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KYLA HARWOOD
EU NUNCA FUI MUITO AFIM DE LER ATÉ COMPLETAR DOZE ANOS. Harry Potter foi o meu primeiro livro que li por vontade própria, e eu li em dois dias. Desde aquele dia, eu comecei a frequentar a livraria dos meus pais todos os dias, mas nunca pensei em trabalhar lá. Então, no verão passado, eles me ofereceram o emprego e eu acabei aceitando por não ter muito o que fazer. E eu amei.
Então, depois da noite com Mason, passei a gostar ainda mais de ir para a livraria.
Acordei de manhã cedo em uma terça-feira e comecei a arrumar as coisas para ir à livraria. Desci as escadas de casa e encontrei minha família tomando o café da manhã. Deixei minha mochila perto da porta e fui até a cozinha com um sorriso radiante. Logo que comecei a me servir com ovos mexidos e bacon, minha irmã, Olivia, diz:
— O que é esse sorriso no seu rosto, Kyla?
Eu me viro para ela, vermelha como um tomate.
— Nada. É o meu sorriso de sempre.
— Ah, definitivamente não é o seu sorriso de sempre — meu pai comenta, rindo. Minha mãe também dá risada.
— O que está acontecendo esses dias com você, Kyla? Você parece mais... inspirada. Até chega na livraria mais cedo do que nós. Você nunca faz isso.
— Eu sei, mas...
— Tenho certeza que se trata de um garoto! — Olivia exclama, sentada na mesa.
Meu Deus Olivia, cale a boca, tenho vontade de dizer.
Por não saber mentir, decido contar a verdade.
— Tudo bem, a Olivia está certa.
Os três se viram para mim ao mesmo tempo com os olhos arregalados.
— O quê?! — minha mãe exclama. — Explique isso direito.
— Não é nada, mãe. Nós só saímos ontem depois que eu fechei a livraria, e fomos caminhar em Manhattan. Nada demais.
— Mas quem é esse garoto?
Respiro fundo antes de dizer, pois já sei o caos que essa cozinha está prestes a vivenciar.
— Mason Thames.
Olivia arregala os olhos e se levanta rapidamente, gritando um "O quê?!" bem alto.
— Não é possível! Mason Thames? Como que isso aconteceu, Kyla?
— Eu preciso ir. Já estou atrasada para abrir a livraria.
Saio correndo de casa, ainda escutando os gritos de Olivia me chamando. Vou caminhando até a livraria, apertando meu sobretudo contra meu corpo. A neve ainda cobre as calçadas, mas é mais fácil de andar. Ainda assim, está muito frio.
Eu não gosto de passar frio, mas odeio o calor. Odeio sentir o suor escorrendo pelas costas, não conseguir impedir o calor quando estou fora de casa - ao contrário do frio, que posso me manter aquecida com roupas quentes. Se me perguntassem se eu gosto mais do frio ou do calor, eu diria o frio.
Ainda estou pensando nisso, distante do momento presente, quando chego na livraria. Por estar distraída demais, sinto meu copo colidir com algo sólido. Antes que eu pudesse cair, sinto braços me segurarem e uma voz masculina familiar invadir meus ouvidos.
— Cuidado!
Até então estava desnorteada pela quase-queda, então, quando finalmente tenho uma visão clara, encaro o garoto à minha frente. Esses braços não me são estranhos... Quando o encaro nos olhos, arregalo os olhos.
— Mason?
— Oi, Kyla — ele dá um sorriso.
— Ainda é cedo, vou abrir a livraria agora. O que está fazendo aqui?
— Pensei que poderíamos passar um tempo juntos — pela sua feição, ele parece se arrepender profundamente do que disse. Balança a cabeça, e suas bochechas assumem uma tonalidade mais avermelhada do que o vermelho do frio. — Me desculpa, isso soou um pouco...
— Como você soube que eu estaria aqui hoje de manhã? — interrompo-o, ignorando seu pedido de desculpas.
— Eu... — Mason gagueja. — Não sabia. Só estava passando por aqui e me lembrei do tempo que passamos ontem... que foi bem divertido. Pensei que poderíamos repetir.
Pisco uma, duas, três vezes. Sinto meu rosto ficar vermelho como um tomate. Mason. Pedindo. Para. Passar. Um. Tempo. Comigo.
Chacoalho a cabeça, voltando do transe da minha mente, e sorrio:
— Claro! Entre, por favor!
Puxo a chave dos meus bolsos e giro-a na maçaneta. Mason espera pacientemente atrás de mim. Faço todo o tutorial para oficialmente abrir a livraria: acendo as luzes, devolvo alguns livros do balcão para as prateleiras, ajeito a mesa do caixa e faço um café.
— Quer um? — ofereço. Mason sorri fraco.
— Pode ser.
Assinto com a cabeça, pegando outra xícara.
— Então... — começo. — Já leu seu livro? É por isso que está aqui tão cedo?
— Na verdade... — ele diz. — Não, ainda não terminei A Cortina. Mas eu li Jane Austen ontem. E vi o filme também. Você disse que gostava, então...
Congelo. Deixo um sorriso singelo escapar dos meus lábios.
— Eu vi com a minha irmã, Madison... — Mason continua. — Ela me emprestou o livro também, de Orgulho e Preconceito, e eu passei a noite lendo.
