1. Oliver e Oscar

𝙰 𝚙𝚘𝚛𝚝𝚊 𝚜𝚎 𝚊𝚋𝚛𝚒𝚞 𝚌𝚘𝚖 𝚞𝚖 𝚐𝚛𝚊𝚗𝚍𝚎 𝚛𝚊𝚗𝚐𝚒𝚍𝚘, enchendo o cômodo que antes era silencioso com o som da tempestade.

Encharcado, o novo segurança entrou em seu escritório e se acomodou em sua cadeira, se pondo a vasculhar logo em seguida a mesa à procura de algo que pudesse ser usado para se secar. Infelizmente, sua tentativa foi em vão: tanto a superfície quanto as gavetas do móvel se encontravam vazias.

Mal pode pensar em outra solução, porque o silêncio fora quebrado novamente, mas dessa vez, não por ele.

Um misterioso zumbido pairou pelo ar, acompanhado de pancadas metálicas. Começando a ficar nervoso, o guarda olhou a sua volta para tentar descobrir de onde vinha o som, mas não foi mais necessário tentar decifrá-lo, já que logo cessou. A coisa mais provável a se pensar é que teria sido um ruído causado pelo vento da tempestade, mas nesse caso, parecia algo fora de cogitação. O que quer que fosse, ele decidiu deixar para lá.

Quando mais alguns minutos se passaram e tudo aparentava estar estabilizado, o estrondo se repetiu, e dessa vez, mais forte. Como se isso por si só já não bastasse, um raio caiu próximo, com tanta força que fez o chão estremecer, trazendo consigo também uma queda de energia.

O segurança forçou os olhos, mas de nada adiantou. Estava escuro demais para que ele pudesse enxergar qualquer coisa. Por conta disso, ele precisou admitir a si mesmo que estava ficando apavorado. Em situações como essa, em diferentes lugares, isso poderia ser considerado completamente normal; entretanto, onde se encontrava agora, a história já era outra. Oz Park não poderia ser subestimado.

O vigia tinha um mau pressentimento. Havia algo inquietante ali, como uma presença maligna que ele não conseguia identificar. Era como se algo estivesse prestes a dar errado, como em um filme de terror. Não, o jovem guarda se repreendeu, sacudindo a cabeça, são só rumores que estão tentando me afetar.

Retomando ao foco, ele se lembrou da lanterna que possuía, porém, assim que tirou o objeto do seu bolso molhado para o ligar, a energia retornou.

O vigia suspirou aliviado, mas sua tranquilidade durou pouco ao ouvir uma voz vinda atrás de si:

Ah! Olá?

O rapaz sentiu o seu sangue gelar, e vagarosamente, ou melhor, muito vagarosamente, ele se virou para a sua retaguarda, mas não viu ninguém.

Confuso, ele franziu o cenho.

Aqui em baixo! – Disse a voz.

O jovem desceu os olhos para o fitar, dando de cara com algo que não era um humano. Dessa vez, ele quis sair correndo.

O que estava à sua frente era inexplicavelmente uma das atrações do parque: um cangambá robótico que o encarava com curiosidade.

Seu corpo era articulado e a maior parte do seu pelo era de um preto já desbotado pelo tempo. O que gerava contraste era a faixa branca brilhante que ia de seu focinho até a sua cauda peluda, se dividindo em duas listras a partir das costas. O mais estranho, era que ele parecia estar vivo, devido aos seus olhos azuis que emitiam um brilho peculiar.

– Olá! – Repetiu o pequeno robô – Eu sou Oscar! Qual é o seu nome?

De queixo caído, o vigia recuou em sua cadeira sem pronunciar uma única palavra. Estava assustado demais para tomar qualquer outra atitude além daquela.

Como esse animatrônico veio parar no meu escritório!?

E, tão súbito quanto a aparição do primeiro, um segundo robô saiu das sombras, do outro lado da sala.

As orelhas com tufos e a grande cauda felpuda indicavam que esse mascote era um esquilo. Ele possuía um corpo igualmente articulado ao do Cangambá, só que era um pouco menor e tinha uma cor marrom-avermelhada, com alguns trechos de tons mais claros, tais como barriga e focinho. Assim como o companheiro, ele também tinha olhos azuis brilhantes e vestia uma gravata borboleta da mesma cor.

Quando o vigia saiu do choque e se acalmou, para o examinar melhor, viu que o esquilo carregava um pequeno crachá nas patas peludas.

