"Não dá p'ra ser legal por cinco minutos!?"

     Eu perguntei-me seriamente sobre o motivo de não ter socado tanto o Senku quanto o Gen naquela tarde.

— Ah, só pode ser brincadeira...

— O que foi, Ukyo-chan? — Suika perguntou enquanto eu largava as tábuas que carregava pra correr — O que aconteceu?!

— Idiotas sendo idiotas! — quase gritei em resposta, a raiva fervilhando em mim.

    É nessas horas que ter uma audição aguçada ao máximo pode ser uma maldição.

     Cheguei o mais rápido que pude no observatório, notando as pegadas ainda recentes que iam em direção á floresta. Pânico somou-se à ira.

     Subi, encontrando um cientista estupefato sentado em meio a papéis cheios de cálculos tão complexos quanto sua própria personalidade.

     Só consegui pensar em duas palavras:

Por quê!?

— ... Você escutou. — disse quase que roboticamente.

— Por que, Senku!? — repeti, literalmente tremendo — Não dá p'ra ser legal por cinco minutos!?

— Ele que não me deixou trabalhar p'ra início de conversa! — tornou a pegar o lápis e calcular alguma coisa complicada, a voz arranhada.

     Quis fazer com que engolisse cada um daqueles papéis, um a um. Respirei muito, muito fundo e fuzilei-o com o olhar.

— Engole esse orgulho e essa racionalidade sem sentido por dois segundos e você vai entender o que você fez de errado.

— E agora o vilão da história sou eu!? — cutucou o ouvido com o mindinho, fingindo descaso.

— "Fazer merda" não é a mesma coisa que "ser o vilão da história", Senku.

— Se você continuar com essa conversa ilógica por mais um minuto ...

     Foi aí que eu perdi a paciência.

     Segurei a mão que ele usava par escrever, olhando-o no fundo dos olhos.

— Cala essa boca e escuta, caralho! — ordenei, e ele era fraco demais para se soltar de qualquer jeito — Você machucou o Gen, e muito, naquela noite. Ele 'tava preocupado p'ra caramba, porquê o Gen é assim, e não é porquê você quer e consegue se arrebentar de trabalhar que os outros deixam de ser esforçados ou de se preocuparem por você!

     Pela primeira vez na vida, Senku parecia realmente não saber o que fazer ou falar.

     Soltei sua mão, respirando fundo de novo.

— Você fez ele achar coisas que não são verdade. Você fez ele achar que certas coisas são culpa dele quando nunca foram. — apertei os punhos, furioso — Eu sei que você também 'tá mal, e eu sei que você não é uma má pessoa, e eu sei que o Gen também não foi nenhuma flor do campo com você. — cruzei os braços — Acontece que tratar ele com uma frieza dessas só vai piorar a situação. Dos dois.

     O olhar de Senku foi dos meus olhos ao futon abandonado de Gen repetidas vezes em apenas um minuto. Engoliu saliva com dificuldade.

     Suspirei pesarosamente.

— Vou atrás do Gen. Ele não deve ter ido muito longe com aquele resfriado e essa neve toda. — dei meia volta, e fui sério ao acrescentar: — Quando eu voltar, acho melhor você conversar com ele de forma decente, Senku. Sem esse orgulho e racionalidade estúpidos.

     E saí atrás do meu melhor amigo idiota.

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