— É por isso que parece tão cansado? — pergunto, e ele ri.
— É, acho que sim...
— Ah meu Deus, Mason. Você não precisava fazer isso.
— Eu queria — ele diz, firme. Sinto minhas pernas falharem. — Você fala de Austen com tanto entusiasmo... pensei que poderia ser um assunto legal para discutir.
— Então é isso que faremos agora! — exclamo, pegando as duas xícaras de café e entregando outra para Mason. — Cuidado, está bem quente.
Deixo a loja toda preparada para receber os clientes e me sento na bancada do caixa com Mason.
— Os clientes geralmente passam por aqui no final da manhã, perto da hora do almoço, então estamos tranquilos para papear — informo, checando o relógio que marcava dez e meia da manhã. — Então... você gostou do livro?
— Confesso que entendi melhor quando vi o filme — ele diz, rindo. — Mas eu gostei dos dois.
— Entendi. É mais complicado no início, quando você começar a ler os livros clássicos que possuem um vocabulário mais rico. Eu também tive essa dificuldade quando comecei com os livros, e não entendi muita coisa. Mas depois você se acostuma...
— Que bom — ele encolhe os ombros timidamente, com um sorriso meigo no rosto.
Conversamos por longas horas. Depois que comecei a falar sobre a minha experiência com Jane Austen, não consegui mais parar. Mason apenas me ouvia atentamente, sem desviar a atenção nem por um segundo. Toda vez que um cliente chegava para pagar por algum livro, eu o atendia e logo voltava a falar com Mason. Quando o café em nossas xícaras acabou, ele se ofereceu para pegar mais para nós. Depois, chegou com o meu café puro e um café com leite para ele.
— Eu não gosto muito de café puro, então adicionei leite — explicou. — Tem problema?
— Não! Sem problema nenhum! — digo.
Foi uma tarde muito agradável. Quando menos percebi, o sol já estava se pondo no horizonte. Minha hora preferida do dia, porque os raios de sol alaranjados invadem a livraria e deixam um clima ainda mais aconchegante ao local por alguns minutos até o sol desaparecer. Mason e eu paramos de conversar para apreciar a visão por algum tempo, em silêncio total. Terminei de beber minha terceira e última xícara do dia e me virei para Mason.
— Já está quase dando o horário de fechar a livraria. Você quer esperar?
— Claro. Você quer que eu te acompanhe até em casa?
Antes que eu pudesse responder alguma coisa, o sino da porta chama minha atenção. Olivia entra na livraria. Congelo com os olhos arregalados.
— Olivia! Oi! — exclamo, ainda petrificada.
— Oi... — diz, com um tom de voz desconfiado. Ela não para de encará-lo. — Você é o Mason?
Mason assente, vermelho como um tomate.
— Ah, meu Deus! O famoso Mason, literalmente...
— Olivia... — repreendo-a, desviando sua atenção dele. — O que está fazendo aqui?
— Pensei em ver como estavam as coisas aqui na livraria. Mas parece que encontrei algo melhor para ver... — disse, olhando para nós dois. — Vocês estão... ficando?
Sinto vontade de me criar um buraco no chão para me enfiar. Olho de relance para Mason, que coça a nuca, envergonhado.
— Não, Olivia, somos só amigos — explico, calma.
— Aham, assim como Adrien e Marinette...
— O quê...? — Mason inclina a cabeça, confuso.
— Olivia... — junto as mãos, tentando manter a paciência com minha irmã mais velha. — Mason e eu já estávamos de saída. Ele se ofereceu para me levar em casa, e eu aceitei. Você quer... vir com a gente?
Uma faísca se acende nos olhos da minha irmã.
— Claro que eu quero!
Puxo os cabelos da nuca, murmurando um "Desculpa" para Mason enquanto Olivia sai pulando até a porta. Termino de organizar tudo para amanhã e apago todas as luzes, trancando a porta e virando a placa para "Fechado". Olivia sai pulando pela calçada, enquanto Mason e eu caminhamos lado a lado.
— Ela pode ser um pouco... insistente, às vezes — aviso, apertando os lábios.
— Está tudo bem, sério — assegura, segurando meu ombro. — Eu não estou incomodado. Ela é bem energética, na verdade.
Na mesma hora, Olivia nos interrompe, gritando a alguns metros de distância.
— Pombinhos, vocês vão andar ou não?
Sinto minhas bochechas queimarem e, quando olho para Mason, ele não está tão diferente. Nos apressamos a andar mais rápido, já que Olivia estava praticamente correndo e estava um pouco mais perigoso. Não gosto de andar longe dela na rua, mas ela é uma pessoa tão energética - como Mason descreveu - que não consigo controlá-la de jeito algum. Ela se diz uma adolescente de treze anos, mas parece uma criança atentada de sete anos.
Passamos pelo centro de Nova York enquanto Olivia enchia Mason de perguntas. Ela perguntava sobre sua carreira, seus estudos, suas amizades, seus hobbies favoritos, até sobre seus relacionamentos... Ela não é nada discreta, mesmo. Mason apenas respondia com um sorriso tímido. Fiquei aliviada, e deixei os dois conversarem à vontade.
Fico feliz que Mason saiba lidar com o temperamento alegre da minha irmã curiosa.
Mais um ponto para ele.
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