࣪✶ devorador de mentes
sim, tava de bom humor e escrevi uma cena que a Tess não humilha nem chama ele de rei Steve, é um milagre???
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⠀⠀⠀࣪✶ Tessa Sinclair...
Já estávamos caminhando pela trilha na floresta há um bom tempo, e eu nem sequer sabia para onde estávamos indo, mas estava exausta. E com fome! Lucas me tirou de casa muito cedo, e se eu soubesse que esse idiota ia me enfiar num problema desses, e que ia demorar tanto, eu teria passado num mercado, ou sei lá, numa cafeteria.
O meu corpo não tá reagindo muito bem a falta de alimento, e principalmente, a falta de cafeína.
- Ei, Sinclair. - Ouvi a voz do Steve, que estava alguns passos à frente, me chamar, interrompendo meus pensamentos. Levantei o olhar na direção dele. - O que tá te fazendo andar tão devagar? Seu joelho fudido ou você ser sedentária? Anda mais rápido, vai acabar ficando pra trás.
Ele provocou e eu franzi a testa, lançando um olhar irritado para ele.
- Deveria ter deixado aquele troço te devorar. - Respondi, com um tom irônico. - Mas pra responder sua pergunta, babaca, é o meu joelho fudido.
Percebi que, após eu dizer isso, o Steve reduziu o ritmo. Fiquei até surpresa dele se lembrar que meu joelho era um problema.
Quando eu tinha 11 anos, tentei descer uma lomba na floresta, de bicicleta e, como era de se esperar, a coisa deu muito errado. Acabei batendo a bicicleta com tudo em uma árvore. Não morri, claro, mas desloquei meu joelho direito. E mesmo depois de colocá-lo de volta no lugar, ele ainda se desloca com facilidade dependendo do que eu faço. O Steve estava comigo quando isso aconteceu, e se sentiu super culpado, mas mesmo assim acho um milagre ele se lembrar desse pequeno detalhe.
Agora, quando olhei para ele, vi que ele estava caminhando ao meu lado, enquanto as crianças estavam um pouco à frente.
- Ei. - Ouvi a voz dele murmurar. Me virei para encará-lo. - Valeu por me ajudar aquela hora. Você não tinha que ter feito isso, mas fez.
- É verdade, eu não tinha que ter feito. - Respondi com um tom irônico. - Assim como você não tinha que ter topado ajudar o Dustin, mas fez. Achei legal da sua parte.
- É, poisé. A última coisa que eu pensei que ia fazer em um sábado à noite era estar numa trilha na floresta com três crianças, depois de quase ter sido devorado por um bicho que a cara parece uma flor. - Ele disse em um tom divertido, o que me fez soltar uma risada baixa. - Pelo menos te fiz rir. Já me acha menos babaca?
- Com certeza não. - Respondi, com um sorriso fraco, me virando para encará-lo. - Ainda te acho um babaca, mas um babaca que leva jeito com crianças, pelo menos.
Ele riu soprado com o que eu disse.
- Posso ser um idiota, mas pelo jeito sou uma babá das boas. - Ele brincou, apontando com a lanterna pro Dustin, e eu ri fraco. - Tessa, posso te fazer uma pergunta?
- Não.
- Porque você voltou? - Ele perguntou, apesar da minha resposta. Senti o olhar dele não se desviar nenhum segundo, diferente do meu, que eu me prontifiquei a erguer e direcioná-lo até o Lucas.
- Por causa dele. - Respondi em um tom baixo, mesmo sabendo que não precisava responder sua pergunta, e tinha todos os motivos do mundo pra tratar ele como o filho da puta que ele é.
- Só pra acompanhar a puberdade do Lucas? - Ele perguntou com a testa franzida.
- Não, idiota. - Disse rindo fraco. - Eu honestamente não sei, na verdade. Eu só senti que ele iria precisar de mim, que iria precisar de alguém pra cuidar dele e impedir que ele fizesse alguma merda. Infelizmente eu estava certa, e aqui estou.
- Ele tá com a idade que você tinha na época, né? - Ele perguntou baixo em um tom até meio compreensivo, e eu engoli em seco ao escuta-lo.
- Aí, Dustin. - Chamei o mais novo, ignorando totalmente a pergunta dele. Assim que os três se viraram pra me escutar, eu comecei. - Da próxima vez que você achar algo estranho e possivelmente de outra dimensão no seu lixo... Que tal só não mexer? Não aguento mais caminhar.
