XVII
A morena acabou por abrir os olhos ao dar falta de Lins na cama. Observou o cômodo todo à procura do ruivo e acabou se levantando, trocando de roupa e indo ao banheiro em seguida.
Estava terminando de calçar os sapatos quando o violinista reaparece, carregando uma bandeja com o café da manhã.
— Pensei que ainda estaria dormindo — comentou ele, fechando a porta. — Acordou porque eu não estava mais do seu lado?
Vê-la ajeitar os óculos e revirar os olhos foi o suficiente. O músico a conhecia bem o bastante para saber que estava certo a partir do momento em que ela não disse nada e sequer fez questão de estabelecer contato visual.
— Isso porque você era contra a ideia de dormirmos juntos — relembrou, colocando a bandeja na escrivaninha e se aproximando dela. — Prometo que não fujo mais, não precisa ficar contrariada.
— Não estou contrariada, pode se achar menos — respondeu a garota, finalmente o encarando.
— Me engana que eu gosto. — Lins a abraçou e roubou um selinho mais demorado, fazendo Blader sorrir em resposta. — De marrenta é só a pose, porque já se derreteu toda com um beijinho de nada.
— Ah, vá ver se estou na esquina. — Ele riu quando ela lhe deu um peteleco e foi em direção à bandeja.
Enquanto dividiam o café da manhã, a figura do pai da jovem aparece no quarto sem cerimônias.
— Posso saber quem deu permissão para saírem ontem à noite? — questionou.
— Primeiramente, bom dia — retrucou a moça, desviando o olhar das torradas para o homem de terno. — E saímos com a minha permissão, feliz? Ia perguntar como sabe, mas tomar conta da vida dos outros é sua especialidade, então não estou surpresa.
Slenderman riu com uma pontada de humor.
— Você não tem poder para autorizar nada desse tipo, Blader. Querendo ou não sou seu pai e qualquer coisa que fizer deve passar por mim primeiro. — ele ignorou a expressão de desgosto da filha — É melhor se lembrar disso por bem ou então serei obrigado a gravar isso nessa sua cabeça dura.
Lins ia protestar, mas acaba sendo impedido pela namorada.
— Só manda em mim quem me criou, não se esqueça — advertiu ela. — No momento, obedeço suas ordens porque é meu chefe e quando se trata de trabalho. — Ela ficou em pé, dando dois passos na direção do pai — Nina foi neutralizada, Zero está incapaz de sair da mansão por um tempo e os outros não desrespeitam o toque de recolher à noite, não foi como se eu tivesse abandonado meu posto. Por esse motivo não vi razões para não sair com meu namorado.
— Então decidiram se assumir — afirmou o dono da mansão mais para si do que para os outros dois presentes. Voltou a face vazia na direção de Lins e prosseguiu: — Ela herdou o gênio ruim da mãe, rapaz. Tenho pena de você.
— Com todo respeito, ainda bem que foi o gênio da mãe e não o seu, senhor — respondeu o ruivo, sem desviar o olhar.
— Se fosse o meu, a relação de vocês seria outra — rebateu Slenderman, voltando então a falar com a filha: — Espero que esse namorinho não atrapalhe seu rendimento, Blader. E tratem de descerem logo até a sala de treinamentos, tenho algo importante a dizer para todos.
A garota voltou a se sentar na cadeira quando o homem sem face deixou o cômodo. Encarou o que restava do café da manhã, mas sentiu o estômago embrulhar e acabou se levantando novamente, procurando por suas lâminas no guarda-roupa.
— Ele não tem a menor ideia do que está dizendo, meine Liebe. — O ruivo a abraçou de lado enquanto afagava as costas da morena — Não se deixe abater por um homem amargurado.
— É incrível como ele tem prazer em me atormentar — resmungou Blader antes de soltar um suspiro pesado. Fechou os olhos por um momento e respirou fundo, retribuindo o beijo do ruivo. — É melhor irmos logo ver o que aquele tirano quer.
Foram até o quarto do rapaz para ele pegar o violino e logo foram ao local indicado. Quando chegaram, se aproximaram dos demais proxies e observavam alguns moradores espalhados pelo local. Aos poucos, todos estavam presentes, com exceção ao dono da mansão, que apareceu depois de alguns minutos com o cadáver de Nina exalando um forte cheiro de formol.
