fugir do orfanato; outros moleques de rua tinham cercado ele para roubar as coisas que ele carregava e foi então que eu decidi bancar a heroína.

— Quantos garotos eram? — perguntou, bem animada.

— Uns cinco, não me lembro direito, mas era por aí.

— E você enfrentou todos eles?

— Pff. — Karin balançou a mão e riu de forma debochada. — Até parece, Hinata. Eu era um graveto, fiz foi levar uma surra junto com ele. Ficamos igual dois fodidos naquele beco nojento. Foi ali que eu tive minha segunda lição sobre como era viver na rua: não espere que ninguém pegue leve com você. Porque eles não vão. Mas depois disso, eu e Suigetsu passamos a roubar comida juntos, de vez em quando umas prostitutas deixavam a gente entrar no bordel pra se lavar. Foi só alguns anos depois disso que encontramos Sasuke.

— Como ele era? — Podia-se dizer que Hinata era bem curiosa, um mal de jornalista, por assim dizer.

— Hmm. — A ruiva cruzou as pernas e levou uma mão ao queixo, parecendo resgatar uma memória distante. — Ele parecia um animal, pra ser bem sincera. As outras crianças tinham muito medo dele e não era pra menos. Naquela época, ele era mais instinto do que consciência; a mãe dele era uma prostituta viciada em ópio que o deixou por aí quando ele ainda tinha uns quatro ou cinco anos de idade, também não me lembro direito. Sei que ela morreu um tempo depois de alguma dessas doenças, sífilis. A vida foi bem mais difícil pra ele do que para qualquer um de nós. — Isso tinha feito o coração de Hinata se apertar dolorosamente. Era muito difícil para si imaginar uma criança tão pequena nas ruas. — Eu e Suigetsu fomos os primeiros a se aproximar de Sasuke. Com o passar dos anos ele foi se tornando mais... Apresentável. Depois Fugaku tirou ele das ruas e levou a gente com ele. Sei que é difícil pensar que um mafioso pode ser uma pessoa boa, mas foi ele quem nos alimentou e deu o conforto de um lar. Nunca mais passamos fome e não precisamos mais roubar para sobreviver. Então não tenho do que reclamar sobre isso.

A jornalista entendia o pensamento dela. Depois de tanto sofrer, era natural que eles vissem com bons olhos quem tinha os acolhido, independente da índole. Depois de ouvir mais detalhes sobre a infância e adolescência daquele trio pelas histórias divertidas e diretas de Karin, passou a entender mais porque eles eram tão ligados e agiam como uma verdadeira família.

Voltando para o tempo atual e vendo que a ruiva ainda esperava por uma reposta, encarando-a com afinco, pigarreou antes de responder:

— Estou entediada. Essa vida de ficar parada sendo madame não é para mim. — Karin arqueou uma sobrancelha. — Nada contra a vida de madames, só pra deixar claro. Só não é pra mim.

A ruiva deu uma gargalhada alta e tomou o resto da sua bebida em um gole só. Descruzou as pernas e se ajeitou de modo mais confortável na poltrona em que estava sentada.

— Eu estava me perguntando por mais quanto tempo você aguentaria, já sabia que esse tipo de vida não é pra você — comentou ainda com um sorriso dançando por seus lábios pintados de vermelho. — Você está sentindo falta da adrenalina em sair metendo o nariz onde não foi chamada, não é?

— Acho que é inevitável. — A Hyuuga deu de ombros e respirou profundamente. — Eu gosto de descobrir o que as pessoas escondem debaixo do tapete, é como um dom.

— Olha só — Karin começou depois de ficar alguns segundos pensativa. — Você poderia falar com o Sasuke sobre isso, ele tem bons contatos, poderia indicar um lugar seguro em que você possa trabalhar. Agora que faz parte da vida dele, já deve saber que nada vai ser igual antes.

— Eu sei — Hinata afirmou com um aceno de cabeça. — Há pessoas que vão querer me usar para atingi-lo.