- Anotado. - O Henderson respondeu, e os três continuaram a caminhar. - Eu só pensei que seria uma descoberta científica incrível. Não sabia que isso ia acontecer.
- Então, você tem certeza de que era o Dart? - Lucas perguntou, agora todos caminhando juntos.
- Tenho. Tinha o mesmo desenho amarelo na bunda. - Dustin confirmou.
- Ele era pequeno há dois dias. - Max comentou, ainda incrédula, e eu estava na mesma.
- Ele já passou por três ecdises. - Dustin explicou.
- Ecdises? - Steve perguntou, franzindo a testa.
- Ecdise. É quando ele troca de pele para crescer. - Dustin respondeu, simples.
- E quando ele vai passar por outra? - Steve quis saber.
- Em breve. Quando passar, vai estar quase adulto, e os amigos dele também. - Dustin disse.
- É, e vai comer bem mais do que só gatos. - Steve comentou, e eu franzi a testa. Gatos?!
Lucas parou e fez um sinal para Steve também parar.
- Espera! Gato? O Dart comeu um gato? - Lucas perguntou, incrédulo.
- O quê? Não, não. - Dustin respondeu apressado.
- O que? Ele comeu a Miau. - Steve afirmou.
- Miau? - Max perguntou.
- A gata do Dustin. - Steve explicou, e eu senti um choque. Mexe com tudo, mas não com os gatos.
Se ele tivesse dito que Dart tinha devorado a mãe do Dustin, eu ainda estaria chateada, mas não tanto quanto saber que ele comeu um gato. Um gato é sacanagem.
- Eu sabia! Você ficou com ele! - Lucas acusou.
- Não!
- Não? - Lucas continuou.
- Não, eu... Não eu... Ele estava com saudades! Queria ir para casa.
- Mentira!
- Eu não sabia que ele era um demogorgon, tá legal? - Dustin se defendeu.
- Agora admite? - Lucas continuou, furioso.
- Pessoal, quem se importa? Temos que ir. - Max interveio.
- Eu me importo! Você colocou o grupo em perigo e quebrou nossa regra!
- Você também! - Dustin gritou de volta.
- O quê?! - Lucas perguntou.
Eu e Steve trocamos olhares surpresos com o grito do Dustin.
- Como ele tá' estressado. - Sussurrei pro Steve, que assentiu concordando.
- Tá cedo demais para ser rebeldia da adolescência. - Steve sussurrou de volta.
- Contou pra essa estranha a verdade! - Dustin apontou a lanterna para Max, que o encarou indignada.
- O que?! Estranha?!
Enquanto eles discutiam, ouvi um barulho vindo da floresta. Desviei o olhar e dei alguns passos na direção do som, apontando a lanterna.
- Tess? - Steve chamou.
- Pessoal. - Eu gritei, e o único que olhou foi Steve. - Ei, seus merdinhas!
Aumentei o tom, e os três olharam para mim.
- Não tô nem aí pra quem quebrou a regra do quê. Parem com essa merda antes que eu prenda vocês três amarrados juntos até se resolverem. Fui clara? - Eles não responderam, então eu apontei a lanterna na cara do Lucas. - Eu não escutei. Vocês me entenderam?
- Sim. - Responderam em coro.
- Maravilha. Fiquem quietos, um segundo. - Depois de alguns instantes, o barulho se repetiu. Vi Steve seguindo a direção do som, então fiz o mesmo, com Lucas e Dustin me acompanhando.
- Ei, não, gente! Por que vocês estão indo na direção do barulho? - Max questionou, vendo-nos se afastar. - Oi? Oi?! Merda.
Ela percebeu que não íamos voltar e apressou-se para nos seguir.
- Não tô vendo nada. - Dustin comentou ao chegarmos a um local aberto.
Lucas tirou o binóculo da mochila e começou a observar na direção do barulho.
- É o laboratório. Eles voltaram para casa. - Lucas afirmou.
- Espera, casa? - Perguntei, confusa.
- Sim, tem um portal lá. - Dustin disse com uma simplicidade surpreendente.
- Portal?! - Perguntei, incrédula.
- Você vai perguntar tudo que a gente disser? - Meu irmão perguntou, enfiando o binóculo na mochila.
- E é culpa minha se vocês querem que eu acredite em outra dimensão?? Bom, okay, eu acredito, mas ainda é demais pra mim.
- Chega de papo furado. - Steve disse, chamando nossa atenção. - Vamos.
