Torta de maçã e o perdão - Parte 02

— Nossa que durão que você ficou... — Brinco com o Chico que dá uma risadinha. Mas só pede para masturbar ele até gozar. Estamos bem cansados e como teve aquela tensão de manhã, temos uma conversa pela frente.

Ali no colinho dele depois da janta, depois de eu contar as coisas da minha mãe, ele me abraça e fala daquele jeito que parece estar brigando comigo:

— Ei, nem pensa que vou ficar olhando a mulher te ofender e ficar calado. Ouviu? Não interessa que é tua mãe, se falar alguma coisa que te desmereça vai levar desaforo.

— Ai calma Chico.

— Tô calmo, só que não quero que ela seja injusta com você. Na minha opinião já foi, porque criou quatro filhos e deu você, depois teve mais três. Porra, você é filho também. 


Fico calado e com medo de acontecer algo ruim aqui em casa. Vou esperar pra ver.

Passando uns dias a vó confirma que vem ela, minha mãe e a única irmã que tenho a Cris.

Eu fico dividido entre nervoso e empolgado que chega me faltar inspiração. Quero fazer um doce bem delicioso para ela ver o que faço para ganhar a vida hoje e isso, eu tenho certeza que vai ser um motivo de orgulho pra ela.

Resolvo fazer uma torta de maçã com creme belga, o Chico se desmancha quando faço, lambe os dedos e se deixar até o prato. A Cristiane não come carne, então fiz e congelei uma lasanha de brócolis e molho branco, vou fazer bolinhos de arroz, feijão caprichado, farofa torrada, banana à milanesa, couve frita e umas bistequinhas de porco. Queria fazer muito mais coisas, mas elas vão chegar sexta a noite e sábado a tarde já vão embora.

— Olha lá... Carlinho! Não vou ficar quieto se te ofenderem.

O Chico está preocupado que vão me falar coisas que podem me entristecer. Espero que isso não aconteça, pois quero abraçar bem apertado minha mãe e se um dia ela me pedir perdão por algo, vou dizer que nunca houve o que ser perdoado e nada do que me aconteceu foi sua culpa. Se ela tocar no assunto.

Fico tão ansioso por recebê-las que já começo me emocionar quando me ligam da cidade vizinha, avisando que estão quase chegando. O Francisco vem lá pelas sete horas da noite, mas tenho certeza que até lá vai estar tudo bem tranquilo e terei conversado com minha mãe.

Quando chegam, sinto meu coração bater muito forte dentro do peito e chego a ficar tonto. É muita emoção ter minha mãezinha na minha casa.

— O meu filho. — Ela me aperta em seus braços. Assim como sou, minha mãe é escurinha e muito magricela, mesmo com todos os filhos que teve. Sua aparência é judiada, cabelo crespo alisado, muitas linhas no rosto e uma expressão cansada e sofrida me fazem chorar de dó dela.

— Ah minha mãezinha. Queria tanto te abraçar.

— Ai Carlos, meu filho que dor no meu coração. Fiz tudo errado contigo. O Cássio veio me visitar e me contou tudo, tudo...Me perdoa... Por favor.  — Minha mãe seca meu rosto com as mãos ásperas e magras. — Errei tanto contigo, Carlos. Perdoa tua mãe. Tudo que fizeram contigo desde criancinha, te maltrataram tanto e quando foi atrás de mim, não te deixei ficar lá em casa por causa do Luciano. Me perdoa.

Ela me abraça e chora, minha vozinha tá chorando e minha irmã a quem nem abracei ainda. Meu celular toca, é o Chico que está preocupado comigo.

— Amor tá tudo bem... Não, ninguém brigou comigo, só tô chorando de feliz...Te amo também. — Desligo o telefone e seco o rosto da minha mãezinha e a gente começa a rir. — Nunca odiei a senhora, não fica assim. Se quer ouvir, eu digo que perdoo, mas não tem mais nada pra falar daquilo.

Entramos na minha casa e finalmente abraço minha vó e minha irmã a Cris, que é linda e muiiiito mais alta que eu.

— Olha, essa é a minha casa, do Chico na verdade, a gente casou pra poder adotar uma criança. Mas a gente já estava junto há quatro anos.

Nossas conversas fluem e o tempo voa, logo o Chico chega e está meio sério, mas é super educado com todas.

— Marido? — Minha vó pergunta. — Maridão! Que homem grande! E bonitão.

— Vó! — Cristiane ri e censura minha vó. — Não liga Carlos, nessa idade ela é uma sapeca. Se arruma toda e vai dançar vanerão no clube da 3ª idade.