— Sim. — A ruiva gesticulou com uma mão e se inclinou para frente, Hinata manteve os olhos nela, esperando que ela continuasse: — A vida na máfia não é fácil para nós, mulheres, Hina. Porque aqueles caras lá fora acham que valemos menos. Sempre querem nos usar para atingir outros caras. Para eles só servimos pra trepar, se divertir, dançar e tudo acaba nisso.

— Isso não está certo — a Hyuuga resmungou com o cenho franzido.

— É, não está. — Karin se levantou da poltrona e pegou o copo vazio de conhaque que descansava na mesa de centro. Andou até o mini-bar ali perto e abriu a garrafa de conhaque, despejando o líquido no copo até que chegasse na metade. — E foi por isso que eu aprendi a me defender cedo, para que eles soubessem que não podiam se meter comigo.

A Hyuuga ficou pensativa a respeito das palavras proferidas por Karin. Ela sempre tinha sido considerada inteligente; pensava rápido em uma saída nas piores situações — não era atoa que era jornalista investigativa — e também era muito corajosa. Mas se algum dia fosse encurralada, seria difícil se livrar desse tipo de situação, não era como se também fosse um mestre em artes maciais ou soubesse atirar.

— Hm, Karin? — Também se levantou da poltrona, chamando a atenção da outra mulher, que tombou a cabeça para indicar que a ouvia. — Seria pedir demais que você me ensinasse a atirar?

A ruiva fechou os olhos e uivou — sim! Uivou! — em seguida.

— É disso que eu estou falando, garota! — Largou o copo por ali mesmo e se apressou em vestir o casaco por cima do vestido escuro que usava. Karin não usava chapéus, preferia deixar o cabelo ruivo solto e bagunçado. — Vamos lá, pegue o seu casaco!

Não precisou dizer nem duas vezes.

Hinata a acompanhou para fora de casa com um sorriso satisfeito.

O clima em Bagneux nessa época do ano era frio, chuvoso e muito úmido. Karin soltou uma maldição em voz baixa, enquanto andava junto com Hinata em direção a um campo remoto aos arredores da propriedade de Sasuke. A lama se impregnava em suas botas e ela odiava a sensação de caminhar sobre a umidade lamacenta da grama. Hinata vinha logo atrás, carregando uma espécie de baú de porte médio, enquanto a ruiva segurava uma bolsa de couro perto do corpo.

Quando pensou que já estavam longe o suficiente para fazer barulho sem chamar muita atenção, Karin parou.

— Aqui já está bom — anunciou e largou a bolsa no chão. — Vamos colocar os alvos em seus lugares primeiro, abre aí, tem garrafas e latas velhas dentro dessa coisa.

— Ah, por isso que estava tão pesado — Hinata constatou quando colocou o baú no chão e abriu a pequena trava, revelando um bando de garrafas coloridas de diversos tamanhos. — Hm, interessante. Você faz isso com frequência?

— Às vezes, é bom ter um lugar pra descontar a raiva quando eu tô puta. — Sorriu amarelo e Hinata riu, balançando a cabeça como se dissesse "você parece não ter jeito". — Pegue umas garrafas e venha comigo.

Mais uma vez, a Hyuuga fez o que ela pediu e as duas andaram juntas mais alguns metros à frente, distribuindo as garrafas em cima de troncos de árvores que tinham sido cortadas há muito tempo. Depois voltaram até onde estava a bolsa; Karin abriu e Hinata espiou, vendo que havia algumas armas diferentes ali. Não era especialista no assunto, mas não precisava de muito para saber que aquilo tudo deveria ser produtos da melhor qualidade. Duvidava que Sasuke se contentaria com pouco.

— Vamos começar com essa aqui, é a mais comum, é o que a polícia costuma usar. — Retirou da bolsa um revólver Colt Police Positive, calibre .38. Entregou para Hinata como se estivesse lhe dando um objeto qualquer. — Não se preocupe, ainda não está carregada. Apenas pegue e sinta o peso, experimente a sensação e veja como é.

Hinata pegou o revólver com cuidado e o analisou brevemente. Não era tão pesado do jeito que tinha imaginado e também era pequeno. Segurou direito, do jeito que imaginou que deveria ser e levantou na altura do rosto.