Como se fosse a coisa mais normal do mundo estar no escritório do guarda-noturno ao invés do restaurante, o robô menor começou a andar em passos sistemáticos e duros em direção a Oscar. Ele parecia estar quase em um impasse para se locomover a uma distância tão grande com pernas tão curtas. Quando por fim o alcançou, depois de alguns minutos, ele se pôs ao seu lado, e em seguida, se posicionou em frente ao humano, que abaixou os olhos para olhar o objeto que ele carregava.

– Parece que o nome dele é Ri… Ric… – soou a voz robótica do esquilo, que parecia ter dificuldades para ler o que estava escrito por trás da capinha de plástico – Richard!

Ao ouvir o seu próprio nome, o vigia finalmente acordou para a realidade. Ele levou a mão a parte de cima do uniforme, apalpando o vazio onde deveria estar o seu crachá. Não se lembrava de ter o deixado cair.

Por mais que o robô esquilo não tivesse expressões faciais bem definidas, estava claro que ele estava satisfeito. Seu companheiro, por outro lado, pareceu desaprovar, ou ao menos, fingiu:

– Oliver! Quantas vezes eu já te disse que é falta de educação pegar as coisas dos outros sem permissão?

– Estava no chão – o esquilo revirou os olhos – achado não é roubado. E também, peguei emprestado para descobrir o nome dele. – Ele então voltou a sua atenção ao pobre rapaz desorientado – ¿Habla español? Parlez-vous français?

E de novo, não houve resposta. Richard ainda estava chocado demais para tal coisa.

  – Eu acho que ainda não acertamos o idioma dele – observou Oscar, levando uma de suas patas ao queixo em um gesto pensativo exagerado, como se tivesse acabado de sair de um desenho animado – talvez seja russo. Já tentou russo?

Oliver balançou a cabeça.

– Eu não sei nenhuma palavra em russo.

– Não tem problema. Examinando melhor, ele não tem cara de russo mesmo.

– Suíço então?

– Como você vai saber que ele tem cara de suíço? Você nunca foi para a Suíça.

– Você também nunca foi para a Rússia – Argumentou Oliver – nós nunca saímos do país.

– É, isso é verdade – ele concordou – mas nós recebemos muitos turistas e eu sei identificar de onde eles são.

A discussão apenas prosseguiu indefinidamente, mas Richard já não prestava mais atenção nela. Para ele, aquilo não tinha nexo nenhum e parecia durar uma eternidade, e, para piorar, ele também não conseguia voltar ao trabalho. Como ele poderia simplesmente ignorar as duas atrações do parque que debatiam na sua frente? Na verdade, a situação como um todo era incompreensível ao seu ver.

Richard se recordou do que o seu empregador tinha lhe dito um dia antes, sobre isso ser consequência de um erro de sistema e do aconselhamento de ficar longe dos animatrônicos. Mas o que ele poderia fazer, quando os próprios animatrônicos tinham decidido ir ao seu encontro por conta própria? Deveria sair dali? Havia algum outro procedimento do qual ele não tinha conhecimento? Talvez se pedisse…

– Er… C-com licença? – o vigia tentou – Eu sei que vocês estão ocupados discutindo mas…

Como um passe de mágica, os dois robôs pararam de falar, o fitando com aqueles olhos brilhantes que lhe provocavam arrepios. Porém, aquilo durou apenas alguns segundos. Foi questão de tempo até que os dois voltassem a tagarelar, e pior do que antes, agora estavam o incluindo na conversa.

– Então você não é um estrangeiro! – Exclamou Oscar, com um ar vitorioso.

– Claro que eu não sou – aderiu Richard, indignado, sem acreditar que estava se justificando para um dos mascotes do parque – Eu só não sou da cidade. O que raios faz vocês pensarem assim?

Ele não esperava ter uma resposta, mas acabou tendo uma. Percebendo que tinha apenas estendido aquele diálogo desnecessário com robôs, ele imediatamente se arrependeu.

– Pensamos isso porque você não nos respondia – Oscar explicou.

– Eu estava ignorando vocês. Eu não tenho motivos para responder robôs!

– A sua mãe não te ensinou que é rude ignorar os outros quando falam com você? – Oliver adicionou, irritado com a justificativa.

– Sim, mas isso não vem ao caso! Vocês são apenas… – e viu Oliver estender o crachá – Robôs…

– Você deveria nos responder porque temos isso – o esquilo adicionou, erguendo mais ainda a pata em que segurava o objeto roubado. Só para provocar ainda mais, Oliver se demonstrou ainda mais atrevido, balançando o crachá de um lado para o outro.

Richard não tinha mais medo. Estava ficando irritado.

