Capítulo III - Any woman that I want
Os dias se tornaram semanas e as semanas se tornaram três meses. E, para a surpresa de Ronnie, a relação e intimidade dos dois estava apenas crescendo. Depois do episódio do jardim, onde eles haviam se declarado pela primeira vez, Ronnie adquiriu o hábito de levar Saraya para passeios diurnos, onde eles aprenderam a gostar de explorar a floresta que cercava a mansão.
Ronnie admirava a coragem de Saraya, que nunca se intimidava com a mata, com os insetos e nem mesmo com os animais exóticos que cruzavam com eles. Ela não se importava em vestir as roupas de Ronnie para os passeios, o que era, talvez, a coisa que ele mais gostava naquilo tudo. Ele achava absurdamente sexy a forma que suas roupas ficavam largas nela e em como as calças apenas se mantinham no corpo por causa dos suspensórios, os quais eram uma tentação para arrancar.
Ao mesmo tempo, Saraya admirava a mudança nítida em Ronnie. Seu olhar estava mais presente e ele era gentil com ela às vezes. Era como se Ronnie estivesse saindo de uma casca, e ela imaginava que a luz do sol e o contato com a natureza eram os grandes responsaveis por isso.
Havia um riacho em específico onde os dois adoravam transar. Eles costumavam ir no fim da tarde e para se deitarem na margem, nus, e observar o sol se pôr. Então Ronnie a pegava pela mão e eles voltavam para a mansão para um round dois.
Os pais de Saraya começaram a suspeitar das escapadas da filha, que estavam cada vez mais frequentes, e as desculpas que ela conseguia inventar requeriam cada vez mais tempo para serem elaboradas.
Ronnie achava aquilo uma besteira. "Fuja de uma vez e more comigo", dizia ele, mas a resposta de Saraya era sempre "E quando enjoarmos um do outro?".
Ronnie nunca respondia.
Conforme o tempo foi passando, Ronnie percebeu que seu estoque de uísque demorava cada vez mais para acabar e ele estava se sentindo cada vez mais leve. Saraya o elogiou quando ele a contou sobre isso e o encorajou a tomar chá com ela nos finais de tarde. No começo, o gosto era terrível, mas aquele sorriso sincero de orgulho motivava Ronnie a engolir o chá até começar a genuinamente apreciar o sabor suave.
Tudo estava indo tão bem! O vício estava diminuindo e os sorrisos aumentando. Ronnie passava a ansiar pela volta de Saraya e odiar os dias sem ela, afundando-se em bebida pra que o tempo passasse mais rápido. Sempre que ela demorava muito para voltar, ele sentia um medo profundo de que a tivesse perdido. Mas ela o amava e sempre voltava para seus braços, fazendo os demônios perderem a força.
O mundo ganhara uma nova cor e Ronnie até mesmo apreciava ajudar Saraya nas tarefas domésticas da mansão. Se a vida continuasse assim, estaria satisfeito.
...até que eles tiveram a primeira briga. Soraya havia acabado de chegar depois de uma semana longe e Ronnie estava bêbado. A briga começou logo que ela colocou sua bolsa na poltrona e lhe contou que seus pais estavam ameaçando a expulsar de casa por causa dos boatos que circulavam na vila sobre ela e Ronnie. Se perder a virgindade antes do casamento já era motivo para escândalo, fazê-lo com um vampiro era um ultrage imperdoável.
Com os pensamentos distorcidos pela bebida, ele falou para ela ignorar os boatos e que a relação continuasse assim.
— Você não pode esperar que a gente fique assim pra sempre. As pessoas falam, Ronnie!
— Foda-se, Saraya. Estamos no século XIX, não no V. Ninguém vai te jogar na fogueira por isso. Os boatos estão circulando há semanas e você continua vindo. Não é minha culpa!
— É porque te amo! Você finge não se importar com nada, mas eu te enxergo através da bebida, Ronald, e eu sei que não gosta da própria reputação. Eu quero ficar com você. E pra isso você só precisa mostrar para todos que você é humano!
— Que eu sou humano? — a pergunta veio carregada de desdém. Ele pulou sobre ela, fazendo-a cair sobre a poltrona e, antes que ela pudesse ter qualquer reação, ele atacou seu pescoço e o lambeu. Saraya torceu o nariz com o cheiro forte de uísque que saiu de sua boca. Ele estava há tanto tempo sem beber que o cheiro voltou a ser estranho para ela. — E se eu for um vampiro mesmo? O que vai fazer?
— Você sabe tão bem quanto eu que vampiros não existem... — sua voz não passava de um sussurro. Ela estava petrificada em baixo dele.