— Claro, por fora eu tô meio "gasta", mas dentro sou uma mocinha, meus filhos e netos tão tudo criados, não devo nada pra ninguém e já me aposentei. Acha que velha tem que ficar fazendo tricô em casa e fofoca na casa das vizinhas?

Minha vó é muito maluquinha e Chico se apaixona por ela, mas ainda olha sério para minha mãe que segura apertado minha mão.

— Carlos, quero provar um doce seu, Cássio falou maravilhas.

— Ah sim. Fiz torta de maçã. Vem comigo, mana.

*

Por Francisco...

Carlinho parece ter se entendido com a mãe dele e isso me tranquiliza. Ele de repente voltou a ser um moleque espevitado, escandaloso e mimoso como era bem no comecinho. Percebo que era a última coisa inacabada de sua vida passada. Reatar o laço com a mãe.

Eu sou grudado com a minha, uma italianona de quase um metro e oitenta, gordona, que fala palavrão e alto pra caramba. Tenho respeito e até um pouco de medo, porque dona Itália é terrível e todo mundo anda na linha onde ela "domina".

A mãe do Carlinho, pelo que entendi, não está mais casada e moram as três juntas, a vó, a mãe dele e a irmã caçula que já tem vinte e um anos. Fiquei admirado com a dona Tide, a vovozinha, uma pretinha, bem velhinha e cheia de uma energia contagiante que elogia tudo que Carlinho fez, o tempo todo.

— Nossa, isso que é coisa bonita! Vocês com essa ideia de adotar uma criança.

— Ai vó não é só mais uma ideia. Eu e o Francisco logo vamos poder trazer a Luíza pra casa.

— Muito bonito mesmo, filho! Só que essa menininha vai ter muita sorte, diferente do que te aconteceu.

Ufa, eu achando que ia encrencar com a sogra e no fim ficou tudo bem, tão bem que foram embora só no domingo. Achei bom eu ter trabalhado assim folgo na segunda e descanso com meu pequeno.

Quando abraço dona Carminha, mãe do Carlinho, ela me olha com os olhos marejados:

— Francisco, quero que vocês sejam muito felizes. Posso vir conhecer a neta?

Ela pergunta tão tímida que me aperta o coração.

— Deve. — Respondo bem sério. — A senhora nem imagina o quanto isso vai ser importante para o Carlinho.

— Eu errei muito com ele...

— Errou, mas tá no passado. — Falo soltando ela. — Se ele perdoa, quem sou eu pra ir contra. Gostei da visita de vocês, pode vir sempre que quiser.

Ela seca as lágrimas e eu disfarço minha emoção, engolindo um caroço dolorido que forma na garganta.

Quando se vão, ele cai no choro e eu o aperto forte num abraço carinhoso.

— Gostei que contrariou minha expectativa. Por você, eu viro um leão, entendeu?

— Entendi, meu soldado gostosão!

Ele afunda o nariz na minha camisa e quando o beijo, sinto gosto de lágrimas... será que era só das lágrimas?

Quando entramos, observo que sobrou uma fatia da torta de maçã. É tudo que eu preciso e quero nesse momento. Como na travessa mesmo, sem frescura e do jeito que gosto.

— Ai, esse meu homem que parece um formigão.

— Quem manda cozinhar bem? — Retruco e ele fica todo feliz. — Quer um pedacinho?

Ofereço, mas meu miudinho não é de comer muito doce. Só que ele vem e senta no meu colo e de cima da torta puxa uma lasquinha de maçã sujinha de creme e leva até a boca muito carnuda. Depois lambe os dois dedinhos que lambuzaram com o creme e me olha todo inocente.

— Hummm... é, ficou boa! — Ele brinca sendo modesto. — Quero mais.

Imaginei isso. Um beijo doce e gostoso daquela boca apetitosa. Seus dentes lindos a me mordiscarem sensualmente o lábio e sua mão descendo pelo meu peito, barriga e pousando na minha mala.

— Safado. Já pro quarto, moleque. Teu soldado vai terminar a torta lá mesmo.

Ele vai na frente, rebolando aquela bunda espetacular apertada no short jeans. Eu o sigo com o prato e aquele metade de fatia de torta, tendo intenção de fazer alguma brincadeirinha com ele.

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Saiu, mesmo com menos pimenta que o habitual. 

Espero que gostem. Fico feliz em compartilhar com vocês. Todos abraços e muita luz.

Muitos doces com creme para adoçar suas vidas, hehe!

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