Ele começou a descer o pequeno morro de terra em que estávamos pra chegar no laboratório, e eu suspirei antes de seguir ele, e fazer um gesto com as mãos para as crianças fazerem o mesmo.
Conforme nos aproximavamos do barulho, e aparentemente do laboratório de Hawkins, eu ia começando a repensar no motivo de estarmos indo na direção do barulho, e como eu ia explicar pra mãe dessas crianças se alguma delas morresse.
- Sabe, parando pra ser um pouco racional... Você não acha meio precipitado da nossa parte ir na direção do barulho? É assim que muitos personagens morrem na metade dos filmes de terror. - Argumentei com o Harrington, tentando desviar de galhos e outros coisas em que pisava.
- Bateu medinho, Sinclair? - Ele me provocou em um tom mais alto, ainda caminhando na frente e sem olhar pra mim.
- Não, é claro que não! - Me defendi, e engoli em seco em seguida. - Só não gosto muito dessa parte da floresta.
Conforme íamos descendo, uma única luz começou a aparecer, como se fosse os faróis de um carro. Pronto, agora fudeu. É agora que aparece um maluco de máscara com uma serra elétrica e uma van preta.
Mas o Steve como o grande idiota que é, não deu a mínima e continuou caminhando na direção da luz.
- Ei! Quem tá aí? Quem tá aí? - Escutamos uma voz gritar lá de baixo e nos entre-olhamos. Parecia familiar.
Descemos mais um pouco até dar de cara com o Jonathan e a Nancy.
- Steve? - Os dois perguntaram ao mesmo tempo.
- Nancy? - O Harrington perguntou, abaixando a lanterna.
- Jonathan? - O Dustin chamou confuso.
- Tessa? - Jonathan me chamou agora.
- Vocês vão ficar chamando uns aos outros mesmo? - Perguntei impaciente, desligando a lanterna.
- O que você está fazendo aqui?! - Nancy perguntou ao Steve e eu decidi ignorar a briga de casal, me aproximando mais do Lucas e da Max.
- Eu é que te pergunto!
- Estamos procurando o Mike e o Will.
- Ah, eles não estão lá dentro, né? - Dustin perguntou, com uma leve careta.
- Não sabemos. Por quê? - Nancy respondeu, e nosso foco foi desviado pelo rugido de algo vindo do laboratório.
Os trovões que ecoavam alto contrastavam com a discussão do grupo. Enquanto o barulho das vozes se misturava, eu me questionava por que tinha saído da cama.
Então, a luz voltou a brilhar no laboratório, e me afastei do grupo para observar.
- Gente. - Chamei, um pouco mais alto dessa vez. - A energia voltou.
Jonathan imediatamente correu para a cabine de controle, tentando abrir o portão. Sem sucesso, Dustin entrou e os dois começaram a discutir, até que Dustin começou a apertar botões freneticamente. Finalmente, o portão se abriu.
- Legal, consegui! - Dustin comemorou, sorrindo, enquanto Jonathan saía da cabine. - Eu consegui.
- Legal, mas e agora? - Perguntei, apoiando as mãos no carro de Jonathan.
- A gente entra. - Lucas afirmou, como se fosse óbvio, e eu ri incrédula.
- Não, isso é uma péssima ideia. Vocês querem entrar lá sabendo que aquelas coisas estão soltas? E se Mike e Will nem estiverem lá dentro? - Argumentei, tentando fazer com que reconsiderassem essa ideia estúpida.
- E você consegue pensar em algo melhor? - O tom de Nancy foi ríspido, o que me deixou meio surpresa.
- Bom, não sei, mas podemos ficar aqui e pensar em uma estratégia, ao invés de correr para a morte. - Retruquei, com ironia.
- Não é hora de discutir, tá legal? - Jonathan interveio, olhando diretamente para mim. - Entendo que esteja preocupada e que não queira colocar seu irmão em risco. Tente se colocar no nosso lugar. Pode ser que eles estejam lá dentro, mas nós só saberemos se tentarmos.
Suspirei, me dando por vencida.
- Tudo bem. Vocês vão. Eu fico aqui com as crianças.
Jonathan murmurou um agradecimento, e ele e Nancy se apressaram para entrar no carro e acelerar em direção ao laboratório.
Enquanto isso, ouvi o Steve mexer na tampa do isqueiro de novo e vi a Max caminhando de um lado para o outro sem parar, e eu já estava ficando tonta.