— Assim não — Karin alertou. — Não tão perto do rosto, senão o recuo vai foder com essa sua carinha de bebê. — Ela pegou outra arma de dentro da bolsa e mostrou como fazia. — Separe as pernas na mesma distância dos seus ombros, segure firme, assim, com as duas mãos, os polegares cruzados; só coloque o dedo no gatilho quando for realmente atirar. Estique os braços, dessa forma, você só precisa consertar a altura do alvo.

— Nossa, você realmente é boa nisso — a Hyuuga murmurou, impressionada, e copiou a postura da ruiva da melhor forma que podia. — Assim está bom?

— É, pra sua primeira tentativa, vai ficando melhor com o tempo. Esse revólver que você está segurando não é muito potente, mas é pequeno e dá pra carregar por aí. — Hinata balançou a cabeça e mirou em uma garrafa, sabia que não estava carregada, mas apertou o gatilho mesmo assim, só pra ver como era. — Quer tentar?

— Sim — afirmou, excitada pelo aprendizado. Karin sorriu para ela. — O que eu faço agora?

— Vou te ensinar como carregar, vamos ver se você é uma boa aluna mesmo.

A dona dos olhos claros gostava do desafio e ela conseguiu surpreender Karin com seu rápido aprendizado. A ruiva não se decepcionou em nada e teve mais um motivo para gostar dela. Infelizmente, assim como Hinata, Karin não teve muitas amigas mulheres ao longo da sua vida, as poucas que teve morreram de doenças ou simplesmente por estarem no meio da bagunça dos homens. Então ela se sentia verdadeiramente feliz em ter alguém que poderia contar quando necessário, quase como uma parceira do crime.

As horas passaram tão rápido que elas só se deram conta quando o sol tinha mudado completamente de posição e nuvens pesadas vieram, anunciando a previsível chuva. Juntaram as armas na bolsa e voltaram para a casa correndo para não ficarem ensopadas, assim que o temporal começou.

— Vamos repetir a dose assim que possível — Hinata pediu quando elas já estavam na segurança do lar, carregando o baú que, agora, estava vazio.

— Claro! — Karin assentiu bem animada com a ideia e largou a bolsa em um canto. — Você pode guardar isso? Eu quero ir dar uma olhada no Pietro. Ele estava dormindo quando a gente saiu, espero que a babá tenha cuidado bem do meu garoto. — Saiu em passos pesados e Hinata fez uma careta vendo o rastro de lama ficar para trás.

Hinata pegou a bolsa do chão e subiu as escadas, enfurnaria em algum lugar do quarto e pegaria quando elas fossem praticar outra vez. Sentiu-se mal por sujar o piso limpo, mas não era como se pudesse fazer muito, já tinha arrastado as botas no tapete e limpou o máximo que conseguiu.

Entrou no quarto que estava compartilhando com Sasuke — era tão bom pensar nisso — e o cheiro dele invadiu suas narinas com força, inebriando os seus sentidos. Ainda estava ali, impregnado no cômodo inteiro, nos lençóis principalmente. Sentiu-se boba por estar tão apaixonada a ponto de sentir tanta saudade sendo que tinha o visto ainda pela manhã.

Mordeu o lábio inferior para segurar uma risada e balançou a cabeça, incrédula com os próprios pensamentos. Andou até o guarda-roupa e o abriu, para depois enfiar a bolsa em um canto, junto com outros bagulhos. Iria fechar a porta, quando sentiu algo cair em sua cabeça. Apertou os olhos confusa, e massageou o local atingido sem saber o que tinha acontecido, até que olhou para o chão e viu que o que tinha caído era uma agenda. Hinata agachou e pegou o objeto com cuidado, identificou a caligrafia bem-feita de Sasuke em algumas páginas, mas não se demorou muito, não querendo invadir a privacidade dele.

Uma foto pequena deslizou entre as páginas e Hinata a capturou rapidamente entre os dedos antes que fosse ao chão. Olhou para a fotografia, intrigada, nela havia uma mulher muito bonita. Embora estivesse em preto e branco, dava para perceber que o cabelo dela era claro e os olhos escuros, os traços do rosto dela eram muito femininos e delicados, os lábios pareciam um coração. Ela não sorria. A Hyuuga virou a foto e estava escrito "Marie" na borda.

