O INFERNO

O caos na minha vida está gigante e a cada dia mais crescente, mas eu voltei pra tentar me reestabilizar aqui

Espero que gostem, boa leitura e não esqueçam de comentar.

Capítulo 6 – O Inferno

Jimin encarava tudo escandalizado.

O lugar era vulgar em absoluto. Pessoas semi nuas se esfregando, dançando e ele poderia jurar que o casal no canto estava realmente transando na frente de todos, sem nenhum pudor.

Se aproximou mais das costas do médico que o guiava para algum lugar, com medo de ficar perdido e sozinho no meio daquelas pessoas. Abaixou a cabeça, preocupado que poderia ser reconhecido e segurou com receio a camisa do homem que, por sua vez, já imaginava o que se passava na mente do príncipe.

– Não se preocupe, ninguém fará nada que você não queira. – Avisou por cima da música que não era alta e nem baixa, apenas o suficiente para criar um clima. – Todos aqui procuram o mesmo que nós: Diversão. Não precisa se assustar.

– Isso parece errado, deveríamos ir embora. – Murmurou apavorado.

– Vamos fazer assim. Nós ficamos por alguns minutos, observamos ao redor e, se você não gostar de nada, iremos embora. – Afirmou se virando para falar com o monarca e se arrepiou ao notar o quão próximo Jimin estava, com um olhar perdido e desamparado, como se precisasse de proteção.

Droga, aquilo era um ponto fraco do médico.

– Promete? – Perguntou com um tom baixo, que quase não foi ouvido.

– Prometo. – Jeon disse se afastando levemente, tentando manter a decência. Não sabia o que estava acontecendo consigo naqueles dias, só esperava que não continuasse. Aquilo poderia ser um grande problema para o seu trabalho. – Vem, vamos pegar uma bebida. Sempre ajuda.

– Eu não costumo beber. Não de verdade. – Jimin avisou. – Preferiria que ficássemos sóbrios.

– Não vamos ficar bêbados, iremos tomar um copo, apenas para relaxar e estimular a endorfina, perder a vergonha e aumentar o libido. Não será o suficiente para perdermos o sentido. Confie em mim.

Jimin concordou e, quando o médico voltou a andar, segurou em seu pulso, para se manter por perto. Jeon achou a atitude inusitada e teve que acalmar seu coração para conseguir continuar ali.

Pediu as bebidas e as esperou. Olhou ao redor, vendo diversos tipos de sessões acontecendo, desde espancamentos à fantasias, algumas pessoas estavam se torturando e outras assistindo, um verdadeiro festival para apreciadores do prazer.

Jimin por outro lado, mantinha a cabeça baixa, com medo do que poderia ver se levantasse e foi só quando Jeon viu o que queria, que chamou a atenção do príncipe. A cena bombeou sangue pelo rosto de Jimin e Jeon não deixou de notar aquilo.

A cena era bonita e Jeon não negaria aquilo, um homem amarrado enquanto mostrava uma sessão exibicionista de Bondage. O dominador baixinho mostrava uma aura forte e predominante e possuía um chicote nas mãos, pelas marcas vermelhas na bunda do submisso, a sessão já estava rolando a um tempo.

– Era aquilo que eu queria te mostrar. Vem, vamos. – Indicou enquanto pegava as duas bebidas e guiava o menino para frente.

– O que? Não. Não podemos ir até lá. Eles estão... ocupados.

– Eles querem ser vistos. Vão gostar de ter sua atenção, confie em mim. É por isso que não estão em um lugar fechado. Acredite quando eu digo que eles conseguiriam achar facilmente um por aqui.

– Deus... – Jimin ofegou e assim que parou perto o suficiente, viu o homem puxar uma das cordas, fazendo o segundo homem, o que estava deitado, gemer de uma forma que parecia gostosa e dolorosa.

Não passou despercebido para Jimin que eram dois homens ali, mas, por algum motivo, aquilo até o ajudava. Havia se perguntado como seria se estivesse amarrado e agora ao ver o outro homem ali, preso e sendo dominado de forma tão suja e promíscua, conseguia entender e se visualizar melhor.

