Ajudar meu irmão na cozinha é sempre algo complicado. Principalmente quando começamos a nos esbarrar por diversas vezes em questão de segundos.

Após terminar de ajudar o mais velho, segui em direção a pia onde lavei minhas mãos e mais uma vez, esbarrei em Seokjin que estava por trás de mim.

— Aigo. Primeiro, olha antes de começar a andar de costas.

Esbravejou me empurrando para o lado para que pudesse chegar mais perto da torneira acima da pia e voltou a falar.

— Onde está o Yoongi? Jimin disse que ele almoçaria junto a nós.

— Ele está na sala.

— Hum, vai lá fazer companhia a ele. Eu termino de organizar a bagunça aqui.

Confirmei saindo de trás do balcão que estávamos indo em direção a porta onde parei e olhei para meu irmão que estava de costas.

— Que horas o Namjoon vai chegar?

Perguntei fazendo com que o mais velho voltasse sua atenção especialmente para mim.

— Ele vem assim que conseguir comprar as passagens.

— Passagens? Ele já vai sair de novo de viagem?!

— Sim. Parece que aconteceu um imprevisto com o último paciente que fez uma cirurgia e terá que fazer outra com urgência. Agora vai pra sala!

Arregalei meus olhos já saindo da cozinha em direção a sala.

Encontrei o mais novo olhando fixamente para a tv à sua frente.

Sentei ao seu lado vendo o mesmo levar um pequeno susto ao perceber minha presença.

— O que tá assistindo?

Perguntei olhando para a tela. Yoongi riu de forma fofa antes que me respondesse.

— É um noticiário sobre a vida animal. Estava falando sobre como as mães cuidam de seus filhotes quando ainda são recém nascidos.

Não contive uma risada. Era tão interessante ver o mais novo falando, chegava até a formar um beicinho em seus lábios.

Ele me olhou torto e riu sem graça.

Seokjin aproximou-se e sentou ao lado vago do azulado.

— Como foi o passeio de vocês?

Indagou a Yoongi que o olhou rapidamente.

— Foi bom. A praça da igreja é linda.

— Disso não posso discordar. É o ponto mais bonito da cidade, principalmente para se descansar ou passar um tempo com os amigos.

Seokjin comentou liberando um suspiro ao se levantar quando alguém bateu na porta.

— Sem dúvidas é o Namjoon!

Murmurou quando tocou na maçaneta e a girou abrindo a porta em seguida.

Namjoon entrou sem demoras trazendo consigo uma garrafa de vinho.

— Demorei mais cheguei. Bom dia ou, boa tarde. Quem é este que nunca o vi antes?

Namjoon tagarelou sorridente fazendo que mostrasse suas covinhas.

Yoongi e eu cumprimentamos o mais velho, juntos.

— Este é Min Yoongi, primo do Jimin!

Afirmei vendo o moreno erguir uma sobrancelha ao sentar-se na poltrona ao lado do sofá menor.

— Jin-hyung, guarde na geladeira para bebermos após o almoço.

Namjoon falou ao esticar a garrafa de vinho em direção ao meu irmão que a pegou e seguiu para a cozinha sendo acompanhado pelo Kim mais novo.

Namjoon voltou para sala minutos depois e sentou novamente na poltrona tendo minha visão sobre si.

— Namjoon, por que não trouxe a Amália?

Indaguei curioso e ele cuidou em me responder sem demoras.

— Tive que sair para comprar as passagens de avião e como não queria levá-la, a deixei com meus pais.

— Hm, e quando vai voltar a viajar?

O Kim riu baixo levando uma de suas mãos ao encontro de seus lábios.

— As passagens estão todas esgotadas para esses próximos dias então não posso voltar para Gales. Já liguei para o hospital e expliquei que eles deveriam chamar um outro cirurgião.

Comentou calmamente e Yoongi, que até então apenas ouvia nossa conversa, se pronunciou.

— Você trabalha como cirurgião?

— Isto mesmo. Estou um pouco triste já que não vou poder fazer a cirurgia do meu paciente mas pelo menos vou conseguir acompanhar os dias que estiver em observação.

Respondeu simples e Yoongi sorriu mínino intercalando seu olhar entre mim e o Kim.

Um som de passos invadiu o ambiente. Olhei para trás avistando meu irmão que fez um pequeno gesto afirmando que já poderíamos ir para a mesa almoçarmos.

Já na mesa, Yoongi era o único que demonstrava estar com vergonha.