- Aí, pessoal? - Max chamou antes que eu pudesse dizer para ela parar, atraindo o olhar de todos para o portão.
Vi o carro do Jonathan acelerando e buzinando na nossa direção, e o Steve mandou a gente sair da frente, e eu puxei a Max junto, então o carro passou por nós.
Mas em seguida a caminhonete do Hopper estacionou ali, pra minha surpresa.
- Entrem. - Ele disse enquanto o Mike, no banco de trás, nos apressava. O Steve abria a porta e deixava todos pularem pra dentro antes de fazer o mesmo, e fechar a porta em seguida.
{ . . . }
O clima na casa dos Byers era exatamente igual a de um enterro. Conseguia escutar o Jonathan chorando baixo enquanto conversava com o Will, que estava desacordado. Ele se desculpava com o garoto, e a Nancy acariciava seu ombro como uma forma de apoio.
Steve encarava a cena com os braços cruzados, e o Hopper falava ao telefone a um bom tempo, parecendo perder a paciência a cada segundo que passava.
Suspirei pesadamente e me sentei entre o Lucas e o Dustin, vendo o Steve caminhar até a janela e o Hopper reclamar mais uma vez antes de desligar o telefone.
- Não acreditaram em você, né? - Dustin perguntou ao homem.
- Vamos ver.
- Vamos ver?! Não podemos ficar parados com essas coisas a solta! - Mike gritou com o delegado, e eu contive um riso soprado. Se fosse comigo, era só uma bicuda nele.
- Vamos ficar aqui e esperar a ajuda. - Hopper afirmou antes de sair da sala.
Suspirei pesadamente e encostei minha cabeça no ombro do Lucas. Ficamos um bom tempo em silêncio, até que eu decidi quebra-lo.
- Então... Essa outra dimensão... - Ia continuar, mas fui interrompida pelo Dustin.
- Mundo invertido. - O Henderson me corrigiu e eu respirei fundo.
- O mundo invertido. - Afirmou o encarando com ironia. - Enfim... Como é lá?
- Meio que é uma versão de Hawkins, só que bem sinistra. Tudo que tem aqui, tem lá, mas é como se fosse abandonado. Diferente. - Assim que escutei meu irmão contar, foi como se uma luz tivesse se acendido em minha mente.
- Como se fosse uma versão pós apocalíptica? - Perguntei baixo, encarando meus próprios pés.
- Bom... É, acho que sim. - Lucas confirmou, parecendo estranhar um pouco a comparação.
Depois de ter escutado o que ele disse, minha mente tinha se tornado um turbilhão. Batia o pé freneticamente no chão a um tempo já, estava agoniada.
O silêncio se instalou mais uma vez, e isso já estava me dando nos nervos. Vi o Mike levantar e ir até a sala.
- Sabia que foi o Bob que criou o clube de audiovisual de Hawkins? - Ele perguntou, se virando com um cubo mágico azul nas mãos.
- Sério? - Lucas perguntou.
- Ele fez o pedido pra escola começar. Depois fez uma arrecadação pro equipamento. O Sr. Clarke aprende tudo com ele. Bem bacana, né? - Ele contou, se aproximando de novo, e o Lucas e o Dustin concordaram. - Não podemos deixar ele morrer em vão.
- E o que você quer fazer?! O delegado tem razão, não dá pra vencer aqueles democães! - Dustin argumentou e eu franzi levemente a testa com o nome que ele deu a aquelas coisas.
- Democães? - Max indagou.
- É. Demogorgon, cães... Democães. É composto. É uma brincadeira, como...
- Eu entendi! - Max afirmou, pra ele parar de falar.
- Assim, quando era só o Dart, talvez...
- É, mas agora tem um exército. - Lucas afirmou e eu me levantei, me escorando no balcão, perto de onde o Steve estava.
- O exército dele. - O Mike murmurou, parecendo ter uma ideia.
- Como assim? - Steve perguntou.
- Dele quem, meu deus? - Murmurei totalmente confusa.
- Talvez se vencermos ele, a gente vence o exército junto! - Mike afirmou e correu pra fora da sala.
- Acho que ele endoidou. - Murmurei, mas logo ele voltou com um desenho em mãos, que fez meu coração quase parar.
Ele mostrou um desenho de algo que parecia uma aranha, cheia de raios envolta. Exatamente como eu tinha visto no meu sonho dias atrás. Porra?
- O monstro das sombras. - Dustin afirmou.