Mas o que o assustou foi ver as mãos do homem tocando o outro. Eram mãos grandes e firmes, e não as mãos delicadas de uma lady. Poderia ser um pré-conceito de sua parte e talvez por não ter notado aquilo, não tinha percebido até agora, mas em sua pequena fantasia não havia uma mulher em si. Era apenas ele e outro homem, um que o faria chorar de prazer, que tomaria conta de toda a situação e lhe daria alguns poucos minutos de prazer.

– Precisamos sair daqui. – Jimin murmurou, chamando a atenção do médico para si.

– O que, por quê? – Questionou perdido, se aproximando mais.

– Porque acho que tem algo errado comigo. – Disse em um pânico crescente.

– É por que está gostando do show? Se for, não tem problema nenhum, eles fazem pra isso.

– Não é por isso. – Jimin negou, entrando na frente do médico, virando de costas para o espetáculo. – Eu só preciso de um segundo. – Jeon sorriu, o entendendo e acariciou seus braços, tentando o confortar.

Jimin sentia seu coração disparado e suas mãos tremendo, estava de cabeça baixa, tentando organizar sua mente, mas tudo foi para os ares ao sentir as mãos do médico lhe acariciando com cuidado. Aquilo lhe arrepiou e mandou a mensagem errada para seu corpo, seus olhos se levantaram para fitar o homem e se fascinou com o negro do olhar dele.

Era intenso e com um ar perigoso que Jimin não conseguia entender, mas sentia em cada centímetro do seu corpo. Ofegou fragilizado ao perceber que também estava sendo observado.

– Eu... – Jimin hesitou gaguejando e Jeon sorriu pequeno.

– Você tem que me dizer seus pensamentos, pra que eu possa te ajudar. – Explicou com ternura e Jimin bambeou.

– Eu acho que... – Hesitou, tentando achar uma forma de explicar aquilo. – Acho que não era... uma mulher comigo. Acho que talvez eu tenha pensado... Talvez eu tenha... eu não sei, mas, isso, parece muito com tudo e eu não sei se...

– Eu entendi. – Jeon respondeu tentando o acalmar, engolindo em seco. Às vezes, choques como aquele, fazem as pessoas perceberem seus verdadeiros gostos e sexualidades. Havia muitas pessoas ali que estavam experimentando coisas novas, se descobrindo também, mas Jimin parecia em choque e ele entendia o porquê.

Entendia o que passava na mente do príncipe e tentava de tudo para censurar seus próprios pensamentos que, naquele momento, o perturbavam.

– Não tem nada de errado em gostar de homens. – Disse transparecendo uma calma, que não tinha em seu coração.

– Tem quando eu vou ser obrigado a me casar. – Rebateu, hiperventilando.

– Escuta, mesmo que você se case com uma mulher, pelo menos agora se conhece um pouco mais. Não vai se cobrar por algo que não é culpa sua e vai poder fazer um trato com ela ou um acordo que favoreça os dois. Não é porque você terá que se casar no papel com ela que isso significa que os dois têm que estar presos. – Disse, tentando o acalmar. – Casamentos arranjados podem ser só fachadas para algo real. Ela pode encontrar o verdadeiro amor e você também, mesmo que tenha que ser escondido. Não seria a primeira vez na história que algo assim acontece.

– Eu posso estar enganado, não posso? – Perguntou com voz de choro. – Foi só uma vez, só um pensamento, não deve ser uma verdade absoluta.

– Você tem razão. Não deve pensar nisso como uma verdade absoluta. Você deve pensar apenas como algo a mais. Você pode ser bi, pan, demi e várias outras, porque até mesmo dentro da categoria cinza, tem uma subcategoria sexual. Existem muitos assexuais ou demis que são gays, lésbicas, heteros, bi, entre outras. Então isso é apenas uma descoberta nova.

Jeon respirou fundo, Jimin parecia estar a um passo de chorar, mas prestava atenção no que ele falava, como se estivesse agarrado na ideia de que ainda havia esperanças.

– Mas infelizmente, quando se tem uma inclinação ou desejo por algo, raramente é uma coisa de única vez. Se você fantasiou ou sentiu atração pelo mesmo gênero, dificilmente isso não vai fazer parte da sua sexualidade.

