"Seu idiota do caralho"

     Ukyo levou quarenta e três minutos para encontrar ao seu melhor amigo idiota.

     Conseguia escutar, até certo ponto, seus passos e respiração difícil, mas o pânico diante da possibilidade de perdê-lo atrapalhou sua busca, fora o fato de que a neve tornava a paisagem homogênea demais e dificultava a visualização.

     Obrigou-se a correr e escutar e procurar sem parar para respirar nem por um segundo. Não até que avistasse ao yukata roxo em meio ao branco infinito.

     Praticamente tropecou até ele, afobado.

— Gen Asagiri, seu- seu idiota! — não conseguiu segurar a língua, puxando o corpo rígido, trêmulo e sem forças do amigo — Seu idiota do caralho!

     Recebeu um olhar de olhos quase fechados e confusos. Sua pele estava tão pálida que até parecia a neve que rodeava-os, exceto pelo espinho que entrou perigosamente perto de seu olho e estava inchando. Seus lábios estavam roxos, tão rececados que poderiam rachar e sangrar a qualquer momento.

— Não me assusta assim! — exigiu, tendo calafrios acentuados ao tocar a pele gélida dele, o pânico crescendo em seu interior — Não faz isso comigo, caramba!

     Tomou seu corpo, carregando-o em estilo cavalinho. Correu como e o mais rápido que pôde entre aquela infinitude branca infernal.

     Conseguia escutar seus batimentos cardíacos em seus ouvidos junto com a respiração rasa e irregular de Gen, o que fazia-o continuar mesmo que sentisse seus pulmões arderem como o inferno pelo frio e seus músculos pedissem por descanso.

     "Não deixa ele morrer não deixa ele morrer não deixa ele morrer não deixa ele morrer não deixa ele morrer não deixa ele morrer-"

— UKYO-CHAN! — Suika apareceu ao longe, quando finalmente avistou o observatório, chegando na velocidade da luz até os dois.

— Suika- — puxou fôlego, a cabeça girando pela dor do frio que entrou — Manda prepararem uma cama- cobertores e- e água quente, por- por favor.

— A SUIKA VAI SER ÚTIL~!!

     "Vai vai vai vai vai vai vai vai vai vai vai vai vai vai"

     Quase deixou Gen cair, obrigando-se a parar apenas por alguns segundos para ajeita-lo evitar que ele se espatifasse no chão.

     "Vai logo vai logo vai logo vai logo vai logo vai logo vai logo vai logo vai logo vai logo vai logo-"

— Des-culpa- — tossiu fracamente o bicolor, tão baixo que Saionji mal escutou.

— Cala- a boca e- e melhora, G-Gen! — rebateu entredentes pela temperatura amena e cansaço — Melhora, Gen!

     O agarre quase inexistente em seu pescoço apertou, mesmo que tão pouco.

Desculpa-a-

— Não tem- nada p'ra se descu- desculpar. — tossiu, sem fôlego.

     Ruri e Kaseki receberam-os, ajudando ao albino a levar o bicolor.

— A yukata rasgou. Devem haver mais espinhos cravados nele. — apontou a loira ao cobrir ao enfermo com dois cobertores de uma vez.

— Vamos focar em manter ele aquecido primeiro. — o senhor colocou lenha extra no aquecedor — Não vai adiantar tirar os espinhos dele se ele morrer de frio!

— Aqui, Ukyo-san. Se aqueça também. — a sacerdotiza cobriu ao mencionado também, logo retirando-se para buscar chá e remédios.

— Mas o que diabos aconteceu p'ra ele sair correndo assim, Ukyo?

     Travou a mandíbula, encolhendo-se sob o cobertor. Escolheu bem as palavras antes de dizer:

— Ele e o Senku discutiram.

— Ora, mas que discussão faria o Gen perder a cabeça? — ponderou consigo mesmo, e o peito do Albino apertou — Ele é um menino tão sensato ...

Ninguém é sensato quando tacam sal na ferida, Velho Kaseki. Nem o Gen.

— Ah, entendi ... — negou com a cabeça, ajeitando uma máscara de pano improvisada para cuidar do bicolor — Amizades não são só risadas e brincadeiras, não é?

     Ukyo lembrou daquela manhã no telescópio e daquela tarde tecendo tecidos. Não conseguiu impedir a vinda das lágrimas ardidas e dolorosas.

— Quem dera, Velho Kaseki. — soltou com a voz embargada, não desviando os olhos do amigo desacordado — Quem dera.

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