- Ele pegou o Will aquele dia no gramado. O médico disse que ele é um tipo de vírus.
- Pera ai, então esse vírus é o que conecta ele aos túneis? - Max perguntou e eu cheguei mais perto das crianças, apoiando as mãos trêmulas na mesa e observando o desenho com mais atenção.
- Aos túneis, aos monstros, ao mundo invertido.
- Espera aí. Devagar, devagar. - Steve pediu, e o Mike olhou pra ele.
- Olha só... O monstro das sombras tá dentro de tudo. E, se os cipós sentem alguma dor, o Will também sente.
- E o Dart também.
- É, é como o Sr. Clarke ensinou. Mente colmeia.
- Mente colmeia? - Steve perguntou com a testa franzida.
- É uma consciência coletiva. - Expliquei brevemente ao Harrington.
- E é essa coisa que controla tudo. É o cérebro. - Ele disse, apontando para o desenho.
- O devorador de mentes. - O Dustin afirmou, e eu escondi o rosto com as mãos, respirando fundo. Isso ficava cada vez mais estranho.
- Quê?! - Max perguntou.
- Como é que é? - Steve também parecia mais confuso que nós duas.
Dustin pegou um desses livros de D&D dele e chamou os outros, abrindo o livro em uma página.
- O devorador de mentes.
- E que merda é essa? - Hopper perguntou.
- É um monstro de uma dimensão desconhecida. Tão antigo que nem conhece seu verdadeiro lar. Ele escraviza raças de outras dimensões, dominando os cérebros delas com seus poderes psiônicos.
- Ah, por favor, isso não é real. É um jogo de criança. - Hopper disse impaciente e cético.
- Não, é... É um manual. E não é um jogo de criança. A menos que saiba de algo que não sabemos, essa é a melhor metáfora...
- Analogia. - Lucas corrigiu.
- Analogia? Essa é a sua preocupação?! Tá! Analogia pra entender a merda que tá acontecendo.
- Opa, pera ai. - Nancy se aproximou. - Então, esse destruidor de mentes...
- Devorador, devorador de mentes. - Dustin corrigiu e a Wheeler suspirou.
- O que ele quer?
- Conquistar a gente, basicamente. Ela acredita que é a raça superior.
- Ah, tipo... Tipo os alemães. - Steve comentou, e atraiu o olhar de todos pra ele.
- Ah, os nazistas? - Dustin perguntou ao mais velho.
- Sim, é, os nazistas. - Steve confirmou.
- Uh... Se os nazistas fossem de outra dimensão, com certeza. Ele vê outras raças, como nós, como inferiores a ele.
- Ele quer se espalhar, assumir outras dimensões. - Mike explicou.
- Estamos falando da destruição do mundo que conhecemos! - Lucas afirmou, e eu soltei um riso soprado.
- Menos, Lucas. Bem menos. - Debochei do mais novo.
- Ah, que legal. Isso é legal. Muito legal. - Steve surtou, e se virou, passando a mão pelo cabelo. - Ai, que merda.
- Certo, então se essa coisa é como um cérebro que controla tudo, então se a matarmos... - Nancy começou, pegando o livro.
- Matamos tudo o que ele controla. - Mike concluiu.
- Nós ganhamos.
- Teoricamente.
- Ótimo. Então como você mata essa coisa? - Hopper pegou o livro da mão da garota.- Atira nele com uma bola de fogo ou algo assim?
- Não. Não, nada de fogo... Nada de bolas de fogo. - Dustin riu, mas quando o delegado olhou pra ele ele voltou a ficar sério. - Uh, você invoca um exército de zumbis, uh, porque... - Ele começou a gaguejar com o olhar do Hopper. - Porque zumbis, você sabe, eles não têm cérebro, e o devorador de mentes, ele... ele... Ele gosta de cérebros. É só um jogo. É um jogo.
- O que diabos estamos fazendo aqui?!
- Pensei que estávamos esperando seu reforço militar!
- Nós estamos!
- Como eles vão impedir isso? Você não pode simplesmente atirar nisso com armas. - Mike perguntou com raiva.
- Você não sabe disso! Nós não sabemos de nada!
- Sabemos que já matou todo mundo naquele laboratório.
- Sabemos que os monstros vão mudar de pele novamente.
- Sabemos que é apenas uma questão de tempo até que esses túneis cheguem a esta cidade.