– Deus... – Jimin murmurou caindo no choro e, por impulso, Jeon o puxou para um abraço, tentando o confortar daquele sentimento horrível que era se sentir errado sobre algo que não poderia mudar.

– Shhh. Vai ficar tudo bem. Vou te ajudar a entender melhor isso e então vamos achar uma forma de fazer dar certo.

– Eu não quero ficar aqui, é vergonhoso. – Jimin murmurou entre o choro abafado, enquanto escondia o rosto na camisa do médico.

– Não tem problema, pode chorar o quanto quiser, ninguém vai te julgar aqui. – Reforçou, queria que ficasse claro que lugares como aquele, eram seguros de julgamentos. – Mas se quiser mesmo ir embora, podemos ir. – Jeon achava verdadeiramente que Jimin já havia passado por emoções o suficiente por uma única noite. Ele merecia um segundo sozinho, para extravasar suas frustrações.

Jimin concordou, porque queria ir, queria ficar sozinho e pensar em uma solução. Queria abrir os olhos e tudo não ter passado de um pesadelo. O príncipe queria muitas coisas e sentia que nenhuma delas iria se concretizar, mas esse nem de longe era o problema real, na verdade tudo piorava quando pensava no futuro.

Porque, no momento, seu futuro era incerto e sombrio e sem perspectiva de melhorar.

Jeon concordou, fazendo um carinho de leve nas costas do príncipe e o guiou para fora com cuidado e ternura, porque era claro que Jimin precisava de cuidados naquele momento tão frágil.

O segurança ainda o esperavam no mesmo lugar e assim que avistaram o carro Jimin se afastou, tirando as mãos do médico de si e se encolhendo em seu próprio corpo.

Jeon sentiu o peso da ação, mas entendia que para Jimin aquele tipo de atitude era necessária e justificada, ainda mais dada as circunstâncias.

Entrando no carro, Jimin indicou para onde o guarda deveria ir e assim que recebeu as ordens de voltar para o palácio, obedeceu sem contestar a voz chorosa do monarca.

Durante todo o caminho Jimin se manteve firme e agradeceu por não ter dificuldade em voltar para casa e mesmo sentindo frio pela falta de calor do médico não ousou em pedir para que ele lhe abraçasse novamente, a simples ideia de que queria algo como aquilo aumentava sua vontade de chorar.

E assim que entraram no corredor de seus quartos, não aguentando mais o peso, resolveu falar algo.

– Se eu nunca puder gerar herdeiros, eu terei decepcionado todo mundo. Eu não posso ser assim. Entende?

– Está vivendo sua vida tentando agradar os outros, mas deveria estar preocupado com você. Eu entendo o que é tentar suprir as vontades e expectativas de outras pessoas, mas em algum momento terá que ser quem você nasceu pra ser, independente de quem for, ou então acabará com uma vida repleta de arrependimentos.

– Você não entende... – Jimin choramingou, sentindo seu coração apertado e o medo crescente, enquanto observava de tão perto o rosto do médico.

– Eu posso não saber o que é ter uma nação inteira me pressionando, mas eu sou bissexual e sei o que é viver em um país homofôbico, com pais conservadores e ser descriminado até mesmo pela comunidade LGBTQIA+ – Jimin se assustou ao ter aquela informação, não sabia sobre aquilo e havia de fato lhe pego desprevenido. – Eu sei o que é ter medo de ser eu mesmo na frente dos outros e sei o que é ter pessoas dizendo que eu estou errado, passando por uma fase, ou que tudo isso vai passar. Sei o que é gostar de alguém do mesmo sexo e sei o que é apanhar dessa pessoa depois de uma declaração. Sei o que é abrir meu coração e ser ridicularizado e sei sobre várias inseguranças e medos que você deve estar sentindo agora, mas, no meu ponto de vista, nada é mais libertador do que quebrar essas amarras e mandar essas pessoas cuidarem dos próprios rabos.

Jimin engoliu o choro, chocado com tudo o que ouvia, mas hipnotizado demais para falar.

– Você é o futuro rei e já está mais do que na hora do mundo mudar. Milhares tentam todos os dias, mas você tem esse poder. Então faça a diferença, majestade. 


| Bondage |

Espero que tenham gostado do capítulo.

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