O humano se levantou e caminhou até o robô, parando em frente dos dois com uma das mãos estendidas:

Devolva – ordenou.

O esquilo o encarou por alguns segundos, imóvel, como se estivesse decidindo o que fazer. Quando pareceu prestes a devolver o objeto, simplesmente o atirou por cima da cabeça do guarda. O vigia-noturno se virou para pegar, mas Oscar foi mais rápido e agarrou o crachá antes.

– Devolva já! Isso não é brinquedo! – Richard trovejou, cruzando os braços.

Oscar e Oliver deram risadas ao se divertirem com as custas do humano que parecia muito irritado.

– Qual é a graça!? – o vigia grunhiu.

– Ah! Desculpe… – Oscar conteve seu riso, mas o seu companheiro não fizera o mesmo – é só uma brincadeira que meu irmãozinho costuma fazer.

Ao ouvir o cangambá chamando o esquilo de “irmãozinho”, Richard parou por um momento. Aquilo não fazia o menor sentido. E olhou para Oliver e depois para Oscar, e em seguida, para o esquilo de novo. Dessa vez, foi ele quem caiu na risada.

– “Irmãozinho”? – Repetiu o guarda entre as gargalhadas – mas vocês são animais completamente diferentes! São robôs construídos, não tem como ter laços familiares!

Os olhos inquietos do esquilo se viraram para encarar o cangambá de um modo acusativo. Quando Oscar finalmente entendeu o recado, de repente forçou um bug.

Erro. Erro de programação. Erro de pro… – e o resto da frase saiu distorcido, impossível para que Richard compreendesse. Os olhos do Cangambá reviraram em suas órbitas de um jeito bizarro e o seu corpo permaneceu travado após alguns pequenos espasmos.

O vigia, de início, instintivamente se encolheu, mas ao perceber que o cangambá estava paralisado, ele aproveitou a chance para recuperar o seu objeto. Em um piscar de olhos, temendo que Oscar pudesse o morder, Richard agarrou o crachá e o arrancou das mãos mecânicas. Tendo saído ileso, ele soltou um suspiro de alívio e guardou o cartão no bolso, onde era mais seguro.

Agora só faltava uma coisa a ser feita: expulsar os visitantes indesejados do escritório.

Vazem! – ele ordenou, apontando para a porta – vocês já ficaram tempo demais aqui dentro.

– Isso é o banheiro, não a saída – Oliver o corrigiu, indiscretamente.

Se dando conta que o robô estava certo, Richard se virou e apontou para a outra. Dessa vez, para a porta correta. Não tinha tempo para ficar constrangido.

– Saiam! – O vigia repetiu, em um tom tão firme que surpreendeu até a si mesmo.

– Mas está chovendo lá fora! – Oliver choramingou.

A essa altura, os olhos do Cangambá se acenderam novamente e o seu corpo voltou a se movimentar. Estava visivelmente confuso por ter perdido a última parte da conversa.

– Richard quer nos expulsar – Oliver explicou ao outro, com a voz aguda de indignação – ele quer nos mandar para fora, na chuva!

Quero mesmo – o rapaz enfatizou.

– Que grosseria! – Oscar replicou.

– Grosseiro? Eu? – Richard estourou – não fui eu que roubei as coisas dos outros e entrou sem ser convidado. Voltem para… sei lá! De onde vocês vieram? Aquele restaurante coberto, certo?

Captando a desinformação do novo funcionário, Oliver e Oscar resolveram tirar proveito.

– Não – Negaram os dois, simultaneamente.

– Poderiam ter se abrigado lá.

– É longe demais de onde estávamos – o esquilo mentiu, já que aquele era o lugar onde originalmente estavam.

– Não dou a mínima, saiam!

– Não somos à prova d'água – o cangambá argumentou – então vai ligar se formos danificados. Isso vai ser descontado do seu salário ou até pior.

O rapaz, desconcertado, sentou novamente em sua cadeira. O cangambá estava certo. Tentou recomeçar:

– E… se eu emprestar um guarda-chuva, vocês sairão?

– Você não tem um guarda-chuva – apontou Oliver.

– Você não sabe.

– Se você tivesse um, você teria usado. Você tá  todo molhado.

Os três se silenciaram. Richard teria que aceitar o fato de que a dupla não iria sair.

Todas as ideias que lhe vinham à mente para consertar o problema consistiam em os danificar, e se as pusessem em prática, perderia o emprego, como Oscar tinha dito. Estava em um beco sem saída.