- Eles estão certos. Temos que matá-lo. Eu quero matá-lo. - A voz da tia Joyce ecoou, e só então percebemos que ela havia saído do quarto.
- Eu também. Eu... Eu também, Joyce, ok? Mas como nós fazemos isso? Não sabemos exatamente com o que estamos lidando aqui.
- Não. Mas ele sabe. - Mike direcionou seu olhar ao Will, que estava desacordado no sofá. - Se alguém sabe como destruir essa coisa, esse alguém é Will. Ele está conectado a isso. Ele saberá sua fraqueza.
- Achei que não podíamos mais confiar nele. Que ele agora é um espião do devorador de mentes. - Max comentou.
- Sim, mas ele não pode espionar se não souber onde está.
Depois disso todo mundo começou a organizar tudo. Fizemos como se fosse uma sala com isolamento acústico, na intenção de não deixar o tal devorador de mentes nos encontrar.
Agora o Mike, O Jonathan, a Joyce e o Hopper estavam nessa sala com o Will, tentando descobrir alguma maneira de derrotar aquela coisa, enquanto o resto de nós estávamos dentro da casa dos Byers.
Eu estava sentada no chão, batendo meus pés no chão no ritmo de another one bites the dust e espiava de canto de olho o Lucas e a Max um de frente pro outro, conversando.
Steve estava um pouco mais a frente, balançando o taco com pregos de um lado para o outro, como se treinasse ou algo do tipo. Nancy estava no outro cômodo e o Dustin sentado no sofá.
- Let's go. - Voltei a cantar o início da música. - Steve walks warily down the street with the brim pulled way down low.
Antes que pudesse continuar, escutei o Steve bufar.
- Sinclair, entendo que esteja impressionada com o que eu fiz no ferro velho. - Escutei ele começar, e franzi levemente a testa. - Mas eu juro por Deus que se você cantar essa música mais uma vez, eu vou bater minha cabeça na parede até ela estourar.
Fingi pensar na possibilidade por alguns segundos, olhando pra cima.
- Ain't no sound but the sound of his feet, machine guns ready to go. - Continuei a cantar e ele suspirou alto. - Are you ready? Hey. Are you ready for this?
Mais um tempo se passou e o Hopper conseguiu descobrir que o Will estava se comunicando com eles por código morse, então traduzimos tudo que ele quis dizer, e descobrimos que ele queria dizer que pra derrotar aquela coisa, tínhamos que selar o portal.
Mas como nada fica certo por muito tempo, aquela coisa descobriu onde estávamos, e não demorou pra mandar os democães pra cá. Nossa, eu não acredito que eu disse isso.
- Sabe usar isso? - Hopper perguntou estendendo uma arma ao Jonathan.
- Quê?
- Você sabe usar isso?! - Ele perguntou mais uma vez.
- Eu sei. - A Nancy afirmou, então ele jogou a arma pra ela. Em seguida, pegou a pistola presa em seu quadril e ia estender ao Steve, mas ele já estava segurando o taco.
- Me dá. - Pedi, e ele não retrucou, apenas me entregou a pistola. Vi o Lucas estranhar com o olhar enquanto eu engatilhava a pistola, mas ele, assim como todos nós, escutamos um barulho vindo de fora, e começamos a prestar atenção.
Todos pareciam se preparar pra atirar ou bater naquela coisa a qualquer segundo, vi o Steve preparar o taco, e o Lucas puxar o estilingue, indo alguns passos a frente da Max, como se fosse protege-la.
De repente, tudo ficou em silêncio, mas não demorou para o barulho mudar de lugar e soar na outra janela, atraindo nossa atenção.
Parecia mudar de lugar rápido, e um barulho estranho ecoou, antes de ficar em silêncio por alguns instantes, e ser arremessado pra dentro da casa, quebrando a janela.
Todos se assustaram e pularam para trás, vendo o demogorgon aparentemente morto no chão. Hopper começou a se aproximar, tomando a frente, e nós o seguimos devagar.
- Puta merda. - Dustin murmurou.
- Ele tá morto? - Max perguntou assustada.
Hopper mexeu nele com o pé e o bicho não se mexeu, mas a porta rangeu brevemente, e nós nos viramos, nos preparando de novo.
Vimos a tranca da porta destravar, e a corrente ir pro lado lentamente. Arregalei os olhos, como era possível?
A porta abriu lentamente, e uma menina com o cabelo lambido pra trás, o nariz sangrando e parecendo que saiu de uma roda punk apareceu ali, entrando devagar.
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