Pensou se essa seria a mulher que Sasuke e Naruto amaram em um passado não tão distante.

— Hinata? — A voz de Karin a despertou e ela pulou de susto, como se fosse uma criança levada aprontando algo. A ruiva tinha parado na porta e a encarou de forma confusa. — Você está bem?

— Ah, estou sim! — respondeu rápido e enfiou a foto de volta na agenda e atirou-a na parte superior do guarda-roupa, de onde tinha caído. — Cadê o Pietro?

— Acordado, a babá acabou de levá-lo para brincar lá embaixo — a ruiva respondeu, desconfiada.

— Hmm, eu estou faminta, vamos? — Hinata já tinha andado até a porta e a fechado.

A Hyuuga se perguntou se o que estava sentindo no momento era ciúme.

Ciúme de uma mulher morta.

Quando Sasuke voltou para casa, já tinha anoitecido. Praguejou em voz baixa, irritado por ter demorado mais do que esperava. Por causa da lerdeza de Suigetsu em fazer o que lhe foi mandado, seus planos de ter um dia produtivo foram por água abaixo e quase nada o irritava mais do que as coisas não irem de acordo com o que tinha planejado.

Entrou em casa e foi recebido por uma das empregadas, que segurou o seu sobretudo e perguntou se ele precisava de algo, o que ele respondeu em um aceno negativo de cabeça.

— Hinata? — Foi a única coisa que perguntou.

— Lá em cima, senhor.

— Certo. Pode ir.

Sasuke subiu a escada de dois em dois degraus, apressado para vê-la. Sentia-se um completo estúpido por ter passado o dia inteiro com o pensamento nela, mas como podia evitar? Quando ela o acordava em um abraço quente e beijos cálidos, apaixonados; olhares que diziam mais do que mil palavras e o fazia ficar ainda mais louco por ela?

Empurrou a porta do quarto sem bater, sabendo que já não havia mais esse tipo de barreira entre eles. Encontrou-a de pé perto da cama, secando o cabelo preto-azulado longo com uma toalha, vestida em um roupão felpudo preto, que continua o símbolo dos Uchiha atrás. Hinata levantou os olhos perolados e um pequeno sorriso brotou em seus lábios carnudos.

— Sasuke.

Ele não disse nada; apenas se aproximou dela de uma forma que faziam-no parecer um gato. Hinata o observou atentamente, parando sua atividade, até que ele estava perto o suficiente para que o aroma tão conhecido voltasse a incendiar seu olfato. O mafioso segurou o rosto dela com as duas mãos e abaixou os lábios em sua direção, tomando-lhe a boca em um beijo repleto de carinho e paixão. Hinata largou a toalha no chão para enroscar as mãos no cabelo dele, ato que foi bem recebido com um grunhido de aprovação e que a fez sorrir entre o beijo.

Sasuke ainda estava muito perto quando eles se separaram, segundos depois, manteve o rosto bonito entre as mãos quando disse:

— Quer sair para jantar? — Ele sorriu pequeno diante da expressão fingida dela de quem estava pensando.

— Hmm, eu não sei. — A respiração dele fez cócegas em seu rosto e ele beijou o canto dos seus lábios de forma demorada. — Tudo bem, parece que você tem ótimas formas de convencer alguém a fazer o que você quer — brincou bem-humorada. Os olhos escuros dele brilhavam e Hinata sentiu o coração bater forte. Haveria algum dia que deixaria de admirar a beleza dele?

— Pelo menos você já estava se arrumando. Imagina só se eu atrapalhasse os seus planos. — O tom dele era muito sério, mas a Hyuuga tinha passado tempo com ele o suficiente para perceber que havia um toque de humor em suas palavras.

Afastou-se dele e juntou a toalha do chão, antes de perguntar:

— Por que você está com a roupa tão suja? — Observou as manchas marrons na camiseta branca que Sasuke usava abaixo do colete. — Achei que você ia trabalhar.

O Uchiha suspirou profundamente e fechou os olhos por alguns segundos.

— Se Suigetsu fizesse o trabalho dele direito, eu não estaria nessa condição — reclamou.