– Vocês venceram – o guarda suspirou, infeliz – Façam o que quiserem…

Os dois robôs se entreolharam empolgados, com um ar de vitória evidente.

Melhor assim, Richard disse a si mesmo, se consolando, desse jeito posso focar de vez no trabalho. Mas, para o azar do vigia novato, os dois animatrônicos eram o tipo de “““pessoa””” que ao oferecer a mão, exigiam o braço.

– Vamos brincar de esconde-esconde! – O esquilo pediu.

– De jeito nenhum! Preciso trabalhar!

Para o espanto de Richard, Oscar concordara consigo.

– Eu não acho uma boa ideia Oliver. E se Blueberry descobrir?

Blueberry? – o guarda-noturno perguntou. Ele já tinha se acostumado com aquela bizarrice toda, então não se importava mais com o fato deles serem robôs ou não – quem é Blueberry?

Oscar o encarou, atônito:

– Você… você deveria saber.

– Não é obrigatório saber o nome de todos os mascotes do parque – Richard respondeu na defensiva. Ele se recusava a perder no argumento novamente para um animatrônico.

“Blueberry's Oz Park”

– Ah… – o vigia tombou a cabeça para o lado – o mascote principal do parque… O texugo azul.

“Guaxinim” teria sido a resposta correta, mas como os dois robôs não quiseram perder mais tempo o corrigindo, voltaram a discutir entre si.

– Eu não ligo para ela! – Oliver respondeu, em tom de malcriação.

– Mas nós já fizemos quase tudo o que Blueberry nos proibiu de fazer. Ela vai nos desmontar, isso sim!

– Mas…

– Ela é a chefe de vocês? – Richard se intrometeu – Tipo chefe de todos os robôs do parque? Chefes às vezes podem ser um saco!

O vigia, na verdade, não poderia confirmar isso, uma vez que aquele era o seu primeiro emprego e o seu superior parecia cansado demais da vida para ser exigente em alguma coisa, mas os robôs não sabiam disso.

Nem Oscar, nem Oliver souberam como responder. Pareciam incomodados com a intromissão do humano em seus assuntos animatrônicos.

– Nesse caso eu entendo – Richard continuou, sem se importar – Não sabia que vocês, mascotes do parque, tinham uma hierarquia.

Oliver se enfureceu.

– Você não entende! Ela mat…

Antes que ele pudesse terminar, Oscar lhe deu uma cotovelada, chamando a sua atenção para não falar demais na presença do guarda-noturno.

Richard estranhou, mas ainda não sabia de fato o que estava acontecendo.

– Matou? – o humano franziu o cenho, completando a frase.

– Nada! Você ouviu errado! – Oliver exclamou.

– É! Vamos brincar de esconde-esconde ou não? – Oscar sugeriu, mesmo que não quisesse, só para mudar de assunto.

O jovem guarda cruzou os braços mais uma vez, aborrecido, e os fitou com seriedade:

– Como eu disse antes, eu tenho trabalho a fazer. E eu pensei que vocês não queriam por causa de Blueberry ou sei lá o quê.

– Eu mudei de ideia.

– Bem, se você mudou de ideia, tudo bem, mas eu não mudei. – O guarda se virou para o computador – eu passo.

– Por favor! – Oliver implorou feito uma criancinha – Não tem graça brincar só com duas pessoas!

– Três pessoas não faria diferença também, e vocês nem são pessoas!

– Quatro? Podemos chamar Lino ou Raspberry!

Oscar bateu com a pata na testa.

– Quem… – Richard se interrompeu, ao se dar conta de que o esquilo devia estar falando de outros animatrônicos – Não! Eu não quero mais nenhum outro robô aqui dentro!

Tudo o que o guarda mais desejava a essa altura era um turno de trabalho normal, por mais chato que fosse, se é que ele não estava sonhando. Também não pode deixar de se perguntar se isso aconteceria todas as noites ou se aquela seria uma anomalia, porque até agora, tudo estava confuso, e ele não gostava de coisas confusas.

Cansado de pensar sobre aquilo, o guarda tirou da jaqueta um sanduíche que estava tão molhado quanto o resto do uniforme… Poderia parecer nojento, mas ainda era comida, e comer ajudaria a clarear a sua mente. Ele também não desperdiçaria o sanduíche feito com amor e carinho pela sua tia.

O esquilo, sempre alerta, sabia muito bem que um dos momentos em que os humanos, especialmente os vigias-noturnos, baixavam mais a guarda, era na hora do lanche, e com isso, sem muito esforço, ele se aproximou sem que o rapaz percebesse e arrancou o lanche das suas mãos, o fazendo morder o ar.