— Deem uma última olhada na colega de vocês antes ela seja cremada, mesmo sendo uma traidora — disse Slenderman, suspendendo a garota morta pelo pescoço com o auxílio de um tentáculo. — Esse é o preço que se paga por agir pelas minhas costas, espero que entendam isso de uma vez por todas. — Sua fala fez os cochichos cessarem e Zero estremecer — Nina foi a primeira, mas não necessariamente será a última. Quem se atrever a seguir os passos dela terá o mesmo fim. Abusem da sorte e Blader me presenteará com mais cadáveres.
Os olhares de desgosto recaíram sobre a filha do homem de terno, que estava prestes a baixar a cabeça até se lembrar do que Zalgo sempre lhe dizia sobre se impor. Sentiu as mãos de Ery e Lins em suas costas como apoio e levantou o queixo, encarando-os na mesma intensidade. Analisou um por um brevemente até chegar à traidora sobrevivente. Zero enrijeceu o músculo do maxilar quando estabeleceram contato visual, mas continuou com o brilho de ódio.
Slenderman dispensou-os, indo dar um fim definitivo ao corpo de Nina. Blader se separou dos proxies, caminhando a passos largos e rápidos até passar pela outra.
— Continue me olhando assim enquanto pode, Zero — ameaçou. — Quero ver até onde chega.
— Pelo menos não sou ingrata — murmurou para a algoz. — Zalgo te ajudou tanto e mesmo assim você virou as costas para ele e quis servir o homem que só te maltrata.
— Sua noção de gratidão é engraçada, e por isso vai morrer em breve.
Zero rangeu os dentes, inspirando e expirando profundamente enquanto via a proxy se afastar e se tornar invisível.
— Desgraçada — resmungou, com o olhar fixo no ponto onde não conseguiu mais ver a rival.
— Espero que não esteja falando da Blader, ou então teremos um problema. — Ela se assustou com a voz de Lins tão próxima.
— E você vai fazer o quê? Tocar para mim? — provocou, olhando-o de alto a baixo.
Zero engoliu em seco quando uma lâmina fina e afiada emergiu do arco do violino, ficando rente ao seu pescoço.
— Meu recado está dado — respondeu Lins, franzindo o cenho enquanto afastava o arco. — E não vou me dar ao trabalho de repeti-lo.
— Você não tem prática para matar, está blefando.
— No seu lugar, eu não pagaria para ver.
**
— Slenderman queimou o corpo de Nina há pouco. — Profeta e Nathan retornam ao covil com notícias.
— Não é surpresa alguma, no final das contas. — O tom de Zalgo era monótono enquanto encarava o rapaz de cabelos longos fixamente — E tudo isso porque cometeu o erro de ser visto pela Blader.
Nathan abaixou a cabeça e desviou o olhar para os próprios pés.
— De toda forma, não vai adiantar ficar te culpando por isso — disse a criatura, levantando-se de seu trono e caminhando de um lado para o outro. — Elas também foram descuidadas e esse é o preço a se pagar. O que resta, agora, é darmos um jeito na pequena algoz, por nós mesmos. É claro como água para mim que Zero não dará conta do recado.
— Então me permita fazer isso. — Hobo Heart se encaminhou para perto do líder.
— Já disse que não é cortês ouvir a conversa dos outros, mas vou perdoar sua insolência se conseguir trazer a cabeça da menina para mim.
— O senhor tem certeza disso? — Profeta analisou o intruso por um bom tempo — Ele e Rake foram os que mais sofreram enquanto Blader esteve aqui. Será perda de tempo e energia.
— Me provoque mais uma vez e eu quebro sua cara — rosnou Hobo.
— Estou morrendo de medo de alguém que virou saco de pancadas da cria do Slenderman — retrucou o proxy.
— Chega de palhaçada — ditou Zalgo. — Apesar do Profeta ter razão até certo ponto, vou te dar uma chance de voltar com resultados, Hobo Heart. Espero que não me decepcione.
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