— Você deveria ir tomar um banho então — Hinata sugeriu e chegou perto dele outra vez. Começou a desabotoar o colete escuro com cuidado.

— Seria melhor se você tivesse me esperado — comentou, maliciosamente, o colete já tinha ido parar no chão.

— Vou me lembrar disso da próxima vez. — Também começou a desabotoar a camiseta branca e ele apreciou quando os nós dos dedos dela tocaram suavemente sua pele, até que a peça de roupa também já estivesse no chão. Notou como os olhos dela se demoraram em seu torso nu para só depois encontrarem o seu rosto. — Você pode ir agora.

O mafioso arqueou uma sobrancelha e Hinata tomou uma distância segura dele, virando-se de costas. Ele jurava que tinha visto a sombra de um sorriso atravessar o rosto dela.

— Só isso? — ele perguntou quando ela já tinha alcançado o guarda-roupa e começava a escolher algo para se vestir. Hinata olhou-o por cima do ombro e deixou o roupão cair no chão, formando um montinho sob seus pés. — Hm.

— Achei que você queria jantar fora — ela o lembrou com certo divertimento e pegou um dos vestidos que ganhou de Karin. A ruiva adorava roupas.

Ele não respondeu, apenas terminou de tirar o restante das próprias roupas. Os orbes ónix passearam pelo corpo da sua mulher de costas, completamente nu, demorando-se no traseiro redondo e pálido. Ficou tentado a deixar algumas marcas ali, igual há umas noites, desviou o olhar antes que começasse a ficar animado demais com a ideia e voltasse atrás sobre ir jantar fora.

Balançou a cabeça e entrou no banheiro para tomar um banho gelado.

O Le Chaland era um restaurante conhecido por sua comida típica, abrangente e cara. Era o mais requisitado de toda a cidade, porque além das coisas óbvias, também tinha uma banda de jazz muito boa. Desde que tinha chegado àquele lugar, Sasuke pensou que seria uma boa ideia levar Hinata ali, porque tinha lembranças felizes sobre o lugar e gostaria de compartilhá-las com ela.

Arrumou uma mesa discreta para dois, sabendo que haveria os momentos em que seria incapaz de ficar longe e desejaria beijá-la e tocá-la. Tinha uma distância boa da banda, então daria para escutar a música e conversar ao mesmo tempo.

O braço dela estava enroscado no seu e ele nunca a tinha visto tão elegante; usando um vestido em que a parte de cima era branca com mangas que iam até os cotovelos e que ficava preto ainda na altura do estômago, fechando-se até um pouco antes dos joelhos. O traje valorizava as curvas sinuosas de Hinata, deixando a cintura marcada e os seios fartos juntos demais; não precisava de decote para chamar atenção. As pernas longas estavam cobertas por uma meia-calça preta e ela calçava um salto de tamanho mediano preto, que escondiam os pés delicados.

Sasuke sabia que Hinata não gostava dos chapéus e agradecia por isso, porque o cabelo dela era bonito demais para ficar escondido sob um. As mechas escuras caiam em ondas bem-feitas até o final da cintura e apenas uma presilha com uma flor roxa enfeitava a lateral do cabelo em um penteado simples, mas ainda assim, muito bonito. De qualquer modo, ele achava impossível ela ficar feia.

Em contrapartida, o mafioso usava um terno cinza escuro, os botões fechados até quase o pescoço, e uma gravata azul clara, a camiseta branca usual por baixo. A calça era lisa e também cinza escura, o sapato estava perfeitamente engraxado e o cabelo penteado para trás. Mais de um par de vezes, o mafioso encontrou o olhar de algum desocupado sob Hinata e estreitou os olhos de forma ameaçadora — que foi mais do que o suficiente para que qualquer um entendesse o recado.

Hinata sentou-se primeiro e em vez de sentar do lado oposto, Sasuke fez questão de ficar do lado dela enquanto a comida não chegava. Os dedos dele se entrelaçaram com os dela por cima da mesa e a Hyuuga encostou a bochecha em seu ombro.

— Eu estava conversando com Karin sobre uma coisa — ela começou em um tom ameno, para só depois olhá-lo nos olhos.

