Capítulo II - I hate the sunlight
Saraya ficou com Ronnie por mais duas noites e foi embora apenas porque não queria que os pais começassem uma busca por ela. Mas prometeu que voltaria em breve.
Estranhamente, os dias sem Saraya passaram mais lentos do que o normal. Ronnie tentou beber mais do que o costume para ver se preenchia a falta daquela mulher em seu peito, mas pareceu que aquilo só o fazia piorar.
Saraya... Saraya... seu nome ecoava em sua mente como um mantra a cada alguns minutos ou horas. Nunca decorou o nome de nenhuma mulher antes. Nunca se dera ao trabalho, pra ser sincero. Mas o dela... ele não sabia bem o que estava acontecendo. Seria porque era um nome exótico? Ele tentou se convencer que essa era a razão.
Mas no fundo sabia quer era uma mentira. Saraya era decidida. Revelou-lhe que fugira de casa aquela noite pois viu seus pais planejando seu casamento e entrou na primeira taverna que viu. Sabia que não poderia fugir para sempre e que teria que se casar com quem os pais escolhessem, mas queria ter alguma sensação de independência antes de ser fadada a viver uma vida de limitações e obediência a um homem que sequer conhecia. Então decidiu que escolheria com quem perderia a virgindade.
Por isso não estava arrependida ao acordar com Ronnie. Ela se deitou com ele porque quis. Porque ela estava decidida a fazer isso, e não porque foi verdadeiramente seduzida por ele. E era por isso que Ronnie a admirava tanto.
Surpreendentemente, Saraya realmente voltou depois de alguns dias, e Ronnie ficou estranhamente aliviado. Estaria ele apaixonado? Não... não podia ser... pelo menos, não tão rápido assim.
Mas então por que sempre que Saraya voltava para a casa dos pais após os dois dias de estadia com Ronnie, seu coração se apertava e ele se sentia perdido? Por que os dias com ela eram sempre tão bons e Ronnie sequer se lembrava da que precisava da sua água benta?
Tudo estava perfeito para eles: tocavam piano, conversavam e dormiam juntos. Saraya até mesmo ajudou Ronnie com a limpeza da mansão e o ensinou algumas receitas rápidas para ajudar na ressaca. O buraco que Ronnie sentia que o consumia parecia estar se fechando pela primeira vez. Ele se sentiu imbatível. Como se pudesse parar de beber e começar a traçar algum objetivo em sua vida vazia...
Durante uma tarde, ele vendou Saraya e a guiou pela mão até o lado de fora da mansão. A sensação do sol no rosto ainda era estranha para ele, mas Ronnie estava começando a apreciar o calor.
— Estamos do lado de fora? — indagou ela ao sentir a grama sob suas sapatilhas.
— Não, estamos em um calabouço no porão secreto da mansão — respondeu, irônico. — É um novo fetiche meu.
Ela riu de desdém.
Ronnie a guiou pelo quintal, sentindo o cheiro de grama recém cortada. Era estranho ter um lugar para andar ali, dentro da sua propriedade. Desde que a mãe morrera, há dez anos atrás, ele nunca havia mandado cortar o mato, e ele estava tão grande que dava para facilmente se esconder em pé ali. O único caminho disponível da mansão até a floresta, que demarcava o começo e fim da propriedade, só era visível pois a terra ficara batida pelas carroças dos comerciantes que vinham para vender comida, roupas e uísque para ele.
Foi só quando Ronnie mandara cortar o mato, nesses últimos dois dias que Saraya estava com os pais, que ele teve consciência do real tamanho da sua propriedade. Era assustadoramente enorme.
Para cortar tudo, ele precisou chamar vinte jardineiros e mesmo assim eles precisaram dos dois dias inteiros para terminar o serviço.
Obviamente Saraya havia visto que a grama fora cortada, mas o que Ronnie queria lhe mostrar ficava atrás da mansão.
Ela tropeçou em algumas vezes, mas Ronnie não avisava sobre as pedras e buracos de proposito, pois sempre que ela tropeçava, o aperto em suas mãos aumentava.
Quando chegaram na parte de trás, ele soltou sua mão com delicadeza e se colocou atrás dela para retirar a venda. Seus olhos estavam fechados e ele mandou que ela os abrisse.
Saraya deu um passo para trás na mesma hora, se esquecendo de que precisava respirar.
— Ronnie! Isso é... você que... Quero dizer, isso...
Ele sorriu levemente. Outra coisa que ele não estava muito acostumado a fazer e que ainda parecia estranho.
De fato, o jardim estava lindo. E, por ser a hora do Golden Hour, ele assumiu uma aura quase que mágica. Haviam algumas mudas de rosas vermelhas recém plantadas junto com orquídeas brancas e algumas violetas. Ronnie havia mandado que trouxessem e plantassem assim que a grama da parte de trás da mansão estivesse cortada.
— Eu teria as regado com uísque se tivesse tentado. Elas estariam mais felizes — ele fez uma pausa para admirar Saraya caminhando até o jardim. — Você fala muitos nomes de flores quando me ensina receitas para ressaca. Então assumi que você gostaria de ter um jardim. Mandei que arassem toda essa área para que você também pudesse plantar por si mesma.
Ela se virou com um sorriso malicioso.
— O que o faz pensar que eu quero sujar minhas mãos com terra para plantar flores?
— Você me parece esse tipo de mulher — ele deu de ombros. — Se não quiser se sujar, escolha as flores para eu mandar plantarem qui. De qualquer forma, agora esse é o seu jardim, estou lhe dando.
Ela voltou a olhar para as flores. Elas estavam levemente murchas pois tinham sido recém-plantadas, mas Saraya sabia que, com o cuidado certo, elas logo se acostumariam com o novo solo e estariam esbanjando vitalidade. Elas estariam lindas...
....e eram dela. Seu coração falhou uma batida. Dar a ela aquele jardim era o mesmo que dar um pedaço da própria propriedade. Ronnie, aquele cara egoísta e rígido estava lhe dando um pedaço de sua propriedade para ela. A ficha estava difícil de cair.
Saraya se virou para ele, encontrando seus olhos negros como a noite e se fixando neles. Eram olhos que chamavam por ela e que ela sabia que nunca se cansaria de observar. Eram como o vazio; um vazio a olhava de volta.
— Eu te amo, Ronnie.
Por um momento, o vazio daqueles olhos pareceu emitir um brilho diferente do que qualquer coisa que ela tivesse visto. E ela novamente esqueceu de que tinha que respirar.
— Eu também te amo, Saraya — foi a resposta dele.
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