Sua mão esquerda sustentava seu rosto de bochechas rosadas que  lhe deixava muito fofo.

Comi todo que havia em meu prato enquanto observava o azulado a minha frente que ficava mais vermelho ao perceber que eu o olhava.

Após todos termos almoçado. Fomos para a sala e nos sentamos no sofá.

Meu irmão e Namjoon conversavam sobre seus trabalhos e claro, de Namjoon agora ter a filha que iria junto a suas diversas viagens em volta ao mundo.

Yoongi se mantinha atento em meus dedos que brincavam em sua perna.
É praticamente uma criança.

O ambiente que estávamos foi tomado por um alto toque vindo do bolso da calça de Namjoon que pegou o aparelho e o atendeu se afastando em direção a cozinha.

Pouco tempo depois ele voltou ao nosso encontro. Seu semblante continha uma expressão triste.

— O que aconteceu, Joon?

Meu irmão indagou torcendo o lábio para um lado e o Kim mais novo cuidou em respondê-lo.

— Meu pai ligou pedindo que eu fosse para lá com urgência. Parece que a Amália não está muito bem.

Ele respirou fundo e parou por trás do sofá onde eu e o azulado estávamos.

— Até queria passar a tarde com vocês, mas eu tenho que ir. Não vou deixar ela dando trabalho aos meus pais.

Murmurou mordendo o lábio inferior ao se dirigir em direção ao meu irmão que se levantou.

— Não tem problema, Joon. Amália é mais importante, hm.

Seokjin comentou e eu confirmei tendo a visão do olhar do moreno sobre mim.

— Então, obrigada pelo almoço e, bem, até logo.

— Antes de viajar, nos avise para irmos nos despedir!

Meu irmão pronunciou-se recebendo um assentir do moreno que despediu-se devidamente de todos antes que saísse.

O silêncio se instalou no ambiente fazendo um clima silencioso pairar entre nós três.

Vi Seok olhar em volta respirando profundo antes de avaliar o relógio em seu pulso.

— Já se passaram das treze da tarde. Tenho que abrir novamente a cafeteria.

— Hyung, por que não passa essa tarde longe do trabalho? Todos os dias é a mesma coisa. Bem que poderia tirar um descanso.

Pronunciei recebendo um balançar de cabeça em forma de negação.

— Tenho que ir. Até mais tarde, meninos.

Ele disse pegando as chaves que se encontravam sobre a mesinha de centro e saiu deixando apenas eu e o azulado que se mantinha calado.

Me senti incomodado por estarmos em um ambiente silencioso que dava apenas para se ouvir o barulho dos carros e motos que passavam na rua a frente da casa.

— É, quer assistir algo?

Questionei vendo o mais novo negar.

— Eu queria ir para casa da minha tia.

— Mas por quê?

Questionei curioso, o garoto ao meu lado apenas me fitou de canto com um olhar pidonho como se não quisesse me dizer o porquê.

— Está bem, vou mandar uma mensagem para a Sra. Park perguntando a que horas virá te buscar.

Falei recebendo um assentir do azulado que sorriu minimamente.

Mandei as tais mensagens à mulher que me respondeu sem demoras.

Desliguei o celular o pondo ao meu lado no sofá.

— Ela já está vindo?

Indagou o garoto ao meu lado que demonstrava um pouco de felicidade em suas palavras.

— Ela disse que não vai poder vir agora. Apenas às seis da tarde porque está ocupada com algumas coisas em casa e tem algumas pessoas lá.

Murmurei vendo o mais novo desmanchar seu pequeno sorriso.

Seu olhar triste sobre suas mãos me faz também ficar triste.

— Hey, não fica triste. Hum, mas por que queria ir para casa?

— Não sei, apenas queria ir logo.

— Hum, já que vai ficar aqui até às seis, bem que poderíamos fazer algo. Tipo, você disse que não quer assistir então podemos dar uma volta pelo parque que tem à alguns quarteirões daqui, o que acha?

— Imagino que não seja uma má ideia.

Comentou voltando seu olhar para mim fazendo que eu visse o sorriso ladino que continha em seus lábios.

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Estávamos a um longo tempo sentados sobre o gramado baixo perto de uma árvore frondosa que fazia uma sombra agradável.

Yoongi e eu trocamos palavras vez ou outra sobre assuntos irrelevantes até que meus olhos capturaram um homem a uma certa distância vendo sorvetes.

— Já volto, ok?!

Falei entusiasmado ao levantar vendo o menor concordar com um simples gesto com a cabeça.