— Hm, sobre o que, meu bem? — quis saber, atento as palavras dela.

— Eu quero voltar a trabalhar, ela disse que era bom eu falar com você, porque saberia o que é seguro e o que não é. — Esperou por alguma reação dele, talvez até que tentasse persuadi-la a desistir.

— Preciso checar primeiro, faz muitos anos que eu não venho aqui — respondeu. — Tenho que garantir que é seguro, tudo bem?

— Claro — Hinata concordou, porque sabia que isso não era brincadeira. Um deslize sequer poderia custar sua vida, e não estava pronta para morrer. Não ainda. — Acha que vai demorar?

— Não. — Os olhos perolados brilhavam e ele ressaltou: — Prometo.

— Tudo bem — ela anuiu com um sorriso e ele não resistiu e beijou-a rápido nos lábios. A música soou um pouco mais alto e Hinata levantou a cabeça. — Eu adoro essa música.

Quase imediatamente, Sasuke se levantou da cadeira e estendeu a mão para ela.

— Me concede a honra de uma dança, senhorita? — De vez em quando ela ainda se pegava surpresa com a habilidade dele em ser debochado em um tom tão sério.

— Seria um prazer, milorde — ela concordou com um aceno positivo e segurou a mão dele em um aperto gentil.

Em silêncio, o mafioso levou-a em direção a pista de dança, onde já tinha alguns casais. Puxou-a para perto de si, os seios fartos sendo pressionados em seu peitoral; deslizou a mão até o meio das suas costas e levantou a outra, segurando na altura do seu próprio ombro. Conseguia sentir a respiração quente dela bem ali. Os dois começaram a dançar o jazz lento e gostoso.

Hinata levantou o rosto para ele e murmurou em um volume que era o suficiente para que ele pudesse escutar:

— Senti a sua falta.

— Também senti a sua — confessou como se fosse um crime. Hinata levou a mão que descansava no ombro dele até o local que ficava em seu coração e espalmou ali, sentindo as batidas fortes do coração dele. — Você precisa ficar segura, Hinata — declarou de repente. — Se algo...

— Nada vai acontecer comigo, Sasuke — Hinata o interrompeu. Sasuke apertou-a com mais afinco e a Hyuuga subiu a mão do peito até o rosto dele, parando em sua bochecha pálida. Ela o sentiu tremer. Sem parar de dançar, pediu: — Não se preocupe tanto.

Sabia que era impossível. Mas não queria que ele ficasse pensando o tempo inteiro sobre perdê-la.

— Hm — ele resmungou e beijou o topo da cabeça dela. — Meu pai costumava me trazer aqui às vezes.

— Sério? — ela perguntou, surpresa. — Você gostava?

— Sim, era um dos poucos momentos em que éramos apenas pai e filho, e não mestre e aprendiz — contou, parecendo ser transportado para um tempo distante. — Aqui ele também me contava histórias da infância dele, como tinha crescido, todo o caminho que fez até se tornar quem ele era. Isso serviu para sempre me lembrar o valor das coisas.

— Você não se lembra da sua mãe?

— Não muito. Tudo do que eu me lembro é do meu pai, de Suigetsu e de Karin. — Vendo o olhar dela, acrescentou: — Não precisa me olhar assim, teve os tempos difíceis, mas os bons também vieram. — Para amenizar o clima, Sasuke mudou de assunto: — Não fale pra ela que eu te contei, mas a primeira vez que eu vim aqui, Karin e Suigetsu vieram junto, nós tínhamos treze anos. Meu pai era do tipo que fazia piadas com o tom absolutamente sério e ele gostava de implicar com ela, principalmente com o que tinha a ver com o idiota do Suigetsu. Então ele disse algo sobre eles se casarem e formarem um belo casal. Ela surtou, ficou com muita vergonha e disse "eu nunca vou me casar com esse imbecil!" e os dois começaram a brigar. — Ele a girou, feliz por ver a expressão feliz voltar ao rosto dela. Quando voltou a segurá-la pela cintura, continuou: — Não lembro direito o que o Suigetsu disse, mas foi algo que deixou ela muito brava, então, Karin pegou a bandeja cheia de profiteroles de um dos garçons e atirou tudo em cima dele!

