Capítulo 03

Tirar um cochilo da tarde é algo muito bom. Principalmente quando conseguimos até sonhar que estamos em um mundo paralelo onde tudo é comida e bebida.

Infelizmente é apenas um sonho, mais um sonho que eu aproveitei bastante.

Mas tive que ser acordado por um certo Kim Seokjin batendo,  corrigindo, derrubando a porta de meu quarto.

— Já vou. Não precisa quebrar!

Caminhei o mais rápido possível até a porta para abri-la antes que Seok a arrebentasse.

A abri dando de cara com meu irmão raivoso e, um Min Yoongi tímido!?

— Até que enfim abriu essa porta! Enfim, vou voltar para a cafeteria; sinta-se à vontade Yoongi.

Meu irmão saiu de volta ao trabalho deixando apenas eu e o mais novo em casa.

— Por que veio? Eu ia lá às 16:00 como o combinado

— São um pouco mais das 17:00.

— Putz, acabei dormindo demais. Desculpa mesmo. Entra para nós conversarmos.

Yoongi deu uma breve olhada para dentro do meu quarto e baixou a cabeça fazendo um gesto em negação.

— Vamos para sala, pode ser?

Perguntou um pouco confuso.

— 'Tá legal. Me espere lá que já vou!

O garoto sorriu fraco enquanto se direcionava para a sala.

Corri para o banheiro onde joguei um pouco d'água em meu rosto e em seguida, fui diretamente para a sala, ao encontro do menor.

Sentei no sofá maior sendo acompanhado pelo olhar do mais novo.

— Desculpa se estou mexendo nas suas coisas.

Yoongi disse se referindo a concha em suas mãos na qual a colocou em seu devido lugar logo sentando-se no outro sofá.

— Não tem problema.

Murmurei dando de ombros voltando a falar em seguida.

— Mas então, sobre o que queria conversar?

Sim eu me fiz desentendido. Sabia muito bem que ele queria terminar a conversa do dia passado que por sinal, nem havíamos começado.

— Eu quero falar sobre ontem, na hora que o Jimin me chamou.

— Sim. E o que ia dizer?

— Pode parecer um pouco estranho já que nos conhecemos a poucas horas? Mas...

Iniciou incerto, pressionando os lábios logo após.

— Eu sinto que posso confiar em você, e contar um segredo.

Murmurou desviando seu olhar para qualquer outro ponto da sala que não fosse em minha direção. Eu o olhei com curiosidade, um pouco perdido sobre onde ele queria chegar.

Quando sua visão ergueu e voltou a fazer contato com a minha, eu apenas assenti positivamente, vendo-o fazer menção em se pronunciar.

— Há uns anos atrás, eu tinha um namorado.

Iniciou parando e passando a morder fortemente o lábio já trêmulo. Não deixei de notar o brilho em seus olhos, brilhos estes devidos as lágrimas que se formavam.

Com a voz trêmula, ele endireitou-se em seu lugar; algumas lágrimas percorreram sua face me deixando extremamente preocupado.

— Imagino que não vai pensar: o que tenho haver com isto? Mas, às vezes eu gosto de me abrir para algumas pessoas, para tirar um pouco dessa dor que ainda carrego em mim.

— Se falar o que te aconteceu lhe faz bem, pode me contar. Eu não vou me importar de te ouvir e ajudar você no que eu puder.

Comentei nervoso, recebendo um assentir do jovem de fios azuis.

— É que... Esse meu antigo namorado, ele, se aproveitou de mim. Foi assustador, e nojento.

Revelou tristonho, suas bochechas estavam vermelhas e as lágrimas desciam por seu rosto rapidamente.

Ainda hesitante devido a revelação do jovem, levantei de meu lugar e caminhei em sua direção, sentado ao lado do menor que me olhou piedoso.

Não sabia o que falar, estava sem reação alguma, então a única coisa que vinha em minha mente era de lhe abraçar, e fazê-lo se sentir melhor de alguma forma.

Passei meus braços por cima de seus ombros e o trouxe para perto de mim, Yoongi não exitou em momento algum. Com o rosto afundado em meu peito, chorou baixinho, balbuciando vez ou outra um pedido de desculpas pelo que acontecia.

Minutos se passou e o ser de mechas azuis afastou-se de mim lentamente, deslizando o dorso de sua mão pela bochecha a fim de secar as lágrimas que ali ainda se encontravam.

— Yoongi…

Chamei em um tom de voz baixo, ganhando de imediato a atenção do pequeno de rosto ruborizado.

— Por acaso é só eu que sei disto?

Indaguei franzindo o cenho, ele logo balançou a cabeça negativamente e afirmou que Jimin também sabia, assim como seus pais e seus irmãos, me deixando um pouco aliviado.

Um silêncio instalou-se entre nós por um momento, e antes que pudesse o quebrar tirando alguma dúvida com o menor, Seokjin invadiu a sala, tagarelando alto o suficiente para que nos fizesse olhar em sua direção.