Caminhei rapidamente em direção ao vendedor no qual comprei dois sorvetes de copo para mim e para o azulado.

Voltei até onde o mais novo me esperava e o entreguei um dos potinhos de sorvete. 

Ele me encarou por um momento antes que o recebesse em mãos. 

Começamos a comer de nossos sorvetes enquanto conversamos e rimos de coisas aleatórias que víamos ou ouvimos de pessoas que passavam por perto de nós até que terminássemos.

— Eu já terminei e você Yoongi?

— Eu não terminei mas, eu não quero mais. Pode levar.

Peguei o copo da mão do mais novo e levantei-me.

— Vou jogar no lixo e já volto. É, quer uma água?

— Não, obrigada.

Concordei e saí em direção a uma lata de lixo na qual joguei os copos dos sorvetes na lixeira.

Estava novamente me aproximando de Yoongi que se mantinha de cabeça baixa brincando com seus dedos que por sinal, estavam trêmulos?

— Está tudo bem? Suas mãos estão tremendo.

Indaguei ao agachar de frente para o menor que levantou sua visão para mim demonstrando seus olhos marejados.

— Me leva para o hospital, por favor.

O mais novo murmurou choroso deixando que se formasse um beicinho trêmulo em seus lábios.

Eu entrei em desespero ao vê-lo chorar e principalmente, quando seu nariz começou a escorrer sangue.

— A minha nossa. O que você tem, Yoongi? O que eu faço?

Falei exaltado. Na verdade eu não falava e sim, gritava em desespero.

— Me leva ao hospital. Eu tô sentindo dor, Hoseok. Por favor.

Oh, ele estava chorando um pouco mais alto. tanto as lágrimas quanto o sangue percorria pelo seu rosto e queixo fazendo a blusa de cor verde claro ficar completamente suja.

Realmente eu não sabia o que fazer.

Aliás, eu sabia, mas estava desesperado demais para saber como realmente agir diante do que acontecia.

Yoongi estava se contorcendo de dor, sua roupa e rosto estavam ensanguentados e...

Onde estavam as pessoas que a minutos atrás estavam andando por lá? Não havia mais ninguém e as únicas que haviam estavam muito afastadas.

Yoongi continuava a pedir para o levar em um hospital e...

Ah mais que pressão!

Por sorte passou um moço de carro que ao ver meu desespero e Yoongi em seu estado deplorável, nós deu ajuda levando Yoongi com urgência para o hospital mais próximo.

Entramos no salão de espera onde logo apareceram alguns funcionários que traziam junto a si uma maca na qual colocaram o azulado e o levaram em direção aos corredores.

Avaliei o lugar em volta e percebi algumas pessoas sentadas nos bancos.

Alguns conversavam por telefone, outros choravam escandalosamente e, tinha uma moça brigando com a recepcionista por algum motivo no qual eu não sabia qual era.

O moço que havia nos ajudado estava ao meu lado, calado, apenas observando a mesma movimentação que eu via.

Me virei de frente para o homem que pousou seu olhar sobre mim.

— Acho que você deve ir na recepção assinar os papéis de entrada no hospital do seu amigo.

— Ah sim. Vou fazer isso mesmo. É, obrigada por ter ajudado, eu estava desesperado e não tinha ninguém por perto.

— Não tem de que. Bem, eu tenho que ir. Já estou um pouco atrasado pro trabalho. Melhoras para seu amigo.

O homem comentou olhando para o relógio em seu pulso direito.

Agradeci mais uma vez pela gentileza que o mais velho havia feito recebendo em troca um belo sorriso do homem que despediu-se antes de sair.

Caminhei até o balcão onde as mulheres brigavam já a alguns minutos.

Chamei a atenção da recepcionista que me olhou de imediato. A mulher que se encontrava do meu lado no balcão, bufou furiosa ao se retirar do recinto.

Contei o que havia acontecido e o que queria preencher os papéis de entrada no hospital mas, foi barrado pela própria mulher de uniforme braco com detalhes vinhos quando a mesma afirmou que só poderia preencher se fosse da família do paciente.

Respirei profundo e cruzei os braços ao me afastar um pouco do balcão, pegando o celular de meu bolso e ligando sem tardar para a Sra. Park que logo me atendeu.

Lhe passei o nome do hospital onde estávamos e rua em que se encontrava, em troca, ouvi a mulher falar que em menos de cinco minutos estaria no mesmo ambiente que eu.