A risada de Hinata preencheu os ouvidos de Sasuke e ele pensou que era um dos melhores sons que já tinha escutado. Um sorriso muito discreto brotou em seus lábios finos. De vez em quando se perguntava se tudo aquilo não era um sonho e ele acordaria a qualquer instante. Seria horrível um dia acordar e não a ter em seus braços. Ele se abaixou para beijá-la na boca, o que foi retribuído de muita boa vontade.

Os dois dançaram mais algumas músicas antes de voltar para a mesa e fazerem o pedido. A comida chegou instantes depois e eles apreciaram a refeição em um silêncio agradável, de vez em quando murmurando coisas que faziam o outro rir discretamente.

Quando a refeição estava chegando ao fim, a Hyuuga percebeu como Sasuke parecia inquieto. Deixando os talheres de lado, limpou os lábios com o guardanapo e perguntou:

— Está tudo bem, Sasuke?

— Tem algo estranho aqui — confidenciou e também usou o guardanapo. — Olhe discretamente, mas tem um casal e dois homens sentados a duas mesas da gente, a nossa direita, eles chegaram depois de nós.

Hinata pegou a taça de vinho e levou aos lábios, para depois se inclinar para o lado de forma discreta e passar os olhos para onde Sasuke tinha dito e depois para ele outra vez.

— Já vi, o que tem eles?

— Chegaram pouco depois de nós e estão nos observando há um tempo. Não pediram comida, apenas bebida. E ninguém vem até o Le Chaland só para beber.

— O que devemos fazer? — perguntou. Sasuke admirou a calma dela.

— Eles não vão fazer nada em público. Devem estar esperando por uma brecha, talvez que eu fique mais bêbado. — Agradeceu mentalmente por ter bebido somente uma taça de vinho. — Eu vou levantar e ir na direção do banheiro, sabe onde fica? — Ela assentiu com cuidado. — Quando eu sair, você vai pedir a conta, depois de pagar, espere por alguns minutos. Tem uma janela grande dentro do banheiro, vou sair por ela e garantir que não tem ninguém nos esperando lá fora para nos emboscar. Entendeu?

— Entendi. Você vai ficar bem? — A preocupação era visível no olhar perolado e em como as sobrancelhas dela se franziam um pouquinho.

— Não se preocupe comigo, meu bem. Vou ficar bem. O importante é te tirar daqui em segurança. — Apertou a mão dela por cima da mesa e depois deslizou algumas notas, as quais Hinata pegou. — Nos vemos lá fora, espere um pouco antes de levantar.

Hinata apenas assentiu e bebericou a taça do vinho que eles tinham pedido até o fim. Observou-o partir em direção aos banheiros e ao mesmo tempo começou outra música que ela adorava, então fechou os olhos para apreciá-la melhor; sorriu sentindo o som do jazz trazer arrepios por todo o seu corpo — não tinha tanta certeza se era somente o jazz, mas tudo bem.

Olhou na direção em que ele tinha ido e apertou os olhos, respirou fundo e levantou a mão para pedir a conta. O garçom trouxe rapidamente e ela pagou sem esperar pelo troco. Levantou da mesa e seguiu na direção da saída, murmurando alguns "com licença" enquanto atravessava o salão e passava entre algumas cadeiras por um espaço apertado. Deu uma olhada em volta e percebeu que na mesa onde o casal e mais dois homens estavam antes, só tinha sobrado a mulher.

Um péssimo pressentimento caiu sobre si. Parada perto da porta que levava para a saída, não conseguia ver qualquer sinal de Sasuke. Receosa, começou a se perguntar se tudo tinha ido como ele planejara. Mordeu o lábio inferior, tentada a ir no banheiro masculino para ter certeza que tudo estava realmente bem. Não era tão longe, podia correr de volta para fora em um instante.

Seguindo seu instinto — ainda que fosse com certo receio —, Hinata engoliu em seco e rumou na direção dos banheiros. Conferiu se alguém olhava para si e só virou na direção do banheiro masculino quando teve certeza que estava ninguém prestava atenção nela. Empurrou a porta, mas esta não se abriu totalmente, alguma coisa estava a emperrando.