— Você não sabe nada sobre mim, Saraya. Você disse que eu finjo não me importar? — outra lambida quente e carregada de álcool. Ela fechou os olhos com medo de que ele realmente fosse a morder. — Eu me divirto com o medo das pessoas. Na verdade, eu me divirto com o medo dos homens. Eu posso atrair qualquer mulher que eu quiser pra minha cama porque vocês adoram se envolver com o perigo. Olha só pra você, dormindo comigo mesmo eu sendo considerado um assassino. Você diz que quer que eu prove que eu não sou, mas você sabe o quanto é difícil construir uma boa reputação, porra? Reuniões com o parlamento, abrir um negócio, ver pessoas... meu pai morreu assim, sabia? Com o estresse. E a minha mãe sofreu com as consequências também. Se quiser, você pode se mudar pra cá e viver comigo. Mas não pode me forçar a mudar de vida.
Saraya conseguiu juntar sua coragem para empurrar Ronnie de cima dela e se levantar. Ele havia acabado de a comparar com as outras mulheres, e isso foi combustível o suficiente para ela confrontá-lo.
— Então o que você sugere? — perguntou, alto. — Eu não quero que falem que sou uma vampira! Eu não ligo de você não gostar de sair de casa, mas eu gosto. E não quero viver presa aqui que nem você!
— Então vá embora! Case-se com o pretendente que seus pais escolheram e viva uma vida livre.
— Eu sou livre aqui, com você. E sei que você também está melhor comigo. Tudo o que eu peço em troca é que resolva isso. Não precisa sair de casa muitas vezes. Eu consigo lidar com o resto pra gente. Só faça esse esforço inicial que...
— Puta que pariu, mulher! Se você realmente me ama, fique aqui! Quem precisa de pessoas? Você tem o seu jardim, tem a floresta que é minha propriedade, vestidos, dinheiro o suficiente para três gerações e pode sempre encomendar tudo o que quiser com os vendedores estrangeiros. O que mais você quer de mim? Que eu aceite Jesus Cristo?
Ela respirou fundo. Aquilo não estava indo a lugar algum. Ela não conseguia fazer Ronnie entender a importância que aquilo tinha para ela. Saraya podia ser uma moça à frente do seu tempo, mas isso não significava que ela não desejava coisas típicas das que tinham a sua idade. E não foi por falta de tentativa. Ela sempre mandava a indireta. Ao perguntar "e se enjoados um do outro?" ela queria que ele respondesse que jamais iria enjoar e que eles deviam casar como prova. Mas ele nunca entendia. E agora, estando bêbado como um porco, ela sabia que Ronnie jamais iria perceber o que ela estava lhe pedindo.
Então respirou fundo mais uma vez e admitiu finalmente, baixinho:
— Uma aliança, Ronnie. Eu quero que você...
Ela se encolheu com a gargalhada desdenhosa que se seguiu ao pedido.
— Ah, então estamos nessa merda de briga por causa disso? Você quer que eu te peça em casamento?
Ela suspirou. Definitivamente não era assim que ela queria que a noite começasse.
— Sim, eu quero. Pra poder escapar de vez dos meus pais — ela fez uma pausa. Para que isso funcionasse, sabia que teria que abrir mão de alguma coisa. — Eu não... preciso realmente ter uma reputação tão boa assim. Eu só quero me casar com você.
— Você está louca. Isso é o que as moças da vila querem. Você não é como elas, Saraya. O que você realmente quer de mim? Quer minha mansão? Minha grana?
O sangue dela ferveu. Mais uma vez ele a estava taxando de interesseira. Ela se sentia ridicularizada e humilhada. Como se o pedido de casamento fosse a maior piada que Ronnie ouviu, mesmo sabendo que significava muito para ela. Saraya avançou sobre ele e desferiu um soco no peito. A risada de resposta a isso apenas serviu para aumentar ainda mais a sua raiva e vergonha.
— Vai se fuder, Ronald, eu jamais olhei pra isso e você sabe! Eu quero isso de verdade. Quero me casar com você. É uma escolha minha. E você não quer aceitar esse comprometimento porque você é um covarde que se esconde atrás de uísque pra fugir dos próprios demônios. Isso que você é: um covarde que não quer aceitar nenhuma responsabilidade!
— Eu sou um covarde, Saraya? E você sabe o que você é? — seus lábios se curvaram em um sorriso de desdém. — Você é uma vadia. Uma vadia que só fica comigo porque eu te dou alguma sensação de independência. Mas você não é independente. É só uma mulher mimada que não quer arcar com o próprio destino.
As palavras atingiram Saraya como uma facada, tão fortes que ela recuou alguns passos para se equilibrar. Ronnie ainda estava com o sorriso de desdém. Ele sentiu uma pontada no fundo da mente, gritando para que fosse de encontro a ela e pedisse perdão, mas seu orgulho idiota gritava bem mais alto, e ele não mudou de pose até que ela tivesse se virado e corrido para ir embora.
Quando escutou a porta do Hall se fechar com um estrondo, ele sentou na poltrona e tentou encher um copo com o uísque, mas a única coisa que saiu foram algumas gotas. Ele jogou a garrafa na parede, xingando Saraya, o uísque, o caco de vidro que cortou sua bochecha quando voltou da parede e, principalmente, xingando a si mesmo.
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