— Que bom que vocês estão aí! Jimin está lá fora esperando você Yoongi.

Comunicou intercalando um olhar confuso entre mim e o pequeno ao meu lado que confirmou ter entendido; levantando-se e caminhando de cabeça baixa em direção a porta despedindo-se quase em um sussurro.

Seokjin me olhou de forma incrédula ao cruzar os braços, me deixando confuso do porque ele me olhava de tal forma.

— O que aconteceu aqui? Por que o Yoongi parecia tão triste? Aliás, por que ele estava com o rosto inchado, como se tivesse chorado?

Questinou me fazendo engolir a seco.

— É impressão sua, Seok.

Seus olhos semicerrados sobre mim, mostravam a indignação sobre o que eu havia lhe respondido.

— Você não me engana, e sei que algo aconteceu para deixá-lo daquela forma, mas, vou deixar passar.  

Falou me deixando aliviado por não querer me fazer um interrogatório sobre.

O observei se afastar em direção ao corredor dos quartos, e mais uma vez sua voz foi ouvida.

— Arrume-se, nós vamos jantar fora hoje!

Disse já batendo a porta de seu quarto.

Impressionante. Seokjin é uma caixinha de surpresas na qual nunca conseguimos desvendar o que há por vir.

Raramente ele diz que vamos sair para jantar fora já que o mesmo sempre afirma que suas comidas são melhores do que a de qualquer outra pessoa.

Corri para meu quarto em direção ao banheiro, me arrumei devidamente logo voltando para a sala onde meu irmão me esperava já na porta, segurando a chave do carro.

Ambos entramos no transporte e Seokjin deu a partida seguindo em direção a parte mais movimentada da cidade.

Eu ainda não havia esquecido sobre a conversa que tive com Min Yoongi e aquilo estava me atormentando. Saber sobre suas dores me deixava angustiado.

Neste momento meus neurônios estavam a todo vapor, prestes a explodir de tantas informações ruins que haviam acontecido com um garoto tão dócil e gentil.

Fui afastando-me de meus pensamentos com meu irmão que me chamava há um tempo.

— Que foi?

— Tava pensando em quê?

— Em nada não. Onde vamos? Por que quis jantar fora?

Questionei recebendo um olhar de canto do mais velho.

— Namjoon está na cidade e nos convidou para irmos à casa dele.

— O Nam está na cidade? Desde quando? Quando viu ele?

Namjoon é um de nossos amigos. Um cara legal, um pouco desastrado mas em compensação, é um ótimo cirurgião.

Pouco o vemos já que ele sempre está em viagens para fazer cirurgias particulares e aprender a desenvolver melhor sobre seus conhecimentos na ala cirúrgica.

— Quantas perguntas! Vai com calma rapaz. Sim ele está na cidade, chegou ontem a tarde e vi ele hoje, um pouco antes de voltar para casa.

— A sim. Mas ele veio porque está de férias ou simplesmente porque a agenda dessa semana está vaga?!

— Segunda opção. E também porque precisa organizar o restante das papeladas do divórcio e receber a guarda da Amália.

— Que bom que o Nam conseguiu a guarda da menina. Seria péssimo se ela ficasse com a maluca da Mila.

Sim, Kim Namjoon é um homem casado a pouco mais de um ano e dessa relação nasceu sua filha, Amália.

Uma bebê com seus plenos seis meses de vida que mora apenas com a mãe que digamos não ser a mais apropriada para dar os cuidados necessários a si, já que a mesma é vida loka, ama sair para festas noturnas com as amigas e como não pode e não quer levar a filha; ela a deixa sozinha em casa.

Que crueldade com a pequena.

Namjoon não suportava saber que sua esposa tinha mente tão suja para um ser inocente que tinha seu sangue. Por isso ele achou que, realmente, o melhor seria pedir o divórcio e a guarda de sua filha.

— Que bom que chegaram! Entrem e se sintam à vontade, eu vou subir e já eu desço novamente. Estou tentando fazer a Lia dormir.

O moreno falou ao ir nos atender ao chegarmos em sua casa.

— Amália está aqui?

Meu irmão indagou se direcionando ao sofá onde ambos nos sentamos.

O Kim mais novo confirmou sorrindo, deixando à mostra suas covinhas que fazem seu sorriso ficar ainda mais chamativo.

Ele seguiu em direção às escadas fazendo um gesto com a mão pedindo para que o seguisse.

Entramos em um quarto ao final do corredor, o mesmo continha cores rosa bebê, móveis na cor branca e várias pelúcias em prateleiras; ao canto, continha um berço onde dava para ver uma pequena garotinha levantar seus pés para cima.

Nos aproximamos do berço e pude ver a pequena que vestia uma fralda e um vestidinho na cor vermelha assim como a chupeta entre seus lábios.

Namjoon a pegou em seus braços e a entregou ao meu irmão que sorriu animado ao segurar a filha do moreno.

— Olha filha, o titio Seok!

O Kim mais novo falou com uma voz brincalhona enquanto acariciava a bochecha rosada de sua filha.