Então, ela empurrou com mais força e quase tropeçou quando porta cedeu de uma vez. Tudo aconteceu rápido demais: ainda desnorteada, olhou para o corpo desacordado no chão atrás da porta, uma poça de sangue se formava ao redor dele; a Hyuuga sentiu alívio quando viu que não era Sasuke, havia outro corpo mais na frente e também não era o seu mafioso. Levantou os olhos e foi então que o viu, o Uchiha sendo segurado contra a parede por um homem muito alto e musculoso.

O rosto do Uchiha estava começando a ficar sem cor, enquanto ele lutava para se desvencilhar do agarro do homem, sem muito sucesso. O estranho parecia não ter notado a presença dela, ocupado demais tentando matar Sasuke estrangulado.

Por apenas um instante Hinata sentiu o corpo congelar, pensando no que deveria fazer. Ir fisicamente contra aquele estranho não iria ajudar em nada, ele era muito mais alto e, com certeza, mais forte também. Sem dúvidas a derrubaria com um golpe só, ela se mexeu quando os olhos de Sasuke encontraram os dela e ele começou a se debater mais.

A Hyuuga se abaixou rapidamente e juntou o revólver jogado ao lado de um dos corpos, em cima de uma das poças de sangue. Lembrou-se do que Karin a tinha ensinado mais cedo, pelo peso, sabia que a arma estava carregada; separou as pernas na mesma distância dos ombros, levantou e esticou os braços na altura do colo e respirou fundo.

E então, apertou o gatilho.

Uma.

Duas.

Três vezes.

Sem sequer hesitar.

Hinata não ouviu nada. Sentiu como se estivesse surda.

O estranho caiu no chão, sem vida, e Sasuke foi junto, tossindo desesperadamente procurando por ar. Os olhos perolados estavam completamente arregalados, a respiração acelerada, o coração batendo muito rápido; a adrenalina percorria suas veias.

Hinata tem 23 anos quando atira em alguém vivo repetidas vezes e o mata. Ela não sabe o que sentir, a respiração parece difícil, as mãos estão tremendo. Apesar de tudo, ela sabe que não é medo e nem arrependimento.

Sasuke ainda tem 26 anos quando Hinata salva ele da morte pela primeira vez. Diferente de todas as outras vezes em que ele esteve nessa situação, ele sente medo. Mas não por si próprio, e sim, por ela. Porque sua mulher tinha acabado de matar alguém e não sabia como ela se sentiria sobre isso.

NOTAS FINAIS 

Esse capítulo foi muito dahora de escrever, porque aqui é basicamente a iniciação da Hina nessa vida de máfia. Antes me perguntaram se, por acaso, a história era inspirada em Peaky Blinders. E tipo, eu comecei a escrever essa fic em 2014 e não tinha nem conhecimento dessa série. Mas fiquei bem impressionada quando as pessoas associaram a fic a ela, ahahahaha, de um jeito bom, porque depois fui descobrir que é uma série muito boa!

Acho importante comentar sobre a Hinata não julgar o Sasuke pelas coisas que ele fez. Sei lá, eu enxergo muito a Hina dessa forma, e querendo ou não, ela escolheu fugir com ele, sabe do que essa vida de máfia é feita. Acredito que seria muito utópico escrever algo imaginando que ela aceitou ficar com ele pensando que poderia mudá-lo e etc. Não é o que eu tenho em mente.

A parte da Karin ensinar ela a atirar, eu dei uma pesquisada sobre armas e treinamento, então foi baseado nisso, se alguém que entender desses assuntos ler e isso e ver um bando de informação errada e tal, peço mil desculpas KKKKKKKKKK, juro que fiz pesquisa e tentei. Mas é isso.

O final foi intenso na hora de escrever, como vocês acham que a Hinata vai ficar depois disso? Me digam o que acharam!

Vou tentar manter a fic atualizada quinzenalmente, mas não vou prometer. Ela não é longa, então quero finalizá-la logo.

Obrigadíssima por lerem, até o próximo! ♡

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