Oscar, com uma leve pena do vigia, não entrou em ação dessa vez, permanecendo apenas no modo observador. Sabia que o colega não iria parar até que o humano fizesse o que ele queria. Ninguém conseguiria o impedir.

Richard bateu os olhos no pequeno ladrão e bufou. Estava cansado dessas brincadeirinhas.

Devolva…

– Só se você brincar com a gente – exigiu o roedor.

– Fique com o sanduíche então – o guarda virou o rosto, tentando fingir que não se importava.

De certa forma, aquilo não foi uma jogada ruim. Os animatrônicos não tinham motivos para quererem um sanduíche, uma vez que não precisavam comer. Não era como um crachá que eles poderiam usar de brinquedo. No entrando, Oliver era sagaz, e entendendo que aquela mesma tática de antes não iria mais funcionar, ele decidiu subir de nível.

O robô deus as costas para o vigia, que o olhava atentamente, e, tendo certeza que a sua atenção era completamente voltada para ele, marchou até o outro lado da sala, parando exatamente em frente a cesta de lixo. Assim, ele estendeu o seu braço mecânico que segurava o lanche, ameaçando jogá-lo na lixeira:

– Diga adeus ao seu precioso sanduíche.

– Você não ousaria… – Richard quis se levantar, mas se deu conta que se fizesse um movimento em falso, o seu lanche estaria comprometido.

– Esse lixo não é posto para fora desde os quatro guarda-noturnos antes de você – Oliver falou, lendo os seus pensamentos.

O vigia era quem queria pedir demissão agora.

O esquilo pareceu sorrir com malícia, ou ao menos foi o que Richard pensou ver, já que ele não tinha mecanismos o suficiente na mandíbula para isso. Oliver abriu a mão, segurando o sanduíche pela embalagem com apenas dois dedos restantes.

O vigia praguejou. Teria que perder o lanche para o trabalho? Ele não podia fazer exigências devido ao seu dever e mesmo que seu lanche fosse sacrificado, sabia que isso não pararia por aí. Eles poderiam muito bem roubar outras coisas, fazendo isso até que ele sucumbisse aos seus termos.

Por um momento, pensou estar perdido, mas a solução perfeita veio a sua mente ao bater os olhos em um velho monitor preso na parede do canto oposto da sala:

– E se ao invés de eu brincar com vocês… – começou cautelosamente – eu deixar que assistam televisão? Tem de tudo lá. Provavelmente também tem algum programa que vocês, robôs, gostem.

Oliver pela primeira vez hesitou e Oscar pareceu interessado na proposta. A ideia de Richard estava funcionando.

O cangambá foi até o esquilo para examinar o acordo com ele. Após um tempo cochichando entre si, baixo demais para que o guarda ouvisse, Oliver se virou para dizer a sua resposta:

– Nós aceitamos.

Richard abriu a primeira gaveta, onde se lembrava ter visto o controle quando chegou, pegou o objeto, o passando para o esquilo, que em seguida, libertou o sanduíche refém.

A princípio, Oliver aparentava não saber em que botões clicar, então passou o objeto para o companheiro. Era algo até interessante de se observar, Richard pensou. Quando mais teria a chance de ver robôs se comportando dessa forma, como crianças?

Oscar sabia usar o mecanismo. Bastou um comando para que a TV se acendesse.

Em pouco tempo, os dois animatrônicos já estavam hipnotizados pelas imagens que o monitor exibia.

Richard se perguntou se deveria supervisionar, para caso aparecesse algo inadequado na TV, visto que ambos agiam como crianças pequenas, mas no fim resolveu deixar para lá, porque não estava sendo pago para ser babá.

Finalmente, depois de muita luta, ele pode voltar ao seu trabalho. Comeu o sanduíche, enquanto monitorava as câmeras, até que suas pálpebras começaram a pesar. Antes que pudesse perceber, havia caído no sono.

***

Dormiu horas a fio, até que o relógio da sala o despertasse, com o som que anunciava o fim do turno. Richard se espreguiçou e bocejou, despreocupado… Pelo menos, até se lembrar dos dois animatrônicos. Quase caiu da cadeira quando as memórias voltaram à sua mente.

Olhou para o canto onde ficava a televisão, contudo, o aparelho se encontrava desligado. Não havia mais ninguém ali além dele mesmo. O silêncio era absoluto. A chuva já tinha parado. Tudo estava intocado.

Ele chegou a conclusão de que tudo devia ter sido um sonho esquisito.

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