— Quer segurar ela também, Hoseok?

Desda vez, meu irmão se pronunciou  e eu confirmei no mesmo instante já estendendo os braços para segurar a criança que era entregue a mim.

A peguei e comecei a caminhar por dentro do quarto, balançando-a devagar.

Um sorriso simples se formou nos lábios banguela da pequena que por sua vez, deixou a chupeta cair.

— Out, neném fofa do tio Hobi! Neném quer morar comigo, hm?

Os mais velhos que observavam todos meus movimentos riram alto de mim.

— Faça me o favor Hoseok! Você mal sabe cuidar de si mesmo, vai saber cuidar de uma bebê?!

— E qual o problema Seokjin? Acha que não consigo?!

Meu irmão confirmou cruzando os braços; Namjoon sorriu olhando nossa pequena discussão e saiu do quarto afirmando ir para a cozinha.

— Hoseok, você só sabe o básico para cuidar de uma criança! Não se lembra de quando ficou com o filho da vizinha, você vestiu a fralda ao contrário no menino!

— A mais com todo respeito, aquilo não era um bebê e sim um garoto enorme e muito teimoso que me banhou de mijo! Olha, a Amália dormiu.

Falei me aproximando do mais velho que sorriu ladino erguendo a sobrancelha.

— Coloque-a no berço e vamos voltar para a sala.

Concordei e fiz o que o mais velho havia me ordenado.

Descemos para sala encontrando Namjoon que já ia novamente ao quarto.

— A Lia dormiu?

Ele indagou e eu confirmei sentando no sofá.

— Que bom. A janta está quase pronta. Que tal depois jogarmos algo tipo: Dama ou cartas?!

— Ou então jogo da memória!

Seokjin pronunciou por último e Namjoon o olhou risonho.

Os dois sempre jogavam o jogo da memória, isso antes do moreno se tornar muito ocupado.

Eles sempre terminavam em uma discussão e jogavam às cartas do jogo um na cara do outro.

É divertido ver os dois com suas brigas por algo tão besta.

— Pode ser.

Namjoon voltou para a cozinha e logo nos chamou para irmos jantar.

O Kim sempre teve altos talentos na cozinha assim como meu irmão.

Ao terminarmos de comer a deliciosa sobremesa de mousse de maracujá, voltamos para a sala e nos sentamos em volta a mesa que se encontra em frente a janela.

Namjoon pegou as cartas de memória e as colocou viradas na mesa e começamos a jogar.

Como sempre, eu desisti na primeira tentativa e deixei os mais velhos se matando para encontrar o par de cada carta.

Olhei em volta me distraindo com os objetos de enfeite que havia nas prateleiras e mesas.

Tudo bem sofisticado.

Hora depois, me encontrava lutando para que continuasse acordado. Seokjin e Namjoon já começavam com suas discussões de cartas.

Minutos depois, um grunhido vindo do andar de cima fez despertar a minha sonolência.

O moreno me encarava de forma simples.

— Acho que a Amália está acordada. Vá lá tentar fazê-la dormir novamente, por favor.

Namjoon pediu gentilmente e eu não neguei ajudá-lo com a bebê.

Subi as escadas indo ao encontro do quarto e do berço, onde a pequena garotinha se encontrava acordada choramingando.

A retirei do local e a ajeitei em meus braços, balançando-a de um lado para outro enquanto cantava algo que a acalmou em instantes.

A menina permanecia acordada tentando pegar em meu rosto com suas pequenas mãozinhas, vez ou outra, um sorriso se formava nos lábios fininhos da bebê.

Logo percebi que a menina não iria mais voltar a dormir e se a deixasse sozinha em seu quarto ela iria chorar.

Desci para o andar de baixo recebendo um olhar torto do Kim mais novo.

— Por que trouxe ela?

Namjoon perguntou ao me ver se aproximar de si trazendo em meus braços, sua filha que fazia questão de tocar em meu rosto e liberar alguns risos abafados por baixo da chupeta.

— Ela está muito elétrica e não vai voltar a dormir tão cedo.

— Oh sim, me dê ela, por favor.

Entreguei a pequena ao Namjoon que a colocou em seu colo deixando um beijo no topo da cabeça da menina que estava distraída tentando pegar as cartas a sua frente.

— Bem, acho que já está um pouco tarde, temos que ir, não é mesmo Hoseok?!

Seokjin comenta e eu confirmo não muito animado.

Queria ficar mais um tempo para poder observar e segurar a pequena Amália ou como o próprio pai a chama, Lia.

Nos despedimos de Namjoon e da bebê já saindo em direção ao carro que se encontrava estacionado do outro lado da rua.

O caminho de volta para casa foi calmo.

Apenas dava para se ouvir alguns barulhos de corujas nas galhadas das árvores e o barulho do motor.

Chegamos em casa e ambos fomos direto para nossos quartos.

Eu estava exausto mas nada que me impedisse de assistir um bom filme de comédia romântica. Sim, minha vida se move à base de filmes.

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